O Brasil, Dom Pedro II, Mr. Bell e o telefone

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Dom Pedro II teve papel vital na divulgação do telefone. Na ilustração, o imperador toma contato com o invento e exclama: “Meu Deus, isto fala”.

O avanço tecnológico necessário para o Brasil ingressar de forma efetiva na era da Quarta Revolução Industrial exige saltar por sobre etapas que outras nações levaram décadas para percorrer. Mas não obstante o tamanho do desafio, o Brasil dispõe de massa crítica material e humana para aceitar o repto.

A bem da verdade, é preciso reconhecer que o Brasil não tem um histórico de relacionamento muito amigável com as ciências, a tecnologia e a inovação. O conflito parece ser mais com as ciências exatas, a lógica e a matemática. Para a grande maioria da população brasileira, a matemática é uma ciência estranha e hermética. Há mais gente que acredita em um despacho na encruzilhada do que nas virtudes da matemática aplicada. Somos um país que ainda crê em magia, na geração espontânea e no milagre dos efeitos sem causa.

O resultado prático desta suspicácia generalizada a tudo o que sejam números, que afronta, impávida, os axiomas de Euclides, notadamente aquele da inexorável ditadura da divisão das partes,  – “o todo é maior do que as partes” – permite que o imaginário popular acredite ser possível ir aumentando as partes indefinidamente, mesmo que o todo permaneça inalterado. No caso do orçamento nacional, por exemplo, existe uma crença difusa, perdida no ar, de que o governo cria dinheiro e pode, destarte, gastar tanto quanto queira.

Podia parecer axiomático, para os gregos clássicos, que a soma das partes não pode ser maior do que o todo, mas os políticos tupiniquins de perfil demagógico, com forte representação no Congresso Brasileiro, não acreditam nisto e tem fixação por um orçamento percentualizado. E não dão importância se os percentuais, eventualmente, ultrapassam os 100%. Desfazer o nó será um problema do Ministro da Fazenda. Claro que esta jabuticaba orçamentária, além de engessar o orçamento da república, cria dificuldades de toda a ordem e é um desestímulo a melhoria do desempenho do poder público.

Uma das causas para o desapreço que temos com as exatas é que exigem um esforço de concentração intelectual pouco compatível com o ziriguidum. Nossa especialidade são as festas e alegorias. Talvez porque o trabalho no Brasil tenha sido uma atividade braçal dos escravos e nossas elites de época faziam questão de vestir ternos de branquíssimo linho 120 para demonstrar desapreço por qualquer faina.

Um fator originário terá sido também o fato de que só tivemos nossa primeira universidade em 1920. Não tínhamos uma universidade aqui porque o governo não queria e não estudávamos porque não tínhamos uma universidade. Finalmente, já na segunda década do século XX, foi criada a Universidade do Rio de Janeiro, por meio de decreto do Presidente Epitácio Pessoa. Tratava-se mais de juntar as Faculdades de Medicina, Direito e Engenharia, mas foi o começo.

Entre as poucas iniciativas anteriores do período colonial estavam a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, de 1792, e a Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), criada em 18 de fevereiro de 1808 por Dr. João VI.

Mesmo em um ambiente de pouco estímulo intelectual, tivemos alguns avanços nas áreas científica, tecnológica e de inovação. Mas muito pouco para país tão grande e muito aquém do necessário. Para fazermos o alinhamento com a Quarta Revolução Industrial será preciso, antes, convencer a sociedade de que precisamos avançar no preparo científico e tecnológico de nossas novas gerações. Que precisamos promover e reconhecer talentos. Que devemos estimular o empreendedorismo e facilitar a vida dos que desejam transformar o país.

Alguns bons exemplos resgatam nosso histórico no campo das invenções e inovações, mas também denunciam o pouco caso de nossas elites e dos nossos governantes.

Olhando em retrospecto, talvez a proclamação da república, em 15 de novembro de 1889, tenha sido um dos maus momentos de nossa história, tanto do ponto de vista político como do avanço tecnológico. A Proclamação da República no Brasil foi um levante político-militar que, como acima, teve lugar em 15 de novembro de 1889 e depôs o imperador D. Pedro II e a monarquia constitucional parlamentarista. Em seu lugar instaurou a republica federativa presidencialista no Brasil. O modelo, mal copiado do regime vigente nos Estados Unidos, nunca funcionou a contento.

