Artigos do Autor: Celso Skrabe

Acerca de Celso Skrabe

Celso Skrabe, é escritor, conferencista e criador de conteúdo digital. Formado em administração de empresas é especializado em estratégia e marketing.

PARTE 7 – O GLOBE-TROTTER DO PAPA – A SAGA DO PADRE NIVERSINDO CHERUBIN (O CRIADOR DAS FACULDADES DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL) 

­O GLOBE-TROTTER DO PAPA
“Globe-trotter” é uma expressão de origem norte-americana que, segundo o dicionário, significa algo como “viajante do mundo”. A expressão refere-se a uma pessoa cuja atividade e interesses a levam a viagens frequentes para os mais diferentes e distantes recantos do globo. Portanto define com perfeição o Pe. Cherubin e sua vida de viajante à serviço da saúde, de sua ordem religiosa, da Igreja e, por mais de um lustro, à serviço de dois Papas.
– Vocação e reconhecimento
Guiado pela vocação religiosa, o Pe. Cherubin abraçou seu ministério tanto com idealismo e abnegação como com o senso de missão que recebeu das palavras de Tiago, quando dizia, em sua Epístola que a “a fé sem as obras é morta”.
Para o Pe. Cherubin, assim como o era para Tiago, a verdadeira fé não é apenas crer, mas, sobretudo, agir. Todavia, em seu entender, as obras que contam são aquelas que produzem um bem mensurável. Obras sem resultados positivos seriam tão vazias como aquelas boas intenções que o vulgo diz que forram o inferno. Daí que, tomado por essa obsessão por obras proveitosas, acabou por descobrir a obra de seu colega religioso, o padre Luca Pacioli, o frade franciscano, matemático e teólogo italiano conhecido como o pai da contabilidade moderna. O Frei Pacioli, em 1494, publicou a obra “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita”, na qual descreveu a contabilidade das partidas dobradas. Não a inventou, propriamente, mas divulgou o método que já era usado por mercadores venezianos. Seu mérito foi ter sido o primeiro a publicá-lo, tornando-o amplamente conhecido. O fato é que a sua obra é a base da contabilidade moderna. E o Pe. Cherubin, ao se dar conta de que a contabilidade permitia não só avaliar, como dar direção e qualidade para as obras que realizava, se tornou um estudioso da contabilidade. E todas as suas iniciativas passaram a ser meticulosamente planejadas, organizadas, realizadas e avaliadas com as melhores práticas contábeis. E esse era o segredo de seu fulgurante sucesso.
Assim, munido desta disposição de agir para provar sua fé foi que, desde os primeiros dias do seminário, sentiu-se cativado pela exortação de São Camilo de Lellis, o fundador dos camilianos, que recomendava a seus seguidores “ter mais coração nas mãos”. Então passou a pautar sua vida religiosa por esses dois princípios básicos: mostrar sua fé pela ação concreta, de resultados medidos e comprovados, e consagrar-se à causa da saúde e da humanização nelas colocando todo o empenho de seu coração.
Possivelmente estimulado pelo episódio de sua partida da Vila de Balisa, no dia 11 de janeiro de 1943, que sempre recordava com grande carinho, que relata em suas memórias e contou com detalhes a este articulista, acabou por tornar-se um autêntico “homem da Renascença”. O dia de sua partida foi um dia importante para a Vila de Balisa. Nunca antes um garoto da localidade tinha partido rumo a um seminário. Por isto Niversindo Cherubin foi acompanhado por um numeroso séquito até a estação ferroviária. Aos seus olhos, era uma multidão. Vieram despedir-se os parentes, os colegas da escola, os amigos e até muitos curiosos. E sua decisão de entrar para o seminário criou na comunidade o que o Pe. Cherubin definia como “clima vocacional”. Diversos outros garotos de Balisa seguiram seu exemplo. Sua mãe estava orgulhosa. Nos dias que precederam o embarque fazia questão de apresentá-lo como o membro da família que iria ser padre. O episódio o fez sentir-se importante para sua gente e disposto a empenhar-se para não os desapontar.
– CIDADÃO DO MUNDO
Convertido em cidadão do mundo, carismático, líder, educador e empreendedor, o Pe. Cherubin passou a aplicar seus conhecimentos em administração, contabilidade e auditoria para melhorar o desempenho de instituições de caridade e de saúde, tanto daquelas de sua ordem religiosa como de quaisquer outras dedicadas a causa do bem. Seu talento invulgar para organizar e obter resultados logo o fez destacar-se e o levou para dezenas de países ao redor do mundo. Seu desempenho e competência em solucionar problemas complexos e enfrentar desafios com serenidade e bom senso acabou por lhe angariar o respeito da Misereor, possivelmente a mais rica e generosa das organizações católicas do mundo. A entidade, que apoia ações de combate à pobreza na África, Ásia e América Latina, pertence a Igreja Católica da Alemanha e é dirigida pela Conferência dos bispos alemães. Pois foi precisamente a Misereor, com todo seu prestígio e influência, que recomendou ao Papa Paulo VI o nome do Pe. Niversindo Cherubin. O Sumo Pontífice acolheu a indicação e, na data de 4 de abril de 1977, formalizou sua nomeação como membro do prestigiado “Pontifício Conselho Cor Unum para a Promoção Humana e Cristã.
CONSELHEIRO DO PAPA
O Conselho “Cor Unum” era presidido por um cardeal e formado por 34 conselheiros convidados pelo Papa para duas tarefas: examinar a política da Igreja Católica no campo social e apreciar os critérios de distribuição de doações que chegavam ao Vaticano. Especialmente aquelas destinadas a mitigar os efeitos das catástrofes que ocorriam no mundo.
O Conselho funcionava com seu escritório central instalado no prédio do Vaticano, no mesmo andar da residência do papa. Por óbvias questões de segurança, o acesso era restrito e cada membro do conselho recebia uma credencial especial que dava acesso ao local.
– Missões e viagens a serviço da solidariedade
As atividades do Conselho eram intensas. As reuniões oficiais ocorriam anualmente, sempre em novembro, com duração de uma semana. No entanto, ao longo do ano, os membros eram enviados para participar de grupos de trabalho em diferentes países, contribuindo para definir a destinação de doações e para a formulação de políticas sociais e humanitárias, e, sendo enviados para representar a Igreja em várias iniciativas humanitárias.
– A proximidade com os Papas
O encerramento dos trabalhos do Cor Unum era marcado por cerimônias de grande significado, realizadas na sala de audiências pontifícia, sempre com a presença do Papa. Nessas ocasiões, o pontífice costumava concelebrar missa com os conselheiros e, em seguida, convidava-os para um café da manhã em sua companhia — momentos de comunhão e partilha espiritual que reforçavam o compromisso com a missão do conselho.
– Uma missão que atravessou pontificados
O falecimento do Papa Paulo VI, em agosto de 1978, seguido pela breve passagem do Papa João Paulo I, não interrompeu a trajetória de Pe. Cherubin no conselho. O Papa João Paulo II reconheceu a importância de sua contribuição e o manteve entre os conselheiros, permitindo que sua atuação se estendesse até 12 de junho de 1984. Assim, pelos sete anos de seu mandato, o Pe. Cherubin influiu nas decisões de caridade da Igreja e tornando-se um verdadeiro “Globe-trotter do Papa”, levando solidariedade e esperança aos lugares mais diversos do planeta.
O GLOBE-TROTTER DO BEM PROMOVENDO A EXCELÊNCIA
A reconhecida expertise demonstrada pelo Pe. Cherubin em auditar e reorganizar a vida administrativa e financeira das entidades e instituições o levaram a ser enviado por sua Ordem Religiosa para “arrumar a casa” nos cantos mais inesperados do mundo. A começar pelos Estados Unidos. Lá ele descobriu que seus colegas americanos não tinham a menor ideia do que fosse uma administração hospitalar profissionalizada. Depois de diversas controvérsias e repetidas visitas de religiosos brasileiros liderados pelo Pe. Cherubin, a Comissão Econômica Central da Ordem, em Roma, entendeu que o melhor a fazer era entregar de vez a gestão da Província Camiliana dos Estados Unidos para a comprovada competência da Província Brasileira. O que foi feito.
– A reestruturação administrativa da Ordem dos Padres Camilianos
Um dos problemas enfrentados pelos camilianos era seu sistema antigo de organização administrativo-financeira. A ordem tinha casas espalhadas nos mais diferentes cantos do mundo, mas vivia assolada por dificuldades que comprometiam sua missão religiosa. Em 1977 o Pe. Cherubin sugeriu a criação de uma diretoria financeira internacional para gerir sua área de economia e finanças. A convenção Geral da Ordem acatou a sugestão criando a “Comissão Econômica Central”. O Pe. Cherubin começou por unificar os demonstrativos contábeis segundo os procedimentos contábeis internacionais, fixando grupos de contas para o Ativo, o Passivo, as Receitas e Despesas. E estabeleceu que os demonstrativos anuais das províncias fossem assinados por três pessoas: o Padre Provincial, o Diretor Financeiro (o “Ecônomo”) e o Contador da Província. A ele foi atribuída a tarefa de fazer o exame prévio da situação financeira de todas as províncias camilianas do mundo e produzir um relatório a ser analisado pela Alta direção da ordem.
– Missões de aconselhamento, consultoria e reestruturação
Sua missão como o mentor administrativo dos camilianos de sua geração o levou à missões de aconselhamento, consultoria e reestruturação de instituições de muitos países, a começar pelos Estados Unidos, como já vimos, mas que incluem países do Extremo Oriente. Em 1988 recebeu a incumbência de avaliar a situação da Província Camiliana de Taiwan. Para esta missão convidou o Administrador Hospitalar Naírio Augusto dos Santos, que já tinha comprovado sua competência na gestão da Consultoria Hospitalar no Rio Grande do Sul. A viagem de ambos começou por Hong Kong, passou por Taiwan e se estendeu ao Japão.
Ainda 1988, nos meses de outubro e novembro, passou 40 dias em viagem para conhecer e avaliar as Províncias Camilianas da África. Visitou Burkina Fasso, Benin, Tanzânia, Quênia, Etiópia e Costa do Marfim. 
Entre os países que visitou a trabalho, em pesquisa ou em busca de conhecimentos, além dos já mencionados países de sua formação, como Itália, França, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Portugal Espanha e o Canadá, Incluem-se a Rússia, a Suécia, Noruega, Irlanda, Islândia, Dinamarca (incluindo a Groenlândia), o México, Cuba e Guiné Bissau e Egito.
No período em que fez parte do Conselho Cor Unum visitou a totalidade dos países da América do Sul e a maioria dos países da América Central.
PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO INTERNACIONAL DAS MISERICÓRDIAS.
Ao lado de suas atividades como religioso, o Pe. Cherubin atuou como dirigente das Santas Casas de Misericórdia brasileiras e na Confederação Internacional das Misericórdias, da qual foi eleito Presidente para o período de 2003-2005.
Sua principal atividade internacional na presidência da Confederação foi convocar e presidir o IV Congresso Internacional das Misericórdias, que foi realizado em Florença, na Itália, de 14 a 17 de outubro de 2004.
O Legado
O Pe. Cherubin dizia que preocupação de qualquer pessoa, desde o nascer, deve ser de deixar um legado que contribua para o aprimoramento dos seres humanos, da família, da comunidade, do país e do mundo. Se o universo habitado conseguiu aprimorar o desempenho das pessoas e se estas encontram a cada novo dia mais qualidade de vida, isso deve-se certamente a contribuição de pessoas que se preocuparam com deixaram um seu legado de exemplos, de conhecimentos e de obras. Victor Hugo disse, com muita propriedade, no seu livro “Os miseráveis” que a preocupação da pessoa deve ser sempre a de permanecer vivo entre nós, mesmo que ela já não esteja mais entre nós.
Victor Hugo indicava para tal elementos básicos que ela deveria atingir e materializar enquanto viva. Devia escrever um livro, fundar uma escola ou criar uma entidade. Em seus 51 anos como superintendente da Sociedade Beneficente São Camilo fomentou uma expressiva evolução na área da assistência à saúde brasileira, tanto na criação de hospitais quanto na de diversas outras entidades camilianas dessa área.
Quando assumiu como diretor administrativo do Hospital São Camilo Pompéia, em 1961, os camilianos mantinham no Brasil tão somente aquele hospital, parcialmente concluído, com capacidade de apenas 73 leitos. Cinquenta anos depois o Grupo São Camilo dispunha de 41 hospitais, 3.451 leitos, realizava anualmente 116.385 cirurgias 51.527 partos e 6.734.725 exames de diagnóstico. Criou os Cursos de Administração Hospitalar, plantou a semente do Centro Universitário S. Camilo e escreveu 12 livros que ainda são referencias na gestão hospitalar brasileira.
Seu pai, que faleceu tão precocemente, sua mãe, que o estimulou a buscar sua realização no sacerdócio, seus tios que custearam o seminário de Iomerê, os parentes, colegas e amigos que acompanharam o embarque de Niversindo Antonio Cherubin na estação da Vila de Balisa hão de estar orgulhosos, estejam onde estiverem, de fazerem parte da história de vida daquele menino que saiu de Balisa para conquistar o Mundo.
 
 

PARTE 6 – UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO – A SAGA DO PADRE NIVERSINDO CHERUBIN (O CRIADOR DAS FACULDADES DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL)

DE BALISA PARA O MUNDO – Parte 6

UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO

Quem não sonha não Faz. Por essa razão o Padre Niversindo Antonio Cherubin sonhava com hospitais perfeitos e com instituições modelares que acolhessem os enfermos com o mesmo desvelo e carinho com que Cristo e São Camilo de Lellis, o fundador de sua Ordem Religiosa, o fariam. E foi cultivando esse sonho com visão cristã e diligência infatigável que se tornou um dos maiores realizadores da história da saúde do país.

Ao longo de seis décadas incansáveis colocou os hospitais camilianos brasileiros entre os maiores do país, plantou a semente da Universidade São Camilo, ocupou a Coordenação da Assistência Médica e Hospitalar do Ministério da Saúde, criou o primeiro Curso de graduação em Administração Hospitalar no Brasil, organizou a FBH – Federação Brasileira de Hospitais, a FBAH – Federação Brasileira de Administradores Hospitalares, reorganizou administrativamente dezenas de hospitais e casas de caridade no Brasil e no mundo, inclusive as Obras da Irmão Dulce na Bahia e a Província Camiliana dos Estados Unidos, cumpriu missões para os Papas Paulo VI e João Paulo II e foi Presidente da  Confederação Internacional das Santas Casas de Misericórdia sob a ética da Civilização da Paz e do Amor.

Pe. Cherubin via sua vocação pelas palavras do apóstolo Tiago no evangelho: “A fé sem as obras é (fé) morta”. (Tg. 2,17). Então, para ser homem de fé ele precisava ser homem de obras. E obras de vulto, capazes de fazer diferença, acolher e cuidar de comunidades inteiras. Ora, obras desta magnitude não se fazem sozinhas. São obras complexas que só são viáveis quando realizadas coletivamente. O fato é que uma andorinha só não faz verão.

Uma frase de que o Pe. Cherubin gostava, tanto que a publicou em seu livro “A Arte de ser um Administrador Hospitalar Eficaz,” era de Sir Walter Scott: “A raça humana seria destruída se as pessoas parassem de se ajudar. Não somos capazes de sobreviver sem ajuda mútua”.

Por esta constatação o Pe. Cherubin entendeu que ser homem de obras era, antes de mais nada, buscar ajuda. E ajuda mútua era uma via de duas mãos: eu te ajudo e tu me ajudas. Por outro lado, a ajuda precisa ser útil. A ajuda que importa é aquela que funciona, ou, em um dizer mais elaborado, a ajuda eficaz. Que, trocando em miúdos, quer significar saber fazer, querer fazer e fazer! E esse tipo de ajuda não existe pronta. Por isso o Pe. Cherubin tornara-se um apóstolo da arregimentação, formação e motivação de profissionais de saúde, especialmente, administradores hospitalares, sem os quais não teria as obras hospitalares com que sonhava.

O Hospital, como dizia Peter Drucker, é a mais complexa organização já criada pelo homem. O seu corolário é que se trata de uma das organizações mais difíceis de administrar. De modo que o gestor hospitalar precisa ter um alto nível de competência para dar certo. E um dos requisitos da competência é estar atualizado com a evolução do setor. Aqui entendido do setor médico-hospitalar. Não por acaso, um dos setores da atividade humana que mais evoluíram nas últimas décadas.

Focado em resultados, o Pe. Cherubin era homem de objetivos e metas. Acreditava em estatísticas e evidências. E, por isso, acreditava na superioridade da medicina por evidência e no aprimoramento constante das boas práticas médico-hospitalares. E entendia que a medicina contemporânea é, a cada dia, mais multidisciplinar. Cada dia mais organizada por Protocolos Clínicos. Nem todos concordavam e muitos médicos diziam que o médico precisa ter liberdade para escolher a conduta de tratamento que desejar, mas a melhor conduta, aquela que comprovadamente obtém melhores resultados e reduz os custos hospitalares é a adoção dos Protocolos. (Essa visão, mais recentemente, foi também adotada pelo SUS, que estabeleceu os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas – PCDTOs.) Os Protocolos Clínicos são algoritmos que guiam os profissionais de saúde no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, com base em evidências científicas e melhores práticas. Eles padronizam o atendimento, a prescrição dos exames, a medicação, garantindo maior segurança ao paciente, otimização de recursos e uniformização do cuidado em diversas situações, como nos tratamentos e na segurança do paciente. Sem dúvida, o médico ainda é o dono do diagnóstico, mas o tratamento é complementado por enfermeiras, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, assim como por técnicos em exames de imagem, exames laboratoriais, biologia molecular, e agora com suporte da IA, além de outros. São equipes trabalhando de forma colaborativa e integrada para oferecer um cuidado mais completo e personalizado ao paciente. Essa união de conhecimentos permite uma visão mais holística do indivíduo, desde o diagnóstico até o tratamento e a recuperação, visando a saúde e o bem-estar integral. É como uma orquestra com naipes de cordas, madeiras, metais, percussão e coro. Eventualmente, o maestro da orquestra é o médico, o Diretor Clínico, mas, sem o administrador hospitalar, não existe a orquestra.

Como primeiro passo para encontrar colaboradores qualificados o Pe. pensou em organizar os profissionais da administração hospitalar em uma associação. O propósito seria a troca de experiências e o aprendizado mútuo. Ele havia frequentado o Curso de Pós-Graduação em Administração Hospitalar da Universidade de S. Paulo em 1967 e era ativo participante dos eventos e congressos de administração hospitalar da época, tanto no país como no exterior. E via que os cursos de pós-graduação da área vinham crescendo em todo o país. A esta altura, no início de 1971, ele continuava dirigindo o Hospital São Camilo, mas também era Presidente da Associação dos Hospitais do Estado de São Paulo, secretário do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Pesquisas Hospitalares, o IPH de seu amigo Jarbas Karman, e Diretor Executivo da Federação Brasileira de Hospitais. E estava intrigado pelo fato de que, apesar do aumento da presença de administradores hospitalares em congressos, reuniões e cursos, surgiam poucas propostas e parecia faltar uma visão comum que fosse compartilhada por esses profissionais.

Ele tinha visitado a Associação Americana de Hospitais, em Chicago e lá conheceu o the American College of Healthcare Executives (ACHE). Esta instituição era a entidade associativa profissional dos executivos da área de saúde dos Estados Unidos. E, inspirado nela, o Pe. Cherubin, fundou o Colégio Brasileiro de Administradores Hospitalares. O Estatuto Social foi aprovado dia 26 de fevereiro de 1971.

O Pe. Cherubin diz, em sua autobiografia, que o Colégio brasileiro teve uma ascensão meteórica. A entidade iniciou os Congressos de Administração Hospitalar e foi muito atuante, mas enfrentou turbulências criadas por desafetos do Pe. Cherubin, que acabaram superadas em 1994. Naquele ano o Colégio Brasileiro de Administradores Hospitalares mudou o nome para FBAH – Federação Brasileira de Administradores Hospitalares. A entidade é outro legado do Pe.Cherubin que perdura e, no presente ano de 2025, a FBAH realizou seu 44º Congresso de Administração Hospitalar e Gestão em Saúde em evento simultâneo à Feira Hospitalar 2025, que ocorreu de 20 a 23 de maio, em São Paulo.

ASSOCIAÇÃO DOS HOSPITAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Como já vimos, o Pe. Cherubin assumiu a direção do Hospital São Camilo em 1961. Seu empenho em viabilizar e fazer crescer o hospital deram grande visibilidade ao seu trabalho e em 1965 o São Camilo foi convidado para ingressar numa entidade associativa chamada “Associação dos Hospitais que Atendem à Previdência Social”. Os hospitais que faziam parte da entidade eram hospitais privados que tinham convênio de atendimento com a Previdência, convênio esse que o São Camilo também acabara de fazer.

Em 1967, no período que o Pe. Cherubin fazia sua pós-graduação, foi eleito presidente da entidade. Sua primeira providência foi propor a mudança do nome para Associação dos Hospitais do Estado de São Paulo e convidar mais hospitais para se associarem. Em um ano o número de hospitais associados passou de 150, o que permitiu pensar em adquirir uma sede própria. Para viabilizar o pagamento da sede o Hospital São Camilo antecipou o pagamento de dois anos de mensalidades. Logo o número de associados chegou a 415 hospitais de todos o estado e foram criadas Diretorias Regionais em Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Santos e no ABC paulista.

Durante sua gestão o Pe. Cherubin mostrou sua combatividade. Foram diversas lutas contra disposições dos governos da época, como foi na mudança das regras de pagamento aos hospitais, cujas glosas sistemáticas eram superiores a 30% e outras. Mas aquela que que mais repercutiu foi a sua liderança na luta contra a obrigatoriedade de envio, pelos hospitais, do prontuário dos pacientes junto com as contas. O absurdo da medida, um édito de índole medieval que violava a ética e o sigilo médico, acabou sendo uma discussão nacional. No fim, depois de grande debate, o governo foi forçado a voltar atrás.

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HOSPITAIS

Em 1967, ao assumir a presidência da Associação dos Hospitais do Estado de São Paulo, o Pe. Cherubin partiu para a ofensiva para garantir uma remuneração justa para os hospitais conveniados com a Previdência Social. O órgão que fixava os valores e os reajustes era o DNPS-Departamento Nacional de Previdência Social e ficava no Rio de Janeiro. A inflação do ano foi de 25% e o Pe. Cherubin passou a ir ao Rio todos os meses para reivindicar um reajuste condigno aos hospitais da Associação. Em uma destas visitas ao diretor do DNPS ouviu dele que não podia atender cada estado do país em separado. Ele que procurasse organizar as associações estaduais para facilitar a discussão em âmbito nacional.

Sem demora o Pe. Cherubin convocou as entidades estaduais então existentes para uma reunião no Rio de Janeiro. Vieram, além da do Rio Janeiro, as de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e uma que aglutinava estados do Nordeste. Reunidas, fundaram a FBH – Federação Brasileira de Hospitais.

O Pe. Cherubin assumiu o cargo de secretário da nova Federação, entendendo que era mais prático deixar a presidência nas mãos de um carioca que morasse no Rio, próximo ao DNPS. De sua parte, saiu viajando país afora para criar associações estaduais e, em poucos meses, quase todos os estados tinham suas entidades próprias.

