Artigos do Autor: Celso Skrabe

SÓ OS CLUSTERS SALVAM A INDÚSTRIA BRASILEIRA / PROPOSTA DE CRIAÇÃO DA EMBRACLUSTER

Só os clusters salvam a indústria brasileira – Embracluster – uma Embrapa para a indústria brasileira.

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Sou Celso Skrabe, Consultor de Empresas, e neste vídeo vou abordar a crise da indústria brasileira, analisar suas causas e explicar por que só os clusters industriais podem salvar a indústria do país. 

Os números mostram que a indústria brasileira está em crise. 

Os números não só estão ruins como vem piorando de modo alarmante. 

Quarenta anos atrás, em meados dos anos 80, quase a metade do PIB brasileiro vinha da indústria.

A partir de então a manufatura brasileira perdeu vitalidade, engatou a marcha a ré e passou a andar para trás. 

A indústria de transformação, o ramo mais diversificado da indústria e que transforma matéria-prima em produtos finais ou intermediários, desabou. 

Caiu de 36% do PIB em 1985 para vexaminosos 10,8% de participação na produção nacional em 2021. 

E em relação à 2023 a CNI – Confederação Nacional da Indústria, informa mais uma queda de 0,5% na indústria de transformação.

Pior foi a queda da participação da indústria brasileira na produção mundial. Em 1995, nossa indústria representava 2,77% da produção industrial do mundo. Hoje o percentual é de apenas 1,28% – ou seja, caiu para praticamente a metade.

E como desgraça pouca é bobagem, a esta altura do estrago, dá para afirmar que, se continuar nesta toada, em diversos setores da indústria corremos o risco de voltarmos no tempo e jogarmos no lixo os últimos 100 anos de desenvolvimento industrial. 

Neste vídeo vou explicar por que só os clusters industriais podem salvar a indústria brasileira e reverter o processo de desindustrialização. E vou sugerir a criação da EMBRACLUSTER, uma empresa publica a ser criada nos moldes da EMBRAPA com a missão de reinventar a indústria brasileira e fazê-la recuperar o protagonismo que já teve – e que é preciso que volte a ter – na economia brasileira.

A natureza da EMBRACLUSTER, no entanto, seria diferente daquela da EMBRAPA porque a principal diferença na obtenção de resultados entre o agro e a indústria é que o campo crítico da competitividade do agro está na produção, enquanto o campo crítico da competitividade da indústria se situa no mercado.

A denominação de “Clusters industriais” é atribuída a aglomerados de indústrias, fornecedores de insumos, prestadores de serviço, empresas de apoio e logística, formadores de recursos humanos e outras atividades de suporte que atuam colaborativamente para suprir e atender a uma determinada cadeia produtiva industrial da qual fazem parte. 

Dada esta diferença, o principal foco de atuação da EMBRACLUSTER deverá ser a melhoria da competitividade mercadológica das empresas clusterizadas. 

A métrica de seu desempenho deve ser o nível de participação e a rentabilidade dos produtos brasileiros nos mercados do Brasil e do exterior, bem como a conquista e a preservação destes mercados.

A EMBRACLUSTER operaria no formato de uma provedora de soluções em todo o espectro das necessidades e demandas dos “clusters”, atuando tanto como consultoria multidisciplinar como na qualidade de parceira no desenvolvimento de inovações, tecnologias, boas práticas e produtos.

O seu escopo de atuação incluiria mediar as demandas dos mercados e o mix de produtos a ser produzido pelos clusters e suas indústrias. Outra estratégia de sua operação seria apoiar acordos de cooperação entre os membros dos clusters, desenvolver mecanismos para facilitar o consórcio, a coordenação e a soma de esforços no âmbito do complexo dos clusters.

Assim como incluiria promover a sinergia e a cooperação via compartilhamentos e padronização, estimular a engenharia de valor, o design, a inovação tecnológica, coordenar esforços para ganhar escala, evitar sobreposições e desperdícios, promover ações para reduzir custos e melhorar a produtividade e, enfim zelar pelo bom funcionamento de toda a estrutura. 

Para mostrar a conveniência da criação da EMBRACLUSTER vou dividir a questão em cinco tópicos:

1.  A real situação da indústria brasileira atual;

2.  O modelo da EMBRAPA e suas lições para a indústria brasileira; 

3.  Como transferir o modelo EMBRAPA para a indústria;

4.  Como criar e empoderar a EMBRACLUSTER;

5.  Os riscos de nada fazer e ficar para trás.

1.  Vamos examinar, então, como está a real situação da indústria brasileira atual.

Como vimos, o setor manufatureiro, que tinha de 36% do PIB em 1985 caiu para 16,5% em 2008 e para vexaminosos 10,8% de participação no PIB em 2021. Foi uma queda de 25 pontos percentuais no conjunto do produto interno bruto do país em 40 anos. Ou seja, a indústria perdeu um quarto do PIB nacional no período. Se não fosse o milagre do agro estaríamos chorando as pitangas junto com a Venezuela e outros perdedores por aí. 

A indústria, antes protegida e beneficiada por incentivos fiscais e juros subsidiados, estava despreparada e mal-acostumada e sofreu com o choque da abertura econômica dos anos 1990, com restrições ambientais mal concebidas, com oscilações cambiais devastadoras, com o custo Brasil na estratosfera e outros infortúnios de nossa insanidade tropical. O efeito foi que perdeu produtividade, ficou tecnologicamente defasada, não conseguiu acompanhar a velocidade das transformações do mundo e nem se adaptar ao ambiente global de alta competitividade. 

A perda se deu em diversas frentes, mas um indicador chave dá a medida do que vem acontecendo: trata-se da chamada produtividade total dos fatores de produção, a PTF, que vem caindo continuadamente. Este indicador mostra o grau de desenvolvimento econômico de um país. Países ricos são ricos porque são altamente produtivos e agregam um alto valor por trabalhador. Um trabalhador norte americano é cinco vezes mais produtivo que um trabalhador brasileiro e, infelizmente, a baixa produtividade do trabalho resulta em baixos salários e em países mais pobres.

E o que faz o governo? Está inerte?

Não, aparentemente até que não está. O que acontece é que o governo está desorientado, atira para todo lado e vem adotando medidas que são ineficazes por não colocarem o foco onde a ação acontece, ou seja, no mercado. E também por desconhecerem a complexidade da indústria 4.0 em um mundo conectado, robotizado, automatizado, globalizado e, agora, “inteligentizado” pelo uso intensivo da Inteligência Artificial.

Ainda no governo Dilma foi criada a EMBRAPII – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, uma Organização Social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Já no governo atual, em 22 de janeiro deste ano de 2024 o governo federal lançou o estrepitoso Programa Nova Indústria Brasil (NIB), um programa festivamente apresentado, com muita retórica e cintilantes boas intenções. Mas aí é que a coisa pega.

As medidas preconizadas pelo Programa da Nova Indústria são do tipo que prometem muito, mas entregam pouco.

O Brigadeiro Vicente Faria Lima, o grande Prefeito de São Paulo, um realizador incomparável e que, entre outras obras, iniciou o Metrô de São Paulo, dizia que o Brasil não tem falta de PLANEJAMENTO. Tem falta é de FAZEJAMENTO.

A questão é: diante deste quadro um tanto quanto sombrio, estará a indústria brasileira condenada ao caos de uma décrisis, o tipo da crise fatal que os gregos temiam?

Não necessariamente.

O que temos que fazer é transplantar para a indústria o que está dando certo no agronegócio brasileiro. 

Então vamos ao segundo tópico para examinar mais de perto o modelo EMBRAPA e suas lições para a indústria brasileira.

O sucesso da EMBRAPA mostra que podemos encontrar caminhos brasileiros para sermos competitivos em escala global. Estamos fazendo isto no agro e certamente podemos fazer isto na indústria.

Neste ponto é que o agronegócio mostra o caminho e a Embrapa ensina o método.

A Embrapa hoje é a grande formuladora das estratégias da agricultura brasileira. Detentora de reputação e prestígio inquestionáveis, suas propostas pairam acima das controvérsias e das paixões políticas. Sua inequívoca competência, objetividade e seriedade garantem a ela a independência para atuar na promoção do que é o melhor para a agricultura brasileira.

Graças ao respeito que impõe e ao reconhecimento de sua competência, a Embrapa conseguiu posicionar-se como uma superestrutura sobre todo o conjunto do agro brasileiro. 

Esta condição de supremacia é que lhe permite agir como o principal player e como o principal coordenador estratégico das políticas e iniciativas do mundo agro. 

É esta abordagem, que leva em conta a totalidade dos fatores envolvidos no ecossistema produtivo, que permite que encare de frente tanto os problemas como as oportunidades existentes. 

Além disso, a EMBRAPA se empenha na busca sistemática da SUSTENTABILIDADE de suas ações. O conceito aparece tanto em sua Declaração de Missão como em sua Declaração de Visão e revela a preocupação da empresa com a continuidade das iniciativas e a perenidade dos resultados.

Mas, enfim, como transferir o modelo EMBRAPA para a indústria?

Como vimos no tópico anterior, três dos vetores fundamentais do modelo da Embrapa são 1) sua independência, 2) sua supremacia na formulação das estratégias para o agronegócio e 3) a busca da sustentabilidade em suas iniciativas.

Estes três vetores são os condicionantes para criar uma transferência bem-sucedida do método da Embrapa para a EMBRACLUSTER.

Se o propósito é criar uma empresa que traga para a indústria o sucesso da Embrapa é indispensável ter em mente que é preciso fazer uma transferência efetiva dos fatores que fazem o sucesso da EMBRAPA. 

Só contando com independência para fazer o certo do jeito certo, sem concessões, só contando com autoridade para estabelecer políticas e definir prioridades, assim como buscando sustentabilidade com visão de longo prazo é que a EMBRACLUSTER poderá alcançar resultados de envergadura equivalente àqueles da Embrapa. 

Assim, não dá para fazer meia transferência.

A cautela se justifica porque já vimos este filme antes. A Embrapii e outras Iniciativas pontuais e isoladas do tipo das que propõe o Programa Nova Indústria Brasil (NIB) até podem obter alguns resultados, só que igualmente pontuais e isolados. 

Ocorre que, na atual conjuntura, o que realmente a indústria precisa é de algo verdadeiramente disruptivo, de algo radical, maior e mais ambicioso. 

O Brasil precisa priorizar a indústria, pensar diferente, pensar grande e agir grande. Sem reunir massa crítica não vamos chegar a lugar nenhum. É preciso focar em soluções transformadoras que sejam capazes mudar o ecossistema industrial brasileiro e de tal modo que possamos proclamar a mudança repetindo os versos de Camões nos Lusíadas: “Cesse tudo o que a antiga Musa Canta que um valor mais alto se alevanta”.

Exemplos de políticas de “cluster” bem-sucedidas no mudo são os da indústria de microchips de Taiwan, de carros elétricos na China, de pisos cerâmicos na Itália, e da indústria de software do Vale do Silício nos Estados Unidos

Em síntese, o que nossa indústria precisa é de condições e competência para inovar e avançar nos hipercompetitivos mercados mundiais levando a eles a marca do Brasil. 

Mas, então, como organizar uma instituição que atenda a todos estes requisitos?

Neste quarto tópico vamos ver uma forma para criar a EMBRACLUSTER;

A instituição proposta para impulsionar a indústria haverá de ter semelhanças, mas terá requisitos diferentes daqueles que tem a EMBRAPA em sua missão no agro.

Ainda que tanto o desempenho da agricultura como da indústria dependa da produtividade, o ecossistema de cada setor é diferente em muitos aspectos e, assim o tipo de apoio necessário também. 

São diferentes o ciclo de produção, a cadeia de suprimentos, a dinâmica do mercado, a geração de valor etc. 

Por isto a instituição a ser criada para apoiar a indústria precisa de um escopo de atuação específico, desenhado para alcançar toda a complexidade da sua cadeia de negócios.

É preciso lembrar que uma das principais diferenças entre o agro e a indústria é que o agro produz commodities, o que faz com que seu campo crítico de competitividade se situe na produção, enquanto a indústria produz mercadorias e, portanto, seu campo crítico de competitividade reside no mercado.

Isto significa que, embora tanto o agro como a indústria precisam ser competitivos em toda sua cadeia competitiva, para se manterem sustentáveis, o jogo de cada um dos setores se ganha ou se perde no seu campo crítico.