Que aquele foi um movimento infeliz, articulado por um grupo reduzido de conspiradores, prova a célebre e insuspeita constatação do jornalista republicano, Aristides Lobo, paraibano que defendia a república e que foi nomeado ministro do governo republicano provisório: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada”.(1)

A Revista Veja, em sua Edição Especial que circulou em setembro de 1989 (e que, curiosamente, tinha na capa a data de 20 de novembro de 1889) apresenta a matéria histórica com um resumo:

“República é proclamada num piscar de Olhos.

Numa sexta-feira de muita confusão, pouquíssimo sangue e praticamente nenhuma participação popular, um punhado de militares rebelados se alia a políticos da oposição para encerrar abruptamente o quase cinqüentenário reinado de D. Pedro II. Sob o comando do marechal Deodoro da Fonseca, o Brasil entra numa nova era — a da República. O novo governo obriga o imperador deposto e sua família a embarcarem de madrugada rumo ao exílio”

A matéria da Revista Veja, possivelmente o melhor estudo publicado sobre aquele período conturbado da história brasileira, tem no cabeçalho a explicação: “A anarquia militar, a abolição radical e o centralismo derrubam o Império de supetão.”

Segundo o relato, “O Brasil acordou monarquista na sexta-feira passada (a matéria é redigida como se tivesse sido publicada em 20 de novembro de 1989) e foi dormir republicano. Jamais houve na História do país uma ruptura política tão inesperada. Na véspera, ninguém poderia prever que o reinado viria abaixo. Ao cair da tarde de quinta-feira, D. Pedro lI, 63 anos, fugindo do calor carioca, estava posto em sossego no palácio de Petrópolis, onde escreveu seu habitual soneto diário. No mesmo momento, o marechal Manoel Deodoro da Fonseca, 62 anos, encontrava-se em Andaraí, na casa de seu irmão, o oficial-médico João Severiano, tentando recuperar-se de um de seus habituais ataques de falta de ar. Menos de 48 horas depois, os detalhes eram semelhantes, mas as instituições estavam de pernas para o ar. D. Pedro lI, detido no palácio imperial do Rio de Janeiro, escrevia não um poema, mas, com a ajuda do barão de Loreto, a carta em que acatava a ordem de exilar-se: “Cedendo ao império das circunstâncias, resolvo partir com toda a minha família para a Europa amanhã”. Na mesma hora, Deodoro ia para a cama, tão fortes eram os seus achaques. Mas, com falta de ar e de cama, era o chefe do governo provisório, o homem mais poderoso do pais.”

Os depostos imperador e a princesa Isabel eram figuras respeitadas e admiradas pelo povo, especialmente pela gente humilde, que em grande parte, apenas um ano antes, havia deixado de ser escrava.

O Partido Republicano – que era ostensivamente anti-monarquista – só havia eleito dois deputados nas eleições de agosto, três meses antes do movimento militar da proclamação da república, e nas ruas, eram escassas as simpatias que conseguia angariar.

E, no entanto, o Brasil “acordou imperial e dormiu republicano”.

A matéria da Revista Veja continuava: “Como, pelo menos até agora, não há indícios em qualquer canto do país de movimentos significativos de restauração monárquica. Caiu o Império praticamente sem sangue ou apenas com o sangue do Ministro da Marinha, José da Costa Azevedo, o barão de Ladário, 63 anos, ferido com dois tiros, um deles na região glútea. Caiu porque, ao longo dos últimos anos, a monarquia se embaralhou ao jogar com três problemas que de chofre lhe desabaram sobre a cabeça na sexta-feira, fazendo com que a coroa rolasse pelo chão. Os problemas que enredaram o Império foram a Abolição da Escravatura, o centralismo econômico-administrativo e a indisciplina militar.”