Criar a FBH foi uma medida providencial. Então, com a entidade devidamente robustecida, partiu para a luta. A inflação galopante exigia que ele, todo o início do ano, ficasse uma semana no Rio de Janeiro para calcular o aumento nos custos de internação hospitalar do ano anterior e dar ao governo o valor do reajuste que o Ministério da Previdência deveria aplicar.

Só que o governo usava mil subterfúgios para escapar dos necessários reajustes aos hospitais. E o Pe. Cherubin precisava gastar um tempo enorme nestas escaramuças com o governo. Uma arma que descobriu ser de grande efeito, e que passou a usar, foi a ameaça de promover uma greve e paralisar o atendimento. Quando não conseguia o que queria ameaçava com a suspensão do atendimento conveniado. O governo era muito sensível a esta ameaça pois, ao menos em São Paulo, a previdência estava na mão dos hospitais. Somente na grande São Paulo eram mantidos 149 postos de emergência operados por hospitais conveniados. E, naqueles idos, praticamente não existiam planos de saúde e as empresas não ofereciam assistência médica aos seus empregados.

E as refregas eram para valer. Certa feita, em reunião com o Ministro da Previdência, ao defender a causa dos hospitais, foi tão veemente em sua argumentação que o ministro perdeu a compostura, lhe jogou no rosto um maçudo caderno de classificação hospitalar e saiu furibundo da sala. O lado bom foi que, com medo da imprensa, atenderam o Pe. Cherubin em todo o que ele pedia…

Outra medida que lhe tomou muito tempo e precisou de movimentação nacional foi que o Ministério da fazenda passou a exigir dos hospitais acesso à sua contabilidade de custos para autorizar qualquer tipo de ajuste na remuneração. Foi uma correria sem tamanho. Naquele tempo o único hospital do país que mantinha contabilidade de custos organizada era precisamente o hospital São Camilo de São Paulo.

Inúmeros escritórios de contabilidade saíram oferecendo seus serviços para os hospitais, mas o Pe.Cerubin convenceu o Ministério a estabelecer uma padronização do plano contábil de custos e ofereceu o sistema do hospital São Camilo como modelo. O sistema estava sendo empregado há vários anos e com grande eficiência. A proposta foi aceita pelas autoridades e o sistema de custos do Hospital São Camilo foi distribuído para todo o país.

Atualmente, a FBH – Federação Brasileira de Hospitais ainda é atuante e representa 16 Associações Estaduais Federadas e que compõe uma rede de 4.500 estabelecimentos privados, entre instituições com fins lucrativos e instituições filantrópicas.

PARTE 5 – CONSULTORIA E GERÊNCIA HOSPITALAR – A SAGA DO PADRE CHERUBIN (O CRIADOR DAS FACULDADES DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL)

Consultoria e Gerência Hospitalar

O Pe. Niversindo Cherubin tinha 29 anos, em 1961, quando assumiu a direção geral do Hospital São Camilo de São Paulo. O jovem padre ficou um tanto assustado com a responsabilidade. Ainda mais quando descobriu que, dos 78 leitos, só havia três com doentes internados. Ficou mais sossegado ao saber que a escassez de doentes tinha solução. Ainda no mesmo dia da posse chamou os médicos para conversar. Ouviu suas queixas e garantiu que a coisa mudaria. E, de fato, mudaram. Daquele dia em diante, e pelos 30 anos que se seguiram, não teve mais problemas dessa natureza.

Uma coisa, porém, o Pe. Cherubin compreendeu logo: Hospital não é lugar para amadorismo e improviso. Então, reconhecendo que de gestão de hospital não entendia nada, mas que tinha a seu cargo um hospital que agora, mercê de Deus e dos médicos que traziam pacientes, vivia lotado, foi preparar-se. Frequentou todo tipo de curso sobre hospital. Fez curso de lavanderia, de assepsia e limpeza, de esterilização, de arquivo médico, de estatística, de contabilidade hospitalar, ente outros. Alguns desses cursos foram ministrados pelo Instituto que adotaria, no futuro, o nome de IPH. De todos os que frequentou, o curso do IPH que mais o impressionou foi o de lavanderia hospitalar. Ficou espantado. Ele nunca imaginara o tamanho da montanha de lençóis, fronhas, toalhas, jalecos, aventais, camisolas, campos cirúrgicos, panos e coisas que tais que era preciso lavar todos os dias. Aí, quando comparou as técnicas ensinadas no curso com aquelas que seu hospital praticava, se sentiu pré-histórico. Foi quando se aproximou do criador do IPH, o arquiteto Jarbas Karman, e pediu ajuda para modernizar sua lavanderia. E depois outras áreas do hospital.  

Em 1967 o Pe.Cherubin foi fazer uma pós-graduação de Administração Hospitalar na Faculdade de Saúde Pública, em São Paulo. Esse curso permitiu a ele ampliar sua visão do papel do hospital na saúde da sociedade e, por outro lado, compreender que os cursos de pós-graduação não eram o caminho para a formação da quantidade, e do tipo de profissionais, que os hospitais precisavam. Em seu entendimento, a saída seria criar cursos em nível de graduação.

Para viabilizar a criação de uma Faculdade de Administração Hospitalar foi conversar com seu amigo, o arquiteto e engenheiro Jarbas Karman, o fundador do Instituto Nacional de Pesquisas e de Desenvolvimento Hospitalares (INPDH) que, no futuro, mudaria para a sigla IPH.

O Instituto continuava dando diversos cursos hospitalares. Alguns, por convite do Pe. Cherubin, ministrados no próprio São Camilo. O Pe. Cherubin, vez ou outra, os assistia. Descobriu que eram uma fonte de recrutamento imbatível.

Ambos, o padre e o arquiteto, visionários, empreendedores e idealistas, em um Brasil que se abria para o mundo, decidiram somar forças. Formaram uma parceria que, embora improvável, teve profundo e duradouro impacto no setor hospitalar brasileiro.

O Arquiteto e Engenheiro Jarbas Bela Karman nasceu em Campanha, MG, em 13 de abril de 1917 e faleceu, aos 91 anos, em São Paulo, em 2 de junho de 2008. Foi engenheiro civil pela Poli (USP), em 1941, e arquiteto pela Poli (USP), em 1947. Titulou-se mestre em arquitetura hospitalar pela Universidade de Yale, nos EUA, em 1952, e participou do curso sobre infecção hospitalar do Prof. Carl Walter, em Kitchener, em Ontário, Canadá, em 1952.

Para dar a dimensão do papel de Jarbas Karman no setor hospitalar paulista basta dizer que ele foi o arquiteto técnico do Hospital Albert Einstein. Em 1953, como contou a esse articulista, Karman foi procurado pelo Dr. Manoel Tabacow Hidal, médico que liderou a criação do Hospital Albert Einstein e cujo consultório ficava no mesmo edifício de seu escritório, na Rua Xavier de Toledo, 210, no centro de São Paulo. O Dr Hidal perguntou ao Karman, já atuante no setor hospitalar paulista, se achava viável um novo hospital na cidade, a ser criado pela comunidade israelita de São Paulo. Karman teria respondido que sim, especialmente se fosse um hospital de padrão internacional. Deste primeiro contato nasceram diversos estudos, inclusive a avaliação de um terreno que estava sendo oferecido por uma pessoa da comunidade judaica. O arquiteto Jarbas Karman foi avaliar o terreno, próximo ao aeroporto de Congonhas, grande e magnificamente localizado. Mas que ele, após examinar as características do solo, opinou pela recusa. O terreno tinha grande quantidade de madeira soterrada e estava profundamente contaminado com cupins, cuja erradicação seria cara e problemática, podendo vir a infectar o hospital.

Foi em 1955 que o arquiteto e engenheiro Jarbas Karman criou o Instituto Nacional de Pesquisas e de Desenvolvimento Hospitalares (INPDH/IPH), tornando-se pioneiro na formação de profissionais ligados à área da saúde. Seu 1º Curso de Técnica Asséptica e de Esterilização foi ministrado no Instituto de Engenharia de São Paulo em 1955. Ainda naquele ano iniciou a publicação da revista “Hospital de Hoje”, publicada até 1969. Em 1973, então, no período que o Pe. Cherubin ocupava a Coordenação da Assistência Médico Hospitalar do Ministério da Saúde, associou-se a ele para implantar a primeira faculdade de Administração Hospitalar da América Latina, em nível de graduação. Esta sociedade durou 12 anos, com grande sucesso. Como vimos anteriormente, o Pe. Cherubin retirou-se da sociedade do IPH em 1986, com imensa tristeza, quando os camilianos, à sua revelia, decidiram ter uma Faculdade própria de Administração Hospitalar. Aconteceu que dois colegas camilianos, que ele colocara como professores no curso de administração hospitalar do IPH, mas que tinham visão política diferente da linha conservadora esposada por ele, se valeram do prestígio adquirido pelo curso do IPH e pelas instituições camilianas e, ainda mais, do terreno da Clínica Infantil do Ipiranga e dos recursos financeiros obtidos pela Sociedade Beneficente São Camilo, frutos do trabalho do Pe. Cherubin, e fundaram o Centro Universitário São Camilo. Este novo cenário tornava inviável criar no Brasil um Centro de Administração da Saúde, nos moldes do Krankenhaus, de Düseldorf, na Alemanha e que era o sonho do Pe. Cherubin.

De sua parte, o Pe. Cherubin, como religioso obsequioso, curvou-se às decisões da Província e viabilizou as condições institucionais para criar o Centro Universitário São Camilo. Também coube a ele, como ecônomo da Província, fornecer os recursos para o investimento inicial e, como superintendente da Sociedade Beneficente São Camilo, dar acesso ao valioso terreno de 40.000 m2 da Clínica Infantil do Ipiranga que, pela escritura de agregação, estava em sua alçada.

Por justiça, é preciso lembrar, 35 anos depois seu gesto de grandeza foi reconhecido. No dia 23 de setembro de 2010, o Pe. Cherubin recebeu o título de Doutor Honoris Causa do Centro Universitário São Camilo, das mãos do Pe. Leoncir Pessini, Provincial e Presidente das Entidades Camilianas do Brasil e do Pe. Christian de Paul de Barchifontaine, Reitor do Centro Universitário São Camilo.

O importante, para o Pe. Cherubin, foi constatar em vida que o seu legado permanece. Em suas memórias fez questão de registrar que em 2010 já existiam 37 faculdades de Administração Hospitalar espalhadas por todo o país, sendo 14 só em São Paulo. Mas ele lamentava que a maioria só oferecesse a Administração Hospitalar como opção nos últimos dois anos. A seu ver, era uma formação insuficiente. E ele tinha base para afirmar isso.

A CONSULTORIA DE GERÊNCIA HOSPITALAR

Em meados da década de 1980, vinha crescendo o número de instituições filantrópicas que entravam em contato com a Sociedade Beneficente São Camilo buscando orientação sobre gestão e contabilidade. Depois de considerar todos os lados da questão, na Assembleia Geral de julho de 1985 a Sociedade Beneficente São Camilo criou um novo Departamento denominado Gerência Hospitalar. Era um serviço de consultoria e terceirização. Seu escopo de atividades incluía efetuar diagnóstico da situação do hospital e de suas unidades administrativas, revisar e corrigir procedimentos administrativos, implantação de um plano contábil, criar um sistema de prestação de contas, organizar a tesouraria, estruturar o setor de pessoal e de materiais, e outros. Podia, ou não, incluir a gestão operacional da instituição ou estabelecimento.

Focando sua atividade inicial na região Sul, em 1988, quando foi criada a primeira filial em Novo Hamburgo, a Consultoria já tinha quatorze hospitais clientes na região, sendo oito no Rio Grande do Sul, quatro em Santa Catarina e dois no Paraná. Coube a essa unidade, em junho em 1990, assessorar a Universidade do Rio dos Sinos, Unisinos, em São Leopoldo, na grande Porto Alegre, na instalação da primeira Faculdade de Administração Hospitalar do Rio Grande do Sul.

ASSOCIAÇÃO DA OBRAS SOCIAIS DA IRMÃ DULCE

Em janeiro de 1990 foi inaugurada a filial da Gerência Hospitalar em Salvador, na Bahia. Em primeiro de maio de 1990 a unidade de Salvador assumiu a administração da Associação da Obras Sociais da irmã Dulce, canonizada em 13 de outubro de 2019, pelo Papa Francisco, tornando-se a primeira mulher brasileira a ser reconhecida como santa pela Igreja Católica, com o título de Santa Dulce dos Pobres.  

Suas obras sociais formavam um verdadeiro conglomerado. Envolviam o Hospital Santo Antônio, o Centro Geriátrico, o Centro para Excepcionais e a Colônia Simões Filho, para 350 crianças abandonadas. No início a irmã Dulce mostrou-se pouco à vontade com a contratação de uma consultoria de terceiros para a obra que ela sempre levara à frente sozinha, mas os empresários que a apoiavam financeiramente perceberam que a irmã, com o avanço da idade, já não conseguia controlar um complexo daquele porte com métodos precários e impuseram essa condição. No período em que a Gerência Hospitalar prestou seus serviços de consultoria o Pe. Cherubin ia à cidade todos os meses para fazer a prestação de contas. E sempre reservava um tempo adicional para passar informações e esclarecer quaisquer dúvidas que a irmã Dulce suscitasse. Após alguns meses ela via, maravilhada, como as boas práticas de gestão estavam transformando sua obra. Passou a aguardar a visita mensal do Pe. Cherubin com grande alegria e fazia questão de manifestar a ele, e aos patronos de sua obra, que estava muito feliz com o trabalho de consultoria que estava sendo realizado e, que, agora, graça a ele podia dormir tranquila.

O GOVERNO É A PEDRA NO MEIO DE CAMINHO

Como tudo o que o Pe. Cherubin se propunha a fazer, e em que se empenhava com paixão e competência, a consultoria de Gerência Hospitalar cresceu rapidamente. Mas, também é verdade que ele percebeu que, em meados da década de 1980, a maioria dos hospitais brasileiros começava a enfrentar sua crise de meia idade.

O conceito que temos hoje do estabelecimento hospitalar moderno, designação que compreende uma estruturação sistematizada, desde a formação do especialista, o planejamento das edificações e instalações, a seleção do equipamento, as normas da organização e de funcionamento, o regime econômico-financeiro, tudo isto se consolidou no Brasil a partir de meados do anos 40 do século passado. E surgiram novos hospitais por todo o país. Ordens religiosas, irmandades, governos municipais, médicos empreendedores criavam novos estabelecimentos, a maioria sem condições mínimas de sustentabilidade.

Nos anos 80, um grande número destes hospitais estava à beira da falência. Administrativamente eram uma tragédia. Os hospitais não tinham controle financeiro, não tinham controle de estoque e não sabiam faturar. Para os consultores era relativamente fácil resolver seus problemas. A implantação de controles mínimos permitia arrumar as contas do hospital em 90 ou 120 dias. O efeito foi explosivo. Os gestores comentavam: “a consultoria do São Camilo chegou lá e resolveu em 90 dias”. Então os hospitais começaram a formar fila na porta do Pe. Cherubin.

O problema, na outra ponta, era formar e qualificar administradores hospitalares para atender a estes hospitais.

A consultoria de Gerência Hospitalar passou a selecionar candidatos nos estabelecimentos que administrava pelo país e os selecionados recebiam bolsas de estudo integrais, em São Paulo. As bolsas incluíam a faculdade, alimentação, residência (os alunos no Hospital São Camilo da Pompéia, e as alunas, no Hospital São Camilo de Santana), e uma ajuda de custo para transporte e aquisição de material didático durante os quatro anos do curso. Logicamente, no fim do curso, havia a promessa implícita de um emprego em nível gerencial. Nos dez anos que durou o programa foram formados cerca de 250 administradores hospitalares bolsistas.

Em 1996 a consultoria de Gerência Hospitalar já estava administrando 80 hospitais, com um total de 7.981 leitos. 30 desses hospitais pertenciam aos camilianos e os demais eram geridos sob contrato. Esses números faziam da unidade de Gerência Hospitalar São Camilo uma das maiores administradoras de hospitais do mundo.

O problema é que apareceu o governo no meio do caminho. A extinção do INAMPS, o Instituto Nacional de Assistência Médica e sua substituição pelo SUS, Sistema Único de Saúde, mudou para pior a sistemática da remuneração dos hospitais. O governo, vendo que instituições como a São Camilo e as Santas Casas assumiam grande parte do atendimento do SUS, achou que elas, talvez por sua origem religiosa, recebessem dinheiro do Espírito Santo, tirassem dinheiro do poço ou escondessem dinheiro no colchão. Mudou as regras e simplesmente estrangulou o pagamento dos serviços prestados ao SUS. Com as receitas engessadas e os custos da medicina aumentando acima da inflação, a qualidade da assistência começou a sofrer e o sistema ficou comprometido. Diante dos riscos de insolvência e com o governo indiferente à realidade dos hospitais, os camilianos decidiram encerrar o departamento de Gerência Hospitalar e conservar apenas os hospitais próprios, que seriam administrados diretamente pela Sociedade Beneficente São Camilo, dirigida pelo Pe. Cherubin, retirando-se dos que administrava sob contrato.

Hoje, consolidados, os hospitais camilianos fazem parte do legado do Pe. Cherubin e continuam a seguir o carisma da Ordem de São Camilo de Lellis cuidando dos enfermos. Seus hospitais estão presentes em todo o país, sendo 14 estabelecimentos na região sul.

Os hospitais do Paraná são o Centro Hospitalar São Camilo e o Centro Hospitalar São Camilo Uvaranas – Ponta Grossa; Clínica Médica São Camilo e Hospital Regional de Caridade Nossa Senhora Aparecida – União da Vitória; Hospital e Maternidade Ribeirão do Pinhal – Ribeirão do Pinhal;

Os hospitais de Santa Catarina são o Hospital São Braz – Porto União; o Hospital São Camilo Imbituba – Imbituba; Hospital São Francisco – Concórdia; o Hospital Regional Helmuth Nass – Biguaçu; Hospital São Bernardo, – Quilombo; Hospital São Camilo Ipumirim – Ipumirim; Hospital São Pedro – Itá e o Hospital São Roque, em Seara.

Por fim, no Rio Grande do Sul, o Hospital Beneficente Santa Terezinha, em Encantado.

Mas a saga do Doutor Padre Niversindo Antonio Cherubin ainda vai continuar por mais capítulos, porque é preciso contar suas iniciativas na promoção das boas práticas na gestão hospitalar, sua missão para organizar a Província Camiliana Norte-americana, relatar sua consultoria técnica para as entidades camilianas da África e da Ásia, suas missões para os Papas Paulo VI e João Paulo II e outras histórias de longe e de perto, como a homenagem que recebeu da Assembleia Legislativa de Santa Catarina pelo seu trabalho na promoção de saúde na região coirmã do Alto Uruguai Catarinense.

PARTE 4 – A SAGA DO PADRE NIVERSINDO CHERUBIN – NASCE A PRIMEIRA FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL

NASCE A PRIMEIRA FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR DO BRASIL

O Pe. Niversindo Cherubin estava no auditório do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Sentava-se na última fileira de poltronas. Preferia viver sua angústia e fazer suas preces da forma mais discreta possível, ainda que sua batina, eblazonada pela marcante cruz vermelha camiliana na altura do peito, o fizesse o personagem mais destacado do auditório.

Era a primeira vez que o Pe. Niversindo Cherubin, desde sua ordenação sacerdotal, 17 anos antes, em junho 1956, se deixava tomar por tão forte emoção. Ali, naquele dia 12 de junho de 1973, reunia-se o Conselho Federal de Educação e seus conselheiros, todos circunspectos cavalheiros, elegantemente vestidos, com exceção do padre salesiano José Vieira, que usava sua batina regular, iriam julgar o processo que poderia tornar realidade seu acalentado sonho de criar a primeira Faculdade de Administração Hospitalar no Brasil

No dia da reunião que julgaria seu processo o Pe. Cherubin chegara cedo. Era homem prático e de ação, sempre com agenda cheia. Mas desmarcara tudo. Aquele não seria um dia como os outros. Tinha o coração nas mãos. Desejava acompanhar o trabalho dos conselheiros de perto. Temia que seu projeto, como tinha visto acontecer com tantos outros, fosse bombardeado pelos conselheiros. O que o sossegava, mas só um pouco, foi que o presidente do Conselho, o dr. Roberto Santos, médico famoso e que, no futuro, seria eleito governador da Bahia e que se tornara seu amigo, o tranquilizara. Se despendesse dele, o novo curso de graduação para Administradores Hospitalares do Brasil seria aprovado. Reafirmou ao Pe. Cherubin que, de fato, no início tinha sido contra, seguindo a opinião da maioria de seus colegas que achava que a administração hospitalar deveria ficar restrita aos médicos, mas depois, após haver estudado o assunto em profundidade e após as diversas reuniões de esclarecimento que tivera com ele, se convertera em fervoroso defensor do projeto.

A agenda da reunião do Conselho tinha variados outros assuntos e, enquanto aguardava, o Pe. Cherubin procurava espairecer lembrando da extensa jornada de sonhos e lutas que o trouxera até ali.

No seu dia a dia como diretor do Hospital São Camilo o Pe. Cherubin sofria horrores com a falta de profissionais qualificados para gerir o hospital.  O dia a dia hospitalar é feito de centenas, milhares de micro-eventos e das mais diferentes atividades. E, ainda mais, as atividades hospitalares precisam se encaixar como as engrenagens de um relógio. A falta de um simples dente em uma engrenagem pode emperrar o mecanismo inteiro. Mas onde encontrar esses profissionais qualificados? Médicos e enfermeiras não eram o problema imediato. Existiam e bem-preparados. O gargalo era mesmo a falta de administradores. De pessoal para o meio de campo.

Ele, pessoalmente, já havia obtido sua pós-graduação em Administração Hospitalar na USP. E existiam outros cursos de pós-graduação no meio acadêmico. Mas, como observara em primeira mão, a pós-graduação formava administradores doutos, que mal comparando, atuavam no estilo de “médicos”, ou seja, administradores orientados para o diagnóstico e prescrição de receitas. Entretanto, a carência dos hospitais era de administradores do perfil de enfermagem, ou seja, profissionais tipo “enfermeiras e enfermeiros” que atuassem no dia a dia hospitalar botando a mão na massa. Cuidando de suprimentos, documentos, planilhas, ordens de serviço, logística. Enfim, fazendo a estrutura burocrática e organizacional funcionar.

Pode-se argumentar que toda empresa precisa de bons administradores, mas um hospital lida com vidas humanas. Erros aceitáveis numa fábrica convencional podem ter consequências graves num estabelecimento de saúde. E, para o Pe. Cherubin, os administradores faziam toda a diferença. Uma analogia recorrente é que, se um hospital pode ser comparado com uma orquestra formada por naipes de médicos, enfermeiras e profissionais de saúde conduzidos pelo Diretor Clínico, no papel de maestro, sem os administradores hospitalares não haveria orquestra. Simples assim. De modo que foi, precisamente, por constatar a importância essencial desse profissional que o Pe. Cherubin assumiu para si a missão de formar e organizar os administradores hospitalares que seu hospital precisava. E de que o Brasil carecia.

Neste sentido, seguindo o modelo norte-americano de organização profissional que conhecera em Chicago, já havia criado em 1971 o Colégio Brasileiro de Administradores Hospitalares. (Em 1994 a entidade ampliaria seu escopo de atuação e mudaria o nome para FBAH-Federação Brasileira de Administradores Hospitalares).