Ainda para entender a diferença entre o agro e a indústria vale destacar que o agro brasileiro vem sabendo capitalizar as vantagens competitivas que o favorecem no mercado internacional. Além do Brasil possuir vastas extensões de áreas agricultáveis, clima favorável e água abundante, graças à Embrapa e a outras instituições correlatas, o agro conta com tecnologia de ponta e uma geração de empresários e recursos humanos bem-preparados e atuantes. 

A reunião deste conjunto de condições excepcionais não aconteceu da noite para o dia e se deve, em parte, ao fato de que a EMBRAPA nasceu abaixo da linha de radar da política, o que permitiu a ela, mesmo sendo uma empresa pública, se profissionalizar e criar uma cultura interna ética saudável e resiliente sem sofrer interferências.

Já nossa indústria nasceu e sempre se manteve com grandes limitações. A antiga estratégia de substituição das importações sempre foi de horizontes limitados e hoje se encontra esgotada. O custo Brasil é um ônus intolerável. Os produtos evoluíram, os mercados mudaram e a indústria do Brasil se apequenou. Ainda assim temos algumas indústrias que brilham no mercado mundial, como a EMBRAER, a WEG, a TRAMONTINA, a GERDAU, a ALPARGATAS, a JBS e algumas outras. O que estas empresas têm em comum é que estão alinhadas com os novos paradigmas do mercado mundial, são empresas sólidas, bem administradas e com profundo conhecimento de seus mercados. Também contam, na retaguarda, com o apoio de sólidos “clusters” em suas regiões de origem, para os quais contribuem e dos quais se beneficiam. 

Outros exemplos de “clusters” no Brasil são os da indústria calçadista de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul e o de Franca, em São Paulo, o cluster metalúrgico de Joinville, em Santa Catarina, o cluster da indústria cerâmica na região de Criciúma, em Santa Catarina, o cluster de produção de proteínas na macrorregião do Alto Uruguai gaúcho e  Oeste catarinense e diversos outros. 

No Brasil nossos “clusters” são basicamente informais ou associativos, surgiram espontaneamente e funcionam gerenciando a cadeia estratégica de forma mais ou menos cooperada ou consensual. 

Isto é bom, mas insuficiente para a maioria das empresas nacionais competirem no atual hipercompetitivo mercado mundial, onde vem preponderando os mega-clusters nacionais, com países inteiros operando políticas nacionais centrados em “clusters” como é o caso da indústria de microchips de Taiwan, de carros elétricos na China, de pisos cerâmicos na Itália.

A conclusão, assim, é que o conjunto da indústria brasileira precisa contar com um suporte estratégico e mercadológico maior, mais bem organizado e institucionalizado. 

E como comprova a EMBRAPA, só uma empresa pública independente, capacitada a encarar os ecossistemas produtivos em sua totalidade, e com visão de longo prazo, reuniria as condições para encarar o imenso desafio de organizar os clusters competitivos que podem salvar a indústria do Brasil.

Finalmente, e se o Brasil não fizer nada?

Uma coisa é certa: o mundo não vai parar para esperar pelo Brasil. 

Basta lembrar que por muito pouco não perdemos a EMBRAER para a Boeing. Felizmente, para o Brasil, a Boeing cometeu alguns erros de consequências trágicas e precisou recuar da compra, que já estava fechada. Mas nada impede que logo logo os chineses voltem seu olho gordo para a EMBRAER e tentem levar nossa melhor empresa. 

Os nossos amigos portugueses, sempre práticos e telúricos, tem um ditado irrecorrível: “quem não tem competência não se estabelece”.

O que quase aconteceu com a Embraer vem acontecendo de maneira desalentadora na indústria brasileira. Sem horizontes e sem sólidas perspectivas nossas melhores indústrias, as mais inovadoras e competitivas, vem sendo assediadas pelos conglomerados internacionais e sendo vendidas às dúzias. 

Quando uma empresa é vendida nós perdemos o controle sobre sua tecnologia, sobre seu desenvolvimento e sobre seu futuro.

De modo que, para reverter a debacle da indústria é preciso mais que uma política de apoio perfunctório. É preciso o amparo estratégico de uma organização multifacetada e que se constitua em uma superestrutura proativa, atenta ao mundo e aos mercados mundiais e que não se deixe surpreender pelos fatos. Uma instituição qualificada a fazer a interface entre as empresas brasileiras e seus mercados no Brasil e no exterior. Mais do que isto, uma empresa capacitada a construir futuro, posto que, como dizia o grande Peter Drucker, é certo que não podemos prever o futuro, porém podemos construí-lo. 

Para atender a este escopo é que faço a sugestão de criarmos a EMBRACLUSTER. Uma empresa abrangente como a EMBRAPA e que apoie o conjunto, a totalidade das cadeias produtivas agrupadas em clusters, ainda que sem perder de vista as empresas que os compõe. Em outras palavras, que olhe para a floresta e não para árvores isoladas. 

Esta visão de conjunto é essencial para que os “clusters” sejam bem balanceados e concatenados, uma vez que, como se sabe, todo comboio viaja pela velocidade do barco mais lento.

Para concluir, um recente estudo da Universidade de Harvard revela um paradoxo: no mundo altamente globalizado que vivemos as vantagens competitivas duradouras numa economia global residem cada vez mais em coisas locais – conhecimento, relacionamentos, motivação – que os rivais distantes não conseguem igualar. E é isto, conhecimento, relacionamentos e motivação que sabemos como e onde buscar. 

Felizmente ainda dá para salvar nossa indústria antes que a derrocada industrial nos faça voltar no tempo e nos condene a viver do agro e dos minérios, como nos idos tempos do Império. 

Por fim, gostaria de dirijr à todos os brasileiros que querem ver no país uma indústria pujante e próspera a convocação do grande fazejador Brigadeiro Faria Lima: arregacemos as mangas que temos muito o que fazejar!

E se você gostou da proposta deste vídeo peço que o encaminhe para seus amigos e participe dos debates sobre os temas da indústria nas mídias sociais.

Muito obrigado.

Marketing Sapiens e a Inteligência Artificial

MARKETING SAPIENS e a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

O Marketing Sapiens vem a ser o Marketing dotado de processos inteligentes e que agora passa a contar com os novos recursos trazidos pela Inteligência Artificial, uma tecnologia que busca simular a inteligência do Homo Sapiens por meio de algoritmos capazes de aprendizado e do desempeno de atividades como o processamento da linguagem humana, a visão computacional, a Robótica inteligente e outras mais.

                  O título de meu Canal no YouTube Marketing Nuts and Bolts vem da expressão norte americana Nuts and Bolts, que significa Porcas e Parafusos e é usada para se referir aos segredos e aos aspectos práticos de uma atividade ou um processo. 

                  Mas então, o que vem a ser MARKETING?

                  A definição oficial mais recente da American Marketing Association, aprovada em 2017, diz que

                  “MARKETING é a atividade e o conjunto das instituições e processos para criar, comunicar, entregar e permutar produtos que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e sociedade em geral.”

                  Philip Kotler, um dos mais conhecidos teóricos do Marketing diz que

“Marketing é a ciência e a arte de explorar, criar e entregar valor para satisfazer as necessidades de um mercado-alvo com lucro.”

                  The Chartered Institute of Marketing define o Marketing como:

“Identificar, antecipar e satisfazer às necessidades do cliente de forma lucrativa”.

                  Eu, se me permitem, acrescentaria uma definição segundo a qual:

“Marketing é a combinação de conhecimentos, ciência e arte que permite identificar e satisfazer as necessidades e desejos humanos por meio do mercado, suas empresas, entidades e organizações.”

                  O fato é que, independentemente de como possamos defini-lo, O Marketing, assim como a esfinge de Tebas na mitologia grega, nos lança o repto milenar: decifra-me ou te devoro!

                  Desvendar os segredos do Marketing, conhecer sua natureza e mergulhar em suas entranhas é um imperativo de sobrevivência para quem quer que se proponha a atuar no mercado contemporâneo em meio a um cenário altamente sofisticado, tecnologicamente complexo e impiedosamente competitivo.

                  Esmiuçar os recônditos do Marketing é o caminho a seguir para quem deseja compreender sua essência e dominar suas potencialidades.

O Marketing é o Sistema Nervoso da Empresa. E tal como no Sistema Nervoso do Homo Sapiens, O cérebro deve ser o centro da própria existência, o órgão que, por definição, deve pautar a vida, ter consciência do mundo ao seu redor e tudo deve saber para poder decidir e comandar com acerto e competência.

                  Uma empresa é um ente social com objetivos econômicos, que atua no mercado e deve viver em constante diálogo com ele, mantendo uma conversação produtiva e proveitosa que aos dois beneficie. 

                  Seu modus operandi constitui-se em um misto de ciência e arte e combina humanidades e técnicas Mercadológicas com refinamentos de artes marciais.

                  O recente advento da INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL empoderou o Marketing ainda mais, adicionando a esta especialidade novas competências e projetando seus horizontes para vastos espaços ainda inexplorados.

                  A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL correlacional já vem contribuindo na busca de informações, na aferição de tendências, na mensuração de vetores, em estudos comparativos,  em análises de Bigdata, no mapeamento de meta-mercados, na avaliação de campanhas publicitárias, além de facilitar a análise e a interpretação de pesquisas de mercado.

                  Um potencial ainda maior de aplicação da Inteligência Artificial no Marketing está surgindo com a nova INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PROFUNDA, a denominada IA CAUSAL, que trabalha não apenas fazendo a correlação de dados, que é o método da INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL hoje prevalente, mas o próprio algoritmo da formação dos dados, e portanto, a cadeia de eventos da relação de causa e efeito.

                  Esta nova modalidade de INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL promete revolucionar o campo da formulação de Estratégias, especialmente a arquitetura de Cenários futuros, permitindo prever resultados que vão transformar não só o Marketing, mas a própria Instituição do MERCADO.

                  Afinal, o Marketing existe porque existe o MERCADO e o MERCADO existe porque existe o Homo emptor – o homem que compra.

                  Neste texto do Marketing Sapiens coloco ao lado do título MARKETING a expressão Sapiens, termo que vem do latim e que significa sábio, astuto, inteligente.

                  O uso mais conhecido da expressão sapiens, obviamente, é aquele associado à designação de nossa espécie, que no sistema lineano, é denominada Homo sapiens, que vem a ser a nomenclatura de nossa espécie humana e designa o homem moderno e quer dizer: “homem sábio, homem que sabe”.

                  O título Marketing Sapiens reúne estes dois conceitos para definir o MARKETING INTELIGENTE, o Marketing estruturado para desempenhar o papel de cérebro da empresa e configurado para utilizar a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL visando obter uma performance superior e alcançar vantagens competitivas sustentáveis.

                  A civilização inventou o MERCADO porque os indivíduos de nossa espécie Homo sapiens possuem necessidades, aspirações e desejos que ultrapassam vastamente sua capacidade de proverem para si mesmos.

                  Aristóteles, um dos maiores filósofos gregos, 350 anos antes da era cristã, observou que o homem é um ser que necessita de coisas e dos outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, buscando a comunidade para alcançar a completude.

                  Aristóteles acrescentava que o homem é um ser social que, por natureza, precisa pertencer a uma coletividade. Somos, portanto, comunitários, gregários, sociais e solidários.

                  O que é fato incontroverso é que a sobrevivência de nossa espécie sempre dependeu da cooperação entre seus membros.

                  Nas savanas da África nossos ancestrais dos grupos de caçadores aprenderam a agir em conjunto e desenvolveram a linguagem humana para combinarem estratégias de caça porque caçar elefantes não era tarefa para caçadores solitários.

                  E foi assim que tudo começou.

                  Em torno de 11 mil anos atrás, após o fim da última Era do Gelo, grandes mudanças ocorreram na região do chamado Crescente Fértil, uma área em forma de lua crescente localizada no Oriente Médio e que incorporava o Egito Antigo, o Levante e a Mesopotâmia.

                  O Crescente Fértil é irrigado por quatro grandes rios, o Jordão, o Eufrates, o Tigre e o Nilo e abrange uma superfície de cerca de 500 000 km2, equivalente à França, na Europa, ou ao Estado de Minas Gerais, no Brasil, e hoje é dividida pelos atuais estados do Iraque, Síria, Líbano, Israel, Palestina, Jordânia e imediações.

                  A região do Crescente Fértil ficou conhecida como o Berço da Civilização do Homo sapiens, pois foi ali, graças as condições favoráveis para a agricultura, que surgiram os primeiros assentamentos humanos permanentes.

                  A atividade agrícola, diferentemente das atividades de caça, pesca ou coleta, exige dedicação integral e continuada.