O que a matéria destaca é que, além do centralismo econômica-administrativo e uma indisciplina militar, resquício da Guerra do Paraguai, o fator decisivo para a Proclamação da República foi mesmo a abolição da escravatura. Em outras palavras, o Brasil perdeu um modelo de governo que tinha apoio popular e vinha dando certo, a monarquia com parlamentarismo, simplesmente por ter tido a “ousadia” de libertar os escravos. Todos os que ganhavam com a escravatura ficaram contra o governo. O pecado da Abolição seria ter “expropriado” os donos de escravos, que teriam perdido “suas propriedades” sem receber nada em troca.

A “insatisfação” dos donos de escravos, que reclamavam não ter recebido uma indenização “justa” pelos seres humanos que escravizavam, nos legou um governo republicano de segunda classe, com um presidencialismo patrimonialista desenhado para favorecer a corrupção.

Um aspecto relevante para a compreensão da importância do apoio dos ex-donos de escravos para o sucesso do movimento contra a monarquia é que, na capital do país, além da classe aristocrática e dos abastados proprietários que tinham escravos para as tarefas de suas propriedades, existiam ainda milhares de “donos” de escravos que viviam do aluguel de seus “cativos” que, com a abolição da escravatura, perderam seus escravos de renda e seu “negócio”.

Haviam dois tipos de escravos de renda: os “escravos de ganho”, um tipo de escravo que podia reter pequena parte do que recebia por seu trabalho e os “escravos de aluguel”, que eram alugados diretamente por seus “donos” ou por meio das muitas de agencias espalhadas na cidade. O que a monarquia deixou de levar em conta era que alugar escravos era um negócio altamente lucrativo na cidade do Rio de Janeiro.

Uma das atividades mais rentáveis para os donos de escravos era o seu uso no transporte de mercadorias. O que era feito com grandes fardos levados na cabeça. Como escreveu Debret, citado por Luís Carlos Soares em seu livro O “povo de cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro”:

“Embora pareça estranho que neste século das luzes se depare ainda no Rio de Janeiro com o costume de transportar enormes fardos à cabeça dos carregadores negros, é indiscutível que a totalidade da população brasileira da cidade, acostumada a esse sistema que assegura a remuneração diária dos escravos empregados nos serviços de rua, se opõe à introdução de qualquer outro meio de transporte, como seja, por exemplo, o dos carros atrelados. Com efeito, a inovação comprometeria dentro de pouco tempo não somente os interesses dos proprietários de numerosos escravos, mas ainda a própria existência da maior classe da população, a do pequeno capitalista e das viúvas indigentes, cujos negros todas as noites trazem para casa os vinténs necessários muitas vezes à compra das provisões do dia seguinte. É esse meio de transporte, geralmente empregado, que enche as ruas da capital desses enxames de negros carregadores, cujas canções importunam frequentemente o estrangeiro pacato, entregue a ocupações sérias em suas lojas”.

Obviamente, os numerosos ex-proprietários de escravos, os agentes de aluguel e todos os que perderam suas fontes de renda com a libertação dos cativos se puseram contra a monarquia. Foram os tais “republicanos tardios”: monarquistas até a véspera da proclamação, converteram-se em republicanos no dia 15 de novembro de 1889. Mas, enquanto os ex-escravos ficaram inertes, ainda sem entender toda a extensão de sua recém adquirida liberdade, seus ex-proprietários estavam furiosos e eram suficientemente numerosos e articulados para fazerem diferença. Além disso, contaram com a “solidariedade” dos clientes e de parte importante da sociedade da época que via os negros como seres inferiores.

A propósito, não se pode esquecer que a burocracia da cidade do Rio de Janeiro também lucrava com o aluguel de escravos e tinha organizado este “negócio” com o refinamento que se poderia esperar dos burocratas brasileiros.

Luís Carlos Soares, em seu já citado livro “O “povo de cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro”, nos dá conta de como os cofres municipais do Rio de Janeiro lucravam com o aluguel de seres humanos: Pelas leis da época “…era terminantemente proibido aos senhores colocarem seus escravos no ganho de rua sem a autorização expressa e licença da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Esta proibição, inclusive, era estipulada por uma postura municipal que estabelecia o recolhimento dos escravos infratores ao Depósito Público e o pagamento de uma multa pelos senhores desses cativos. Os senhores encaminhavam o seu pedido de licença à Câmara Municipal e efetuavam o pagamento de 1$000 réis relativos a cada cativo que desejassem pôr ao ganho. A licença concedida vigora apenas por um ano…Ao conceder a licença, a Câmara Municipal entregava aos senhores chapas numeradas com datas de validade. Chapas que os escravos deveriam sempre portar.”