E na reunião daquele dia 12 de junho 1973 estava sendo decidido se o Brasil teria faculdades com cursos da graduação em Administração Hospitalar ou se o país iria continuar, como havia feito até então, improvisando e aceitando padrões de gestão hospitalar sofríveis e abaixo da crítica.

Quando chegou a vez do Conselho analisar o projeto do Pe. Cherubin o Presidente do Conselho Federal de Educação, o Dr. Roberto Santos, pelo sim e pelo não, tratou de usar de um artifício matreiro para prevenir eventual derrota: quando chegou a vez de votar o projeto do Pe. Cherubin, levantou-se e, justificando que precisava sair do recinto, convidou o Pe. José Vieira, um conselheiro que suspeitava votar contra o projeto do Pe. Cherubin, para assumir a presidência dos trabalhos. Aparentemente o Pe. Vieira não tinha nada contra seu colega religioso, o Pe. Cherubin, nem nada em particular contra a Faculdade de Administração Hospitalar. É que ele se opunha sistematicamente a todas as novas faculdades propostas, sem exceção. Mas neste caso, indicado para presidir a votação, aceitou a incumbência e deu sequência à pauta da reunião. Foi só então que percebeu qual o projeto lhe cabia colocar em discussão. Ora, na presidência dos trabalhos não podia nem participar da discussão e nem votar. Exceto para um eventual voto de minerva. Mesmo assim foi em frente e chamou a votação. Ninguém se manifestou contra e, desse modo, por unanimidade dos conselheiros presentes, estava aprovada a primeira Faculdade de Administração Hospitalar do Brasil.

Foi então que o Pe. Cerubin, como candidamente confessa em suas memórias, não conseguiu conter as lágrimas teimosas que sulcaram seu rosto. E nem tentou conte-las. Seu coração exultava de júbilo e chorar de alegria era celebrar aquele momento de triunfo e a superação.

A decisão do Conselho, encaminhada para o presidente da República Emílio Garrastazu Médici, foi devidamente assinada em 6 de dezembro de 1973.

Para sair da teoria para a prática o Pe. Cherubin decidiu começar as aulas de sua Faculdade de Administração tão logo possível. Como o prédio que ele estava construindo no Morumbi não estivesse pronto, iria utilizar salas do Seminário Camiliano da Pompéia.  Era uma solução provisória, mas possível, para acomodar no primeiro ano os 120 alunos por turma que haviam sido autorizados.

Na verdade, sempre pensando na frente, o Pe. Cerubin já cogitara em como, e onde, abrigar a Faculdade de Administração Hospitalar. Ele antevia replicar no Brasil o que vira funcionando na Alemanha. Um Centro de Administração da Saúde como o “Krankenhaus Institut” de Dusseldorf. Neste centro funcionariam, além da Faculdade de Administração Hospitalar as entidades representativas dos administradores hospitalares, seus órgãos de classe e outras instituições hospitalares.  Para tanto já havia se associado ao IPH de Jarbas Karman, para dividirem o investimento: os recursos viriam da Associação de Hospitais do Estado de São Paulo, da qual ele era presidente, e do IPH – Instituto de Desenvolvimento e Pesquisas Hospitalares.  

A Primeira aula da Nova Faculdade de Administradores Hospitalares foi marcada para o dia 1º de fevereiro de 1974. Seria um evento solene e memorável para marcar o início de uma nova era para o mundo hospitalar brasileiro.

E de certo modo o foi. Mas por motivo completamente diferente. Naquele dia uma das maiores tragédias da história da cidade interrompeu essa aula inaugural: o incêndio do Edifício Joelma, na região central de São Paulo. Neste incêndio morreram 187 pessoas e mais de 300 ficaram feridas.

Ao saber do ocorrido o Pe. Cherubin correu para o Hospital São Camilo para assumir pessoalmente o comando do atendimento às vítimas da tragédia. O hospital tinha uma localização que facilitava o encaminhamento dos feridos e foi inteiramente mobilizado para socorrer as vítimas.

Os 14 helicópteros mobilizados no socorro às vítimas apanhavam os pacientes em um heliporto improvisado nas proximidades do incêndio e os levavam até o Estádio do Palmeiras. Pousavam no gramado e, dali, as ambulâncias enviadas pelo exército, amplas e práticas, os levavam pelos dois quilômetros restantes até o hospital.

No hospital o Pe. Cherubin comandou a criação de um espaço para primeiro atendimento ainda na entrada e promoveu a liberação de um andar inteiro para a internação. Os pacientes que estavam internados foram transferindo para o prédio vizinho ou para outros andares e alguns, para quartos do seminário ao lado. Ele virou a noite trabalhando para garantir que tudo estava funcionando.

No dia seguinte, mesmo com toda a tribulação da véspera, as aulas começaram. O Pe. Cherubin tinha pressa.

Como esperado, assim que a Faculdade passou a funcionar regularmente começou a preparar uma elite de administradores hospitalares. Muitos desses administradores foram, desde logo, convidados a estagiar no São Camilo e, os que se destacaram, foram contratados.

O mais importante foi que, sabendo que podia contar com uma fonte contínua de administradores hospitalares qualificados, o Pe. Cherubin se sentiu encorajado a incorporar novos hospitais na rede camiliana.

Dez anos depois, em meados dos anos oitenta, muitos hospitais de entidades filantrópicas começaram a enfrentar dificuldades administrativas e financeiras e procuraram o São Camilo solicitando orientação técnica. A essa altura o IPH, a Faculdade do Pe. Cherubin, já tinha formado diversas turmas de administradores hospitalares, a maioria dos quais se associaram ao Colégio Brasilero de Administradores Hospitalares, a futura FBAH – Federação Brasileira de Administradores Hospitalares. Vendo nestes pedidos uma oportunidade para ajudar os hospitais filantrópicos e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de trabalho para os seus alunos, o Pe. Cherubin reuniu-se com a equipe que administrava os hospitais já incorporados na rede camiliana. Queria ouvir a opinião de seu grupo de administradores sobre a possibilidade da rede camiliana assumir a gestão destes hospitais. Seu pessoal achou que era viável. O Pe. Cherubin, então, criou na rede São Camilo, um nova unidade que recebeu o nome de “Departamento de Gerência Hospitalar”.

A Diretoria de Gerência Hospitalar atuou durante 13 anos. Terceirizou a gestão e prestou consultoria a hospitais de todo o país. Em 1º de maio de 1990 assumiu a administração da Associação das Obras Sociais da Irmã Dulce, na Bahia. Ainda em 1990, a Gerência Hospitalar assessorou a Universidade do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, na instalação da primeira faculdade de Administração Hospitalar do Rio Grande do Sul. Promoveu a reabilitação financeira da Santa Casa de Belo Horizonte, um feito excepcional para um nosocômio de 1.300 leitos, que, graças a melhorias na gestão, reduziu de 16 para 8 os dias de internação média.  

Apesar de seu sucesso, ou até em razão dele, o Conselho Provincial dos Camilianos decidiu encerrar as atividades do Departamento de Gerência Hospitalar em 1998. A principal justificativa foi que a supressão do INAMPS (Instituto Nacional de Assitência Médica da Previdência Social) e a criação, em seu lugar do SUS – Sistema Único de Saúde, ampliava a complexidade da administração financeira dos hospitais que atendiam o governo e recomendou que a Sociedade Beneficente São Camilo concentrasse seus esforços na gestão dos seus hospitais próprios. O Pe. Cherubin, então, organizou uma transição dos hospitais terceirizados que desejassem para a Pró- Saúde, uma entidade que foi criada pelos administradores hospitalares que administravam o Departamento de Gerência Hospitalar.

Ao encerrar seus 13 anos de atividades os números do último ano da Gerência Hospitalar falam por si:

– 80 hospitais sob administração terceirizada; 7.981 leitos hospitalares; 1.734.339 pacientes-dia-ano; 165.356 cirurgias-ano; 63.647 partos-ano; 4.143.570 exames diversos; 2.045.664 consultas; 7.217 funcionários; 6.148 médicos.

As dezenas de faculdades de Administração Hospitalar hoje espalhadas por todo o país e a FBAH – Federação Brasileira de Administradores Hospitalares e sua intensa atividade em Simpósios e Congressos voltados para o aperfeiçoamento profissional dos administradores associados estão no centro do legado que o Pe. Niversindo Cherubin deixou para os hospitais e para a saúde brasileira.

PARTE 3 – O PATINHO FEIO DE CONCRETO – A SAGA DO PADRE NIVERSINDO CHERUBIN (CRIADOR DAS FACULDADES DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL)

De Balisa para o Mundo, Parte 3

PATINHO FEIO DE CONCRETO – COMO UM PRÉDIO ABANDONADO NO MEIO DO MATO SE TRANSFORMA EM UM MEGA HOSPITAL DE REFERÊNCIA EM SÃO PAULO

Esta história conta como dois personagens marcantes da cidade de São Paulo, um prefeito realizador e carismático, filho do poeta e escritor Paulo Setúbal, neto do deputado federal e vice-presidente da província de São Paulo, Olavo Egídio de Sousa Aranha, trineto da viscondessa de Campinas, do visconde de Indaiatuba e do barão de Sousa Queirós, sobrinho-neto de Osvaldo Aranha, sobrinho-bisneto do marquês de Três Rios, da baronesa de Itapura e da baronesa de Anhumas, sobrinho-trineto do visconde de Vergueiro, do barão de Limeira e da marquesa de Valença, e, ainda, tetraneto do senador Vergueiro, um dos mais influentes políticos do Império do Brasil, Olavo Setúbal, e seu comparte, um padre camiliano de origem veneta, nascido na Villa de Balisa, em Erechim, juntam forças para entregar a São Paulo um dos maiores e mais icônicos hospitais da cidade, o Hospital São Camilo Santana.

Foi em um sábado de manhã, em novembro do ano de 1975, que lendo o jornal Folha de S. Paulo, o Pe. Cherubin se deparou com uma matéria cujo título era “Hospital Abandonado na Zona Norte”.

A matéria versava sobre a situação de um prédio enorme de um hospital abandonado no populoso bairro de Santana. Uma foto aérea mostrava o monstrengo no meio de um matagal.

Aquela notícia não poderia ter vindo em momento melhor.

O Hospital São Camilo da Pompéia era a joia da coroa dos camilianos no Brasil. O hospital, que havia passado por turbulências administrativas no período de afastamento do Pe. Cherubin, durante os três anos em que atuou no governo federal como Coordenador do Atendimento Médico Hospitalar do Ministério da Saúde, voltara a operar com lotação completa depois que o Pe. Cherubin retomou a direção do hospital, instado a voltar pelo Pe. Calisto Vendrame, o Provincial dos Camilianos.

Era evidente, para o Pe. Cherubin, que estava mais do que na hora de partir para uma expansão. E ele até já estava se preparando para isso.

Com o jornal na mão, ainda no sábado, o Pe. Cherubin procurou seu amigo, o prof. João Sampaio Góes Júnior, que sabia ter relações próximas com o prefeito Olavo Setúbal. Explicou seu interesse, deu a ele o artigo e pediu para que dissesse ao alcaide que ele poderia assumir aquele prédio imediatamente para transformá-lo num grande e modelar hospital.

Como Deus escreve direito por linhas tortas, seu amigo, o Prof. Sampaio Góes, coincidentemente, integrava um grupo que iria almoçar com o prefeito no dia seguinte, domingo. Concordou em mostrar o jornal, levar a proposta do Pe. Cherubin e defender a causa. Na segunda-feira, logo cedo, trouxe a resposta para o Pe. Cerubin: o prefeito mandou dizer que “o prédio é seu”!

O Pe. Cherubin foi ver de perto o prédio abandonado. Era uma estrutura enorme, um monumental esqueleto de concreto armado que havia sido planejado para ser o hospital da Aeronáutica em São Paulo, mas que nunca havia sido acabado. A construção havia começado em 1956 e a FAB queria inaugurá-lo no dia 21 de abril de 1960, na mesma data da inauguração de Brasília. Como, porém,  Juscelino Kubistchek só tinha olhos para a nova capital e a FAB não conseguia dinheiro nem para comprar os aviões que precisava, um novo ministro da Aeronáutica parou aquela obra megalomaníaca e negociou o prédio inacabado com a prefeitura de São Paulo.

A prefeitura, por seu lado, também não tinha recursos para fazer o hospital e apenas vinha utilizando uma pequena parte como oficina para o conserto de ambulâncias.

O Pe. Cherubin foi conversar com os vereadores para negociar com a Câmara Municipal de São Paulo. O bom nome do Hospital São Camilo da Pompéia ajudou e a câmara aprovou uma lei concedendo para os camilianos o prédio e o terreno nas seguintes condições: duração do comodato 50 anos, renovável; 24 meses de prazo para a instalação de ambulatório e um andar para salas para cursos profissionalizantes; mais 24 meses para a instalação do pronto-socorro e de 100 leitos para internação e 12 anos para o término das obras com 400 leitos.

Tudo pronto para começar as obras veio outra notícia: as plantas originais tinham sumido. Nem a Aeronáutica e nem a Prefeitura sabiam o paradeiro delas. Mesmo assim o Pe. Cherubin foi em frente e tralhando dia e noite e colocando na obra 250 operários, apenas 90 dias após a assinatura do comodato, na data de 27 de outubro de 1977, o hospital abandonado da zona norte programou a inauguração de um belo e bem equipado ambulatório.

O Pe. Cherubin mandou um portador levar um convite da inauguração do ambulatório ao prefeito Olavo Setúbal. O prefeito Setúbal leu e ficou assombrado. Apenas outro dia ele tinha recebido em seu gabinete o elegante Pe. Cherubin e assinado o comodato com os camilianos e, em três meses, já vinha um convite para inauguração? Seu banco, o Itaú, fazia obras neste prazo, mas instalar uma agência é uma coisa, pegar um prédio abandonado no meio do mato e instalar um ambulatório médico era outra. Isso ele precisava ver. Quando chegou para a inauguração o prefeito ficou maravilhado. O mato tinha desaparecido. Na entrada do ambulatório havia uma ampla praça com jardim, feericamente iluminada, área de estacionamento sinalizada, cobertura para ambulância e garagem. Pe. Cherubin já construía pensando em um hospital de 400 leitos e não em um ambulatório. Foi receber o prefeito de braços abertos e o convidou para conhecer as dependências do ambulatório. Como tudo tinha sido feito para servir a um grande hospital, a área de recepção, salas de espera, os consultórios médicos, as salas de procedimentos, salas para exames de laboratório e imagem, salas de preparo de medicação, salas de serviço e esterilização, copa, sanitários e depósitos eram grandes, bem mobiliadas e bem-acabadas. O prefeito estava um entusiasmo só. Fez questão de dar ao padre um grande e sólido abraço para mostrar sua admiração e cumprimentá-lo pela façanha.

Mais 90 dias e o Chefe do Gabinete, Erwin Friedrich Fuhrmann entrou no gabinete fazendo um ar de cerimônia. Aí entrega ao prefeito Olavo Setúbal um belo envelope de opaline. Dentro outro convite. Era para outra inauguração. E, de novo, daquele padre alto, refinado e elegante como um nobre veneziano. Setúbal não resistiu e abriu um vasto e sonoro sorriso de incredulidade. O que o Pe. Cherubin ia inaugurar agora? Desta feita era todo o segundo andar, aquele que, conforme o acordo com os vereadores, deveria ser dedicado à salas de ensino profissionalizante e que deveria ficar pronto em 48 meses. O Pe. Cherubin o entregava em 180 dias.  O prefeito seguiu o Pe. Cherubin pelo segundo andar inteiro e viu que tudo estava estalando de novo. As salas de aula prontas para os cursos técnico. Os quadros verdes com giz nos porta apagadores. O prefeito, ao se despedir o Pe. Cherubin, desabafou: “quem dera eu tivesse mais alguns padres de seu feitio para tocar obras!”

Acontece que a pressa do Pe. Cherubin vinha do simples fato de que ele precisava urgente daquele hospital. O São Camilo Pompéia estava saturado e tendo que recusar internações, desagradando sua clientela médica. Na continuidade, mantendo o ritmo das obras 24 horas sem descanso, em mais 2 anos, no dia 3 de março de 1979, ao custo de 10 milhões de dólares, inteiramente custeados pelo Hospital São Camilo Pompéia, o portentoso e reluzente Hospital e Maternidade de Santana estava pronto. O padre Cherubin batizou o hospital com o nome de “Centro Hospitalar Dom Silvério Gomes Pimenta”. O nome era uma homenagem ao arcebispo de Mariana que convidou os camilianos para virem ao Brasil. A intenção era louvável, mas o nome não pegou. Desde o primeiro dia de funcionamento ficou conhecido como o São Camilo de Santana.

Agora a inauguração seria com toda a pompa e circunstância. Novamente estava presente o Prefeito Olavo Setúbal. o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, o Provincial dos camilianos e muitos outros.

O prefeito Olavo Setúbal estava maravilhado. A seguir, a transcrição de trechos de seu discurso na inauguração:

“Meu caro Padre Cherubin, a inauguração deste hospital é uma prova dramática de que a solução para os problemas da saúde do nosso país não depende exclusivamente do poder público. Ela demonstra, com clareza, que o poder público é, muitas vezes, incapaz de resolver problemas fundamentais da nossa comunidade. A solução tradicional do Brasil, de uma entidade sem fins lucrativos, de caráter religioso, unida ao poder público, demonstrou aqui a sua capacidade ao erigir esse Centro Hospitalar Dom Silvério Gomes Pimenta.

Logo no início de minha administração, quando procurei enfrentar todos os problemas que estavam parados, por falta de alguma coisa, encontrei esse caso aqui na Zona Norte. E este era um desafio gigantesco: o Governo Federal tinha abandonado a construção, o Governo do Estado tinha se proposto a resolver a situação e também se sentia incapaz de o fazer… este prédio estava abandonado… e recuperá-lo era um desafio gigantesco. O governo municipal, ao avaliar o custo desta solução sentiu que não tinha condições de fazê-lo, pelo menos no curto prazo…

Por isto, vejo com imensa satisfação que a decisão tomada há quatro anos, de entregar este hospital à Sociedade Beneficente São Camilo, foi a solução correta para a solução deste problema. Apenas quatro anos após a assinatura do convênio já temos a grande satisfação de assistir a inauguração do próprio hospital, após termos estado aqui diversas vezes para inaugurar o ambulatório, a escola e outras dependências deste centro hospitalar.

Por isso meu caro padre Cherubim, é a prefeitura de São Paulo que está devedora da Sociedade Beneficente São Camilo desta solução para a Zona Norte de São Paulo, solução que o poder público não soube fazer mas que o senhor, com sua dedicação e especialmente com a sua fé soube mobilizar os homens e os recursos para atender as necessidades desta população.

Congratulo-me com o senhor e com seus auxiliares por esta obra extraordinária e agradeço, realmente sensibilizado, a delicadeza de terem marcado esta inauguração ainda no período de minha administração, quando realmente pouco fiz, porque apenas tive confiança na Sociedade São Camilo, no senhor e nos seus auxiliares.

Entreguei uma obra que a Prefeitura não soube, que o Governo do Estado não pôde e o Governo Federal não quis resolver e o senhor, em quatro anos, conseguiu fazer aquilo que os governos não tinham a condição de fazer.

Agradeço, portanto, e o cumprimento muito sinceramente, por esse extraordinário feito que vai marcar a sua ação entre nós de uma forma definitiva. De uma forma que jamais a população de São Paulo e a sua prefeitura esquecerão.

 Muito Obrigado.

O atual Hospital São Camilo Santana – antigo Centro Hospitalar Dom Silvério Gomes Pimenta, foi inaugurado com 400 leitos, sendo a maioria em enfermarias coletivas. Atualmente foi reconfigurado e possui 264 leitos instalados em apartamentos. O Hospital atende a uma população estimada em dois milhões de habitantes, na Zona Norte da cidade de São Paulo, onde é o único a realizar cirurgias de alta complexidade, além de atender outras especialidades, como clínica médica, obstétrica e pediátrica. O hospital mantém convênios com sete faculdades da área da saúde, abrigando 35 estagiários em residência médica e 52 em enfermagem.