                  Cuidar da safra é tarefa que não permite esmorecimento.

                  O cultivo do solo exige os cuidados do agricultor ao longo de todo o ciclo da produção, da semeadura até a colheita e, assim, estes assentamentos agrícolas iniciados no Crescente Fértil levaram o Homo sapiens a mudar seu estilo de vida, seus hábitos e sua organização social.

                  Na atividade agrícola o ano é dividido em etapas.

                  Tem o momento de preparar o solo, o momento de plantar a semente, o momento de limpar as ervas daninhas e o momento da colheita.

                  E esta foi a origem da evolução do Homo sapiens no rumo do Homo economicus, o homem racional que toma decisões no campo econômico com base na razão e com foco no seu bem-estar.

                  Ademais, a agricultura favorecia elevar a produção de alimentos e gerar excedentes, o que ensejava o crescimento da população e abria espaços para custear experimentos e inovação.

                  Em paralelo também sofisticava os hábitos de consumo e propiciava tempo livre para o lazer, expressão de origem latina que vem de “licere”, ou seja, algo lícito ou permitido para descanso, distração ou entretenimento. E tudo isto era novidade para o gênero humano e tornava a experiência de vida mais enriquecedora e estimulante.

                  O fato, entretanto, é que as pessoas dedicadas ao trabalho do campo viviam atarefadas, e só ocasionalmente tinham tempo para irem fazer suas próprias trocas.

                  Aí entram as qualidades únicas do Homo sapiens: sua versatilidade, sociabilidade, solidariedade e capacidade de aprender e inovar.

                  Graças à bem-sucedida experiência dos grupos de caçadores no trabalho em equipe, fator decisivo para a sua sobrevivência, o clã aproveita o aprendizado da colaboração e o aplica nas novas lides agrícolas.

                  E em meio as atividades do campo e da vida que segue, os membros das novas comunidades agrícolas se interessam por trocar coisas que tem por coisas que desejam.

                  Para facilitar as trocas surgem pontos de encontro onde os interessados em permutar coisas vão para se encontrar.

                  Mas dado que a maioria dos novos agricultores trabalhavam de sol a sol e só esporadicamente podiam ir aos pontos de troca, a solução prática foi confiar a um dos membros do clã a tarefa de ir fazer as permutas que interessavam aos demais.

                  Esse membro designado agora se converte em um negociador.

                  De tanto trocar e permutar vai acumulando experiências e melhorando suas habilidades negociais. Logo passa a avaliar com perícia quantas medidas de cevada ou de trigo vale um carneiro, quantos carneiros podem ser oferecidos por um jumento e quantos jumentos seria justo pagar por um camelo.

                  Acontece que o bom negociador é a quintessência do Homo economicus.

                  Se ele percebe que seus produtos não são valorizados naquele dado ponto de troca, ele monta em seu camelo, ou seu jumento, e vai em busca de outra PRAÇA.

                  Possivelmente, ao chegar lá, ele irá se dar conta que naquele novo ponto de trocas ele é desconhecido.

                  Para conseguir fazer negócios busca entendimentos com os outros comerciantes locais. Talvez consiga negociar um espaço ao lado da fonte onde todos vão buscar água e possa ali expor seus produtos. Faz arranjos bem vistosos e oferece amostras para permitir que os frequentadores locais experimentem suas mercadorias.

                  Assim, vivendo experiências, testando alternativas e observando com olhar atento o que funciona e o que não funciona na prática do dia a dia, os mercadores pioneiros foram galgando a curva do aprendizado de seu ofício e reunindo os conhecimentos da ciência e arte de conquistar clientes e fazer negócios.

                  São estes conhecimentos, e mais um grande segredo, que estes mercadores pioneiros nos legaram e que hoje formam os fundamentos do Composto mercadológico como conhecemos.

                  Vamos então ver os 4 eixos do Composto mercadológico, ou Marketing Mix, sob a ótica do Marketing Sapiens. O Grande Segredo, contudo, ficará como um teaser a ser revelado no final.

                  O Marketing Mix, ou Composto Mercadológico, divide a ação do MARKETING em 4 eixos de atuação distintos.

                  Estes eixos de atuação são conhecidos como os 4 Ps do MARKETING – PRODUTO, PREÇO, PRAÇA E PROMOÇÃO.

                  Esta divisão foi proposta em 1960 pelo professor Jerome McCarthy e foi amplamente adotada não só por facilitar a compreensão dos fundamentos do MARKETING como por ser de grande utilidade como ferramenta de planejamento e análise das atividades mercadológicas.

                  Vejamos, então, a natureza destes quatro eixos do Marketing Mix:

                  O PRODUTO é o primeiro e o mais importante elemento do Composto mercadológico. Sua primazia se dá pela óbvia razão de que sem PRODUTO não existe MERCADO.

                  E se o PRODUTO é a razão de ser do MERCADO, conseguir compradores para o PRODUTO no MERCADO é a razão de ser do MARKETING.

                  Sinteticamente, pode-se dizer que, para o MARKETING, a expressão PRODUTO define todos os bens e serviços comercializados no MERCADO.

                  O termo “PRODUTO” é formado pela combinação de duas palavras latinas: “pro”, que significa “à frente”, como é o caso em prover, promover ou progredir, e a palavra “dúcere” que significa carregar, levar, conduzir.

                  Assim a expressão “PRODUTO” traz em si a noção de algo que tomou forma, agregou substância, adquiriu identidade e se tornou uma coisa nova, um novo serviço ou uma nova solução, devidamente formatada, e que passa a ter valor no Mercado, que passa a ser valiosa e desejável para o Homo emptor, o homem que compra.

                  Desta forma, para facilitar o entendimento do conceito no âmbito do Composto mercadológico, convencionou-se que PRODUTO, na acepção do MARKETING, abarca toda e qualquer coisa que tenha valor e seja colocada no Mercado para ser vendida ou comprada.

                  A própria ideia do MARKETING MIX pressupõe que o PRODUTO oferecido no MERCADO irá competir pela preferência dos possíveis consumidores ou usuários.

                  Esta competição tende a se dar em volta dos três níveis que formam o PRODUTO:

                  O Primeiro nível é o “NÚCLEO”, o “Core” do PRODUTO.

                  No núcleo temos sua essência, sua substância, sua materialidade.

                  É o que define o PRODUTO em si, seu propósito, sua funcionalidade, sua “raison d’être”, ou seja, sua razão de ser. Por exemplo: uma bicicleta.

                  Sua função básica é permitir que as pessoas se desloquem de um lugar para outro sobre duas rodas. Por definição deverá ter duas rodas, selim, pedais, correia, freios etc.

                  O segundo nível é o ”PERCEPTIVO”.

                  Neste nível figuram os atributos, as características diferenciais e os elementos competitivos do PRODUTO. No exemplo da bicicleta seriam relevantes fatores como o design, as cores, o material de fabricação, a robustez, o acabamento, os acessórios e assim por diante.

                  O terceiro nível do PRODUTO é o “SUBJETIVO” e refere-se aos aspectos emocionais ligados ao PRODUTO, podendo envolver sentimentos, crenças, desejos, aspirações, valores pessoais e perspectivas individuais.

                  Uma evidência da importância emocional da bicicleta para seus donos é que muitos a chamam afetuosamente de magrela.

                  Entre os fatores deste grupo SUBJETIVO estão a reputação, a imagem da marca e o status. Também figuram nele as expectativas projetadas sobre o PRODUTO como seu desempenho, confiabilidade, funcionalidade, durabilidade etc.

                  É oportuno destacar que várias pesquisas mostram que os dois sentimentos mais relevantes para o sucesso de um produto são a lealdade e a confiança.

                  Uma commodity sem marca é só mercadoria, mas um produto com marca carrega compromissos de imagem e porta valores simbólicos e deve conhecer seu papel para manter sua boa reputação não e trair a lealdade de seus consumidores. Uma vez perdida a confiança de seus consumidores dificilmente conseguirá reavê-los.

                  O PREÇO é segundo eixo do Composto Mercadológico.

                  Uma definição simples seria que o PREÇO é o valor monetário de um PRODUTO colocado para vender no MERCADO.

                  Contudo, se formos olhar para o comportamento dos preços no MERCADO veremos que existem muitos fatores que influenciam sua flutuação.

                  Para a economia clássica de Adam Smith, o preço natural corresponde ao somatório dos custos dos insumos, mão de obra e demais fatores de produção necessários para fabricar um produto.

                  Já o preço praticado pelo MERCADO, conforme a Lei da Oferta e da Procura de Adam Smith, é regulado pela proporção entre a quantidade que é colocada no MERCADO (a oferta) e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar o preço natural da mercadoria levada ao MERCADO.

                  Muita oferta e o preço cai. Muita procura e o preço sobe.

                  Para entender a questão do preço natural é preciso ter em conta que na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma, mas a um custo.

                  Sob um enfoque Cosmológico, o PREÇO dá a medida da entropia econômica.

                  Grosso modo, a Segunda Lei da Termodinâmica explica que a transformação da natureza para fazer um produto ou prestar um serviço requer uma dada quantidade de trabalho e um dado gasto de energia.

                  Nada é grátis no Cosmo. Tudo tem custo e, portanto, tudo tem preço.

                  Os anglo-saxões simplificam o entendimento deste axioma dizendo que “não existe almoço grátis”.

                  Outro aspecto relevante para entender o fator PREÇO é o Princípio da Escassez.

                  Escassez em economia, significa que nunca há quantidade suficiente de um dado PRODUTO para atender a todas as pessoas que o desejariam possuir caso ele fosse gratuito.

                  O lado positivo do papel do MERCADO em relação ao Princípio da Escassez é que o mercado aponta o que se mostra escasso e dimensiona o tamanho desta escassez pela oscilação do preço.

                  O preço alto, então, funciona como um indicador e estimula os produtores a produzirem mais e a aumentarem a oferta.

                  Outro ponto a destacar é que o PREÇO, em MARKETING, deve ser entendido como o total do valor do desembolso necessário para a aquisição do bem ou serviço.

                  Frequentemente o valor monetário nominal não expressa o real custo do item, já que existem outros custos associados, tais como taxas e impostos, armazenagem, transporte e outros.

                  Assim, para concluir este tópico, o preço é uma referência que permite ao comprador saber o valor do desembolso necessário para adquirir a posse do produto ou receber a prestação do serviço, assim como permite ao vendedor estimar o valor que receberá pela venda do bem ou pela prestação do serviço.

                  A PRAÇA é o terceiro componente do MARKETING Mix.

                  PRAÇA, em MARKETING, vem a ser o local no ambiente do MERCADO em que se dá o encontro entre o vendedor e o comprador. É o local em que se situa o Ponto de Venda de um produto ou serviço.

                  O termo PRAÇA foi adotado para designar de forma genérica os pontos de venda, tanto físicos como virtuais, dado que durante milênios era na praça da aldeia que nossos ancestrais se encontravam para fazer trocas ou permutar coisas que tinham por coisas que desejavam.

                  Hoje o conceito de PRAÇA se alargou de tal modo que abarca o mundo todo e a PRAÇA tornou-se global.

                  O MERCADO ficou tão pervasivo, tão onipresente, que transformou o Planeta numa colossal Business-sfera.

                  Tanto que é difícil encontrar um só recanto de nosso planeta onde não se façam negócios ou não se compre ou se venda alguma coisa.

                  A diversidade dos Pontos de Venda é imensa, variada e fascinante.

                  Os Pontos físicos vão desde a mala sofrida do mascate, a cesta perfumada da vendedora de flores, o carro buliçoso de sorvetes, o sonoro vendedor de pamonhas, os acolhedores quiosques de praia, as brilhantes “vending machines”, os singelos mercadinhos do interior, aos movimentados mercados dos grandes centros, os coloridos bazares do Oriente, a Galeries Lafayette Champs-Élysées em Paris, os sortidos supermercados, os opulentos shopping  centers e, enfim, uma infindável miríade de locais onde os consumidores podem se deixar encantar por produtos maravilhosos e serem tocados pela magia da compra que move a economia e faz prosperar a sociedade.

                  Mas como a humanidade não para e o mundo evoluiu espetacularmente nos tempos mais recentes, o Homo sapiens colocou uma nova camada de tecnologia sobre o orbe terrestre, fazendo surgir a era digital e o ciberespaço.

                  Assim nasceu a PRAÇA na sua dimensão digital.