Muitos ex-donos de escravos ainda vinham pressionando o governo monárquico por indenizações. Tanto que o abolicionista e monarquista Joaquim Nabuco dizia: “O Brasil não é bastante rico para apagar o seu crime”. Ou seja, ainda que a monarquia desejasse, não dispunha de recursos para pagar indenizações aos mais de 200.000 “donos” dos 700.000 escravos libertados no ano anterior. Com isso, a monarquia perdeu sua base de apoio mais sólida, a dos fazendeiros e donos de escravos, que se sentiram roubados. Com uma clarividência notável, João Maurício Wanderley, barão de Cotegipe, presidente do Conselho de Estado até dois meses antes da abolição, afirmou, depois da assinatura da Lei Áurea, que a princesa Isabel havia “libertado uma raça, mas perdido o trono”.

O Visconde de Ouro Preto, primeiro ministro deposto em 15 de novembro, tinha convicção de que o segundo reinado, sob liderança de Dom Pedro II, um humanista e um homem de cultura invulgar, havia sido um período positivo para o país.

Em seu livro “Advento da Ditadura Militar no Brasil”, (referia-se ao novo governo republicano) o Visconde escreveu:

“O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século, manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três povos vizinhos o desaparecimento do despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem, segurança e, mais que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país algum. Quais as faltas ou crimes de dom Pedro II, que em quase cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros praticados que o tornaram merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A república brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A república se levantou sobre os broquéis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na história e terá uma existência efêmera!

Quanto ao imperador, era homem culto, poliglota, cosmopolita e um entusiasta do progresso e das inovações. Um bom exemplo de seu entusiasmo pela inovação, que nem todos conhecem, é a história de como ele, ao visitar os Estados Unidos na qualidade de convidado especial do presidente Ulysses S. Grant para as comemorações do Centenário da Independência Americana, em 1876, ao visitar à Grande Exposição do Centenário, na Filadélfia, em 1876, ficou curioso com o invento de Alexander Graham Bell, um modesto professor de surdos mudos, e, tendo sido convidado a testar o aparelho exposto, exclamou, entre incrédulo e maravilhado: “Meu Deus, isto fala!”.

A exclamação teve grande repercussão, ganhou as manchetes dos jornais e foi decisiva para chamar a atenção do mundo para o telefone e para seu inventor.

A empolgação de Dom Pedro II não ficou só em sua surpresa inicial. O imperador, tomado de entusiasmo pela invenção, foi a primeira pessoa a comprar ações da companhia criada pelo inventor, a ” Bell Telephone Company”, fundada em 9 de julho de 1877 na cidade de Boston, Massachusetts.

A companhia, que mais tarde deu origem à American Telephone & Telegraph Company (AT&T), acabou por tornar-se a maior empresa telefônica do mundo. Foi também Dom Pedro II que adquiriu alguns dos primeiros telefones, aparelhos que foram instalados na residência de verão de Dom Pedro II, no Palácio de Petrópolis, a quarenta quilômetros do Rio de Janeiro. Com esta iniciativa, o Brasil foi o segundo país do mundo a ter telefones instalados em seu território.

Além disso, outra coisa que poucos sabem é que, até a visita de Dom Pedro II ao seu estande, praticamente ninguém tinha ouvido falar de Alexander Graham Bell. Na grande mostra seu pequeno estande passava desapercebido. Ninguém parecia interessado naquela engenhoca até a exclamação de nosso imperador.

Convém acrescentar, a esta altura, que o imperador brasileiro era o principal convidado estrangeiro e figura central dos festejos do primeiro Centenário da Independência Americana, tanto que, entre outras homenagens, teve a honra de ligar o gerador a vapor que fornecia eletricidade para a exposição.