As quatro unidades da Rede Camiliana da cidade de São Paulo oferecem, em conjunto, 750 leitos, possuem cerca de 6 mil colaboradores e aproximadamente 7.900 médicos cadastrados. O atendimento é exclusivamente privado e os recursos provenientes dos hospitais de São Paulo permitem subsidiar vários hospitais administrados pelos camilianos distribuídos pelo país e que oferecem atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

PARTE 2 – A MISSÃO NO GOVERNO FEDERAL – A SAGA DO PADRE NIVERSINDO CHERUBIN (CRIADOR DAS FACULDADES DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL)

A SAGA DO PADRE CHERUBIN
MISSÃO NO GOVERNO FEDERAL
Em abril de 1973 o Pe. Cherubin foi nomeado para atuar como Coordenador da Coordenação da Assistência Médico-Hospitalar do Ministério da Saúde. Nunca um padre havia sido chamado para atuar em função tão importante no Ministério da Saúde. Mas também nunca um padre tinha sido presidente da Associação dos Hospitais de São Paulo, cargo que o Pe. Cherubin ocupava na ocasião.
Sua indicação se deveu a uma combinação de fatores. A entrevista com o Ministro Delfin Netto para liberar recursos para o Programa Nacional de Controle do Câncer ensejou a oportunidade para uma conversação mais ampla sobre o estado de coisas do setor hospitalar brasileiro. O Ministro da Saúde era o médico Mário Machado de Lemos, que tinha sido Secretário de Saúde de São Paulo, e que era amigo do prof. João Sampaio Góes Junior, o médico que levou o Pe. Cherubin ao ministro Delfin Netto. O ministro conhecia o trabalho de seu amigo e, por meio dele, conhecia o trabalho do Pe. Cherubin. Assim, quando o Presidente Médici se interessou pelo assunto da coordenação dos hospitais e o nome do Pe. Cherubin foi aventado, o endosso das referências elogiosas o levaram ao cargo.
A nomeação do Padre Cherubin foi muito festejada pelo setor. Em primeiro de maio de 1973 a Associação dos Hospitais do Estado de São Paulo publicou, no Jornal O Estado de S. Paulo, um comunicado que incluía um convite para um jantar para celebrar a nomeação a ser realizado no dia 25 daquele mês. Após um preâmbulo com detalhes da publicação no Diário Oficial enumera as qualificações do homenageado:
“O padre Niversindo Antônio Cherubin é formado em Administração Hospitalar, foi um dos fundadores e secretário geral durante 5 anos da Federação Brasileira de Hospitais, ocupa há 5 anos o cargo de presidente da Associação dos Hospitais do Estado de São Paulo, foi um dos fundadores e é atualmente diretor do Colégio Brasileiro de Administradores Hospitalares, fundou e é diretor responsável e redator da revista Vida Hospitalar e dirigia, como superintendente, a Sociedade Beneficente São Camilo e o Hospital São Camilo desta capital e é o Diretor Geral do Curso de Administração hospitalar do INPDH – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e de Pesquisas hospitalares, do qual é vice-presidente.” Assina o Dr. Cícero Aurélio Sinisgalli, Presidente em exercício.
O Pe. Cherubin, em seu discurso de posse, disse que faria o possível para melhorar a situação dos hospitais e reconheceu que os hospitais brasileiros navegavam sem rumo, afirmando que careciam de normas técnicas e administrativas para a sua construção, operação e administração.
Após o discurso, muito elogiado pelo ministro, foi conduzido ao seu gabinete, que ainda não conhecia. Ali foi informado que seu antecessor não faria a transferência de cargo porque não gostou de ser substituído. Tanto que havia abandonado o cargo uma semana antes de sua chegada. O Pe. Cherubin teve que descobrir sozinho o que aquela coordenadoria fazia conversando com cada um dos seus 80 funcionários.
Como o Ministério da Saúde ainda ficasse no Rio ele precisou deixar a administração do hospital São Camilo de São Paulo, mas não foi morar no Rio de Janeiro. Mesmo com direito a hospedagem cinco estrelas no Copacabana Palace, hospedava-se de segunda à sexta-feira na casa dos camilianos, no bairro da Tijuca, e nos fins de semana, voltava a São Paulo, para dar suas aulas no INPDH, o que fazia na sexta-feira a noite e nos sábados.
O Pe. Cherubin, como todo mundo, já havia ouvido falar da pouca “voglia” dos funcionários públicos brasileiros, mas, ainda assim, habituado a ética de trabalho do Sul, da Itália e em empresas e hospitais privados, ficou abismado com a desfaçatez dos funcionários públicos de sua coordenadoria. Ele nunca havia trabalhado em órgão público e não estava familiarizado com a burocracia e a tramitação de processos, mas ficou espantado com a lentidão e a morosidade com que eram feitos os encaminhamentos e pareceres. Esse descaso era, de todas as barbaridades com que foi se deparando no serviço público, aquele que mais o incomodava. Constatava que os funcionários eram regiamente pagos, com o dobro ou triplo do que recebiam os do setor privado, gozavam de privilégios escandalosos e, mesmo assim, tinham uma atitude de absoluta displicência com suas tarefas e obrigações. Reclamando com um advogado de São Paulo ficou sabendo que essa atitude é conhecida como “desídia” e abrange desde a falta de comprometimento e atrasos constantes até a realização de tarefas de forma descuidada ou a eventual falta de educação com os cidadãos. Como nunca tinha ouvido falar nisso o advogado explicou que era tão raro alguém ser acusado de “desídia” que muitos juízes nem sabiam do que se tratava.
Mesmo sabendo que fazia uma declaração de guerra, informou aos responsáveis de seu setor que nenhum processo passaria a noite na mesa de seu gabinete e nenhum atravessaria uma semana na sua coordenadoria.
Teve outro espanto quando descobriu que nenhum dos seus funcionários havia sido selecionado e contratado pela sua coordenação. Todos, sem exceção, eram provenientes de outros órgãos federais, enquanto os que foram contratados por sua coordenação estavam trabalhando em outras divisões, inclusive em outros ministérios. Soube que, para requisitar ou transferir um funcionário, bastava o próprio servidor e seu chefe fazerem um simples memorando e obter o “de acordo” da outra parte. Outra coisa que o fez cair sentado foi quando disseram a ele que a orientação era para que nenhum órgão do Ministério deixasse de gastar a totalidade da verba prevista no orçamento do ano. Todo mundo tinha que gastar tudo, até o último tostão, mesmo que em bugigangas, porque caso não o fizesse, sofreria redução proporcional no orçamento do ano seguinte.
Depois de recuperar-se do assombro, o Pe. Cherubin fez um levantamento do que sua área precisava em equipamentos e suprimentos e saiu peregrinando pelos gabinetes do ministério. Apresentava-se e perguntava se havia verba sobrando. Habilidoso, explicava sua missão, mostrava sua lista de necessidades e pedia que comprassem algo do que precisava com sua gordura de verbas. Então, assim que os equipamentos ou suprimentos chegavam, ele ia pessoalmente agradecer e fazer um memorando solicitando que as mercadorias ou os equipamentos recebidos fossem cedidos para a sua coordenadoria. Acabou fazendo amigos e equipando sua área com tudo do bom e do melhor.
No Ministério da Saúde inteiro a tolerância em relação à frequência dos funcionários era total. O secretário da saúde do Ministério apresentou a ele uma senhora informando ser sua secretária e dizendo que qualquer assunto da coordenadoria poderia ser encaminhado diretamente para ela. A secretária, muito solícita e sorridente, se colocou à disposição, mas foi logo informando que não vinha trabalhar às quartas-feiras porque precisava fazer a feira…
Os médicos, então, esses eram de uma pontualidade nunca vista. No sentido de que nunca ninguém jamais a tinha visto. Pontualidade? Não sabiam o que era e nem queriam saber. Vinham trabalhar se, quando e como queriam. Para tentar por ordem no barraco o Pe.Cherubin determinou que, daí em diante, os médicos assinassem o ponto na frente de sua secretária. Seria da responsabilidade dela colocar o horário de entrada e de saída e, em caso de não comparecimento, fazer o traço em vermelho para cortar o ponto e descontar do pagamento.
Foi uma conflagração. Um médico, proprietário de um hospital no interior do Rio de Janeiro e que era o presidente da associação médica do estado, figurão empoado que mais tarde seria eleito prefeito da cidade de Niterói, comparecia ao serviço apenas uma vez por semana e, mesmo assim, por poucas horas. O Pe. Cherubin solicitou a ele que pedisse demissão para colocar em seu lugar alguém disposto a trabalhar todos os dias.
O médico fez cara feia, mas temendo que sua “desídia” se tornasse pública, redigiu o pedido. Todavia, conhecedor dos meandros e maroteiras que regem as sinecuras do serviço público, ato contínuo, fez a notícia de sua demissão espalhar-se pelo Ministério como rastilho de pólvora. O telefone do Pe. Cherubin não deu mais sossego: todos os diretores e vice-diretores, todos os chefes e subchefes do Ministério ligaram pedindo para que ele voltasse atrás. Argumentavam que ter aquele médico na folha de pagamento, por si só, já engrandecia o Ministério da Saúde, mesmo que ele não aparecesse para trabalhar.
Apesar do alarido, o Pe. Cherubin, educado na linha de que quem não trabalha não come, foi ao ministro da saúde com o pedido de demissão do médico. O ministro o recebeu sabendo do assunto. Mostrou-se muito educado e compreensivo, mas fez o Pe. Cherubin se sentir o próprio Dom Quixote investindo contra os moinhos de vento. Demitir aquele médico era comprar problemas e ele não tinha virado ministro fazendo inimigos.  
O Pe. Cherubin, porém, nunca esmoreceu ante as dificuldades. O que ele tinha dito no discurso de posse era no que acreditava: os hospitais brasileiros careciam de normas técnicas e administrativas para a sua construção, operação e administração.
Administrador proficente que era, o Pe. Cherubin conhecia a máxima de Edward Deming, “Você não pode administrar aquilo que não pode medir”. O Pe. Cerubin, assim como Deming, acreditava que, para tomar decisões corretas você precisa saber onde está pisando. E ninguém, no Ministério da Saúde, tinha a menor ideia do tamanho e da localização dos hospitais brasileiros. Mais grave, o governo brasileiro não tinha conhecimento de quais eram, como eram e onde estavam os seus hospitais públicos.
Tentando encontrar essa informação o Pe. Cherubin descobriu, com surpresa, que o Ministério da Saúde, sim, até tinha uma Seção de Estatística. Estava enfiada no fim de um corredor. Ele foi lá e soube que a seção tinha alguns milhares de fichas de hospitais cadastrados, colocadas em gavetas de fichários. Também descobriu que, todos os anos, o departamento enviava aos hospitais cadastrados um formulário solicitando informações para atualizar o censo hospitalar. Salvo exceções, os hospitais dedicavam uma dezena de horas para responder as questões constantes do formulário. Depois, postavam no correio, escrupulosamente, para cumprir o prazo estipulado. E o Ministério recebia os formulários e os empilhava, formando uma montanha de papel que ficava tomando pó em um canto da repartição. E nada mais fazia com eles. Não tabulava as informações. Não produzia relatórios. Não analisava. E, como os formulários não produziam dados úteis, deles não vinham informações para a tomada de decisões e, é óbvio, nem para definir políticas. Era tudo de mentirinha. Para um incrédulo Pe. Cherubin, que falava francês com fluência porque, durante as férias do seminário, tinha ido trabalhar na França para ganhar algum dinheiro, aquela encenação de censo hospitalar soava como coisa feia só para “épater les Bourgeois”, ou seja, para embasbacar a “burguesia”.
O Pe. Cherubin ficou uns dias dando tratos à bola sobre o que fazer com os formulários relativos a 1971 que aguardavam empoeirados. Tentar fazer a tabulação com aquele pessoal que o olhava com hostilidade brilhando nos olhos era pura perda de tempo.
Então, deu-se a “Eureka”. Pegou os formulários e os levou para São Paulo, onde encarregou seus alunos, os estudantes de Administração Hospitalar do INPDH, para fazerem, em mutirão, a tabulação e a transcrição dos dados.
Finda a tabulação as planilhas mostravam que o Brasil dispunha, em 1971, de 4.067 hospitais, sendo 3.407 particulares e 660 oficiais. Tinha 367.522 leitos, sendo 242.921 em hospitais particulares e 124.601 em hospitais públicos.
Os dados compilados pelos seus estudantes foram reunidos em uma publicação sofisticada, feita com papel couchê e capa dura, no chamado “tamanho de mesa”. O miolo tinha 300 páginas e era ilustrado com abundantes imagens e gráficos. A publicação foi denominada “Cadastro Hospitalar Brasileiro” e teve uma tiragem de 1.000 exemplares que se esgotaram em dias porque era a primeira vez que o setor tinha acesso a um panorama tão completo sobre a situação hospitalar Brasileira.
Quando o Pe. Cherubin levou um exemplar encadernado ao Ministro da Saúde ele o folhou maravilhado. Mandou chamar todos os coordenadores do Ministério para mostrar a obra. Em seguida pediu mais um exemplar para entregar ao presidente da República.
O segundo trabalho que o Pe. Cherubin se propôs a fazer era mais complicado. Tratava-se de elaborar as normas técnicas para a construção de hospitais no Brasil. Essa era uma tarefa urgente porque, na falta de normas, cada dono de hospital, cada arquiteto e cada construtor hospitalar tentava reinventar a roda. Algumas das rodas eram até redondas, mas as havia de todas as formas. Até as quadradas, que, como na antiga piada, eram substituídas por outras quadradas quando gastavam-se os cantos…
A equipe encarregada de produzir aquele trabalho histórico foi formada por 4 engenheiros, 4 arquitetos hospitalares, 20 consultores técnicos e 4 desenhistas. Após mais de um ano de trabalho exaustivo foi publicado o Manual de Normas de Construção e Instalação do Hospital Geral. Como exemplo do nível do detalhamento, o capítulo dedicado aos componentes das instalações elétricas, hidráulicas, mecânicas e especiais, que incluíam as instalações de oxigênio e gases hospitalares, traziam um memorial descritivo e os parâmetros a serem minimamente observados para o funcionamento do Hospital. Era o primeiro Manual de Normas hospitalares do Brasil e foi copiado em toda a América Latina. Sua consistência técnica, adotada como padrão no país, ajudou a projetar a arquitetura hospitalar brasileira. O arquiteto e engenheiro Jarbas Karmann e o arquiteto e médico Domingos Fiorentini, colegas do Pe. Cherubin na Faculdade de Administração Hospitalar, atuaram como consultores para a definição das normas. Como resultado, tornaram-se referências internacionais em arquitetura hospitalar e projetaram, em conjunto ou separadamente, mais de 1.000 obras hospitalares no Brasil e em várias partes do mundo. Graças ao prestígio internacional, em 2008 o arquiteto e engenheiro Jarbas Karman trouxe para o Brasil o IX Congresso Internacional de Engenharia e Arquitetura Hospitalar.
Tive oportunidade de presenciar pessoalmente a abertura do Congresso, realizado no auditório do Hospital Albert Einstein. Na oportunidade o Pe. Cherubin foi convidado para a mesa e foi reconhecido pela publicação do Manual de Normas, sendo aplaudido de pé pela plateia formada por centenas de arquitetos e engenheiros hospitalares vindos dos quatro cantos do globo.
Durante a permanência no Ministério da Saúde o Pe. Cherubin querubim foi também nomeado diretor do Instituto de Previdência do Clero, que tinha sede no Rio de Janeiro. Nessa função, o Pe. Cherubin foi esmiuçar as finanças da entidade. Ficou horrorizado. Ele mesmo contribuía para o instituto e viu que, a depender do que tinha verificado, nunca conseguiria se aposentar. Na primeira reunião da diretoria, sob a liderança de Dom Aloísio Lorscheider, foi incisivo: “senhores, com todo o respeito, eu posso afirmar que o balanço que acaba de ser lido não é verdadeiro e contém informações inverídicas”. Todos ficaram atônitos e o monsenhor Tapajós, que cuidava das finanças, reconheceu que, de fato, a instituição não tinha como se sustentar com as próprias pernas. Diante da dura realidade mostrada pelo Pe. Cnerubin o instituto recorreu ao governo federal e o Ministério da Previdência e Assistência social baixou o ato criando legislação específica para a aposentadoria dos religiosos e religiosas.
Em junho de 1974, enquanto ainda no governo, recebeu convite do Ministério da Saúde britânico para conhecer os serviços de saúde da Inglaterra. Lá permaneceu 15 dias e voltou bem impressionado com o padrão de assistência médica dispensado gratuitamente a toda a população do país. Especialmente a forma como atuam os médicos de família. Encaminhou relatório recomendando medidas para fortalecer esta forma de atenção à saúde.
No dia 26 de junho de 1975 o Pe. Cherubin recebeu um ofício do Pe. Calisto Vendrame, o Provincial dos camilianos, solicitando que ele pedisse demissão do Ministério da Saúde e voltasse com urgência para administrar o hospital São Camilo de São Paulo, que estava enfrentando sérios problemas de gestão. Sendo religioso, devia atender ao chamado. O Ministro da Saúde lamentou a decisão, agradeceu pela obra realizada pelo Pe. Cherubin e nomeou seu assistente, Dr. Augusto de Abreu Amorim, para o substituir.
 

PARTE 1 – DE BALISA PARA O MUNDO – A SAGA DO PADRE NIVERSINDO CHERUBIN (CRIADOR DAS FACULDADES DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL)

De Balisa para o Mundo – Primeira Parte

Resumo biográfico de Niversindo Antonio Cherubin, padre camiliano nascido na Vila de Balisa em 30 de setembro de 1931 e que morreu aos 92 anos, em 15 de setembro de 2023, em São Paulo. Esta é a fascinante história de uma vida dedicada ao aprimoramento do setor de saúde ao redor do mundo por meio da melhoria das boas práticas em administração e finanças. É a história do legado de um filho de Erechim que viajou pelos quatro cantos do mundo para divulgar conhecimentos, realizar missões junto a hospitais e entidades camilianas nas américas, na Europa, e no Oriente e como enviado dos Papas Paulo VI e João Paulo II.

Existem homens cuja visão, talento e capacidade realizadora lhes dão fama e fortuna. Muitos deles apreciam o proscênio e buscam brilhar nas altas esferas midiáticas e sociais. Existem outros, contudo, dotados de igual visão, talento e capacidade realizadora, que preferem a consciência do dever cumprido.

Niversindo Antônio Cherubin figura neste segundo grupo. Homem de visão e de ação, era dono de cultura excepcional e focado em resultados. Trabalhador incansável, realizador, mas disciplinado, não descuidou de sua formação pessoal. Além de teólogo de formação fez pós-graduação em Administração Hospitalar na Faculdade de Saúde Pública, em São Paulo e, no afã de seguir a regra de ouro da administração, “aprendas a fazer para poderes mandar”, fez contabilidade e todos os cursos ligados à operação hospitalar que encontrou, desde lavanderia hospitalar a técnicas de esterilização e logística. Graças a esta diversidade de interesses e conhecimentos nas áreas de gestão e finanças, somadas à seu talento como poliglota, músico, editor de livros e revistas, autor de mais de 12 livros e centenas de artigos, especialmente em administração hospitalar, tornou-se um autêntico “polímata”, o termo que define o chamado “Homem da Renascença”, ou “homem universal”, aquele dotado de múltiplas habilidades e vasto conhecimento em múltiplas áreas.

Niversindo Antonio Cherubin tinha 12 anos quando embarcou na estação da Vila de Balisa no trem que o levaria para para o seminário Camiliano em Iomerê, Santa Catarina. Nunca, nem por um minuto, arrependeu-se de seguir sua vocação religiosa. Começou estudando no seminário em Santa Catarina, depois em São Paulo e, por fim, foi cursar teologia na Itália, onde, aos 24 anos, tornou-se sacerdote católico. A cerimônia de ordenação foi realizada na diocese de Pádua, no dia 17 de junho de 1956, dia de Corpus Christi. Alguns dias depois, já padre recém ordenado, começou os preparativos para voltar ao Brasil. Foram dias de regozijo pelo objetivo alcançado, mas, como revela em sua autobiografia, entremeados pela tristeza de imaginar que estava deixando para trás a terra de seus ancestrais. A bela e luminosa Itália que cativara sua alma sensível e que aprendera a amar profundamente. Temia que, talvez, para lá só pudesse retornar em seus sonhos e memórias, como aconteceu a tantos dos emigrantes vindos para o Basil.

Em seu caso, por felicidade, esse foi um temor totalmente infundado. Ao longo de seus profícuos 68 anos de atividades, como camiliano e arauto da administração, tantos foram os encargos e missões recebidas ao redor do mundo que viajou pelos quatro cantos do planeta e, na azáfama de suas incumbências, raros foram os anos em que não precisou voltar uma ou mais vezes à Itália de seus ancestrais.

O que aconteceu foi que, tão logo retornou ao Basil, foi chamado a colocar seu imenso talento e notável capacidade realizadora a serviço do carisma religioso da Ordem Camiliana, a organização religiosa a que pertencia e que é conhecida como a “Ordem dos Ministros dos Enfermos”.

PRIMEIRAS INCUMBÊNCIAS.

Para surpresa do recém ordenado Pe. Cherubin, ao invés de ser enviado para o interior acabou designado para atuar na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, na Vila Pompéia, na cidade de São Paulo. A Paróquia ficava, e ainda fica, ao lado do Hospital São Camilo. Na época esse era tão somente um acanhado hospital de bairro e não o portentoso nosocômio que a competência como administrador e o toque de midas do Padre Cherubin deu origem a um dos maiores e mais bem avaliados hospitais paulistanos. A instituição líder da rede camiliana brasileira, que, atualmente, possui quatro hospitais na capital paulista, somando mais de 750 leitos de alto padrão, além de dezenas de hospitais espalhados por todo o país, inclusive com unidades próximas a Erechim, nas cidades de Concórdia e Seara, em Santa Catarina.

Inicialmente, entre suas funções na paróquia estava a de celebrar as missas diárias, sendo duas aos domingos e, aos sábados, tocar órgão nos numerosos casamentos festivos realizados na paróquia. O órgão era um Hammond elétrico, igual ao da antiga Matriz S. José, de Erechim. No instrumento de sonoridade equivalente ao dos órgãos de tubos, equipado com dois teclados e pedaleira, o Pe. Cherubin tocava a Marcha Nupcial, durante a entrada da noiva, e a Ave Maria, de Gounod ou Schubert, segundo a preferência dos noivos, durante a bênção das alianças. Essas eram as músicas tradicionais. A Ave Maria, inclusive, usualmente era cantada pelo Pe. Contardi, um tenor lírico de bela voz, que invariavelmente era aplaudido pelos presentes. Outras músicas do repertório religioso ou clássico e, mesmo, popular, que combinassem com a cerimônia, podiam ser solicitadas. O fato dos casamentos da paróquia serem musicados pelos padres passou a atrair muitos casais interessados naquele diferencial e era preciso agendar a data com meses de antecedência. Os noivos também costumavam ser generosos na gratificação aos músicos. Para a igreja da Pompéia, que vinha lutando por recursos, aquela era uma ajuda muito bem-vinda.

Outra incumbência que Pe. Cherubin recebeu, tão logo chegou, foi a de dirigir a revista “A Cruz Misteriosa”. O título era uma alusão a enorme e chamativa cruz vermelha que os camilianos ostentam no peito de suas batinas. Eu me lembro da primeira vez que a vi. Eu deveria teria uns dez, onze anos. Um padre vestindo batina com a grande cruz vermelha bordada na altura do peito entrou na loja de meus pais. Soube, tempos depois, por minha mãe, que aquele padre que vestia a batina com a cruz tinha ido lá para apanhar a chave do órgão da Matriz S. José. A chave ficava com minha mãe por ela ser a organista oficial da igreja e tocava nas missas e cerimonias solenes e nos casamentos. Ligando os pontos, imagino que esse padre tenha sido o Padre Cherubin. Pena que nunca tenha lembrado de confirmar com ele.

O fato é que, quando recebeu missão de cuidar da publicação oficial dos camilianos no Brasil a revista era de tamanho pequeno e tinha 24 páginas. Sua impressão era feita em uma pequena gráfica instalada no porão da igreja. Apesar do nome pomposo de “Artes Gráficas S. Camilo”, só imprimia a revista e alguns impressos usados pela comunidade. O Pe. Cherubin achava que a publicação não estava à altura da imagem que os camilianos precisavam projetar no Brasil para crescerem no país. Por isso iniciou um grande esforço para angariar assinaturas e melhorar o conteúdo editorial. Um ano depois, graças a seu empenho, a revista passou a ter o tamanho de 20 x 30cm, padrão da época, e 64 páginas. O número dos assinantes subiu para mais de 30 mil. As assinaturas eram vendidas por estudantes católicos em campanhas pelos bairros e pelo interior do estado. Nestas campanhas, organizadas pelo Pe. Cherubin, ele ia junto com os jovens para vender assinaturas. Excelente vendedor, ele se encarregava de vender de 30 a 40 assinaturas por dia. Nessas ocasiões ele aproveitava para conversar com o público leitor para saber a opinião que tinham sobre a revista e sobre suas pautas.

Vendo o progresso notável da revista, o Provincial dos Camilianos entregou a direção de toda a gráfica para o Pe. Cherubin. A partir daí o progresso foi vertiginoso. Usando sua proverbial criatividade, a primeira providência foi aproveitar os numerosos noivos que vinham marcar casamento na igreja, a mesma que estava na moda graças aos seus padres músicos. Como era sabido que as reservas de data tinham que ser feitas com muita antecedência, raros eram os noivos que já tinham mandado fazer os convites. Então o Pe. Cherubin montou um amplo mostruário dos elegantes convites de casamento que a gráfica camiliana oferecia e o colocou estrategicamente na sala da secretaria onde eram marcados os casamentos. O resultado foi que a venda de convites deu um salto, exigindo mais máquinas e mais pessoal.

Logo, por um golpe de sorte, o Pe. Cherubin soube de uma impressora automática que tinha dado defeito e estava encalhada no porto do Rio de Janeiro. Foi ao Rio e conseguiu arrematá-la por bom preço. Um mecânico, em São Paulo, rapidamente, consertou o defeito. Com a nova impressora a gráfica passou a imprimir livros, tanto de autores da comunidade camiliana, como para terceiros. Aproveitando esta disponibilidade o Pe. Cherubin abriu, ao lado da Igreja, a “Livraria e Papelaria São Camilo”. Por ser a primeira e única do bairro, foi um sucesso total. Ele sabia, que, em princípio, nenhum comércio era permitido no bairro. Arranjou um pretexto e convidou o Prefeito Adhemar de Barros para um almoço, e, na hora da sobremesa, pediu para o prefeito interceder pela livraria. Adhemar de Barros achou graça no pedido do jovem padre e respondeu: “Você sabe que na Avenida Pompéia é proibido qualquer tipo de comércio. Em todo caso, vou autorizar. Se aparecer algum fiscal demorará anos para conseguir decifrar a minha letra”. E a livraria e papelaria continuou funcionando por muitos anos, sem nunca aparecer fiscal nenhum.