                  Neste mundo conectado, cada celular, cada tablet, cada computador e até mesmo cada sistema automatizado de compras que opera por meio da Internet das coisas, como a geladeira que encomenda no supermercado o leite e os ovos que precisam ser repostos, virou uma extensão da PRAÇA.

                  Nesta PRAÇA online existem milhões de Pontos de Venda abertos e pulsando 24 horas por dia, sete dias por semana

                  São portais, sites e Lojas Online, Marketplaces, Plataformas de e-commerce, Aplicativos dedicados e uma infinidade de outros canais de compra.

                  Apesar do número estelar de pontos de venda que a Instituição do MERCADO coloca hoje ao dispor do Homo Sapiens, o que a ciência nos diz é que o homem moderno, ainda que detentor de cultura, saber e possibilidades jamais antes alcançadas, no seu âmago, continua, biologicamente falando, o mesmo Homo sapiens de 5, 10, 100 mil anos atrás.

                  Seus conhecimentos se ampliaram de modo inimaginável, sua qualidade de vida lhe oferece conforto e bem-estar jamais sonhados, sua expectativa de vida já promete futuras gerações centenárias, e seus horizontes se projetam para o cosmo, mas no seu âmago o homem ainda é movido pelos mesmos instintos, sonhos, alegrias e tristezas de seus ancestrais.

                  E o Homo Economicus, em sua versão de negociador de nosso tempo continua interessado em comprar, vender e negociar no MERCADO e, igualmente, anseia valer-se dos benefícios e das benesses que este lhe proporciona.

                  O quarto componente do Composto de MARKETING é a PROMOÇÃO.

                  O propósito da PROMOÇÃO é divulgar, dar visibilidade e tornar o PRODUTO conhecido, enaltecendo suas qualidades e atributos para fazê-lo desejado pelos clientes de seu MERCADO alvo.

                  A publicidade é uma das formas mais conhecidas de anunciar e promover um produto. Mas não é a única. Ao componente da PROMOÇÃO incumbe colocar o produto sob luz favorável e existe uma imensa variedade de meios e maneiras de chamar a atenção, gerar interesse, estimular o desejo e conduzir à conclusão da venda.

                  Existem aquelas técnicas de promover voltadas ao grande mercado, a exemplo da publicidade e da propaganda nos meios de comunicação de massa como jornais, revistas, rádio e televisão, outdoor ou a exemplo dos patrocínios.

                  Outra forma de promover é aquela realizada pelo pessoal da empresa em contato direto com o público ou com clientes. Nesta modalidade de promoção o contato é feito com os clientes em estandes de promoção, quiosques ou estandes de vendas em eventos, feiras e exposições.

                  O Merchandising é uma ação de Marketing realizada no Ponto de Venda com a finalidade de promover a venda de um produto ou serviço.

                  Pode se limitar a cuidar da reposição e arrumação das gôndolas em supermercados, da exibição de cartazes e displays ou pode ser a demonstração ou degustação de produtos. O Merchandising tem a missão de colocar o produto diante do cliente e dar o empurrão final no ciclo da venda, posto que, como diz a sabedoria popular, o que não é visto não é lembrado e aquilo que os olhos não veem, o coração não sente.

                  A Promoção pelos canais digitais também é de grande importância. Notadamente os ligados à Internet. A começar pelos sites corporativos e Lojas virtuais seguidos pelos sites de busca, como o Google e o Bing, as Redes Sociais, sites e aplicativos de conexão entre os usuários como Facebook, Youtube, Instagram, WhatsApp e outros.

                  Ferramentas como o Telemarketing e o chamado Inbound Marketing, ou marketing de atração, usam intensivamente os canais on-line para atrair, persuadir, converter e encantar clientes.

                  Existem também as atividades de apoio, que não são menos importantes, como a Pesquisa de Mercado, as relações públicas, a assessoria de imprensa, o Serviço de Atendimento ao Consumidor e outros.

                  No grupo das atividades complementares a Pesquisa de Mercado tem a incumbência de obter informações sobre a realidade do mercado e contribuir para o Planejamento Estratégico, para o posicionamento do produto, para a definição do Público-Alvo e para orientar o conjunto das demais atividades Mercadológicas.

                  A Assessoria de Imprensa faz a intermediação entre a empresa e os veículos de Imprensa e de comunicação.

                 A Gestão das Mídias Sociais coordena as atividades de Marketing e de relacionamento na internet e associadas às redes sociais.

                  As Relações Públicas organizam o relacionamento com os formadores de opinião do Mercado e fazem a ponte com os –  stakeholders –  ou seja, com os públicos de interesse da empresa e que englobam desde o público interno, formado por colaboradores e funcionários, passa pelos os clientes e consumidores e vai alcançar o grande universo de investidores, acionistas, parceiros, legisladores, agências reguladoras das três esferas de governo, Organizações Não Governamentais e similares.

                  Enfim, para resumir, a PROMOÇÃO tem como missão principal conquistar os corações e mentes do público-alvo a levá-lo a preferir o PRODUTO que promove. Contudo a PROMOÇÃO não pode descuidar de outra frente vital para o sucesso continuado do produto no Mercado: o Pós Venda.

                  No Pós Venda duas atividades devem merecer atenção e cuidados:

                  Primeiro: O Serviço de Atendimento ao Consumidor e o Suporte ao Usuário. Hoje este serviço conta com forte presença dos Chatbots que facilitam dar apoio a clientes e usuários e podem atuar como canais de complementares pesquisa de satisfação dos consumidores. Outra tarefa que podem desempenhar é a de servirem como canais complementares de informações aos clientes potenciais.

                  Segundo: o atendimento à Garantia e a Assistência Técnica.

                  A Importância do Pós Venda não pode ser minimizada. O Cliente compra um produto para atender uma necessidade ou um desejo.

                  E para que ele fique satisfeito com o produto, este deve cumprir o que promete, funcionar bem e sem defeitos. Hoje, com as mídias sociais, eventuais problemas com o produto correm o mundo e significam baixa avaliação e problemas com o Mercado.

                  Uma última observação sobre este tópico relativo à PROMOÇÃO: do ponto de vista ético a PROMOÇÃO de bons produtos é um propósito eticamente legítimo, do mesmo modo como é ético alertar o consumidor sobre os eventuais riscos oferecidos pelo seu uso ou consumo.

                  O escritor Bernard Shaw dizia que quem confia em seu produto não deve envergonhar-se de tocar bumbo na porta da loja.

                  Assim PRODUTO, PREÇO, PRAÇA e PROMOÇÃO formam os quatro eixos em que se assenta o Marketing e em que se apoia o relacionamento da empresa com os consumidores que compram, usam e consomem seus produtos e serviços colocados na grande business-esfera do Mercado.

                  E agora, para concluir, vou revelar qual o GRANDE SEGREDO que nos foi legado pelos maiores mercadores de todos os tempos e capaz de alavancar o sucesso do marketing tanto das pequenas empresas como dos maiores conglomerados, e que pode garantir o seu sucesso e o de sua empresa.

                  Esse grande segredo guardado a sete chaves foi, certa feita, revelado aos filhos por um mercador que por muito tempo viajara com suas caravanas pelo deserto:

Filhos, a coisa mais importante para o sucesso de um mercador é simples como o ar, que está sempre à nossa volta e pode impulsionar os navios que cruzam os mares, mas também pode causar grandes tormentas que provocam destruição e morte: filhos saibam que a força mais poderosa que um mercador pode usar é a PALAVRA!

Usem bem a palavra e vosso sucesso será certo.

                  É pela palavra que vendemos, é pela palavra que argumentamos, é pela palavra que agradecemos ao criador e é pela palavra de nossos fregueses que o boca a boca vai na nossa frente para fazer nossa reputação e falar bem de nossa honestidade e promover nossa mercadoria. A palavra pode ser a benção ou a maldição do mercador. E o boca-a-boca do mercado é o nosso aroma que o vento leva e que chega antes de nós. Mas cuidado, as palavras más voam como os falcões, enquanto as palavras benignas são como sementes de tâmaras plantadas ao longo do caminho. As tamareiras demoram para produzir frutos, mas nenhuma fruta é mais doce ou mais apreciada.

                  Assim, caras amigas e caros amigos, sabemos que o maior segredo do marketing é mesmo o nosso velho conhecido boca-a-boca, agora ampliado pela internet, pelo celular, pelos aplicativos de mensagens e pelas mídias sociais

                  Sucesso e que os bons ventos do mercado enfunem suas velas!

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O MARKETING Inteligente agora com os recursos da Inteligência Artificial.

PORQUE O AGRO 4.0 VAI MUDAR O FUTURO DO BRASIL

“Cesse tudo o que a antiga musa canta que um valor mais alto se alvanta” – Camões.

O Agro está mudando o Brasil. A Onda do Agro 4.0 vem como um tsunami avassalador que vai romper os muros do atraso, mudar história do campo e colocar o Agro no centro do futuro do Brasil.

O Agro brasileiro tem DNA de primeiro mundo.

O Agro 4.0 é o agro das inovações, da automação, da tecnologia, da Internet das coisas, da Inteligência Artificial, mas é também o agro de brasileiras e brasileiros bem-preparados, de empreendedores com visão de futuro e que tem aspirações de progresso e prosperidade que não cabem mais nos moldes mesquinhos dos arranjos políticos que manietam o agronegócio.

O Brasil é um país complicado!

É verdade! O Brasil é um país complicado. Tem tudo para ser o paraíso da abundância. Tem riquezas naturais incomparáveis, território imenso e generoso, uma natureza invejada pelo mundo. Tem tudo para ser rico, próspero e sem miséria, mas teima em brigar com os fatos, ignorar o bom senso e mandar a lógica às favas.

Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos! (Nelson Rodrigues)

Nelson Rodrigues, frustrado pelo atraso endêmico que assola o Brasil desde o descobrimento, afirmou que “Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. O que Nelson Rodrigues queria dizer é que o povo brasileiro vinha sendo espoliado e esbulhado pelos coronéis, pelos governantes e pelos açambarcadores do poder desde que as caravelas de Cabral aportaram por aqui. Mas a sabedoria popular diz que não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe. E nossa gente sempre manteve a esperança. E sempre acreditou que um dia um novo futuro iria raiar no horizonte do Brasil. E esse futuro está agora batendo em nossa porta. O fato novo que agora surge no horizonte é Agronegócio que se agiganta, se torna uma força irresistível e forma um novo país dentro das fronteiras do Brasil.

O Agro brasileiro é disruptivo!

E esse novo país do Agro tem natureza disruptiva e vem com ímpeto para romper com as velhas crenças e com os velhos paradigmas do nosso triste passado patrimonialista e corrupto. E a transformação a ser produzida pelo Agro 4.0 é uma certeza porque as mudanças seguem a inexorável Lei de Camões, “Cesse tudo o que a Musa antiga canta / Que outro valor mais alto se alevanta” Mas a mudança não se limitava aos versos do poeta. As novas descobertas daquele tempo alargaram os horizontes da civilização. Mostraram o caminho para as Índias; encontraram as Américas, descobriram o Brasil, fizeram surgir novos países. E, por fim, mudaram o eixo de poder no mundo. Pois bem, é exatamente este efeito da “Lei de Camões” que o Agro vai produzir no Brasil. A Onda Agro 4.0, na verdade, já começou. No plano econômico, o Agro é que vem pagando as contas e trazendo os dólares para custear a bagunça que reina em Brasília.

Os números não mentem jamais (Malba Tahan)

Os números do Agro são eloquentes. E como os números não mentem jamais, como dizia o matemático Malba Tahan, estes número provam que não é o carnaval, é o Agro que está salvando o Brasil. … Os ventos continuam soprando ao favor do Agro Brasileiro. Hoje ninguém mais põem em dúvida de que o Agro é a vocação natural do Brasil. Mas ainda nos falta uma verdadeira Mentalidade Agro. Ainda carecemos daquilo que os americanos chamam de “mindset”, uma disposição para escolher um rumo, para agir e superar obstáculos na conquista de um objetivo e a determinação de fazer acontecer, / de buscar avanços e resultados de forma consistente e sistemática. Possuímos a terra, a água, o clima, os empreendedores, os recursos humanos e a tecnologia. Ainda precisamos melhorar a infraestrutura e a logística, mas depois de cinco séculos de altos e baixos, de dúvidas e desconfianças, está claro para nós e para o mundo que, finalmente, encontramos o caminho.

Os indicadores do Agro brasileiro são convincentes.

