Se esperarmos pelo governo, vamos voltar à idade da pedra.

Homem_idade da pedra
Homem de Neandertal no museu de Mettmann, na Alemanha.

(AP Photo/Heinz Ducklau, File)

Na idade da pedra, o homem era um predador. Um selvagem que, como definia Montesquieu, é o homem que derruba a macieira para comer uma maçã.

Quando o governo é desacoplado da sociedade sua presença é selvagem e predadora. Ao invés de ser parte da solução, acaba virando parte do problema.

Um exemplo desta distorção burra do governo analógico brasileiro é o caso do agronegócio. Como sabe qualquer pessoa medianamente informada, o agronegócio está salvando o país. Deveria ser louvado, celebrado, reconhecido.  Mas é tratado pelo governo petista com como se fosse arte do Belzebú.

O setor do agronegócio tem adotado tecnologias avançadas e investido na busca de alta produtividade. Para crescer, o setor se desenvolveu ao largo do Estado. O governo e suas “tropas” do MST tem feito o possível para criar obstáculos e só não impediram a modernização do campo porque não conseguiram. Tentar, bem que tentaram, mas a modernização do agronegócio se tornou um fato consumado antes do governo se dar conta.

Dado que os burocratas e seus aliados da esquerda predadora são, em sua maioria, pragas urbanas, sair das cidades para enveredar pelo interior para ver o que acontece no campo é coisa que não fazem. Com isto, o agronegócio tem conseguido ficar sempre abaixo da linha de radar dos burocratas de Brasília.

O MST tem feito incursões em áreas produtivas e agido com o discernimento do Homem de Neandertal. Suas pretenções são de tal modo estapafúrdias que derrubam as macieiras e nem conseguem comer a maçã. No melhor estilo “gentalha, gentalha, gentalha…”

As evidências comprovam que o Brasil possui o melhor conjunto de recursos do planeta para incrementar a produção agrícola: terra agriculturável abundante, água, luz, calor, tecnologia e empreendedores capacitados. E o setor é um dos mais conscientes das possibilidades digitais.

A história da Soja no Brasil é um exemplo.

Hoje soja é a cultura agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas e corresponde a cêrca de 49% da área plantada em grãos do país.

O aumento da produtividade está associado aos avanços tecnológicos, com participação decisiva da tecnologia digital, mas a mola mestra é a eficiência dos produtores.

No cerrado, o cultivo da soja tornou-se possível graças aos resultados obtidos pelas pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com produtores, industriais e centros privados de pesquisa. Os avanços nessa área possibilitaram também o incremento da produtividade média por hectare, atingindo os maiores índices mundiais.

Além disto, o cultivo do soja no Brasil se orienta por um padrão ambientalmente responsável, com práticas de agricultura sustentável, à exemplo do sistema integração-lavoura-pecuária e da utilização do plantio direto.

São técnicas inteligentes que permitem o uso intensivo da terra e reduzem o impacto ambiental, o que significa menor pressão pela abertura de novas áreas de cultivo e contribui para a preservação do meio ambiente.

Mas esta cultura é uma sobrevivente dos maus governos e dos burocratas.

Durante decênios a soja era apenas uma curiosidade agrícola. Existem registros de que algumas sementes teriam vindo dos Estados Unidos para à Escola de Agronomia da Bahia em 1882. Também se sabe que foram realizados estudos com a planta em 1891, no Instituto Agronômico de Campinas, no Estado de São Paulo. Ao que consta, a entidade, distribuiu sementes a alguns produtores. Mas nada de prático resultou destas iniciativas.

A primeira região em que a cultura perdurou fica no Estado do Rio Grande do Sul. Foi em 1914 que as sementes chegaram à região da cidade de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul.

O pastor luterano de origem norte-americana, Albert Lehenbauer, que viveu na região, trouxe sementes de soja dos Estados Unidos e as distribuiu a meia dúzia de famílias da comunidade luterana. Cada agricultor tinha de fazer o mesmo com os vizinhos. Três anos depois, a cultura da soja havia se alastrado, e não houve mais volta.