Quanto à gráfica, agora muito mais bem equipada, também começou a atender grandes clientes externos. Um destes clientes que o padre arranjou era a revista “Sete Dias na TV”. A publicação era semanal e tinha uma tiragem de 350 mil exemplares. Pelo contrato, o conteúdo precisava ser entregue na quarta feira e a revista precisava estar pronta na sexta-feira de madrugada. Com esse e outros bons contratos os lucros cresceram. Então, com os recursos obtidos na gráfica, o Pe. Cherubin pagou a conclusão do Seminário que a ordem mantinha em São Paulo e ainda fez uma grande reforma no seminário de Iomerê, aquele onde ele havia iniciado seus estudos, em Santa Catarina.

O ECÔNOMO DA PROVÍNCIA

Em outubro de 1957, apesar de ter apenas 25 anos e pouco mais de um ano como padre, a excepcional habilidade demonstrada pelo Pe. Cherubin em lidar com os negócios e as finanças da gráfica levou o Provincial da Ordem a nomeá-lo como Ecônomo Provincial. Na terminologia eclesiástica, o Ecônomo equivale ao diretor administrativo-financeiro da instituição. A ele cabe coordenar toda a movimentação financeira da Província e das casas religiosas.

É verdade que a Província Camiliana da época era diminuta e não tinha muitos quadros, ainda assim, era uma enorme responsabilidade para o jovem padre.

Segundo Sêneca, “sorte é estar preparado para quando surge a oportunidade”. O Pe. Cherubin, dotado do senso prático adquirido no seio da família de colonos e com a maturidade de ser órfão de pai desde os dois anos de idade, aceitou a incumbência com o entusiasmo com que já vinha cuidando de suas outras responsabilidades. Logo que assumiu viu que o dinheiro era curto para atender todas as necessidades. Tratou, assim, de reduzir custos e obter mais receitas. Para otimizar os recursos disponíveis comprou um caminhão Chevrolet usado. Foi uma decisão abençoada. O motor de seis cilindros bebia gasolina como camelo bebe água, mas, naquele tempo, o preço da gasolina era mais barato que água engarrafada. O Caminhão, desde o primeiro dia, começou a ser usado para ir buscar alimentos e produtos agrícolas mais baratos no sul do país. Abastecer as despensas das casas religiosas paulistas custava um bom dinheiro. Indo buscar no Sul, a economia era substancial. Além disso, aproveitando o caminhão, o Pe. Cherubin passou também a trazer vinho do Sul para São Paulo. Vinha vinho de missa, claro, mas também chegavam garrafões e mais garrafões do excelente vinho colonial produzido na terra dos vinhedos. Vinho esse que era vendido ao público pela cantina da paróquia da Vila Pompéia. O povo até brincava dizendo que o vinho tinha que ser bom porque, afinal, os padres garantiam que não era batizado!

Usando criatividade, espírito de iniciativa e bom senso, o Pe. Cerubin conseguia atender todas as necessidades da província e ainda fazia sobrar dinheiro para enviar para a casa central, em Roma. Era dessas remessas que saía o custeio da Congregação, a manutenção dos seminários, as passagens para as viagens dos padres. O desempenho do Pe. Cherubin foi de tal ordem que acabou ficando na função de ecônomo da Província Camiliana por 45 anos, de 1957 até 2002.

O RESGATE DO HOSPITAL SÃO CAMILO

Segundo relata em suas memórias, foi num fim de semana em 1961 que o Provincial Camiliano, Pe. Calisto Vendrame, seu superior, o chamou para informá-lo que o Conselho Provincial da Ordem havia decidido nomeá-lo Diretor Administrativo do Hospital São Camillo.

O Pe. Cherubin foi tomado de surpresa e argumentou que não tinha preparação específica para a função. Acrescentou que, até aquele dia, só tinha entrado em um hospital para ser submetido a uma cirurgia de extração das amidalas. O Provincial retrucou: “quando você assumiu a administração das Artes Gráficas São Camilo também não tinha preparação específica e deu certo”.

O Hospital São Camilo, com 70 leitos, era a instituição mais importante que a Congregação tinha no Brasil. Afinal, os camilianos existiam exatamente para cuidar dos enfermos. Sua inauguração havia se dado apenas um ano antes, em 1960, e coroava os esforços de 37 anos da instituição no país. Esforços que iniciaram em 1923 quando o Pe. Inocente Radrizzani chegou ao Brasil, assumiu a Paróquia da Pompéia e criou a Policlínica São Camilo. Conquanto só oferecesse atendimento ambulatorial, consultas e pequenos procedimentos sem internação, a policlínica foi, por muitos anos, o único estabelecimento de saúde do bairro.

A construção do hospital, propriamente dito, começou em 1946, quando o Pe. Radrizzani criou uma comissão para esse fim. A campanha de arrecadação recebeu o nome de “SOS” (Socorro às Obras Sociais) e foi presidida, desde o início, por Laudo Natel, o banqueiro diretor do Bradesco que veio a ser governador do Estado de São Paulo por duas vezes. Laudo Natel também foi presidente do São Paulo Futebol Clube e foi quem construiu o Estádio do Morumbi. O interessante é que ele terá feito seu bem-sucedido aprendizado em arrecadação de fundos quando presidiu a comissão de construção do Hospital São Camilo. Diferentemente do Ypiranga, de Erechim, que construiu seu estádio com sorteios e uma abordagem que empolgou a cidade e a região, o Hospital São Camilo foi construído penosamente, tijolo a tijolo, com doações, bingos e quermesses. Mas, de uma forma ou de outra, estava de pé e pronto para funcionar.

Só que uma coisa é construir e outra é administrar.

No dia em que o Pe. Cherubin assumiu a direção do São Camilo tomou um susto. Descobriu que o hospital tinha tão somente três clientes internados. E o caixa estava perigosamente perto o zero. Disputas internas, conflitos de interesse, egos inflados e inabilidade do Diretor Clínico estavam afundando o hospital.

Por sugestão do Pe. Novarino Brusco, capelão camiliano do Hospital Matarazzo, na época um hospital com 500 leitos na região da Avenida Paulista e um dos maiores e mais prestigiados da cidade, foi convidado o Professor Dr. Mário Degni, que ali dirigia o Departamento Vascular, para assumir como Diretor Clínico. O médico e professor de renome internacional, com grande equipe e vasta clientela, após acertar os ponteiros com o Pe. Cherubin, assim como ele perfeccionista e obcecado por resultados, aceitou a função e mudou-se com armas e bagagens para o Hospital São Camilo. Trabalhando lado a lado, ele e o Pe. Cherubin, formaram uma parceria de esplendidos resultados por 30 anos, que só terminou quando, ambos no mesmo dia, deixaram em definitivo suas funções. Por esta época o São Camilo Pompéia já tinha sido ampliado para 311 leitos, apresentava excelente ocupação e pensava em novas expansões. O afastamento de ambos coincidiu no mesmo dia, mas por razões diferentes. O Dr. Mário Degni, que estava com oitenta anos, preferia aposentar-se. Era o que pensava fazer já há algum tempo e ia protelando porque amava a medicina, mas aproveitou a ocasião por desejar evitar o stress inescapável de um novo relacionamento com o futuro diretor. O Pe. Cherubin, por sua vez, havia sido chamado a assumir encargos incompatíveis com sua permanência na função.

CONTROLE DO CÂNCER

Em 1967 o Pe. Cherubin inaugurou no Hospital São Camilo da Pompéia o Instituto São Camilo de Prevenção e Tratamento do Câncer Ginecológico. Prestigiando a inauguração do novo serviço, em evento com banda de música, pompa e circunstância, estiveram o governador Laudo Natel, amigo do tempo da construção do Hospital, o prefeito, Brigadeiro Faria Lima, no auge de seu prestígio, além de vereadores, deputados e outras autoridades.

Em 1968 o Instituto realizou o 1º Simpósio de Prevenção e Tratamento de Câncer Ginecológico. O sucesso foi tal que o governo do Estado introduziu em todos os seus postos de saúde os exames de prevenção do Câncer ginecológico conhecidos como exames de Papanicolau. Ainda com apoio do Governo do Estado o Instituto montou o primeiro laboratório de Citologia e Anatomia Patológica do Estado.

O Instituto também foi pioneiro no combate ao câncer de mama e trouxe o primeiro mamógrafo para o Brasil em 1971.

Em 1973 o prof. João Sampaio Góes Jr, diretor do Instituto, assumiu o posto de diretor da Divisão Nacional de Câncer do Ministério da Saúde. Com base em sua formação médica e pela experiência no São Camilo, o Prof. Góes criou o Programa Nacional de Controle do Câncer. A iniciativa previa a importação de grande quantidade de equipamentos a serem distribuídos para todas as entidades de câncer no país, bom como a ampliação e abertura de novos hospitais especializados. Para conseguir a aprovação dos expressivos recursos para o programa, o Dr. Góes levou o Pe. Cherubin na audiência com o Ministro da Fazenda Delfin Netto. Ele achava que, embora fosse ele o Diretor da Divisão de Câncer do Ministério da Saúde, ele era o médico e ele conhecesse os detalhes do programa, era o Pe. Cherubin que sabia como obter dinheiro com o pessoal do governo. Na audiência o Pe. Cherubin começou por perguntar se o Ministro tinha na família, ou entre seus amigos, alguém com câncer. Não, o Ministro não tinha. Mas sabia quem tinha. Era o Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, que tinha uma irmã tratando a doença. Não deu outra. Os recursos foram liberados tão rápido que mal voltaram para São Paulo, alguns dias depois, e o dinheiro já estava disponível. Mas os efeitos da iniciativa não pararam por aí. Depois de conhecer os detalhes do projeto e saber mais sobre o Pe. Cherubin, que na época, no meio de uma dezena de outros cargos e funções, era também presidente da Associação dos Hospitais do Estado de São Paulo, o Presidente Médici decidiu que o melhor mesmo era colocar o Pe. Cherubin para fazer o projeto do câncer andar. E, pensando melhor, aliás, ele parecia ser o homem certo fazer toda a Assistência Médica e Hospitalar do País para andar. Então chamou o Pe. Cherubin e o nomeou como Coordenador da Assistência Médica e Hospitalar do Ministério da Saúde. (Mais adiante apresento um resumo da chacoalhada que o Pe. Cherubin deu no ministério…)

Em São Paulo o Instituto continuou a evoluir no atendimento ao público e, em 1977, o prof. João Sampaio Góes Jr., já de volta ao comando do Instituto, propôs mudar seu nome para IBCC – Instituto Brasileiro de Controle do Câncer. Ele achava que colocar no nome a ideia de controle representaria melhor o propósito do instituto, cuja ênfase deveria ser, cada vez mais, antecipar, prevenir e fazer diagnósticos precoces. Afinal, como entendia o Pe. Cherubin com sua visão prática: “dizem que saúde não tem preço, mas tem custo. Por isso é melhor fazer prevenção. Ela, além de salvar vidas, tem custo mais barato!”

Em 1979 a Prefeitura de São Paulo concedeu em comodato uma área de 18.500 m2 na Zona Leste da Capital e o IBCC transferiu-se para o novo endereço. Também houve uma mudança estatutária para facilitar a gestão e os investimentos. O Pe. Cherubin assumiu o cargo de presidente, cargo que manteve até meados da década de 2010.

Mais recentemente, para facilitar a fixação da marca, o Instituto passou a adotar o nome estendido de IBCC – Oncologia. Acontece que, mesmo sendo uma das mais conhecidas instituições dedicadas ao controle do câncer no país, sua campanha de conscientização sobre o câncer de mama é mais conhecido que ela. Todo ano são realizados campanhas e eventos que utilizam o símbolo do “Alvo Azul”, representado por três círculos azuis com o tema “O Câncer de Mama no Alvo da Moda”.

A campanha, que é realizada mundialmente, foi criada em 1994 pelo designer de moda Ralph Lauren, nos EUA, e trazida ao Brasil em 1995 pelo IBCC do Pe. Cherubin.

A Hering, de Santa Catarina, a empresa licenciada para produzir as conhecidas camisetas e abrigos com o Alvo Azul, fornece seus produtos para o mercado e realiza uma campanha no Dia das Mães. Em 30 anos de campanha a Hering já vendeu mais de 8 milhões de camisetas e contou com a participação de mais de 400 artistas e celebridades e mais de 100 empresas parceiras, tendo arrecadado mais de R$85 milhões.

Outro evento importante é a Corrida e a Caminhada da Campanha “O Câncer de Mama no Alvo da Moda”. Neste ano de 2025 será realizada a 62ª edição, estando marcada para ocorrer em São Paulo, no domingo, dia 12 de outubro, coincidindo com o feriado de N. Sra. Aparecida e com o dia da Criança.

(Continua na próxima edição)

No Umbral do Abismo

Artigo que o Jornal AVS, de Erechim (RS) publicou em 19 de agosto de 2025

No umbral do abismo
O abismo nos espreita. Estamos no seu umbral. Mas se engana quem acha que seremos empurrados para a escuridão. Já superamos desditas maiores. E nossa resiliência vai mostrar seu valor.
Estamos todos ansiosos por soluções. Sabemos, todavia, como escreveu o “Barão de Itararé”, o jornalista e humorista gaúcho cujo nome verdadeiro era Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, mas que se assinava “Apporelly” e que se adornara de nobreza por meio do título “fake” de “Barão de Itararé”: “de onde menos se espera, de lá é que não vem nada mesmo!”.
O fato é que, parafraseando o Apporelly, cuja pena cáustica dava pesadelos ao seu contemporâneo, o conterrâneo Getúlio Vargas: “o beco é sem saída porque só tem entrada”. Ou seja, não adianta enveredar pelo beco e seus labirintos tortuosos. Sem derrubar murros para abrir saídas vamos ficar encurralados no beco. Vamos ficar patinando, girando em falso e tão encalacrados como vaca atolada.
Então, caros e mui valerosos (se está assim no brasão de Porto Alegre pode estar assim no meu artigo) amigos, como sair desta?
Resposta: Precisamos resetar o Brasil. Fazer um “upgrade”. Não adianta mudar nomes. Precisamos sair do mundo medieval em que estamos enfiados e dar um salto para o mundo do futuro. Nosso sistema nacional é uma diligência. Carcomida. Velha. Obsoleta. Não adianta botar mais cavalos prá puxar. E trocar o cocheiro não resolve.
Pense um minuto: Por que nosso agro é o mais produtivo do mundo? Por que nossos bancos são os mais digitalizados do mundo? Por que o nosso PIX é o sistema de pagamentos mais avançado do mundo? A resposta é que nosso agro, nossos bancos e nosso PIX já estão formatados para o mundo digital 4.0. Agora falta formatar o resto.
Os exemplos citados mostram que dar um salto para o futuro não é difícil. Tanto que já estamos fazendo. E mostram que, para mudar tudo o mais a ser mudado, basta querer.
O problema é que, na linguagem do poeta, tem uma pedra no meio do caminho. Aliás, modéstia do poeta à parte, uma pedra é pouco. Tem é uma pedreira no meio do caminho. Existem privilégios demais, iniquidades demais, malvadezas demais. E tem egoísmo, pouco caso, indiferença. Daí a macambuzia constatação de que existe um sistema que não quer mudanças. Um sistema de índole perversa que, para salvar suas regalias, pouco se importaria em nos empurrar para o abismo.
Só que tem um porém: falta combinar com os russos. E a brava gente brasileira cansou. Está com pressa para ver a pátria livre. Por isso quer a mudança. Quer a metamorfose. Quer resetar o sistema caduco que está aí.
Penso que logo o Brasil vai poder trazer para o presente os versos imorredouros com que Camões saudou as descobertas lusitanas: “Cesse tudo o que a antiga musa canta que outro valor mais alto se alevanta”.
As evidências são claras. As soluções que todos ansiamos hão de vir no bojo de um novo projeto de futuro. Um projeto que as novas gerações estão idealizando e formatando pelos vastos rincões desta terra imensa e generosa. Um projeto que, vislumbro e acredito, vai resetar e fazer o “upgrade” desta nação.   
Portanto, tenham fé. Logo a mudança vai ser fogo morro acima e água morro abaixo…  

A dinâmica endógena da crise

Artigo publicado no Jornal AVS em 13 de agosto de 2025

A dinâmica endógena da crise

O Brasil está em meio a mais uma crise desnecessária. Certo, as crises fazem parte da vida, mas essa crise aí, feita de enfrentamento quixotesco aos Estados Unidos, é daquelas caras, tolas e estapafúrdias. Até parece masoquismo, mas o Brasil gosta tanto de uma crise que não perde oportunidade de conseguir uma depois da outra.

Na Grécia clássica os filósofos, sempre interessados em explicar os acontecimentos do mundo a partir da racionalidade, procuraram decifrar a natureza das crises. Dividiam, então, as crises em dois grupos: as crises benignas, que eles chamaram de “sinkrisis” e as malignas, que denominaram como “dekrisis”. As denominadas “síncrises” seriam aquelas que surgem esporadicamente e logo são administradas, tem suas causas são resolvidas e tendem a terminar bem. Já as “décrises”, as malignas, essa eram temidas porque podiam levar ao caos e ao rompimento da normalidade. Ao fugirem do controle podiam escalar e levar a consequências catastróficas.

Toda crise pressupõe um desarranjo funcional. Quando ocorre uma ruptura no equilíbrio das forças que atuam no interior de um organismo ou uma instituição e se rompe o equilíbrio de pesos e contrapesos que mantém o status quo, o resultado é uma “crise”. Quando os atores do organismo afetado querem evitar o caos, eventualidade que a todos prejudica, buscam entender-se e coordenar esforços para articular um rearranjo aceitável para todos. Quase sempre o resultado é que a crise venha a se dissipar e logo a normalidade recoloca a vida nos trilhos.

Entretanto, se a ruptura da normalidade se dá por provocação intencional e recíproca, a crise se complica. Quando as hostilidades são irreconciliáveis e os contendores apostam na escalada das desavenças, a crise tende a entrar numa perigosa espiral desagregadora.  Se atinge um ponto de não retorno a reconciliação se tona impossível e, não raro, descamba para a guerra aberta. E, como a corda sempre rebenta no lado mais fraco, dá para saber desde logo quem vai arcar com as consequências. Nesta crise do Brasil com os Estados Unidos, óbvio, será o povo brasileiro.  

Infelizmente não dá para esperar comedimento do presidente Lula. Esse morubixaba de plantão é criatura tosca, cujos parcos saberes não parecem incluir os filósofos clássicos. Daí se pode concluir que desconhece suas lições da história e, assim, não vê o ridículo da sua aposta no Brics e, ainda mais, na sua ilusão megalomaníaca de que vai espantar o Trump fazendo cara feia para o presidente americano.

Até a Janja há de saber que o Brics não tem “massa crítica” para enfrentar os Estados Unidos. Algo que a China e a Índia, por seu lado, sabem e muito bem, tanto que já trataram de buscar entendimentos com o presidente Trump. Enquanto isso, Lula, o ignaro, vai ficar sozinho pendurado no pincel. E nós? E o Brasil varonil? Ora, amigos, está mais que evidente que ao país vai caber pagar o pato.

Aliás, sob a ótica do Brasil, o Brics não é mais que uma fornalha incandescente jorrando crises quentes e prejuízos indecentes. Até acredito, cá entre nós, que os filósofos gregos nos olhariam comiserados. Como pode o Brasil, um país com tanto potencial e tanta gente boa, se meter numa crise tão sem pé nem cabeça?

Aos brasileiros resta esperar que Deus se lembre que também é brasileiro e ajude o país a se livrar de líderes tão medíocres e apalermados como esses que temos, chefiados por esse presidente espantalho que agora deu de usar chapéu de espantar passarinho.

O Espantalho sem cérebro

Postado no Facebook em julho de 2025 – Publicado pelo Jornal AVS – Erechim – RS em 01/08_2025

Ninguém merece ser governado por um espantalho sem cérebro. Na história de “O Mágico de Oz”, o espantalho é famoso por não ter cérebro. Ele, porém, sabe disso e sonha em um dia conseguir seu próprio cérebro para poder pensar e ter um mínimo de noção. Já o nosso espantalho não só carece de massa encefálica como não tá nem aí. Imaginem que ele, o morubixaba do Planalto, que faz e desfaz nestes trópicos cômicos, cismou que vai fazer cara feia para assustar o BIGTRUMP, o Mega Bruxo das Taxas e Tarifas que sapecou 50% de tarifa em nossas exportações. Enquanto o mundo todo pensou, repensou e resolveu que brigar com o tal Mega Bruxo cheio de Taxas e Tarifas era coisa de quem não tem cérebro nem juízo, o nosso resolveu peitar o BIGTRUMP. Botou o chapéu de assustar passarinho na cabeça e está fazendo caretas, xingando a mãe e dando bananas. É de escachar, mas das duas uma: ou falta mesmo tutano neste espantalho sem miolo, ou ele pirou e decidiu comer o milharal de que devia tomar conta!

A era do talento

Artigo publicado pelo Jornal AVS el 20 de junho de 2025

A era do talento para sobreviver

Vivemos em tempos tumultuosos e incertos. Mas tenho cá minhas dúvidas se já houve tempo em que a humanidade viveu em pacífico sossego. No Jardim do Eden, segundo conta a Bíblia, andava tudo sossegado até aparecer uma serpente malévola e botar o sossego a perder.

A história do “homo sapiens” é uma história de disputas e conflitos sem fim. Alguns tempos foram mais pacíficos que outros, concordo, mas, como diz, melancólico, o índio do poeta: “a vida é luta renhida e viver é lutar”.

Com a chegada da Inteligência Artificial muita gente pensou com seus botões (eventualmente, alguns pensariam com seus zípers) que a evolução da humanidade era uma conspiração em favor da indolência. Desde o advento das máquinas o trabalho físico repetitivo vem desaparecendo. Até na agricultura foi uma metamorfose. Hoje o trabalho de arar e plantar é feito com ajuda da IA, em máquinas parrudas, em cabines com ar-condicionado e ouvindo música ao gosto do freguês. Pode ser sertaneja, ou os Monarcas, ou, até, no caso de alguns raros refinados, madrigais renascentistas. De modo que agora, que inventaram a máquina de pensar, seria chegada a ora de dispensar o árduo trabalho de esquentar a cabeça. A Inteligência Artificial, os computadores e os robots se encarregariam de pensar e prover o cotidiano e aos humanos caberia viver o sonho dos gaudérios, um pessoal que não tem ocupação séria e vive à custa dos outros.

Aliás, a geração “nem-nem”, essa turma vagal que nem trabalha nem estuda (mas come, namora e dorme) tem como projeto de vida exatamente viver de bolsa família e à sombra desta nova era tecnológica, dedilhando o celular e recebendo dinheiro grátis dos governos perdulários. Tudo isso enquanto defendem o que poderíamos chamar de “democracia de direitos”. Uma democracia meio carnavalesca, que dá aos espertos todos os direitos, enquanto reserva para os tontos que trabalham, como você e eu, os deveres e obrigações, sob o ácido argumento de que afinal, ninguém está acima da lei. Uma “democracia”, caro amigo, em que eles fazem a lei que lhes convém, estipulam para eles e sua turma salários e penduricalhos escandalosos e estabelecem que você e eu, que somos de segunda classe, posto que nosso voto vale menos, estamos abaixo da lei deles.