Os indicadores impressionam. Segundo o IPEA, a Produtividade total dos fatores – ou seja o aproveitamento dos insumos que se convertem em produto – cresceu 400% na agricultura brasileira. Hoje nossa produção é suficiente para alimentar 1/6 da humanidade e, no mais bem vindo dos índices para o povo brasileiro, desde os anos 70, o preço da cesta básica no Brasil caiu para a metade. Outra coisa: A produtividade cresceu quatro vezes mais que a área plantada. A expansão do agronegócio é o fato mais importante da história econômica recente do Brasil mas a continuidade do sucesso do Agro pressupõe uma estrutura decisória descentralizada. As decisões precisam ser tomadas perto da ação, nos clusters e polos produtivos espalhados pelas vastas extensões do país. As necessidades do Sul são diferentes daquelas das do Centro Oeste ou do Norte ou Nordeste.

O modelo descentralizado é vacina contra a ditadura, porque só funciona em ambiente de liberdade e democracia.

Acontece que este modelo descentralizado só consegue funcionar em um ambiente de liberdade e democracia. O mundo em que o Estado centralizava tudo e se via como patrão e padrinho morreu. Hoje é tão anacrônico como os antigos lampiões de gás que precisavam de um acendedor público para alumiarem as ruas e becos.

O Brasil está pronto para a metamorfose 4.0

Em síntese, o Brasil está pronto a se transformar em uma nação capaz de voar alto, ir longe e brilhar entre as nações para proporcionar aos brasileiros tanto a prosperidade que merecem como o autêntico protagonismo no mundo contemporâneo a que legitimamente aspiram. …

APUNHALADO / O BRASIL APUNHALADO COM UMA PENA DE OURO!

(Clque para saber mais)

GOIO-EN, O CAMINHO E TEMPO. (Link com a Editora Viseu)

O Brasil apunhalado com uma Pena de Ouro.

O presidente Lula, ao que parece, está um tanto deslumbrado com os rapapés que recebe em seus entendimentos com a Argentina, mas deve tomar muito cuidado para não se tornar um novo Quintino Bocaiuva. 

Os presidentes Lula, do Brasil, e Alberto Fernandez, da Argentina, anunciaram estudos para uma nova moeda sul-americana compartilhada. Segundo disseram à imprensa, “esta moeda binacional teria a finalidade de reduzir a vulnerabilidade externa dos dois países em transações comerciais e financeiras.”

Quem conhece a história das tormentosas relações entre o Brasil e a Argentina ficou com a pulga atrás da orelha. 

Começa que o Brasil não tem vulnerabilidade externa com que se preocupar.

Assim fica claro que este arranjo tem o único propósito de levar o Brasil a assumir o risco do crédito com a Argentina, já que é este o país que convive com uma escassez crônica de dólares.

O indigitado Quintino Bocaiuva era senador e virou Ministro do Exterior da recém proclamada república brasileira em 1889. República essa cuja primeira providência, após abater a monarquia brasileira, foi embarcar o embasbacado ministro no encouraçado Riachuelo, o maior navio da marinha brasileira de então, para levá-lo com toda a pompa e circunstância até o Prata para apunhalar o Brasil pelas costas!.

E o fez em grande estilo. Vaidoso, sedento de glórias, como o descreveu o Barão de Ladário, foi recebido com mesuras, adulado, bajulado, paparicado com festas e banquetes e, por fim, não de se pejou de assinar, faceiro e pampeiro, o tratado que dava de mão beijada aos Argentinos um pedaço dos atuais estados do Paraná e de Santa Catarina. 

E não só apôs sua rebuscada assinatura de Calabar no tratado, como o fez com uma esplendorosa pena de ouro. Peça única, ornada de pedras preciosas e trabalhada pela mais refinada ourivesaria, num gesto fútil de reverência que o Plenipotenciário Quintino Bocaiuva concedeu ao presidente da República Argentina Miguel Juarez Celman. 

O Jornal o Estado de S. Paulo de 26 de janeiro de 1890 revelava na primeira página aquela perversidade:

Trocaram-se ante-ontem as últimas notas entre os srs. Bocayuva e Zeballos sobre a questão de Missões.

Zeballos oferecerá em nome do governo argentino a Bocayuva, para assinar o tratado, uma artística pena de ouro, assinando aquele tratado com a pena que o presenteou Juarez Celman. 

Certa vez o Papa Argentino observou que Deus é brasileiro. Ele haverá de saber melhor do que ninguém, pois foi só graças aos céus que esta despudorada manobra não prosperou e acabou anulada pelo congresso brasileiro.

É certo que a rivalidade do Brasil com a Argentina foi herdada da rivalidade entre Portugal e Espanha e, portanto, vem desde os tempos coloniais, mas no episódio da Questão de Palmas ou, Questão das Missões, como queriam os argentinos, os eventuais entendimentos coloniais serviram só como pretexto para maquinações e pleitos muito além dos acordos estabelecidos entre as matrizes Europeias. 

A verdade é que Argentina sempre viu o Brasil com olhos gulosos. 

O Brasil é um oponente grande e simplório. Um colosso amórfo, dominado por um desmesurado complexo de inferioridade, o famoso “complexo de vIra-latas”, de que falava Nelson Rodrigues. 

O efeito desse complexo é que tem governantes brasileiros, ávidos do glamour fugaz e de uma pitada de aplauso, bem no espírito da canção Folhetim do Sérgio Buarque de Holanda, que estão sempre prontos à fazer concessões e entregar o ouro por uma coisa atoa.

 A Argentina, por seu lado, trata de defender seus interesses, o que seria mesmo de esperar. 

A questão, porém, é que o país vizinho frequentemente se conduz de forma sobranceira e egoísta, sendo useira e vezeira em menoscabar nosso país. 

Esta relação tóxica é parte de nossa tragédia latino-americana. Tragédia, aliás, que alcança todo o continente. Vale lembrar que o ex-presidente Mexicano Porfírio Diaz, reclamando dos americanos, exclamou:

“Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.

De nossa parte aqui, seria o caso de exclamarmos “Pobre Brasil, tão longe dos Estados Unidos e tão perto da Argentina”. 

Mas voltando à tentativa Argentina de se apossar de parte dos territórios do Paraná e Santa Catarina, que originaram a momentosa Questão das Missões, pode-se afirmar que este foi um embate emblemático. 

O território dos Campos de Palmas estava pacificamente nas mãos do Brasil. 

Os bandeirantes paulistas tinham circulado por ali desde o século XVI. Em 1839, com a substantiva participação do Cacique Victorino Condá ajudando a pacificar os Kaingang, estabeleceram-se no Campo de Palmas 37 fazendas, as quais, em 1850, já tinham cerca de 36.000 cabeças de gado. 

Vale lembrar que os Kaingang, também chamados de coroados e bugres, que habitavam a área, sempre se afirmaram brasileiros. Eles haviam se relacionado bem com os portugueses até porque eram inimigos dos Guarani, índios aliados dos espanhóis. 

Em 16 de março de 1837 a Assembleia Legislativa de S. Paulo criou um destacamento de Policiais Permanentes para o fim específico da ocupação daqueles campos.

Em 1845, Manuel da Fonseca de Lima e Silva, o Presidente da Província de São Paulo, com visão e descortino de estadista, tomou a iniciativa da construção do Caminho de Goio-En, o caminho de tropas entre os Campos de Guarapuava e as Missões de São Pedro do Rio Grande do Sul, como informa em seu Relatório para a Assembleia Legislativa de São Paulo no dia 7 de janeiro de 1845: 

“Compartindo o interesse que vos inspirou a ideia de abertura de uma nova comunicação entre esta Província e a de S. Pedro do Sul pelo território situado a sudoeste do Campo de Palmas, encarreguei esta comissão ao Cidadão Francisco Ferreira da Rocha Loures, homem empreendedor e ativo e que, pela circunstância de residir naquelas imediações me parece para isto precisamente habilitado.” 

Manuel da Fonseca de Lima e Silva, que seria o futuro Barão de Suruí, se encarregou ainda de arregimentar o apoio do Presidente da Província vizinha de São Pedro do Rio Grande do Sul, Luiz Alves de Lima e Silva, o então Conde de Caxias, que vinha a ser seu cunhado e sobrinho. 

A esse respeito o Conde de Caxias, informa em seu relatório a Assembleia Provincial gaúcha de 1846 que:

Por este meio tempo veio ter a esta Província o Tenente Francisco Ferreira da Rocha Loures, encarregado pelo Governo Provincial de S. Paulo de explorar o terreno e abrir uma nova estrada por conta daquela província… 

Mas voltando ao relatório de 1845 do Presidente de São Paulo, este informa que vai fazer mais uma estrada naquela região, agora ligando os Campos de Palmas com a Argentina. 

Na justificativa ele esclarece: 

“Aberta essa estrada, ela pode sobretudo melhorar a posição do Brasil acerca da solução das antigas questões de limites naquela parte do Império.”

Observem que ele, ao falar das questões de limites naquela parte do império se antecipa em décadas as futuras reinvindicações dos argentinos sobre os Campos de Palmas.

Tanto é fato que cinquenta anos depois, o Barão do Rio Branco, ao defender os direitos do Brasil aos Campos de Palmas, reconhece a importância da iniciativa do Presidente da Província paulista:

Em 1845, por ordem do presidente de São Paulo, general Manuel da Fonseca Lima, depois barão de Suruí, se deu começo à abertura da comunicação com o Rio Grande do Sul, pelo passo do Goio-En e por Nonoai. 

O general Caxias, então presidente do Rio Grande do Sul (outra província brasileira), animou e auxiliou esses trabalhos.

Foi na segunda metade do século XIX que cresceram os olhos dos argentinos. Especialmente ao se darem conta que a ausência de uma fronteira bem demarcada na região lhes dava oportunidade para turvar as águas e criar confusão. 

Conjeturaram que uma artimanha bem bem-sucedida lhes daria um naco de 30.621 km2 de uma das regiões mais férteis e promissoras de todo o continente. 

Ou seja, valia o esforço! 

Os limites territoriais das possessões de Portugal e Espanha na América Meridional haviam sido definidos pelos tratados de Madri de 13 de janeiro de 1750 e pelo de Santo Ildefonso, de 1º de outubro de 1777

Nos tratados consta que a divisa entre o Brasil e Argentina / no trecho entre os rios Uruguai e o Iguaçu seria feita pelos rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio. 

Na condição de herdeiros destes tratados, tanto o Brasil como a Argentina tinham que aceitar estes rios como limite entre os dois países. 

Acontece que os mapas daquela época eram pouco precisos e a Argentina se aproveitou deste pretexto para, com base em mapas de encomenda e argumentos especiosos, questionar a localização dos rios que fariam a divisa e passou a alegar que o rio brasileiro de nome Chapecó é que seria o verdadeiro rio Peperi-Guaçú e o de nome Chopim é que seria o verdadeiro rio Santo Antônio daquele tratado de fronteiras.

Em 1882 a Argentina tentou dar uma de joão sem braço. Fez uma lei dividindo o Território das Missões argentino em cinco departamentos administrativos e incluiu na divisão o território brasileiro dos Campos de Palmas. Na lei são designados como limites os rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio, porém acontece que a Argentina atribuiu estes nomes aos rios Chapecó e Chopim, que ficam no meio dos Campos de Palmas. 

Ora, a falsificação era flagrante e o governo imperial se recusou a aceitar os mapas falseados que a Argentina apresentava. 

A Argentina, por seu turno, usava sua representação diplomática na capital do império para obter apoio e tentar convencer o governo imperial a abrir mão daquele território. 

Apesar de seus esforços, contudo, estava cada vez mais evidente que sua narrativa não convencia e seus argumentos não seriam aceitos pelo império do Brasil.

Uma evidência é a notícia dada pelo Jornal O Estado de São Paulo publicando em 6 de setembro de 1882 um despacho de seu correspondente em Buenos Aires: 

Diz La Pátria Argentina, que o dr. Avellaneda comunicou ao seu governo que o gabinete imperial não estava disposto a submeter a arbitramento a questão das Missões por considerar que não admitem dúvidas os direitos que têm o Brasil sobre aquele território.

Mas a Argentina não dava trégusas. Em 7 de setembro de 1889, o governo imperial, buscando apaziguar os ânimos e confiante em seus direitos, aceitou um acordo baseado em dois pontos:

1.               Seria feita uma nova expedição para verificar se os rios Chapecó e Chopim corresponderiam, de fato, aos rios da divisa descritos nos tratados originários, e

2.               Caso o Brasil não aceitasse estes rios como divisa a questão seria levada para a arbitragem do presidente norte-americano.

O prazo para a expedição trazer provas seria de 90 dias, contados a partir da ratificação do tratado, o que ocorreu em 5 de novembro de 1889.