O grão ajudou no combate à pobreza e a impulsionar a suinocultura na região, uma vez que galinhas e porcos engordavam bem mais com a forrageira do que os alimentados com abóbora ou mandioca.

Ainda assim, durante muito tempo a expansão da soja ficou restrita à região. Foi só a partir de 1960 que se criou um mercado para o produto e a cultura expandiu.

Um episódio interessante desta história é relatado pelo site da Corretora Granos – especializada em commodities agrícolas, e tem como personagem o ex-ministro Delfim Neto:

“A ditadura militar ainda estava em seu início quando o então presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost, apresentou ao ministro Delfim Netto uma “espécie” de feijão que começava a ganhar terreno no Rio Grande do Sul. Era um tal de “o soja”, cuja colheita somava menos de 1 milhão de toneladas em meados da década de 1960.

Naqueles idos, o café era o carro-chefe da agricultura brasileira e um dos principais responsáveis por trazer divisas externas para a economia nacional. Em 1965, as exportações de café renderam ao país US$ 706,5 milhões, o equivalente a 44,6% de todas as exportações do Brasil, conforme os dados da publicação “Estatísticas do Século XX”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Um dia, o doutor Nestor Jost chegou e disse: Delfim, lá no Rio Grande do Sul apareceu um tal de o soja. Temos sucesso e já produzimos 300 mil toneladas”, conta Delfim. Começava ali uma revolução na agricultura nacional que faria do café mero coadjuvante.

A partir da criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 1973, houve um salto tecnológico que adaptou a produção de soja ao Centro-Oeste do país. “Partindo do nada, o Brasil descobriu a soja e produziu, em cinco ou seis anos, seis milhões de toneladas”, afirma o ex-ministro.

De fato, a colheita nacional de soja teve um expressivo aumento, passando de 1,056 milhão de toneladas em 1969 para 7,8 milhões de toneladas em 1974, conforme os dados do IBGE. Com o avanço da colonização agrícola do Centro-Oeste esse número só fez aumentar, chegando a 15,1 milhões de toneladas em 1980.

“Era um outro momento, um outro instante. O país estava investindo para burro, construindo portos, estradas, permitindo que as pessoas invadissem, vendessem um pedaço de terra no Rio Grande do Sul e fossem comprar um grande pedaço de terra em Mato Grosso. O país estava ‘importando’ a gauchada para produzir”, lembra Delfim.

A bem-sucedida incursão da agricultura no Centro-Oeste brasileiro ajudou a soja a ‘desbancar’ o café do posto de carro-chefe do agronegócio. Conforme a mais recente estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a soja será responsável por R$ 83,2 bilhões, ou quase 20% dos R$ 422,7 bilhões do Valor Bruto da Produção Agropecuária em 2013.

Dos anos 1960 para cá, a produção de soja cresceu mais de 80 vezes. Na safra 2012/13, cuja colheita se encerrou oficialmente em junho, a produção totalizou 81,4 milhões de toneladas, segundo projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).”

Mas todas as vezes que pode, o governo tem feito tudo ao seu alcance para atrapalhar.

Esta sanha vem nas vísceras de qualquer governo que pense só em engordar o erário. Tanto na direita como na esquerda.

Este episódio da história da soja no Brasil aconteceu em 1980. Já que os agricultores estavam ganhando dinheiro com a soja, o governo encheu os olhos.

E no Brasil, arrecadar é sempre prioridade. No afã de, como sempre, arrancar tudo o que podia, o então ministro Delfim Neto criou um “confisco cambial” de 30% sobre a exportação de soja em grão.