O fato é que os entreveros mundo afora acontecem porque o mundo anda lotado de gente. Tem povo demais, para planeta de menos, e todo mundo quer garantir seu naco de privilégios. Nesta nossa sofrida terra de Santa Cruz, os políticos, notadamente aqueles que se elegem oferecendo picanha para todos, não dizem ao povo que cada boi só tem duas picanhas. Saborosas e tenras peças de carne, encapadas de gordura, que ficam localizados entre o lombo e a coxa traseira, onde o animal faz pouco esforço. E dado que o animal só tem duas coxas traseiras, então, cada animal vai produzir apenas duas picanhas de 1.250 gramas cada uma. No dia que todos os brasileiros forem comer a tal prometida picanha, ainda que modestos 250 gramas por pessoa, será preciso abater 20 milhões de bovinos só para abastecer os esfomeados por um dia. É só fazer a conta: em 10 dias acaba o rebanho nacional. Pode isso?

A conclusão é que, nesta quadra da vida do Brasil e, sem dúvida, do planeta que habitamos, a sobrevivência requer talento. E mais talento é preciso por quem deseja da vida algo mais. Por exemplo, encontrar um lugar ao sol, empreender, ascender socialmente, viver com qualidade de vida, essas coisas prosaicas que gente como a gente sonha alcançar.

Então, como saber se temos o talento de sobrevivência necessário para sobrevivermos? E, se já não o temos, como fazer para o conseguirmos na medida necessária?

Antes de atrever-me a dar algumas dicas de autoajuda vou começar dizendo que pode doer. Afinal, se fosse fácil todo mundo faria.

Autoajuda 1 – Faça uma lista das besteiras que você já fez. Se pergunte qual a causa. Veja que lições você pode tirar de cada uma delas. Prometa que você não vai fazer nenhuma delas de novo. Atenção: seja honesto com você mesmo, que ninguém vai ficar sabendo. E se tiver algum erro recorrente, que você descobre que repete sempre, prometa a você mesmo que vai tomar todas as cautelas para evita-lo e que vai jejuar um fim de semana inteiro se se flagrar que o está repetindo. E não esqueça de checar o tempo que você gasta no Instagram ou no Tik-Tok. O ideal é que não passe de 15 minutos por dia, em sessões de cinco minutos cada vez.

Atoajuda 2 – Faça uma lista de suas prioridades. Se tiver coisa boba, como ir a todos os shows de rock ou gastar um dia por semana polindo o carro, estabeleça um critério: um show por ano. Um polimento por trimestre. (Exceção, se você for sair com a namorada, vale dar uma polida no carro.). Reestude as prioridades e, se tiver coisa faltando, como ler um livro ou praticar um instrumento musical para treinar o cérebro, inclua.

Autoajuda 3 – Cuidado com as decisões intempestivas. O diabo está nos impulsos. Antes de comprar um elefante branco, pense duas vezes. Minhas besteiras mais memoráveis e meus arrependimentos mais sofridos resultaram de decisões impensadas. Recomendações de um errador contumaz: faça uma lista dos pontos positivos: o que você tem a ganhar e o que você espera de benefícios e, com sinceridade, liste os custos e considere o que você perde se der errado. Pense em alternativas. Você tem um plano “B”? Postergue o negócio. Olhe sua consciência. De repente é um bom negócio, mas pense sempre nas consequências e tome cautelas.

Se eu segui esses meus conselhos? Estás brincando? Nem sempre. Mas hoje sou gato escaldado! Consulto a Inteligência Artificial e bato três vezes na madeira. Talvez ainda não tenha o talento que preciso, mas se errar, vai ser com convicção. Boa sorte e sobrevivam!

Presidencialismo, a Pedra de Sísifo que nos desgraça

Ninguém aguenta mais
Ninguém aguenta mais este castigo.

Um mau sistema destrói uma boa pessoa todas as vezes. Todas as vezes.(Edwards Deming)

O que explica que o Brasil, um país de proporções continentais, dotado de imensas riquezas minerais, uma natureza exuberante e a maior área agricultável ainda não explorada do planeta viva imerso em crises intermináveis, corrupção endêmica e pobreza acachapante? A praga endêmica que desgraça o Brasil tem um nome: presidencialismo. 

O presidencialismo é a nossa condenação de Sísifo. Sísifo, como sabem, vem a ser aquele personagem da mitologia grega que foi amaldiçoado pela eternidade a repetir a penosa tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava prestes a alcançando o topo, os deuses a empurravam de volta, montanha abaixo. E Sísifo tinha que começar tudo de novo. Segundo a mitologia, este destino maldito o perseguiria pela eternidade.

Nosso presidencialismo, como a pedra na lenda de Sísifo, é o nosso castigo pelo desapreço que temos com a seriedade e nosso pendor pela demagogia. Nosso presidencialismo chinfrim nunca deu certo e nem vai dar. Trata-se de um sistema de governo que é defeituoso por concepção. É ruim por design. Foi adotado por pura imitação do sistema americano, que, como salta aos olhos, também lá não funciona direito. E, para piorar as coisas, o copiamos mal.

O teste da boa árvore.

De tantas causas possíveis, como saber que o nosso problema maior é, de fato, o presidencialismo? Não seria o excesso de partidos? Não seria o voto proporcional? Não seria nossa cultura? 

O presidencialismo é um arranjo de governo que concentra poder demais em uma só pessoa. O Presidente é, ao mesmo tempo, chefe de Estado e Chefe do Executivo, funções que o Parlamentarismo divide exatamente para evitar a tentação de arroubos do tipo “quem manda sou eu”. É frequente, no presidencialismo, a ascensão de políticos “personalistas” que tentam desmontar os arranjos democráticos de forma a acumular mais poderes e continuar no poder. A respeito deles advertia Lorde Acton: “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

A Bíblia, ainda que uns tantos questionem sua validade como livro religioso, é reconhecidamente um compêndio do conhecimento humano milenar. Em Mateus 12:33 se encontra uma destas pérolas do saber universal: pelo fruto se conhece a árvore. (Segundo o texto bíblico: “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto será bom; ou fazei a árvore má, e o seu fruto será mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.”) Ora, basta olharmos para a tristemente conturbada história do presidencialismo brasileiro para concluir que estamos diante do pior tipo de árvore existente no rol das democracias. 

A verdade é que o presidencialismo à brasileira é um queijo…Suíço!. Tem buracos e brechas de todos os tamanhos e tipos. O dito “presidencialismo de coalisão” outra coisa não é que um “presidencialismo de corrupção”, um “presidencialismo de rapina”. Um bando de bucaneiros da política que se mancomunam para negociar seu apoio e assumir cargos onde possam “meter a mão”. Nada explica melhor este propósito de fazer tudo como arremedo que a célebre afirmação do Delúbio Soares, o ex-presidiário que chefiou as finanças petistas de 2000 a 2005. O finório, respondendo aos que queriam que publicasse na internet a demonstração financeira do partido, disse: “transparência assim é burrice”. Pois é na mesma linha que os corruptos fogem de um sistema democrático transparente, imunizado contra a corrupção:  “DEMOCRACIA ASSIM É BURRICE”!

E, claro, um sistema tão vulnerável aos assaltos dos “pais da pátria” tende a viver em um clima de divisão de botim permanente. Tanto que, no Brasil do século passado, este rocambole institucional nos trouxe 22 grandes crises e rupturas, entre golpes, revoltas, revoluções, movimentos militares, impeachment e congêneres. E foram sete constituições diferentes. Neste século XXI, que até começou auspicioso, com o primeiro governo Lula seguindo as pegadas do governo de FHC, a obtusa ambição petista de perpetuar-se no poder logo descambou para a corrupção mais desenfreada. Produziu Dilma e seu impeachment, desencadeou a Lava Jato, levou a uma crise permanente durante o Governo de Michel Temer, promoveu a inédita “eleição por facada” de Bolsonaro e agora nos condena a viver uma cruel multipandemia que mistura coronoavirus, economia e segurança. Tudo em frangalhos. 

E como desgraça pouca é bobagem, o atual presidente Bolsonaro tem o perfil do tipo político mais nefasto para assumir a presidência no presidencialismo.

O General Douglas MacArthur, o comandante americano que venceu o Japão na II Grande Guerra  e depois supervisionou a ocupação do país de 1945 a 1951, promovendo sua reconstrução e o conduzindo para uma espetacular expansão econômica, política e social, revelou, de certa feita, que o segredo de seu sucesso é que adotava o método de Sun Tsu para avaliar seus oficiais.  Segundo explicou, cada novo oficial que vinha servir em suas tropas era pessoalmente entrevistado por ele. Na entrevista, ele classificava o oficial em uma de quatro categorias: Categoria 1 – Inteligente e ativo; Categoria 2 –  Inteligente e preguiçoso; Categoria 3 – Burro e preguiçoso; Categoria 4 – Burro e ativo.

Segundo MacArthur, a primeira categoria é a dos que ganham a guerra. Devem ser colocados nas posições chave e onde se dá a ação. Infelizmente, são poucos. A segunda categoria não serve para o front. São lentos e elucubrados demais para comandar tropas.  Mas podem ser utilizados na inteligência ou no estado maior. A terceira categoria, a dos burros preguiçosos, é a mais numerosa. Agem burocraticamente, evitam riscos e preferem o conforto à ação. O melhor é colocá-los em posições de retaguarda ou em posições de baixo risco. Vão criar problemas, mas, sendo preguiçosos, farão poucos estragos. Todavia, segundo MacArthur, o perigo está no quarto grupo, o dos burros ativos. Destes ele tratava de se livrar na primeira oportunidade. O grande general, como seu mestre Sun Tsu, tinha pavor dos burros ativos. Estes, além de néscios, são incontroláveis, atropelam tudo e todos, sempre se acham com razão e se acreditam mais espertos que os outros. E sendo descombulados e hiperativos, produzem burradas em série, espalham o caos e destroem, por dentro, qualquer exército.

Pois, pode haver melhor descrição de atual ocupante do Planalto?

Pode-se argumentar que a Lava-Jato mostrou que existem caminhos para o combate à corrupção no Presidencialismo. Mas os fatos mostram que episódios heróicos não sobrevivem por muito tempo. Deve ter sido por compreender que, sem transformar o combate à corrupção numa ação sistemática, os políticos corruptos logo encontrariam meios de o impedir, foi que o Juiz Sérgio Moro, patrioticamente, decidiu abrir mão de 22 anos de magistratura e aceitar o Ministério da Justiça. Ele sabia, melhor que ninguém, que o milagre da Lava-Jato só vingou pelo destemor dele e de uma plêiade de heróis, como o do Procurador da República, Deltan Dallagnol, e de um núcleo de outros heróis – quase todos de uma nova geração e sem compromissos com as oligarquias. Moro haverá de ter percebido que ele e a Lava-Jato foram favorecidos por atuaram em um ecossistema jurídico, social e político que corre por fora dos tradicionais centros da corrupção. O Sul teve suas instituições menos contaminadas pelo patrimonialismo e pela predação de Estado do que as do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e das capitais nordestinas, centros mais antigos e onde a corrupção é endêmica. Uma nova Lava Jato, contudo, dificilmente voltará a ser possível no atual presidencialismo. O pântano político e o “Centrão” já trataram de interpor os bloqueios e barreiras para impedir outra “ousadia” do tipo no futuro. A título de exemplo, pode-se suspeitar que o tal “juiz de garantia” foi criado precisamente para “garantir” que nunca mais apareça um Moro para atrapalhar os “negócios” dos vendilhões da pátria. 

. O Brasil tem solução?

Pode parecer um exercício de futilidades discutir se o Brasil quer, de fato, encontrar uma solução realista para seus problemas. Mas as mudanças virão, por bem ou por mal. A crise monumental que se avizinha, possivelmente a maior da história do país, vai produzir mudanças disruptivas. Vai ser um período conturbado, mas, no final, a saída será mais democracia. Os vetores que se observam na sociedade indicam que existe uma massa crítica da opinião pública que não vai aceitar retrocessos. Acredito, portanto, que a sociedade brasileira vai exigir um novo modelo de democracia e não este faz-de-conta meia-boca que está aí.

Acredito até que, depois de tanto sofrer, a nação irá se lembra de Rui Barbosa e decida emendar-se: 

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Ora, o chacoalhão que vamos enfrentar vai fazer todo mundo botar a mão na consciência. E, depois, nada levanta mais rápido um traseiro do que fogo embaixo do banquinho. 

Dado que a crise que estamos vivendo é uma “decrisis”, que é como os gregos definiam o tipo de crise que tende a ir piorando, com caos e desorganização crescente, até se dar o colapso do sistema, não vai demorar para o Brasil buscar em profundidade as causas que criam e alimentam a disfuncionalidade do governo da república e se decida a mudar. Tudo indica que o país está mais maduro e preparado para adotar um solução comprovada e baseada em evidências para consertar de uma vez por todas o sistema que o infelicita e empobrece. 

O presidencialismo à brasileira tem sido a casamata dos privilégios. O espaço do “me engana que eu gosto”. Demagogos e malandros se passam por democratas para tomarem o poder e se apoderarem do estado. O atual sistema presidencialista e o voto proporcional foram inventados pelo diabo para facilitar a tarefa de enganar eleitor tonto. Trata-se de uma combinação embusteira concebida para fraudar os objetivos da democracia.

Os velhacos da política aprendem logo a primeira lição da canalhice: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Com coronavirus, ou sem coronavirus, o negócio desta ralé moral é meter a mão. Se é dinheiro para comprar respiradores ou ajudar os pobres, não faz diferença. O que interessa é enricar. Desviar a grana. É a lei do pirão: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. Foi esta lei que inspirou os “direitos adquiridos” contra o povo! Os tais “imexíveis” “direitos adquiridos” são sempre contra o povo. Em sua maioria são, na verdade, “abusos adquiridos”. E, de tanto esfolar o povo, precisam acabar.

Agora, tirar os tais “direitos adquiridos” da privilegiatura não será um processo indolor. 

Fernão de Lara Mesquita escreve que “Não ha inocentes na tragédia brasileira. O Sistema não muda porque ninguém está pleiteando que mude. Ninguém admite perder nada. A divergência que essa polarização burra traduz circunscreve-se à disputa pelo comando da coisa. Não é o Brasil que está em discussão. O Brasil é só o prêmio dessa disputa.”

Em outro trecho Fernão de Lara Mesquita diz que “Não haverá arrumação fiscal sem o fim desse regime de escravização de 99,5% do país aos “direitos adquiridos” dos 0,5% da privilegiatura. (Aliás, em minha opinião, devíamos fazer uma emenda à Constituição que dissesse simplesmente: “Não existem direitos adquiridos contra o povo” e “Revogam-se as disposições em contrário”.)

. Democracia Baseada em Evidência – O método para buscar uma Democracia de Qualidade.

Segundo Einstein, “Insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.” Portanto, o primeiro pressuposto para obtermos melhores resultados é mudarmos nosso modo de fazer política e eleger nossos governantes.

Somos o país da jabuticaba, do besteirol, do carnaval e do presidencialismo de corrupção. Aos poucos o país vai entendo que Sérgio Porto tinha razão quando dizia: “Ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade”. E, como há de parecer óbvio até ao mais obtuso dos viventes, não dá para toda a nação se locupletar. Para implantar a moralidade, por outro lado, é preciso criar um sistema que mude a lógica do atual sistema e crie mecanismos que empoderem a sociedade. E é motivo de alento observar que nossa sociedade tem mostrado que quer acabar com a corrupção e quer mudanças. Mas para sair da retórica e ir para o fazejamento, a dificuldade está em definir quais mudanças devem ser feitas e como gerar um consenso sobre elas.

Infelizmente nossos políticos, salvo exceções, são carreiristas profissionais. Entram na política não para servir o país, mas para se servir dele. Destes não se pode esperar nada. Falam em “mudança”, mas são adeptos da filosofia de Alphonse Karr: “plus ça change plus c’est la même chose”. Quer dizer, “mais se muda, mais fica a mesma coisa”… 

Se, por um lado, é difícil obter um consenso sobre como formatar um novo modelo de governo, talvez seja menos difícil obter consenso sobre a metodologia para buscar este modelo ideal. E existe uma metodologia consagrada de fazer o certo do jeito certo e prevalente no meio médico: a Medicina Baseada em Evidência. A MBE reúne as melhores evidências científicas e indicadores de bons resultados para orientar o tratamento dos pacientes. A metodologia revolucionou a medicina, empoderou os protocolos e passou a fazer valer as melhores práticas. E esta técnica de reunir as melhores evidencias também pode ser aplicada na área política. Para começar, poderíamos abrir a discussão elencando o que não funciona a contento no Brasil e comparar com os métodos e resultados obtidos nos diferentes países e nos diversos sistemas de governo dos países avançados. O método permitiria considerar os prós e os contras de cada alternativa, o que melhor se ajusta à nossa cultura e aí definir a mudança e gerar um consenso. Obviamente, no final do processo, será preciso escrever uma nova Constituição. Chamar uma nova Constituinte capaz de usar os meios modernos de participação da sociedade para elaborar uma nova Carta Magna. Uma constituição pensada para o Brasil do Mundo 4.0 e que seja, de fato, debatida por toda a sociedade e não apenas por um grupo de políticos da velha política, interessados, sobretudo, em promover os interesses da privilegiatura e seus inconfessados interesses político-eleitorais.

Acredito que a maioria dos brasileiros está cansada de tanta bandalheira e tanto atraso. E, diante de um chamamento para repensar a desorganização crônica do país, concordaria em debater a mudanças de seu governo segundo as regras da Democracia Baseada em Evidência. E em desenvolver consensualmente um projeto para o país do século XXI.

De minha parte, tenho a opinião de que o debate nos iria encaminhar para um governo parlamentarista com voto distrital e não obrigatório.  

O sistema parlamentarista é o adotado por todos ao países desenvolvidos, com a notória exceção dos Estados Unidos, que compensa o poder do presidente com uma eleição indireta e com uma câmara de deputados eleita a cada dois anos por voto distrital. Vale ressaltar que, mesmo assim, o presidencialismo de lá é sempre fonte de problemas e questionamentos. Quanto ao presidencialismo, este é sistema majoritário no mundo do atraso. Prevalece na América Latina e tem forte presença na África, o que já deve levar à reflexão. 

O segredo do sucesso dos governos parlamentaristas está na virtude intrínseca do sistema que é equilibrado por um mecanismo de pesos e contrapesos bem mais sofisticado do que o nosso, que funciona sempre no limite, na base da confrontação permanente . Em um parlamentarismo bem ajustado, este mecanismo funciona promovendo a “síntesis”, ou a “crise boa” dos gregos, agindo preventivamente e acomodando situações antes que se tornem contenciosos. Por esta via de “parlamentarisar” as disputas, que são decididas no voto, o sistema de freios e contrapesos abrange todas as instâncias. A começar pelo centro de comando do país, que divide o poder em duas funções: a Chefia do Estado e a Chefia de Governo.

No parlamentarismo, o Chefe de Estado não se envolve diretamente no dia a dia da administração do país, tarefa que cabe ao Chefe de Governo, o Chanceler ou Primeiro Ministro. 

Um aspecto interessante é que, por ser um sistema versátil, os poderes do Chefe de Estado variam de país para país. Em monarquias, como nos países nórdicos, na Holanda, na Bélgica, no Reino Unido, ou no Japão, onde o monarca é Chefe de Estado, este tende a ter funções mais simbólicas, mas, na maioria dos regimes parlamentaristas, o Chefe de Estado concentra algumas funções legislativas, como assinar, ratificar e até vetar leis e projetos vindos do congresso, dissolver o legislativo e demitir Chefes de Governo. Além disso, ele é o comandante máximo das forças armadas, dispensando um Ministro da Defesa, como no Brasil. 

A administração do dia-a-dia do país, porém, é da alçada do Chefe de Governo, a quem cabe tomar as decisões e prestar contas aos representantes do povo, eleitos pelos distritos. 

Todavia, para o sistema parlamentarista funcionar à contento é preciso que os parlamentares tenham condições de contribuir para a administração do país e não apenas fazerem pronunciamentos perfunctórios e votarem iniciativas do executivo. Portanto, o parlamentarismo requer um perfil diferente de representantes do povo.  

O voto distrital cria um elo de confiança e um comprometimento claro entre cada representante e seus representados. Os candidatos disputam o voto majoritário em seu distrito. Cada distrito elege um só deputado. E os eleitores daquele distrito podem vigiar e cobrar o seu representante o tempo todo. Esta proximidade do eleitor com seu representante promove a depuração do parlamento. Maus deputados não são eleitos ou são afastados. Veja-se o exemplo do voto distrital nos Estados Unidos. Mesmo em um regime presidencialista, o voto distrital faz uma enorme diferença. Os eleitores de cada distrito tem encontros periódicos, com seus respectivos deputados. Nos encontros, realizados em espaços como prefeituras, salões ou escolas, os eleitores ouvem o que seu representante tem a dizer, discutem suas posições, suas posturas e votos no parlamento. Caso ele insista em se comportar de forma inadequada, os eleitores podem fazer o chamado “recall”. Por meio de um abaixo-assinado que atenda determinados requisitos, os eleitores do distrito podem convocar uma nova eleição distrital. A qualquer tempo. Os eleitores locais poderão, então, decidir por maioria, se mantem ou elegem um novo representante. 

Para assegurar que o voto de cada cidadão tenha igual peso eleitoral na formação do parlamento, os distritos eleitorais são divididos por áreas com um número semelhante de habitantes. Isto acaba com o arremedo de democracia que hoje faz um cidadão paulista valer apenas 1/11 avos de um eleitor de Rondônia. (Pelo atual arranjo eleitoral, um eleitor de Rondônia vale por 11,3 vezes mais do que um eleitor paulista, o que é um absurdo.)

Mas, enfim, a resposta é que sim, o Brasil tem solução. Contudo, resta saber quando o Brasil vai abandonar sua histórica mediocridade política e passar a se comportar como um país adulto e responsável.

O que é certo é que logo o Brasil vai ter que fazer mudanças em escala nunca vista. Querendo ou não. Com a monumental crise econômica que se avizinha e sob um presidente despreparado, destrambelhado e boquirroto, um autêntico “burro-ativo” na definição de MacArthur, as mudanças virão por bem ou por mal. O colapso das atividades econômicas, os 20 milhões de desempregados, a pior recessão dos últimos cem anos, são desafios que requerem uma nova postura diante da realidade. O Brasil sairá desta, mas em novas bases. O Brasil velho morreu. E o futuro do Brasil será decidido por uma nova geração, mais bem informada e preparada e pela atitude de seu povo frente aos desafios que logo engolfarão a nação.

A Democracia por Evidência para fazer um Brasil decente. 

Finalmente, para encerrar, penso que chegou o momento de o Brasil abandonar essa mania de querer reinventar a roda. O melhor que podemos fazer é adotarmos as melhores práticas políticas do mundo. Com critério e bom senso. Doa a quem doer. Reconstruirmos nossas instituições com equilíbrio e equidade. Criarmos anticorpos institucionais para acabar com a malandragem rampante que tira dos pobres para dar aos ricos. Um país que valorize a meritocracia, em que os méritos valham mais que o nepotismo e os compromissos partidários. E acreditar que vale a pena. Afinal, temos boas razões para fazermos do Brasil uma nação mais decente e melhor. Afinal, vivemos aqui.