Para o Brasil a questão parecia resolvida. Seus geógrafos, astrônomos, demarcadores e especialistas sabiam que a missão de reconhecimento seria feita nos rios errados a Questão das Missões iria para a arbitragem.

Já os argentinos tinham pressa. O tempo estava correndo contra eles, e eles também sabiam que a missão de reconhecimento era um embuste, assim como sabiam que, salvo a improvável hipótese de convencer o presidente Cleveland a decidir em favor de um embuste, estavam perdidos. 

Desse modo, a última esperança que lhes restava residia na mudança do regime de governo no Brasil.

E eis que então acontece o mais chocante. 

É difícil avaliar influência dos agentes argentinos na derrubada da monarquia brasileira, 

O que é sabido, no entanto, é que o golpe republicano que derrubou a monarquia se deu em 15 de novembro de 1889. 

E havia mais coisas sórdidas entre o céu e a terra: 

A começar pela suspeitíssima certeza dos Argentinos de que, no final, ganhariam uma “província à nossa custa”, como havia dito Bocaiuva quando que ainda era tido como o “príncipe dos jornalistas”, com como relata o Barão de Ladário nos artigos publicados no jornal A Tribuna e encaminhados aos senadores no final de 1890.

Por exemplo, no grupo da comissão demarcadora que explorava os rios Chapecó e Chopim, um oficial argentino disse em um jantar “que seus patrícios muito desejavam que o Brasil se constituísse em república, porque então seria fácil anexar o Rio Grande do Sul à Confederação Argentina.”  

Vejam, os argentinos não somente queriam tomar 30.621 km2 dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina, como pensavam criar uma cunha separando o Rio Grande do Sul do restante do país e, assim, facilitar a anexação do Rio Grande do Sul ao seu país. 

Um outro oficial superior argentino afirmou, referindo-se aos Campos de Palmas:

“Isto será nosso, ou por bem ou pelas armas”.

Ademais, é preciso reconhecer que, naquela conjuntura, os argentinos avaliavam melhor do que os cosmopolitas republicanos do Rio de Janeiro a importância do território em jogo e qual o potencial futuro dos Campos de Palmas. 

De toda forma, o governo republicano fez o que a Argentina esperava. Em sua primeiríssima iniciativa internacional, atropela o tratado de arbitramento assinado pelo império, aceita sem pejo as demandas argentinas e manda o Ministro Quintino Bocaiuva dividir com os argentinos o território dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina. 

E foi o que ele fez!

Vejam a linha de tempo da ignomínia republicana: 

Em 7 de setembro de 1889 o governo imperial assina o Tratado de Arbitramento que leva a Questão das Missões para decisão do Presidente dos Estados Unidos;

Em 05 de novembro de 1889, 58 dias depois, o congresso brasileiro ratifica o tratado de arbitramento;

Mais 10 dias e chegamos ao fatídico 15 de novembro de 1889. Nesta data os ativistas e militares dão o golpe, derrubam a monarquia e proclamam a república. O Marechal Deodoro da Fonseca assume a presidência e Quintino Bocaiuva se torna Ministro do Exterior.

Vem dezembro, Festas, Natal e Ano novo. Já em 14 de janeiro de 1890 o Encouraçado Riachuelo leva Bocaiuva ao encontro de seus parceiros argentinos para assinar o tratado de cessão do território. 

Outros 10 dias e em 25 de janeiro, o plenipotenciário é recebido com banquete em Montevidéu, onde assina com a tal aparatosa pena de ouro o infame tratado em que o Brasil cede para a Argentina metade dos territórios dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina.

Em seguida viaja ao encontro do presidente argentino.

O jornal O Estado de S. Paulo, na edição de 6 de fevereiro de 1890 publica um despacho vindo de Buenos Aires informando que Quintino Bocaíuva tinha sido homenageado com um banquete pelo presidente Juarez Célman, na noite de 3 de fevereiro. 

Segundo o despacho, “houve durante o banquete a máxima alegria e expansão fraternal, levantando-se muitos brindes ao Brasil e a República Argentina, firmando-se assim um acordo tácito para a manutenção da paz e a prosperidade das duas poderosas nações sul-americanas.”

Não surpreende que tenha havia máxima alegria e muitos brindes fraternais. A argentina estava conseguindo barato uma nova província formada com metade do território dos estados do Paraná e de Santa Catarina arrancados do Brasil por intermédio do homenageado, Quintino Bocaiuva, que é de se supor, não estava lá de graça.

O inacreditável é que esse recém-empossado Ministro de Relações Exteriores nada mais útil tivesse a fazer além de ir sabujar os vizinhos do Prata por mais de um mês, circulando entre Montevidéu, Buenos Aires, Córdova Tucumán e outras paragens do Prata em que foi homenageado por banquetes, eventos, convescotes e festas variadas. É ridículo registrar que o plenipotenciário viajou em 14 de janeiro, assinou o tratado no dia 25, em Montevidéu, viajou 700 quilômetros para ir visitar o presidente Argentino em sua residência em Córdova, voltou a Montevidéu em 16 de fevereiro para ali passar o carnaval e só então, feliz e pampeiro, regressar ao Rio de Janeiro em 25 de fevereiro, onde, para, estupefação geral, resolve deixar o posto de Ministério do Exterior, conforme noticiou o Jornal Estado de S. Paulo do dia 26 de fevereiro.

O país estava atordoado. A notícia da desfaçatez fazia ferver o sangue dos brasileiros.

O Barão de Ladário, em seus artigos no Jornal a Tribuna condenando o tratado, conta que o dito plenipotenciário teria asseverado: 

que não se podia atender, ao liquidar-se o litígio, à questão pura e simples dos direitos a certas linhas de fronteiras, mas e preferentemente à que se prendia aos interesses momentosos da nova situação do país.

Trocando em miúdos: Quintino Bocaiuva, com espantosa cara de pau, revela que a república ia dar metade dos estados do Paraná e Santa Catarina aos Argentinos porque era do interesse momentoso do novo governo republicano. 

O Barão do Rio Branco, o defensor da causa brasileira em Washington informa que: 

“Na República Argentina esta solução foi festejada com grande entusiasmo. No Brasil, porém, ela produziu o mais profundo sentimento de dor e levantou unânimes e veementes protestos.” 

Mas é claro que haveria alegria e festejos na argentina com um presente deste tamanho,  mas graças a mobilização do povo e aos protestos da imprensa, o Congresso Brasileiro rejeitou o tratado Bocaiuva por 142 votos contra 5 em sessão de 10 de agosto de 1891.

O passo seguinte foi o envio da Questão das Missões para o arbitramento do presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland. 

Lá, em Washington, mercê do Deus que é brasileiro, como reconhece o citado Papa argentino, a defesa da causa brasileira coube ao nosso mais insigne diplomata, o Barão do Rio Branco.

E enquanto o Rio Branco buscava fundamentar as razões brasileiras reunindo documentos e provas, os Argentinos, sob a liderança de Estanislao Zeballos, faziam intensa campanha de relações públicas tentando ganhar a questão na base do tapetão. 

As vésperas da decisão do presidente Cleveland, a Argentina ofereceu um banquete de gala para a alta sociedade norte-americana e, num gesto de insólita soberba, mimoseou cada uma das damas presentes com uma joia de ouro e diamantes posicionada em frente ao seu lugar na mesa do banquete.

Mesmo assim não adiantou.

Em 6 de fevereiro de 1895 o presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland emitiu sua sentença, dando ao Brasil a posse definitiva dos atuais territórios do Paraná e Santa Catarina. Foi a primeira grande vitória de nosso maior diplomata, o Barão do Rio Branco.

Um pequeno documentário mostrando a documentação reunida por Rio Branco é mostrado no vídeo Oeste Fértil, o Legado do Barão do Rio Branco, no canal Goio-En do Youtube.

E se você quiser conhecer mais histórias sobre a conquista do Oeste Fértil brasileiro e sobre o desenvolvimento do Alto Uruguai Gaúcho e dos oestes de Santa Catarina Paraná, conheça o meu livro Goio-En o Caminho e o Tempo da editora Viseu. É uma boa pedida.

Muito obrigado.

Livro GOIO-EN, O CAMINHO E O TEMPO / O CAMINHO DE TROPAS de Guarapuava para as Missões no RG do Sul

Um livro sobre o tempo em que o arrojo e a coragem escreveram a história do Oeste Fértil, do Alto Uruguai gaúcho e dos Oestes de Santa Catarina e Paraná.

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OESTE FÉRTIL – O Legado do Barão do Rio Branco ao Agronegócio Brasileiro.

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O agronegócio é a bola de neve da nova onda de prosperidade brasileira.

Uma prosperidade que já está beneficiando o Brasil e que logo vai chegar a todos nós.

O  agronegócio representou mais de 25 % do Produto Interno Bruto em 2022 e, nas exportações, logo vai representar metade de tudo o que o Brasil vende para o mundo. O Brasil é o campeão das exportações de soja, milho, café, açúcar, carne bovina e carne de frango.

Mas nada desta cornucópia de proveitos caiu do céu. Foi preciso que muita gente, muitos pioneiros e muitos visionários acreditassem no potencial das terras brasileiras, lutassem pelo Brasil e plantassem aqui as sementes que hoje começam a florescer.

Nossa história começa no ano de 1845. Este foi o ano da sorte grande para a futura prosperidade do agronegócio brasileiro.

Foi naquele ano que terminou a Guerra dos Farrapos. Sob a liderança do Conde de Caxias, o país celebrou um final auspicioso que garantiu que o Rio Grande do Sul e todo o Oeste do Brasil Meridional, a região das Missões, o Planalto Médio e o Alto Uruguai gaúcho continuassem fazendo parte do território brasileiro.

Foi também naquele ano que o governo da Província de São Paulo mandou abrir o Caminho do Goio-En, o Caminho de tropas que devia ligar os Campos de Guarapuava – no atual Paraná, com a vila de Passo Fundo – na Província de São Pedro do Rio Grande, atravessando a área de litígio com os Argentinos nos Campos de Palmas e a região que os mapas daquele tempo definiam como “Bosques inexplorados do Alto Uruguai”

E foi ainda naquele ano que nasceu José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, o gigante da diplomacia brasileira que conseguiu obter do Presidente dos EUA – Grover Cleveland – a decisão que deu ao Brasil a posse definitiva do Oeste de Santa Catarina e do Paraná, uma área ambicionada pela Argentina e cuja disputa territorial se deu na Questão de Palmas ou Questão das Missões, como preferem alguns.

Mas o que teriam em comum tão díspares acontecimentos do longínquo ano de 1845?

No que se refere ao caminho de Tropas do Goio-En, a ligação dos Campos de Guarapuava a Passo Fundo, este caminho foi fundamental para criar as condições para que, quarenta anos mais tarde, o Brasil pudesse se valer do argumento do UTI POSSIDETIS na disputa da citada questão de Palmas. Foi a abertura desta estrada que ensejou pacificar os índios Coroados, os Kaingang, e ajudou a ocupação do Oeste da então Província de São Paulo, hoje território dividido entre o Paraná e Santa Catarina. Foi esta ocupação que permitiu ao Barão do Rio Branco usar o UTI POSSIDETIS, argumentando que a maioria dos habitantes do território em disputa era formada por brasileiros. Particularmente pelos índios Kaingang, que se diziam brasileiros, enquanto os Guarani se afirmavam súditos da Espanha. Aliás, o Barão argumentava que os castelhanos não tinham conseguido provar que sequer um único e escasso argentino vivia naquela área.

Já o nascimento de José Maria da Silva Paranhos foi providencial pelo papel que desempenhou na Questão de Palmas e porque seu nascimento se deu em circunstâncias muito auspiciosas.

Paranhos Junior nasceu no Rio de Janeiro, na então Travessa do Senado, número 8, hoje Rua 20 de abril, número 14, onde funciona a Escola de Teatro Martins Pena.

Seu pai foi o Visconde do Rio Branco, um diplomata que atuou na região do Prata onde esteve em 1851 e 1852, como Secretário da Missão Especial do Marques do Paraná, tornando-se, em seguida, Ministro-residente em Montevidéu. Voltaria ao Uruguai em 1864 e novamente, de outubro de 1870 a março de 1871. Nesta viagem seu filho, o Juca Paranhos, foi junto, na qualidade de secretário da missão, e pode testemunhar pessoalmente os entendimentos do Brasil com a Argentina e o Paraguai no desfecho da Guerra do Paraguai. Esta experiência, em primeira mão, das lides diplomáticas com a Argentina, assim como o conhecimento pessoal da região em disputa na Questão de Palmas, foram determinantes, anos depois, para o êxito da defesa da posição brasileira e para que o Brasil obtivesse a posse definitiva do Oeste de Santa Catarina e do Paraná.