Mas não combinou com o Russos, no caso com os gaúchos. O fato é que a revolta foi imediata. Os gaúchos tem um ponto fraco: não gostam de ser tomados com tolos e não gostam de ser passados para trás. Em poucos dias, mais de 700 mil produtores de soja saíram às ruas e paralisaram o sul do país.

A ameaça foi a paralização, pura e simples, da colheita da soja. E para provar que a ameaça era para valer, os tratores e colheitadeiras foram para as praças públicas das cidades da região produtora. A mensagem era óbvia: colheitadeira na praça era igual a colheitadeira parada. E colheitadeira parada era soja deixada no campo para apodrecer.

O governo levou um susto. Não estava acostumado a ver povo trabalhador disposto à brigar. Era comum, na época, arruaceiros da esquerda irem para a rua criar confusão, mas agricultores em época de colheita, não.

O próprio ministro Delfim foi a Porto Alegre, tentar algum acordo, mas não teve boa acolhida e chegou a ser hostilizado. Moral da história: o governo engoliu em seco e recuou. Isto durante o regime militar, convem lembrar.

Um outro exemplo, mais recente, que também tem a ver com o soja, mas inclui outros cultivares, é o dos transgênicos.

O Brasil ocupa hoje o segundo lugar entre os países que mais cultivam variedades geneticamente modificadas de grãos e fibras do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Isto conforme o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês).

Em 2013, os produtores brasileiros cultivaram 40,3 milhões de hectares com soja, milho e algodão transgênicos, enquanto os Estados Unidos, país líder no plantio de transgênicos, semearam 70,2 milhões de hectares.

O começo da história dos transgênicos no Brasil, no entanto, foi tumultuado. No começo dos anos 90, produtores do sul do País iniciaram o cultivo de soja geneticamente modificada vinda da Argentina. Era uma opção de cultivo mais competitiva e ninguém ainda havia visto propriedades, digamos, mefistofélicas, nestas sementes.

Também ninguém ainda tinha se dado conta do alto potencial ongístico (bandeira de alta visibilidade e rentabilidade para ONGs) dos transgênicos. Todavia, isto não demorou nadinha, já que nossos concorrentes internacionais da oleaginosa trataram de arregimentar “especialistas” e ONGs “especializadas” em um esforço para bloquear a elevação da produção brasileira pelo uso de sementes mais produtivas e resistentes.

O ataque aos transgênicos era um objetivo estratégico das esquerdas, notadamente dos lulopetistas anti empresas multinacionais, bem como de outros interessados em atrasar o Brasil. Assim, não parecia ser uma tarefa complicada, já que o Brasil sempre teve um multidão de ambientalistas e agrobiólogos de bar prontos a opinar, entre um chope e outro, em questões ligadas a biocatástrofes e ao fim dos tempos de modo geral.

De toda forma, como o assunto demorou para no radar da imprensa e do governo, a produção se expandiu. Quando, finalmente, a gritaria patrocinada dos anti-transgênicos, encontrou eco, em 1998, a venda dos transgênicos foi proibida por uma ação judicial.

Por pouco o Brasil não perdeu sua competitividade no mercado internacional do soja. Até que, em 2003, com a edição de uma MP (Medida Provisória), foi para autorizada a comercialização.

Finalmente a Lei da Biosegurança, de 2005, criou regras que disciplinaram a pesquisa e o uso das sementes transgênicas. Como resultado, houve significativo incremento da produtividade, ajudando a competitividade do agronegócio brasileiro.

Estes exemplos mostram duas coisas:

  • É perigoso deixar os políticos soltos quando o interesse nacional está em jogo. Político solto é perigo em dobro. A sociedade brasileira, para obter o espaço e a liberdade que precisa para se desenvolver, vai precisar recuperar a capacidade de decidir sem intermediários. Vai precisar desenvolver e estabelecer os meios para participar diretamente da definição de seus interesses. E a saída digital vai nesta direção.
  • Se formos esperar pelo governo, vamos voltar à idade da pedra.

Ceska – O digitaleiro


 

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