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O Brasil sem susto

Um símbolo para o Alckmin inspirado no encanto da "pá e a rosa" do Brig. Faria Lima.
Um símbolo para o Alckmin, inspirado no encantamento da “pá e a rosa” do Brig. Faria Lima.

Para o bem ou para o mal, daqui a poucos meses vamos definir o Brasil que queremos. Aliás, o Brasil que teremos. E são duas as alternativas: um Brasil com juízo ou sem juízo. Um Brasil com sustos ou sem sustos.

De minha parte, depois de sofrer em meio ao maior festival de corrupção da história humana, depois do vendaval de aberrações reveladas pela  Lava-Jato, depois da escabrosa desfaçatez da JBS, da obscena transformação do BNDES no banco financiador da corrupção internacional e de outras tantas perversões, depravações e decepções, prefiro um Brasil sem aventuras. Um país com o juízo no lugar. Sem sustos. E isto significa escolher o mais sensato, provado e preparado entre os candidatos.

E, no meu entendimento, os nomes são os que estão na mesa. Dado que as regras impedem que surja um candidato vindo do nada, vamos ter mesmo que escolher entre os candidatos que estão postos. E entre eles, Alckmin pode não ser o mais celebrado ou o mais carismático, mas é a escolha do bom senso.

Agora, aqui entre nós, o eventual candidato Alckmin precisa fazer sua parte. Tenho acompanhado sua presença no Twitter. Eu e mais um escasso punhado de seguidores. O conteúdo é substancial. Alckmin é um realizador. Seu trabalho é, de longe, o mais produtivo e articulado entre os governadores. Mas a abordagem de sua mensagem é ineficaz e insossa. Seu mote “Preparado para o Brasil” é ruim de doer. Vindo de um paulista, soa arrogante e gera ressentimentos em muitos estados. Falo como profissional de marketing que conhece o assunto. Alguém precisa dizer ao governador que ele precisa inverter a polaridade de sua mensagem. Não adiante ele estar “preparado para o Brasil”. A questão é: o Brasil está preparado para ele?

E para não ficar na divagação estéril, acho que duas coisas precisam melhorar no atual posicionamento “utilitário” de sua mensagem: (1) faz falta em sua mensagem uma visão que encante – um “projeto” para o Brasil – que transcenda o valioso trabalho de “zeladoria”, que é de qualidade inquestionável, mas não empolga, e (2) falta em sua mensagem um toque humano. O governador Alckmin precisa de uma “marca” que gere empatia e simbolize seu lado humano, hoje muito apagado para ser notado. Afinal, não temos como fugir da semiótica: se não é “percebido”, não existe.

Neste sentido, lembro que o Brigadeiro Faria Lima, um realizador do calibre do governador Alckmin e, como ele, um “fazedor” que também precisava “humanizar” sua imagem pública, adotou como símbolos a “pá e a rosa” e fez com eles uma marca que o ajudou a se tornar imensamente popular e querido da população paulistana.

A  “pá de pedreiro” representava a obra de transformação urbana que o prefeito realizava na cidade; a “rosa” representava o eixo de humanidade que lhe servia como fonte de inspiração permanente, um “leitmotif” que marcava toda a sua obra.

Trazendo estes símbolos para a atualidade, sugiro uma marca que mostre o Brasil na tecnologia digital e resgate a rosa do brigadeiro Faria Lima como símbolo de humanidade. A obra que o Brasil precisa é sua modernização tecnológica. A inclusão do Brasil na era da Inteligência Artificial e a preparação dos brasileiros para a quarta revolução industrial. Todo brasileiro que tem um celular sabe que o futuro está na tecnologia. E sabe que precisa ganhar oportunidades de melhorar de vida no novo mundo da Inteligência Digital (ID) que vem aí. Então, a rosa seria o símbolo deste futuro que todos sonhariam juntos. Sonho de uma revolução tecnológica que mudaria o Brasil, liderada por um presidente competente, um médico com visão humana e preparado para melhorar a vida e o destino do Brasil e de sua gente.


Ceska – o digitaleiro

A Cabala para desvendar o Brasil

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Eureka! Eureka! O Brasil tem solução: é só implantar a moralidade. (Só que vai ter que ser na marra!)

Eureka!, Eureka!, gritava um desvairado Arquimedes correndo nu pelas ruas de Siracusa, na antiga Grécia. O grande matemático tinha acabado de descobrir porque os barcos flutuam sobre a água. E, ao se dar conta do fenômeno que depois se transformou no “Princípio de Arquimedes”, instantaneamente entendeu que aquela revelação transformaria o mundo. Por isto, tomado por uma alegria delirante, não se conteve: pulou da banheira e saiu proclamando a notícia do jeito que estava.

Três milênios depois, cá no Brasil, vemos nosso país navegando às tontas e correndo o risco de ir a pique. Este nosso país, tão lindo e cheio de potencialidades, infelizmente continua cheio de cretinices e boçalidades e se recusa à racionalidade com a teimosia de um jumento empacado.

A luta do país para sair do enrosco é a velha luta do bem contra o mal. Do Brasil velho e curvado de vícios, que ainda se comporta como colônia, contra o país vibrante e moderno da tecnologia e do agronegócio, o Brasil 4.0, que vem aflorando e vai acabar por se impor.

Por felicidade, em 2018 teremos eleições gerais. O país vai poder se repensar. E, quem sabe, reavaliar seus erros e acertos e adotar um novo modelo de política. Oxalá, por meio do voto, possamos nos valer de nosso momento de “Eureka”, um lampejo de clarividência que nos foi legado por Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta, quando formulou seu enunciado de como evitar que o Brasil afunde. Seu enunciado é tão óbvio que ulula: “ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade”. Traduzindo: ou afundamos no mar de lama ou adotamos regras de comportamento civilizado em nossa sociedade.

O que Sérgio Porto diz é que não dá para todos os milhões de brasileiros se locupletarem ao mesmo tempo. Simplesmente, não dá. É uma impossibilidade matemática. Então, o único jeito da manter o país flutuando é adotarmos a moralidade. Algo que só conseguiremos fazer se adotarmos uma nova política.

Em um primeiro momento parece difícil. Mas tudo é uma questão de timing. O muro de Berlim não foi “derrubado”. Caiu de maduro quando os alemães orientais decidiram, coletivamente, que não o aceitavam mais. E agora, parece que cansamos do muro de atraso que nos impede de avançar para a modernidade. Estamos fartos da roubalheira desenfreada; estamos fartos desta politica de compadrio, da mistura do público com o privado e da “economia da corrupção”. Cansamos de assistir o rodízio de ladrões que nos assaltam dia e noite. Então a alternativa é botarmos abaixo o anacronismo e adotarmos a civilização. Passarmos a crer na moralidade e abrirmos as portas para a decenciocracia. Para e equidade e para um sistema de pesos e contrapesos para controlar os políticos e o governo.

O sentimento de probidade e retidão deve passar a prevalecer. Não por virtude pela virtude, mas porque um país assentado na malandragem nunca será próspero, nem viável. A cada um segundo sua contribuição, a cada um segundo seu merecimento. A nova ordem dever ser: ninguém mais mete a mão. Ninguém mais fura a fila. É proibido roubar e deixar roubar. E, para cada político corrupto a eleição deve mostrar a porta de saída como serventia da casa, acompanhada da exortação: “Vai trabalhar, vagabundo”.

  • A democracia disruptiva

A democracia à brasileira tem sido a casamata dos privilégios. O espaço do “me engana que eu gosto”. Demagogos e malandros se passam por democratas para se apossarem do estado e tomarem o poder. O sistema presidencialista e o voto proporcional foi inventado pelo diabo para facilitar a tarefa de enganar eleitor tonto. Trata-se de uma combinação embusteira concebida para fraudar os objetivos da democracia.

E, obviamente, como diz a sabedoria popular, “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Os donos do poder fazem as leis para favorecerem a eles mesmos. É o caso da lei do pirão: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. Foi esta lei que inspirou os “direitos adquiridos” contra o povo! Os “Direitos adquiridos” são contra o povo. Em sua maioria são, na verdade, “abusos adquiridos”. E precisam que acabar.

E enquanto não se resolve a revogação destes famigerados “direitos adquiridos” em causa própria, e não se expurga a respectiva “cláusula pétrea” (a pedra?) do meio do caminho, que ao menos se decida que os privilégios devem ser pagos por último. O direito a hospitais, escolas e segurança, deve ter prioridade. O sibilino “direito” à privilégios e mordomias deve vir depois.

A esta altura seria bom perguntar: você quer mesmo sobreviver no Brasil? Sério? Então tá, e parabéns por sua coragem, mas saiba que o Brasil não é para amadores. E, para escapar incólume nesta aventura um tanto quanto insana, é bom ter em mente que o Brasil é desafiador e inóspito. Especialmente para os incautos e desavisados.

Ademais, sem subestimar o distinto público – e tirando uma suculenta nata de marajás e privilegiados que vivem as delícias das tetas do governo, – a verdade é que mesmo os iniciados se enroscam em grandes dificuldades para sobreviver no Brasil contemporâneo.

Contudo, os ventos estão mudando. E se você quer ampliar suas chances de dar a volta por cima aqui mesmo, vale a pena desvendar alguns segredos desta esfinge chamada Brasil. E, para este exercício, vamos visitar algumas práticas da Cabala.

A Cabala, vale esclarecer, não é panaceia. O uso de suas técnicas pode ajudar a entender o Brasil profundo e evitar muitas das ciladas que ficam à espreitam. A Cabala pode ajudar a navegar em meio as brumas e desafios do conturbado presente e incerto futuro. Mas o resultado vai depender da sua disposição para olhar os fatos com isenção, acuidade e equilíbrio.

As técnicas da Cabala que vamos utilizar se constituem em um filtro da realidade. O seu uso sistemático ajuda a entender a dinâmica das forças que se movem no ambiente de nosso entorno e a dar relevo aos vetores que se formam no seu interior. Forças que se entrechocam, se amplificam e se anulam em um embate permanente até se tornarem dominantes e aflorarem como tendências que influenciam ou até determinam o rumo dos acontecimentos. Identificando estas forças e monitorando sua evolução é possível identificar riscos e ameaças, assim como perceber oportunidades, no contexto social, político e econômico. Detectar oportunidades e ameaças precocemente pode contribuir para melhores decisões no presente e mais acerto na antecipação do futuro. Sempre ressalvando, porém, o que dizia Drucker, “Prever o futuro é impossível. Tudo o que podemos fazer é construí-lo”.

Antes de por a mão na massa, uma última admoestação, este agora de Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim.” Resulta então que, posto que nossa circunstância se realiza no Brasil, ou o salvamos ou afundamos todos juntos.

De maneira que é nesta tarefa de desvendar os enigmas do Brasil profundo e penetrar nas entrelinhas de nosso futuro que as técnicas da Cabala vem a calhar. Reitero que a Cabala não substitui uma bola de cristal, nem eu sou o Mago Merlin, mas não custa a gente tentar dar uma espiada nos desvãos do presente e nos pendores do futuro, não é mesmo?.

A cabala, o que é?

Para começar pelo início, a Cabala é uma escola de pensamento esotérico criada na idade média por judeus e formada a partir de uma raiz mística, de conotação religiosa, e que compreende um lado, digamos, telúrico, eminentemente prático e objetivo, com a missão de prestar atenção no entorno social, político e econômico visando a sobrevivência da comunidade. De fato, alguns estudiosos até sugerem que a Cabala religiosa teria sido concebida mais para servir de cobertura ao trabalho dos iniciados que se reuniam para investigar e discutir os riscos a que a comunidade judaica estava exposta naqueles tempos perigosos do que como uma escola de pensamento esotérico alternativo.

De toda forma, o que vamos aplicar em nosso exercício de análise da realidade brasileira é a metodologia que busca desvendar os segredos da realidade.

No processo para entender a realidade circundante a cabala se vale da análise da realidade em quatro diferentes dimensões. Em geral vemos a realidade como um todo, mas assim como um organismo parece único, mas é formado por camadas, órgãos internos e sistemas ocultos, o conjunto da realidade aparente reúne um infinidade de componentes que interagem entre si. Cada uma delas possui características próprias e cabe ao interessado focar cada uma das dimensões de maneira a captar aspectos, detalhes e nuances que irão se revelando ao olhar atento e acabarão por formar um mosaico revelador do conteúdo de cada uma delas. Será a combinação dos diversos quadros que abrirá frestas na realidade aparente, deixando entrever movimentos, sinais e alertas relevantes. A leitura do cenário que resultar desta análise é que irá permitir desvendar o contexto, ensejando compreender o que se torna aparente com suas causas e motores. Em certo sentido, estas técnicas da Cabala permitem examinar a realidade com lentes de aumento.

As quatro dimensões

As quatro dimensões a serem examinadas, uma de cada vez, são as seguintes:

Primeira dimensão: o “Aparente do Aparente”,

Segunda dimensão: o “Oculto do Aparente”,

Terceira dimensão: o “Aparente do Oculto”

Quarta dimensão: o “Oculto do Oculto”.

  • O Aparente do Aparente.

A primeira dimensão, o Aparente do Aparente, vem a ser realidade visível, o mundo aparente, a coisas que estão à nossa volta e compõe a realidade de nossa vida cotidiana. Nesta etapa o escopo da análise é observar e analisar a composição da realidade em que estamos imersos, ou seja, a realidade material, visível, palpável. Aquela realidade material que percebemos por meio de nossos cinco sentidos. Portanto o somatório de tudo o que é visível e perceptível, incluindo os objetos, as pessoas e suas circunstâncias, os elementos e fenômenos naturais, os eventos e seu encadeamento, as instituições, a cultura, o ordenamento social, as causas e seus efeitos, enfim, tudo o que vemos, tocamos, ouvimos e sentimos diretamente.

  • O Oculto do Aparente.

Como se sabe, as “aparências enganam.” Como sugere a definição, existem muitos  elementos que estão aparentes mas passam desapercebidos. Figuram no cenário, ambiente ou contexto, estão diante de nossos olhos, de nossos sentidos, mas estão dissimulados, estão mimetizados. O mimetismo é um tipo de “oculto do aparente”, sendo uma “estratégia” ou um “truque” da natureza para dissimular e enganar a percepção daquilo que não deseja que se destaque no cenário aparente. O mesmo artifício de esconder-se em meio a paisagem vale no contexto social, onde o engodo e a mentira são parte do processo de disfarçar intenções e encobrir a verdade. Em certas circunstâncias, o disfarce é uma defesa, em outras uma cilada, um golpe, um logro. Formam entre esses elementos interesses, situações, eventos, coisas fora do normal, que intencionalmente ou não,  se escondem no panorama. O exame do Oculto do Aparente é mais eficaz se  incluir os “ciclos” da natureza, a exemplo da idade, as estações, a maturação e demais fatores que são causa e efeito da vida. Especialmente os atrelados ao um grande processo vital que submete a todos, ou seja, o nascimento, vida e morte.

O jogos de sete erros em ilustrações e o popular “Onde está Wally” são exemplos do Oculto do Aparente, assim como o são as “entrelinhas” de muitos contratos e acordos. Assim como os efeitos perversos de muitas políticas ditas “sociais” e vendidas como “humanitárias”.

No Oculto do Aparente podem se esconder grandes perigos, sendo os mais perigosos precisamente aqueles que se passam por coisas desejáveis.

  • O Aparente do Oculto

A terceira dimensão  – o Aparente do Oculto – engloba tudo o que se encontra oculto, mas pode ser encontrado por uma pista, indício ou sinal que fica aparente. Muitos atributos, qualidades e fenômenos que existem no plano real podem ficar ocultos e não ser percebidos a menos que se observe um sinal ou evidência perceptível. A parte visível de um iceberg é aparente, mas a parte oculta, a parte submersa, é muito maior e mais perigosa, fato que quem conhece, quem sabe a natureza de um iceberg, sabe que abaixo da linha d’água haverá uma massa muito maior de gelo. Para desvendar a parte oculta de um Aparente do Oculto é preciso dispor de conhecimentos sobre a sua natureza e saber decifrar seus sinais. Reconhecendo sinais ou evidências é possível desvendar muito do que se esconde longe dos olhos. Um outro exemplo simples, mas ilustrativo, seria a forma de decodificar o atributo “gelado” de uma dada garrafa de água. Vendo-a pela janela de um freezer não dá para saber se está gelada o não. Mas, caso estiver gelada, este atributo logo vai se revelar se for retirada da geladeira. Ao ser colocada na temperatura ambiente uma camada de condensação irá se formar em sua volta, denunciando sua condição gelada.

  • O Oculto do Oculto

A quarta dimensão, o universo do Oculto do Oculto, reúne o contexto do invisível e a imensa massa do que não se pode ver, do que não pode ser percebido de forma direta ou por meio de sinais aparentes, mas que, ainda assim, exerce influência sobre a realidade. Por exemplo, a força da gravidade não é fenômeno visível, mas o efeito de sua presença é universalmente notado. O fato do universo do Oculto do Oculto não estar aparente não quer dizer que seja pequeno ou insignificante. Ou, ainda, que tenha pouca influência. Muito pelo contrário.

Se tomarmos como referência o sempre fascinante fenômeno da simetria da Natureza, então podemos considerar que a extensão do Oculto do Oculto representa mais de 90% de todo o conjunto de qualquer realidade que estudarmos. No caso do Universo, a parte oculta representa 95% de toda a matéria existente no cosmo. A “energia escura” representa 74%, enquanto a “matéria escura”, representa 21%. De modo que o somatório de todo o universo visível, todas as galáxias e constelações existentes, perfazem não mais de 5%.

Bem, podemos agora fazer um giro pelas quatro dimensões da Cabala para desvendar o Brasil.

O ideal seria que pensássemos em conjunto, buscássemos eixos de análise e chegássemos a conclusões compartilhadas, mas como este artigo é obra pessoal, vou apresentar o meu ponto de vista, mas sinta-se convidado a concordar, discordar e a apontar sua visão pessoal.

  • Fase 1 – Análise do Aparente do Aparente

O cenário do Aparente do Aparente no Brasil é desolador.

O Brasil continua atordoado. Continua perdido. Tentando levar a crise com a barriga. Não tem um projeto nacional. Não tem uma visão de futuro. Não formou um consenso sobre o que é disfuncional ou está errado e, assim, não compartilha de um programa sobre o que precisa ser mudado, ou que reformas devem ter prioridade. O mundo político brasileiro é de uma mediocridade acachapante. Desalentadora. Poucos políticos se dispõe a enfrentar os problemas reais e a maioria, os cabeças de bagre, acham que os problemas se resolverão sozinhos. A reforma da previdência é um caso de chorar na sarjeta. Como pode o país aceitar que os trabalhadores rurais precisem esperar os 70 anos para s aposentar com um salário mínimo enquanto muitos marajás se aposentam aos 50 anos de idade, ganhando salários integrais de 30, 40 ou 50 mil reis mensais, vezes 13?!!! Aliás, outra “esperteza” bem tupiniquim é publicar o salário nominal mensal e esconder o seu verdadeiro montante, sem incluir os benefícios, 13º salário, etc. e etc. Nos Estados Unidos se divulga sempre o valor anual dos ganhos, devidamente totalizados.

Um país que aceita esta desigualdade não tem um eixo moral claro. Vivemos em uma situação bucaneira, um salve-se quem puder, onde cada um pega o que pode. A devassidão, que não nasceu no governo petista, mas foi aperfeiçoada por ele, nos levou para a maior crise de nossa história. Entramos em um atoleiro onde ainda permanecemos. Momentaneamente existe um certo alívio e uma sensação de que teríamos chegado ao fundo do poço. O país até dá alguns sinais de lenta recuperação. Mas é um sentimento ilusório. Sem consertar o problema fiscal, em especial a previdência, a rainha do buraco das contas públicas, não vai demorar para voltarmos à queda livre, posto que o problema fiscal continua a puxar o país para o despenhadeiro. O lado dos números são eloquentes. A meta para o déficit primário do governo para 2017, bem como para 2018, é de R$ 159 bilhões. O desemprego tem 12 milhões de desempregados, 5,1 milhões de empresas estão inadimplentes (das 7 milhões existentes), o país registrou em 2016 61.619 mortes violentas, o maior número de homicídios da história. A piora do Brasil foi dramática nos últimos três anos. Em 2016, 24,8 milhões de brasileiros viviam na miséria, espantosos 53% a mais que em 2014, segundo revela o IBGE. Após o início da crise econômica, 8,6 milhões de brasileiros adicionais passaram a viver com menos de um quarto do salário mínimo por mês. A população com renda de até meio salário mínimo chegou a 36,6 milhões de pessoas. É muito sofrimento e miséria para um país com o potencial do nosso. E tudo por burrice pura, por teimosia e desvios inescrupulosos criminosos. E por insistirmos em requentar falsas soluções que jazem no cemitério dos fracassos comprovados.

Contudo, para uma análise equilibrada, em meio ao desastre que nos assola, o país mostra que tem um lado positivo: a inflação caiu a 3% ao ano; a balança comercial tem tido superávits significativos; também nossas reservas são altas. E, o mais importante, temos áreas de excelência. Um agronegócio robusto e crescente. Muitas de nossas empresas industriais mostram que somos capazes de engenho e arte. Algumas se mostram altamente competitivas no mercado internacional, a exemplo da Embraer, Tramontina, Fanem, Weg e outras.

O Governo Temer?

A questão do Governo – Tudo indica que o Presidente Temer vai terminar seu mandato, ainda que com algumas turbulências. Existe disposição dos brasileiros de aguentar este governo porque ele acaba em um ano e não está piorando as coisas. Ao contrário, mostra coragem em promover algumas reformas indispensáveis. Seu índice de aprovação dificilmente vai passar do 10 ou 15%, mas para um país que sobreviveu a Lula e Dilma, o presidente Temer é um alívio.

O Congresso?

A Câmara dos Deputados – A câmara ainda não decidiu se vai tomar vergonha. O projeto da reforma de previdência ficou para 2018. Ano de eleição. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia está surpreendendo pelo bom senso e equilíbrio. Poderia ter se aproveitado das denuncias de Janot para tentar sentar na cadeira presidencial. Tinha chances e bons pretextos, mas sofreou seus instintos políticos. Agiu com espírito público, pensando no país. Vai sair da crise como uma nova liderança confiável e consolidada. Tem grande futuro.

O Senado – Sem o carbonário Renan Calheiros, que perdeu de vez a confiança do país naquela manobra medonha para salvar a elegibilidade de Dilma na sua cassação e não tem mais cacife para criar problemas, parece que vai dar guarida para as reformas necessárias. Nada espetacular, mas um mínimo de sobrevivência.

O Judiciário?

O Judiciário – O Juiz Moro é a grande figura do judiciário. Mas não esta só. A decisão de marcar o julgamento do recurso apresentado por Luiz Inácio Lula da Silva no processo do tríplex em Guarujá para 24 de janeiro de 2018, dá ao Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre um relevo especial e indica que a justiça compreendeu que o Brasil não pode mais ficar paralisado no aguardo de decisões que vão definir seu futuro. O STF, por seu turno, tirando um ou outro indigitado que eructa mofo no dia a dia, vem dando para o gasto. E no STF muito do mérito cabe à sólida presidência da Ministra Carmen Lúcia.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal tem, igualmente, contribuído para que o país ainda se mantenha confiante nas instituições. Vivem disputando poder, mas se o  usarem para o bem do país, menos mal.