O relato do episódio, por parte do próprio inventor, dá conta da importância de Dom Pedro II para a história do telefone:

“No domingo eu fui para a exposição. Haviam muitos aparelhos elétricos para serem demonstrados…e os pobres juízes eram conduzidos da cá para lá para ver uma coisa depois da outra, até o ponto de estarem prontos para desistir. Eu seguia os juízes em suas voltas, enquanto eles olhavam aparelho após aparelho. Finalmente, eles chegaram ao estande de Elisha Gray, que tinha um aparelho para transmitir tons musicais semelhante ao meu telégrafo múltiplo. Ele fez uma apresentação muito interessante. Fiquei atento porque eu seria o próximo, mas ele continuava e continuava, até que, quando finalmente terminou, o “chairman” da comissão dos juízes resolveu que eles adiariam as demais avaliações dos equipamentos elétricos para outro dia. Isto queria dizer que eles nunca veriam o meu telefone…Em razão dos compromissos de minha escola, eu só podia permanecer naquele domingo, de modo que eu senti que toda a minha exposição seria perdida. Os juízes já começavam a dispersar quando, subitamente, o Imperador Dom Pedro me viu e me reconheceu como o jovem que ele havia encontrado em Boston, na oportunidade em que visitou a escola para surdos-mudos, onde eu havia feito uma apresentação. Ele veio ao meu encontro e disse: “Sr. Bell, como estão os surdos-mudos de Boston?” Eu disse a ele que estavam bem e que minha demonstração seria a seguinte. Ele disse que queria ver, tomou meu braço e caminhou comigo, e claro, os juízes o seguiram como um bando de ovelhas. Minha exposição estava salva.

No estande, os aparelhos estavam prontos para serem usados. Dom Pedro foi orientado a sentar-se em uma cadeira onde estava instalada a pequena caixa de ferro do receptor e foi-lhe pedido que encostasse seu ouvido no estranho aparelho. Bell sentou-se em outra sala e falou devagar e com grande clareza no tubo do transmissor. Dom Pedro, claro, não sabia o que esperar, assim como ninguém mais na sala. Subitamente, o imperador levantou sua cabeça e, com uma expressão maravilhada estampada em seu rosto, exclamou: “Isto fala”.

Então veio Sir Walter Thompson, um internacionalmente respeitado conhecedor de eletricidade: ele ouviu, e ouviu e ouviu aquele pequeno disco de ferro falar com voz humana. Então, expressando grande admiração, disse: “Isto fala mesmo. Esta é a coisa mais maravilhosa que vi na América… Esta é a coisa mais maravilhosa até hoje conseguida pelo telégrafo elétrico…Muito em breve as pessoas estarão contando seus segredos por meio de fios elétricos.”

Quando Sir William Thompson falou, o mundo acreditou.

Bell disse, na ocasião: “eu fui dormir, na véspera,, como um total desconhecido e, no dia seguinte, me descobri famoso. Eu devo isto a Sir William Thompson e, antes dele, ao Imperador Dom Pedro e, além deles, aos surdos mudos de Boston”.

Será que sem a contribuição de Dom Pedro II o mundo de hoje teria telefones? É de se supor que sim. O mundo estava pronto para o telefone. Mas, ao perceber o potencial da inovação à sua frente, o imperador ajudou o mundo a antecipar o progresso em alguns anos. Uma evidência de como o nosso imperador era um homem do mundo; um “early adopter” atualizado e aberto à inovação.

Ceska – O digitaleiro


Referências:

Artigo escrito por Aristides Lobo no dia 15 de novembro e publicado no “Diário Popular” de São Paulo em 18 de novembro de 1889.

SOARES, Luiz Carlos. Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de História, 16 (mar/ago), 1988.

Revista Veja – Edição Especial de setembro de 1989. – http://veja.abril.com.br/historia/republica/capa_republica.html

OURO PRETO, Visconde de, Advento da Ditadura Militar no Brasil, Editora Imprimiere F. Pichon, Paris, 1891.

“Thw Empire of Brazil at the Universal Exhibition of 1876 in Philadelphia – Editado no Rio de Janeiro pela Typographia e Litographia do Imperial Instituto Artístico – 1876 – Conforme arquivo do Global Gateway – Call Number F2513.B833 – Identidade digital: gcbr 002 http://hdl.loc.gov/loc.gdc/gcbr.002

http://www.heritage-history.com/?c=read&author=bachman&book=inventors&story=bell

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