A sorte brasileira se comprova quando aquela causa de vital importância para o agronegócio brasileiro, e, claro, para a nação brasileira, foi parar nas mãos do então obscuro Consul brasileiro em Liverpool. O caso estava com o Barão Aguiar de Andrada, que já estava em Washington, quando faleceu. Foi aí que o Presidente Floriano Peixoto se lembrou de Rio Branco.

Na verdade, a disputa territorial com a Argentina já vinha do império, que não aceitava as pretensões Argentinas e já tinha optado pela solução arbitral, mas Quintino Bocaiuva, o primeiro chanceler da república, no entusiasmo de uma possível fraternidade republicana com os vizinhos hermanos, havia assinado em Montevidéu um tratado de partilha do território. Foi um escândalo. A imprensa, o exército e até o monarca exilado protestaram e o Congresso brasileiro acabou por rejeitar o acordo, de modo que foi assim que a disputa foi entregue para decisão do Presidente dos Estados Unidos.

Na disputa a Argentina argumentava que tratados do século 18 apontavam para uma fronteira entre  os territórios de Portugal e Espanha que seria definida pelos rios Jangada e Chapecó, e não pelo Pepiri-Guaçu e Santo Antônio – que ficavam mais a oeste, como defendia o Brasil.

O Barão cofiou o bigode e arregaçou as mangas. Liderando um grupo de diplomatas e especialistas, moveu céus e terras, mandou vasculhar cartórios e arquivos em todas as capitais europeias envolvidas com as Américas e recuperou documentos e mapas em locais como o Arquivo Geral de Simancas, na Espanha, e o Depósito Geográfico do Ministério dos Negócios Estrangeiros da França. Com cálculos, medições e interpretações historiográficas – como a de que a cartografia portuguesa era mais avançada que a espanhola no século 18 -, Juca Paranhos conseguiu reunir sobejas evidências para embasar a versão brasileira.

Em meu vídeo sobre o tema, apresentado em meu canal no Youtube, inclui uma verdadeira preciosidade audiovisual. Trata-se de documentário de 1945 realizado pelo Ministério de Relações Exteriores para celebrar o centenário do nascimento do Barão do Rio Branco. Nele podemos ver a documentação apresentada pelo Barão na defesa brasileira da Questão de Palmas. O trecho do documentário “Barão do Rio Branco” de 1945 e é reproduzido por cortesia do Centro Técnico Audiovisual da Secretaria de Cultura.

Assim, como se pode ver no vídeo (link no final), foi graças a uma dedicação infatigável que o Barão do Rio Branco foi vitorioso na disputa da Questão de Palmas e nos legou o Oeste Fértil, dando ao Brasil posse definitiva dos Oestes de Santa Catarina e do Paraná e, assim, inscreveu seu nome como um dos grandes heróis do Agronegócio brasileiro.

Se você deseja conhecer mais histórias do tempo da Conquista do Oeste Fértil e do desbravamento do Alto Uruguai Gaúcho e dos Oestes de Santa Catarina e do Paraná, periodicamente publico aqui vídeos sobre o tema em meu canal “GoioEn” no Youtube .

E se você tem fôlego para ler uma maratona de histórias sobre um tempo que merece ser lembrado, meu livro Goio-En, o Caminho e o Tempo, da Editora Viseu, é uma boa pedida.

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GARIBALDI E ANITA SOB O DOSSEL DOS PINHEIRAIS.

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Foi no ano de 1837 que o jovem italiano Giuseppe Maria Garibaldi chegou à Província de São Pedro do Rio Grande e foi visitar na cadeia o líder farroupilha Bento Gonçalves que estava preso pelos imperiais por ter sido escolhido presidente da República Rio-Grandense que queria se separar do Brasil.

Giuseppe Garibaldi tinha 30 anos e havia sido condenado à morte na Itália por ter participado de uma insurreição em Gênova que queria a unificação do país. Como a revolta deu errado ele adotou um nome falso e foi ser marinheiro no Mediterrâneo até decidir vir para o Brasil.

Quando visitou Bento Gonçalves Garibaldi se disse “cansado de arrastar uma existência inútil”, de dispôs a lutar pelos farroupilhas e pediu uma “Carta de Corso”, que era uma autorização para atacar e pilhar navios do governo imperial, que era o governo inimigo.

Foi dessa forma que o futuro general italiano e herói da guerra da unificação da Itália entrou na história farroupilha e acabou envolvido na história do Sul do Brasil.

Antes de continuar e para dar uma ideia da importância que o chamado herói dos dois mundos adquiriu na Europa de seu tempo, vale citar a visita que o agora General Italiano Giuseppe Garibaldi foi convidado a fazer à Londres em 1864.  

Já famoso e respeitado, especialmente depois de ter reunificado a Itália em 1861, Garibaldi foi recebido por uma multidão como nunca tinha sido vista na capital londrina. Basta dizer que carruagem que transportava o general precisou de cinco horas para percorrer a distância de quatro quilômetros entre a estação ferroviária de Nine Elms e a Residência Lancaster, onde era o convidado de honra do duque e da duquesa de Sutherland. (Saderland)

Em 1837, ao chegar no Brasil, Garibaldi se encantou com a natureza e, especialmente, com as esplêndidas araucárias das nossas matas. Relatou em suas memórias que

“Só quem já viu as imensas florestas que cobrem os cimos do Espinhaço, com seus pinheiros seculares, que parecem destinados a sustentar o céu, e são as colunas deste esplêndido templo da natureza…podem delas fazer uma ideia”.

Na visita ao presidente farroupilha Garibaldi recebeu também a incumbência de circunscrever o bloqueio ao porto de Rio Grande. Depois de aprisionar um navio imperial e sua carga, Garibaldi percebeu que ações isoladas não iram compensar a falta de um porto. O que os farrapos precisavam era de uma saída para o mar.

A essa altura, no delta do Rio Camaquã, existiam alguns galpões de uma velha charqueada. Ali Garibaldi fez construir embarcações de fundo chato para controlar a Lagoa dos Patos – um imenso corpo de água com 260 quilômetros de comprimento e 60 de largura em seu ponto mais largo. Sua principal característica, porém, é que suas águas têm em média, 3 metros de profundidade. E além de rasa, a lagoa tem muitos bancos de areia, de modo que os navios do império não podiam navegar ali sem o risco de encalharem.

A organização do estaleiro foi entregue a John Griggs, o João Grandão, um marinheiro irlandês que juntou-se aos revoltosos. Era homem de grande estatura, corpulento e imensamente forte, estava sempre bem-humorado e era um incorrigível otimista. Ainda assim, sem conhecer a carpintaria naval e com os poucos meios de que dispunha, não podia fazer grande coisa.

João Grandão soube de Luigi Carniglia, um mestre carpinteiro naval italiano estabelecido no Uruguai. Garibaldi conseguiu a ajuda do seu compatriota, que veio com suas ferramentas e uma equipe de profissionais tarimbados.

Trabalhando dia e noite, em dois meses, conseguiram construir dois veleiros lanchões. O maior, com 18 toneladas, era o Rio Pardo. O segundo lanchão, de 12 toneladas, era o Seival. No começo de maio de 1839 os barcos circularam pela Lagoa dos Patos à procura de presas. Na altura de Cristóvão Pereira deram com a sumaca Mineira que se rendeu após um único tiro.

Em resposta os imperiais mandaram quatro navios de guerra caçar os dois lanchões farroupilhas. Os rebeldes se sentiram acossados, logo descobriram um meio de se safar. Seus lanchões eram mais leves, rápidos e manobráveis. Além disso, os marinheiros rebeldes conheciam bem a lagoa e reconheciam os bancos de areia. Quando eram perseguidos pelos navios imperiais, se dirigiam a um banco de areia próximo e avançavam até o lanchão encalhar.

Assim que ficavam presos na areia, o comandante gritava com toda a força:

“À água, patos!”.

Dada a ordem, todos a bordo pulavam na água, inclusive Garibaldi. Enquanto alguns puxavam com cordas, os demais empurravam o barco de fundo chato sobre a areia, de modo a cruzarem para o outro lado. De volta na água, todos reembarcavam e impulsionavam o barco usando varas que se apoiavam no leito do lago.

Daí que rapidamente se safavam e os pesados navios da Marinha imperial ficavam, literalmente, observando impotentes a artimanha dos rebeldes.

Acontece que essas escaramuças náuticas podiam ser bastante divertidas, mas traziam poucos resultados práticos.

Garibaldi então sugeriu ao Governo Farroupilha que tomasse a cidade de Laguna, em Santa Catarina, e por lá conseguissem o tão necessário acesso ao mar.

Mas como atacar Laguna se toda a Marinha dos farrapos se resumia aos dois lanchões que estavam na Lagoa dos Patos?

Garibaldi explicou sua ideia: os dois barcos deveriam seguir por terra os 80 km até Tramandaí, lá entrar no Rio Tubarão, descer por ele e atacar Laguna pela retaguarda.

Para fazer a ideia funcionar era preciso colocá-los sobre rodas. Então fizeram duas enormes carretas. Cada uma tinha quatro rodas imensas, que mediam 3,20 metros de diâmetro. Para puxar todo aquele peso os revolucionários conseguiram pela região cerca de 200 bois de canga.

Finalmente, foi com enorme alegria e grande estardalhaço que começou a incrível jornada de levar por terra os barcos farroupilhas.

Imagine o espanto daquela gente ao ver aqueles dois veleiros completos, com seus mastros projetando-se para o céu, navegando em plena campina verde dos campos gaúchos.

Era um espetáculo de dimensões épicas, que incluía o alarido de cavaleiros, a algazarra dos condutores incitando os bois e a constante necessidade de improvisar pranchas para evitar que as rodas afundassem no terreno alagado. Foram seis seis dias para chegar, abaixo de chuvas torrenciais e vencendo metro a metro.

Ao chegar foi preciso mais três dias de trabalho para preparar os barcos e, por cruel ironia do destino, mal os barcos entraram na água soprou um fortíssimo vento pampeiro que pegou todos sem aviso e afundou o Rio Pardo. Agora só sobrava o Seival.

Por sorte, navegando rio abaixo, encontraram e apresaram o lanchão Lagunense, que vinha subindo o rio. O novo lanchão não se comparava ao barco perdido, mas era um reforço muito bem-vindo.

Ao chegarem em Laguna viram que a Marinha imperial estava bem instalada e equipada. Contava com diversas embarcações armadas e tinha sentinelas no alto do Morro da Glória, todos atentos à entrada da barra pelo lado do mar. Por sorte não havia sentinelas voltadas para o Rio Tubarão, afinal, ninguém poderia imaginar um ataque pela retaguarda.

No entanto, de repente, no dia 22 de outubro, coisas inesperadas começaram a acontecer. O Catarinense, que estava posicionado para defender a entrada do mar sofreu, um ataque de surpresa, pela popa. O comandante José de Jesus, vendo que perderiam o navio mandou que os marinheiros pusessem fogo na embarcação e fugissem para a terra.

O comandante imperial ordenou aos demais barcos que saíssem para o mar aberto, porém  a escuna Itaparica e o lanchão Santana não conseguiram escapar e acabaram encalhados. O problema, para Garibaldi, é que a escuna Cometa conseguiu sair para o mar. Ela levaria a notícia da queda de Laguna aos imperiais e era certo que logo eles viriam com todas as forças.

Então, os farrapos buscaram se preparar dentro das suas limitações.

Foi neste interregno que Garibaldi, que estava à bordo da escuna Itaparica e seguia com uma luneta as casas da barra de Laguna, observou em terra um grupo de moças e viu, em meio delas, uma donzela que se distinguia pelo porte e beleza e que, num átimo, atraiu sua atenção.

De imediato, fez descer um escaler e remou, alucinado, até a margem. Uma vez em terra, correu até o local onde tinha visto a moça, porém não mais a encontrou.

Suspirou desolado e perdeu a esperança de encontrá-la.

Mas o cupido tem lá suas artimanhas. Mais tarde um morador local o convidou a ir até sua casa para um café e Garibaldi aceitou. E ao entrar nessa se deparou com a jovem que tanto o encantara ao vê-la pela luneta.

Em suas memórias, Garibaldi conta seu encontro com Anita:

“Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-nos reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse:

‘Tu deves ser minha!’.

Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor”.

A jovem Ana Maria de Jesus Ribeiro, que viria a ser mais conhecida como Anita Garibaldi e se converteria na “Heroína dos Dois Mundos”, por ter lutado ao lado dos farroupilhas e, depois, pela unificação da Itália, estava com 18 anos quando foi vista por Giuseppe Garibaldi, que tinha 32 anos.

A jovem aceitou unir-se a Garibaldi e recebeu seu batismo de fogo já na batalha naval de Laguna. A armada imperial chegou com força avassaladora e a Marinha dos farroupilhas foi simplesmente trucidada. Anita entrou nessa batalha sem temer pela própria vida e, num frágil bote a remo, cruzou diversas vezes a área de combate levando munições a Garibaldi.

Vendo a situação perdida, Canabarro, o comandante farroupilha, ordenou a retirada e, dias depois, enviou Garibaldi no rumo oeste, com a difícil missão de subir a Serra Geral e tentar recuperar Lages, que havia voltado para as mãos dos imperiais.

Na retomada de Lages Garibaldi viveu sua primeira experiência de combate como cavaleiro. Foi ainda em Laguna que aprendeu a cavalgar e a combater montado. Sua professora foi Anita, aquela moça encantadora que agora era sua companheira inseparável.

Anita, que era uma amazona de grande traquejo, teve em Garibaldi um aluno talentoso e aplicado. Sobre seu aluno de equitação escreveu ela para sua irmã e confidente:

“Querida irmã: (….) pela primeira vez eu o via em ação a cavalo. (…) Felizmente, ele aproveitou bem as minhas aulas de equitação. Eu não conseguia tirar os olhos de cima dele, cheia de admiração pelo modo como conseguia prever os movimentos dos adversários. Era tão bom nisso que conseguia mandar os seus homens para os lugares certos, surpreendendo a todos com a rapidez de suas ações e indo de um lugar para outro com muita velocidade, deslocando-se sem parar, como um perfeito guerrilheiro(…)”.

Regista a história que, naquele memorável dia 14 de dezembro de 1839, 500 soldados republicanos, entre os quais lutou a destemida Anita Garibaldi, enfrentaram e derrotaram os 2.000 soldados imperiais comandados pelo brigadeiro Xavier da Cunha.

Quatro dias depois, em 18 de dezembro, Garibaldi, Anita, Rosetti e Teixeira Nunes, com seus farroupilhas, entraram triunfalmente em Lages e ali reinstalaram os comandos militares e o governo da recém proclamada República Catarinense.

Anita e Garibaldi, desfrutaram, então, de alguns dias de paz e tranquilidade e cultivaram o amor que sentiam um pelo outro. Em meio às paixões políticas e à emoção das conquistas, viverem, com enlevo, momentos de mútuo abandono como só o amor conhece. Aqueles dias de romance e ternura ambos iriam lembrar para sempre.

Por coincidência, Anita era originária de uma família de Lages e ali ainda vivia seu Tio Antônio, que os acolheu afetuosamente. Em sua casa hospedaram-se e puderam compartilhar o mesmo teto pela primeira vez. Anita escreveu para sua irmã:

“(…) Nos dias que se seguiram àquela luta, chegamos a Lajes sem maiores dificuldades e fomos acolhidos alegremente pela família e pelos amigos. Já encontramos uma casinha bonita, toda de madeira. Não consigo acreditar que estou vivendo sozinha com José. Estamos muito felizes, rimos e brincamos de donos de casa, quando os nossos amigos vêm nos visitar. Tio Antônio e José logo simpatizaram um com o outro. Quando eles se encontram, passam horas discutindo sobre a liberdade dos povos. Mas devo confessar que, às vezes, começo a duvidar de que um dia o mundo será realmente diferente. Talvez ele melhore para os nossos filhos, pelo menos é o que espero. Mas o tempo passa e tudo fica como antes. Evito dizer isso aos nossos fervorosos sonhadores, que, por mais que discutam, não sabem dizer por quanto tempo resistiremos em Lajes. Ninguém se arrisca a fazer previsões. As patrulhas falam de tropas inimigas, organizam-se várias expedições. Com certeza José vai ter que patrulhar nos próximos dias, e eu vou com ele. Ficou decidido que ficarei encarregada de reabastecer as tropas de munições, o que me parece uma tarefa útil. Levarei comigo um grupo de companheiros fortes, que estou aprendendo a conhecer, para garantir os transportes. Quero organizá-los da melhor maneira possível (…).

Anita deixara um casamento de conveniência e uma vida de mediocridades para fazer parte das grandes lutas do mundo de seu tempo. E o destino lhe dera o companheiro a que fora destinado pelas estrelas. Sem pensar por quanto tempo a felicidade lhe seria pródiga, vivia momentos de arrebatamento indizíveis.

O Natal chegou e Anita e Giuseppe comemoraram juntos pela primeira vez a grande festa da cristandade. A Missa do Galo, em 24 de dezembro de 1839, foi um momento de profundas emoções para ambos e, ainda mais, para Anita, que aos 18 anos, via desabrochar a grande paixão à qual entregava sua vida sem medos e sem reservas.

A igreja, na Vila de Lages, estava enfeitada com um presépio que tinha uma manjedoura como a contada no Evangelho. À noite, a cena era iluminada por lamparinas que bruxuleavam, inquietas, como os corações do casal que as observava. No centro, o bambino Jesus, esculpido em madeira, tinha os braços abertos, um sorriso angelical e as faces rosadas. Envolto com musgos e ramos de pinheiro, pouco parecia se importar com a modéstia de seu berço. Embevecido, o casal esqueceu o tempo e ali ficou, de mãos dadas, se deixando encantar por aquela atmosfera de fé e esperança que os unia ainda mais. Um sentimento de carinho sem limites os amalgamava em um amor maior do que a vida, enquanto fortalecia seus sonhos para um futuro que desvendariam juntos.

Subitamente, fazendo ecoar sua voz de tenor, limpa e cristalina, naquela pequena igreja de Lages, Garibaldi principiou a cantar a mais linda e a mais italiana das músicas de Natal, Tu scendi dalle stelle, uma canção natalina de simbolismo incomparável que unificava seu país pelo inexcedível amor a Gesù bambino, ainda antes que a Itália tivesse se unido politicamente:

Tu scendi dalle stelle, o Re del Cielo,

e vieni in una grotta, al freddo al gelo.

O bambino, mio divino, io ti vedo qui a tremar.

O Dio beato!

Ahi, quanto ti costò l’avermi amato!

A te, che sei del mondo il Creatore,

mancaron panni e fuoco, o mio Signore!

Caro eletto pargoletto, quanto questa povertà più m’innamora!

Giacché ti fece amor, povero ancora!

(Tu desces das estrelas, ó Rei do Céu,

e vens para uma gruta, ao frio, ao léu.

Ó menininho, meu divino, eu te vejo aqui a tremer.

Ó Deus abençoado!

Que preço tu pagaste por ter-nos amado!

A ti, que és do mundo o Criador,

faltaram roupa e calor, ó meu Senhor!

Querido pequenino eleito, como esta pobreza me faz amá-lo ainda mais!

Porque, por amor, agora te fizeste pobre.)

Como presente de Natal, Teixeira Nunes, o comandante farroupilha, deu a Anita um vestido de musselina, um xale de seda, sapatos de marroquim e um chapéu da moda. Garibaldi ganhou um poncho claro, ricamente trabalhado.

Dias depois a luta recomeçava tão dura e angustiante como antes. Garibaldi e Anita continuaram vencendo mil entreveros pelas plagas do sul nos três anos seguintes, de 1839 a 1841, ano em que Garibaldi despediu-se dos farroupilhas e, ao lado de Anita e de seu pequeno Menotti, seguiu para viver o extenso caminho de conquistas que ainda lhe reservava o destino.

Para saber mais sobre o conteúdo do livro Goio-En, o Caminho e o Tempo, vou apresentar neste canal um punhado de casos e histórias ligados à conquista do Alto-Uruguai gaúcho e das regiões dos Oestes de Santa Catarina e do Paraná, a região que forma o rico Oeste Fértil Brasileiro.

E se você tiver folego para uma maratona de 900 páginas de leitura sobre fatos e histórias de um tempo que merece ser lembrado, Goio-En, o Caminho e o Tempo, da editora Viseu, é uma boa pedida.

Obrigado.

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Mundo Global: O Universo Logístico opera no Ciberespaço

O Mundo Global precisa da Logística como o corpo precisa do ar que respira.

E a língua da logística é o Código de Barras, que é lida pelos olhos do Coletor de Dados.

O mundo atual é um organismo complexo, que tem amplitude global e que, para funcionar de forma satisfatória, depende de suprimentos que circulam entre nações e continentes e capazes de atender desde os grandes conglomerados até aos menores consumidores privados espalhados pelos cinco continentes. Este sistema planetário de abastecimento, suprimentos e movimentação de cargas recebe o nome de “Sistema Logístico”.

Para entendermos como funciona o Sistema Logístico Mundial precisamos compreender a natureza dos universos digitais. Estes universos têm, basicamente, dois planos: um plano real – o mundo físico, onde as coisas acontecem – e um plano virtual, que reproduz o que acontece no plano real e permite sua gestão por meio de informaç˜oes e controles. Esta dimensão virtual tem existência no ciberespaço e é conectada em escala planetária no espaço formado pela interconexão mundial dos computadores e das suas memórias. O universo virtual da logística reproduz a realidade por meio de “avatares” dos navios, portos, aviões, armazéns, containers, paletes, mercadorias e de itens codificados. Simplificando, o universo logístico virtual é uma reprodução digital do mundo real e que permite entender e gerencial em tempo real o que acontece na dimensão real.

Para exemplificar, imagine uma grande metrópole com milhares de edifícios, apartamentos, casas, lojas, hospitais, escolas e órgãos públicos espalhados por quadras, avenidas e ruas em bairros e regiões diferentes. E nesta metrópole as pessoas moram, trabalham, estudam, se movimentam e vivem suas vidas. Como fazem para se deslocarem e se orientarem com sucesso no emaranhado da cidade? Elas se valem da organização da cidade em endereços. Um endereço identifica a região, o bairro, a rua e o número do lugar que a pessoa deseja encontrar. Tudo funciona porque uma cidade organizada facilita a mobilidade em seu espaço urbano mantendo os endereços inalterados e mapeando sua localização. Este é o método analógico de organizar os espaços geográficos

Agora imagine se esta cidade mudasse os endereços todos os dias, e as vezes, mais de uma vez por dia?

O velho e confiável sistema analógico de organização entraria em colapso e seria impossível fazer qualquer coisa nesta cidade imaginária.

Do mesmo modo que em uma metrópole, um grande galpão, armazém ou depósito destinado a receber, movimentar, armazenar, separar e expedir mercadorias se serve de endereços com áreas, corredores, porta paletes e milhares de posições de paletes. E, no entanto, essa grande e complexa estrutura muda seus endereços o tempo todo, frequentemente mudando os endereços diversas vezes por dia. E, o que é mais notável, essa movimentação toda se dá sem sobressaltos e com as atividades sendo executadas rapidamente, sem dificuldades e sem erros. Como isso é possível?

O segredo do funcionamento desta estrutura tem no centro o conceito da “Cadeia de Suprimentos”. Cada elo da cadeia liga dois pontos do processo de acompanhamento do item rastreado: um ponto de partida e um de chegada, de maneira que se possa saber onde o item está e o que acontece com ele em tempo real.

O primeiro passo no processo de acompanhamento logístico é a atribuição de um número. Esse numero passa a ser o “nome” do item e, daí em diante, será através dele que se saberá seus passos e sua trajetória ao longo da cadeia de suprimentos.

Para que este número possa ser reconhecido em cada ponto de parada e partida no processo logístico existem diversos tipos de identificadores, sendo a etiqueta com o código de barras o método mais comumente usado.

No processo logístico em andamento, o reconhecimento do item é feito pela leitura da sua etiqueta de Código de Barras por meio de um “leitor de código de barras” acoplado a um computador e a um software de gestão do processo. No caso de grande número de volumes ou itens é preciso um equipamento de uso profissional: os “Coletores de Dados” móveis, que são, na realidade, computadores móveis que funcionam ligados a uma rede WiFi através radio-antenas especializadas, os “Access Points”, que, por sua vez, “conversam” com o servidor por intermédio de “Controladoras”, equipamentos que ampliam o alcance e a funcionalidade dos “Coletores de Dados.”

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