A sociedade empoderada: O fato novo de 2017 é que a sociedade percebeu que pode se mobilizar e ir para a rua para pressionar pelas mudanças necessárias. Se o governo “pisar no tomate” ou sair dos trilhos, a sociedade da internet não precisa mais do que 24 horas para bater panelas ou encher as ruas e encurralar o governo. É possível prever que vamos ter muitos panelaços e manifestações em 2018. A sociedade já deixou claro que não tem vocação para ser bom cabrito.

Por tudo isto, o sentimento dominante na sociedade é o de moderada expectativa para 2018. Um sentimento que pode não resistir se o congresso aprontar trapalhadas na questão da reforma da previdência em fevereiro de 2018. Um fracasso na reforma fará a economia desandar e uma nova onda de desanimo poderá ter consequências desastrosas.

  • Fase 2 – O Oculto do Aparente

O que está claro é que vamos ter um monte de candidatos a presidente em 2018. Passado o Carnaval vão surgir as candidaturas. Em janeiro se saberá se Lula estará concorrendo. Duvido. A data escolhida para o julgamento, dez dias antes do “tríduo de Momo”, já indica como foi bem arquitetada a operação “Saca Lula”. Nota 10, com louvor, para os Juízes da 4ª Região (TRF4).

Vetores do atraso:

Dado que, no Brasil, a diferença entre esquerda e direita tem sido sempre a maneira de roubar, com a esquerda ganhando disparado nos quesitos mistificação e volume roubado, o povo se vê indefeso. Prefere a democracia direta. Gosta de votar, mas hoje reconhece que o governo que menos roubou foi o militar. Aliás, o governo militar foi combatido pelos mal intencionados precisamente por não deixar roubar. Felizmente o país tem mostrado maturidade para perseguir opções democráticas e não precisa recorrer aos militares.

A velha política, travestida de esquerda e direita, ainda vai tentar voltar em 2018. Não sei se notaram, mas pela esquerda, o lado que promete que o estado vai ser o provedor de tudo grátis, Lula, o ogro dos cafundós, está em campanha. É irregular, mas e daí? O Ogro tem feito o circuito dos grotões vociferando com a mais esganiçada eloquência que sua voz espectral ainda consegue. Mas tudo o que vem mostrando é que virou gagá. Está velho demais para liderar no grito. O tempo em que ganhava no gogó se foi. Aliás, líderes que se apoiam no intelecto, como FHC são mais longevos. Lula, ao contrário, sempre foi um líder do tipo “vamo que vamo”. Hoje, parece um arremedo, um cartum do que era. Sua liderança agora é do tipo “vão indo que eu já vou”. Falta a ele o tônus vital. É patético vê-lo como caricatura de si mesmo, escalafobético, tentando empinar um carisma que não lhe pertence mais. Que não passa de um resquício da que teve um dia. É verdade, o candidato ainda rosna e tenta gesticular no estilo “Eliscóptero”, mas seu balanço desengonçado está um bagaço. Possivelmente terá ainda votos de seus eleitores vetustos sobreviventes. É triste, mas muitos deles estão morrendo aferrados a uma ilusão que lhes logrou por décadas. As novas gerações, contudo, não se deixarão empolgar por um líder encanecido, que se apresenta trôpego e demagógico, além de pendurado num histórico de corrupção. Isto se for candidato, o que é bem provável que não seja.

Vetores de Modernidade:

Quando Temer indicou Raquel Dodge para o cargo de Procuradora Geral da República ele fez o que estava ao seu alcance para responder ao ímpeto acusatório de Janot, uma figura maquiavélica que era leal ao regime petista e que tentara todos os truques e malvadezas para desestabilizar o governo que sucedera o de sua musa. Acontece que a nova Procuradora, a escolha possível nas circunstâncias, tinha sua própria agenda. E Temer vem descobrindo que está sendo forçado a dançar pela música da nova Procuradora Geral. Dado que o propósito da Procuradora está alinhado com a agenda da parte civilizada da sociedade, a PGR pode ser uma fonte de energia a somar no vetor modernizador da sociedade.

  • Fase 3 – O Aparente do Oculto

Vamos começar pela figura dos “laranjas”. O sítio de Lula em Atibaia, como todo mundo sabe, é do ex-presidente, mas está em nome de dois “laranjas”: Fernando Bittar – filho do amigo de Lula e ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar – e Jonas Suassuna, ambos sócios de um filho de Lula,

De fato, todo o “laranja” pode ser definido como um “Aparente do Oculto”.

O Brasil tomou gosto pelo oculto nos tempos coloniais. Hoje apreciar o oculto, entender o oculto, se incorporou ao DNA brasileiro. Sobreviveu trezentos anos ocultando tudo o que podia da metrópole. No Brasil colonial nada se podia produzir às claras, nem sabão. Daí, para sobreviver, desenvolveu uma tecnologia insuperável para lidar no campo do oculto. E sabe ocultar melhor do que ninguém. O governo, claro, sabia disto e respondia com a “derrama”, que era um confisco aplicado em Minas Gerais para desovar o ouro oculto e assegurar o teto de cem arrobas anuais na arrecadação do quinto. (Aliás, o “quinto”, como se sabe, era chamado de “quinto dos infernos” pela população e correspondia a um imposto de 20% do ouro encontrado e que devia ser enviado diretamente para a Coroa Portuguesa).

A contrapartida é que nosso sistema jurídico aprendeu a desencavar o oculto. O instituto da “denúncia premiada”, por ironia aprovado no governo da Dilma, tem sido extremamente eficaz neste mister. Fato reconhecido pelo saudoso Ministro Teori Zavascki ao definir o “fenômeno das penosas”: “a gente puxa uma pena e vem uma galinha”.

Agora, o que tem de corrupção “oculta” no Brasil é uma grandeza. Onde quer que se jogue luz, ali se encontra um galinheiro.

  • Fase 4 – O Oculto do Oculto

O Oculto do Oculto é o contexto que não temos como tocar, mas que nos toca sem mesmo sentirmos. Ele é imenso e insidioso e nos cerca como uma atmosfera cujo ar respiramos sem nos darmos conta. No espaço do Oculto do Oculto opera a “flecha do tempo”, a inexorável marcha da vida que obedece à segunda lei da termodinâmica.

O Oculto do Oculto encobre o rio da existência que segue, impávido, sua corrente e, em suas águas, seguem nossos destinos. O Oculto do Oculto nos oferece as circunstâncias e o tempo para nele vivermos buscando superar nossos desafios e aproveitar nossas oportunidades, enquanto o tic-tac de nossos dias vão sendo contados e cada momento desperdiçado se perde na entropia para não voltar mais.

Imenso e insidioso, seu principal conteúdo é constituído de energia invisível e das forças em movimento. Assim como o mundo em que vivemos é constituído por uma natureza que pode ser, a um tempo generosa ou hostil, nos oferece um meio-ambiente feito de solo, água e ar, assim o mundo do Oculto do Oculto é constituído por elementos desta mesma natureza e aos quais se soma a humanidade e os elementos da cultura, valores, crenças e expectativas para formar grupos humanos que compartilham destinos comuns e se desdobram em um ambiente que nos abraça e determina muito das nossas circunstâncias a que aludia Ortega e Gasset.

No caso da atmosfera em que estamos imersos, ela nos permite sobreviver graças ao ar e, especialmente ao oxigênio, enquanto nos protege do vácuo e estabelece o clima em que vivemos, ditados pela umidade, o calor e o frio. Esta atmosfera, entretanto, também pode ser afetada pela poluição e pela pestilência de elementos químicos e biológicos indesejáveis. Similarmente, no espaço humano do Oculto do Oculto, a cultura é o oxigênio. O tempo e a temperatura nos são dados pela civilização, sua moral e ética, seus conhecimentos e tecnologia, enquanto seus poluentes são a bestialidade, a selvageria, o medo, o ódio e a inveja. Na luta sem fim entre o bem e o mal, que nos acompanha desde os primórdios dos tempos, o propósito do mal é, e sempre foi, se dar bem praticando o mal para sobreviver às custas do bem.

Embora o Oculto do Oculto pareça ser predominantemente esotérico, já vimos que muito de seu conteúdo é dado pelos aspectos da materialidade da vida.

Somos seres sociais e não temos como escapar de nossa condição humana. Para Hobbes a existência humana é balizada por dois impulsos fundamentais: o medo da morte violenta e da falta das coisas necessárias para uma vida decente. São estas duas as necessidades que levam ao contrato que cria o estado, posto que o homem entende que é do seu interesse dividir e compartilhar a vida social para chegar ao bem comum, o que implica aceitar regras sociais de convévio e exercer o autocontrole.

Mas uma coisa é aceitar a necessidade do estado para organizar a vida social e outra é aceitar a predisposição de muitos para “tirar vantagem” do estado em proveito de si próprios e dos seus comparsas, segundo o velho adágio bem brasileiro: “para os amigos, tudo; para os outros, a lei”.

Para botar ordem na casa, então, existe o tal “estado de direito”, que seria o império da lei, a que todos estariam submetidos, mas que, segundo o Ministro Gilmar Mendes, se explica por quem manda mais, se o rabo ou o cachorro.

Para interpretar as forças e tendências do Oculto do Oculto num dado momento da sociedade é preciso ter uma visão do inconsciente coletivo e do conjunto dos inconscientes pessoais, representado pelos sentimentos e ideias reprimidas, desenvolvidas durante a vida dos indivíduos. O inconsciente coletivo é um conjunto de arquétipos ou conceitos  primordiais, que cada pessoa herda de seus ancestrais. Por exemplo, o medo de aranhas pode ser transmitido por meio do inconsciente coletivo. Mesmo no primeiro contato o medo de aranhas pode se manifestar de modo irracional, com falta de ar e até desmaio. Felizmente a “aracnofobia “(medo de aranhas), assim como a “catsaridafobia” (medo das baratas), podem ser vencidas com o aprofundamento dos conhecimentos sobre como lidar com elas. Na verdade, a pessoa não tem consciência de porque age de uma ou outra forma, mas herda uma predisposição para reagir ao mundo da maneira como que seus ancestrais reagiam. Este reservatório de ideias e sentimentos primitivos pode ficar adormecido por muito tempo, mas nas circunstâncias certas pode ser despertado e produzir estragos bem significativos, inclusive o preconceito, o fanatismo e o temido “efeito manada”.  Um político sem escrúpulos pode soltar e instrumentalizar estes sentimentos. No Brasil, Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”, e Lula, o molusco dos Cafundós, se mostraram os mais hábeis manipuladores destes sentimentos obscuros que solapam a viabilidade de uma boa ordem social.

Colocadas estas preliminares, no mundo atual civilizado, os seres humanos vivem em ambiente social, politico e econômico que passa por grande transformação. Hoje a prosperidade é uma escolha ao nosso alcance. Quem quer que caminhe pala lógica e pelo bom senso pode aspirar satisfazer as suas necessidades e alcançar a realização plena. Como o atendimento destas necessidades não vêm ao homem prontas e acabadas, o psicólogo Abraham Maslow organizou uma hierarquia, a “Pirâmide de Maslow”, para demarcar uma sequência, um ordem, na conquista dessas necessidades do ser humano.

A Pirâmide de Maslow é dividia em cinco níveis de necessidades. Na base estão as necessidades fisiológicas e de sobrevivência, como a respiração, a sede, a fome, o sexo. Um degrau acima está a segurança e a defesa, depois as necessidades sociais, amizades e família. No quarto degrau estão a estima, a autoestima, a confiança e as conquistas. No quinto e ultimo degrau estão a auto-atualização, a criatividade, a autenticidade, a espontaneidade, a expressão artística

Vivemos em uma época em que, graças ao progresso, aos avanços da tecnologia e do conhecimento humano, seria possível a toda a humanidade sobreviver e progredir e, mais do que isto, subir aos mais altos degraus de sua realização pessoal desfrutando de abundância, sem necessidade de praticar o mal, piratear, tirar dos outros ou escravizar alguém; sem matar, nem roubar, enfim – o que é uma situação inédita da história o homem. O que é frustrante é observar que, no Brasil, ainda teimamos em trilhar os caminhos da ignorância, em cultivar valores bárbaros de uma sociedade de predadores. Enquanto os chineses seguem o ensinamento de Deng Xiaping, que diz que “ser rico é glorioso”, nós abominamos os ricos e fazemos a opção pela pobreza. Ora, ser pobre é fácil: basta ser indigente contumaz, basta agir com desprezo pelos conhecimentos da civilização e fazer como se faz em Cuba ou na Venezuela. Ou seja, pensar com pobreza e agir com pobreza faz a gente acabar pobre. Mas nossos “líderes” políticos, com algumas exceções, pouco estão se lixando em mudar o destino dos pobres. Eles não pensam em abrir caminhos que criem riqueza. Muitos tem pavor de que os pobres fiquem ricos e descubram a mediocridade de seus “líderes”, uma cambada de ignorantes de meia tigela, e lhes deem um merecido pontapé nos fundilhos. Como patifes que são, corruptos, bandoleiros e salteadores por alma e vocação, muitos se acumpliciam com o fim de enriquecer por pilhagem. Este o pano de fundo da realidade oculta com que temos de lidar. E por isto, no Brasil, é preciso ficar com os olhos bem abertos. Nesta terra onde canta o sabiá, os tontos estão ferrados e os bobocas vão se “daná”. Aqui a credulidade aleija e a ingenuidade mata. Não temos escolha. Precisamos educar nosso povo e criarmos defesas para nos protegermos dos vendilhões do templo.

Mas, então, estamos condenados a correr atrás do rabo séculos afora? Estamos condenados a esta vida miserável de criminalidade incontrolável, de corrupção sem peias, de mortes por atacado que vemos crescer à nossa volta e a tomar conta das franjas de nossa sociedade?

Não. De modo algum. Se nos unirmos todos, se voltarmos a empunhar nossas panelas, se sairmos em defesa da civilização como saímos para combater o petismo que nos afundou e enchermos as ruas com nossa determinação, venceremos o atraso.

O desafio está em desvendar a esfinge e compreender a natureza e o peso do Oculto do Oculto em nossa sociedade.

  • Precisamos identificar o inimigo para saber contra o que e contra quem lutar.

Talvez seja o caso de dizer como Pago, o personagem dos quadrinhos:  “Encontramos o inimigo e ele é nós”…

Na verdade, o maior dos inimigos que enfrentamos são os que Hobbes identificou: o medo da morte violenta e da falta das coisas necessárias para uma vida digna. Somos uma sociedade acuada pelo medo. E o medo é mau conselheiro. O medo leva ao desespero, leva ao pânico, leva ao salve-se-quem puder. O medo leva à debandada, ao estouro da boiada. E sem um mínimo de ordem, estamos perdidos.

Lula, o grande mistificador, o mestre das trevas e ignorâncias, enganou o país dizendo que a “esperança venceria o medo”. Mentira, não foi a esperança que venceu o medo, foi o embuste. Foi o logro. Foi a enrolação. E por culpa de sua má fé e da arrogância de sua pretensão o Brasil, o Brasil mergulhou na maior tragédia de sua história. A pobreza, que nunca foi debelada, apenas mitigada por esquemas artificiosos e sem sustentação, volta ainda mais cruel. A desesperança volta a apertar os corações de nossa gente. Contudo, os brasileiros não querem abandonar a esperança e nem querem abandonar seus sonhos legítimos. Então cabe a cada brasileiro que tenha percepção de nossa tragédia e de suas causas, ajudar a mostrar que existe um caminho para a prosperidade. O que não existe é um paraíso instantâneo, uma solução mágica. É chegado o momento de fazer escolhas difíceis. De plantar as sementes de futuro, de adubar o solo com trabalho, com denodo e com justiça.

Os milhões que perderam seus empregos, os milhões que se vem abandonados nas filas dos hospitais, que perderam sua dignidade e que caminham pelas sombras da desesperança merecem destino melhor.

E então, que podemos esperar do Oculto do Oculto para 2018?

Considerando os fatos que preparam o cenário político e econômico para 2018 é possível olhar para as energias acumuladas e as frustrações e especular algumas possibilidades.

O cenário político, em especial, pode ter uma previsão sem erro: dificilmente as multidões, especialmente os desempregados e os mais jovens, vão aceitar serem jogadas ao relento. Especialmente depois de terem sentido o sabor das ruas e terem feito valer o peso de sua opinião no impeachment da Dilma.

  • O novo papel da Internet

Na década de 70, no século passado, Marshal McLuhan cunhou uma expressão que adquiriu nova atualidade com a Internet: “O meio é a mensagem”.

Ele queria dizer que a forma de como uma mensagem era transmitida criava uma linguagem própria e gerava uma relação simbiótica que influenciava a maneira como a mensagem é concebida e percebida.

O modo instantâneo como as mídias sociais “aceitam” ou “recusam” uma ideia permitem que as coisas aconteçam de forma também instantânea.

E neste processo de endosso ou recusa de uma ideia, elas acabam funcionando como um filtro do que as pessoas querem. Neste sentido o Vice-Primeiro Ministro de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, acredita que as mídias sociais e a Internet estão criando uma “Mão Invisível Social”, com impacto equivalente à “Mão Invisível da Economia” de Adam Smith.

http://www.digitaleiro.com.br/a-saida-digital/a-mao-invisivel-social-do-ministro-tharmam/

Cinco coisas decorrem desta nova mídia:

  1. – O alcance da mensagem, que tem uma amplitude incomparável;
  2. – A velocidade com que impacta os acontecimentos;
  3. – A dispersão dos comunicadores por todo o universo de usuários. Quem quer que queira comunicar algo tem como fazê-lo de forma direta
  4. – O usuário desta mídia aprende a separar a notícia boa do “Fake News”;
  5.  – O custo irrisório desta mídia faz com que esteja ao alcance de milhões de pessoas, permitindo alcançar massa crítica de comunicação rapidamente.

Conclusão: a eleição de 2018 deverá ser uma montanha russa de emoções. Fatos novos deverão surgir e mudar o cenário em curtos intervalos. Mas o grande quadro do “Oculto do Oculto” continuará como um oceano de conteúdo que acabará por fazer prevalecer suas tendências mestras. A volta do pensamento conservador é um fato. Se vai, ou não, empolgar o voto jovem depende da forma como vai ser apresentado. Se vier a bordo de um projeto de país alinhado com a Revolução 4.0, que mostre um caminho de prosperidade com as novas tecnologias, vai ser como um tufão que empolgará a imaginação do país, como aconteceu com o governo de Juscelino, que se tornou invencível com a lançamento da indústria automobilística e de Brasília. E aqui não faço análise de seu valor ou conveniência.

  • E os temas?

Os temas para a eleição de 2018 ainda não foram colocados. Assim, as escolhas ficam na dependência de muitas incógnitas. Especularia com alguns cenários possíveis:

Primeiro: – Lula condenado

A escolha de 24 de janeiro para o julgamento de Porto Alegre prenuncia disposição para a condenação. Se Lula for condenado, vamos assistir ao maior espetáculo de esperneio da história. Mas janeiro é o mês de morte da política. O pessoal de férias, as praias cheias, o carnaval se avizinhando, tudo isto significa repercussão morna, qualquer que seja o resultado.

Para o país, Lula fora do páreo significa arejar o ar e mudar o disco. Fecham-se as cortinas do passado petista e encerra-se a agenda de conceitos medievais em que se baseava. Significa abrir uma nova senda, introduzindo o retorno par o futuro no debate. Caso não seja condenado ou, mesmo condenado, conseguir manobrar para continuar candidato, o debate seria dominado pelo mofo de um retorno a um passado que não deu certo, Pior, as forças contra o petismo iriam correr atrás dos galinheiros que existem ao montes por aí. E voaria pena para todo lado. Uma nova leva de revelações da Lava Jato se encarregaria de cortar as asas do candidato. Não tem erro. Ainda tem muita falcatrua a ser descoberta e muita corrupção a aflorar. O país sofreria um novo abalo.

Segundo: A reforma do previdência passa?

No atual quadro, dificilmente. Os deputados teriam que ser confrontados pelas forças vivas da sociedade. Empresariado, especialmente, que é o grupo com visão estratégica e que tem noção de onde vamos parar seguindo nesta loucura. Mas nosso empresariado não é do tipo confrontador. Do setor financeiro, que tem desfrutado de opulência e lucrado mesmo na crise, não deve vir nada.

Mas, e a economia aguenta? Os políticos parecem dispostos a pagar para ver. Se a reforma da previdência não passar, esta tímida recuperação da economia vai ser um voo de galinha adoentada. Lembrem-se: a economia não se defende. Ela se vinga. E sua vingança será maligna. Imaginem uma nova onda de crise, nova queda de avaliação das agências de rating, nova queda de investimentos, um aumento do desemprego, uma inflação em retomada em plena campanha. Existe, contudo uma compensação para alegria dos sádicos: uma demora maior vai significar um rombo maior e, quando a sociedade decidir cortar de vez os privilégios, mergulhada na bagunça e no descontrole, o corte será mais profundo e radical. Se os privilegiados tiverem bom senso vão preferir perder os anéis para salvar os dedos. Melhor mudanças sob controle do que com a faca no pescoço. Hoje, a mudança seria pacífica e ainda asseguraria alguns privilégios. Mais à frente, poderá não ser.

Terceiro: Ressurge o anseio por um governo “forte”, militar.

Bolsonaro é o nome dele. Mas Bolsonaro tem perfil de um sargentão. Dificilmente sua política de “prendo e arrebento” vai conquistar a maioria. E outra coisa, Bolsonaro é um rústico em economia. Sua visão de manter o estado presente na economia é igual a do PT, e é nas estatais que começa a corrupção.

Quarto: Surge um movimento pelo novo.

Existe um grande anseio pelo diferente, pelo novo. Mas poucos se dispõe a um salto no desconhecido. A melhor prova disto foi o que aconteceu com o Dória. Se ele, que tem o melhor perfil entre todos os possíveis candidatos “novos” não decolou (acho que ele não seria candidato para valer, dado seus compromissos de lealdade com o Alckmin e com a Opus Dei); e nem o Luciano Huck, que seria o “outsider”, é pouco provável que venha a ser a vertente dominante.

Quinto: A opção pela continuidade

Temer tem zero chance, mas Henrique Meirelles até poderia ser a continuidade, caso o governo Temer virasse a economia. Foi a economia e o Plano Real que elegeu FHC pela primeira vez. Infelizmente, as chances de uma reversão econômica para valer já estão comprometidas. O congresso liquidou com as reformas e uma reforma meia boca em março não irá produzir grande mudança. Meirelles parece acreditar em suas chances, no que faz muito bem, contudo ele precisaria de um “banho de loja” radical para ser visto como competitivo.

Sexto: A escolha segura

Depois de tantas reviravoltas o eleitorado cansou de girar feito pião. E o candidato que melhor veste o figurino da segurança é o Governador Geraldo Alckmin. Se for capaz de neutralizar a rejeição a uma “solução paulista” de parte do eleitorado “dor de cotovelo” que tem por todo o país, e se for capaz de articular um projeto de país que aponte para o futuro, ganha fácil.

  • O “timing” vai escrever o roteiro

A campanha, que já está iniciando, entra em banho-maria até março. O Brasil nunca se mobilizou antes do carnaval. Nenhuma revolução, ou grande evento político, teve impacto antes do “Triduo de Momo” no Brasil. O julgamento de Lula vai mexer apenas com seus seguidores mais fiéis. A maior parte do país nem vai tomar conhecimento.

Ele lidera as pesquisas? Sim. Neste momento, como seria de esperar, ele concentra o apoio da esquerda e do pessoal do pântano. Só que as pesquisas já mostram todo o seu potencial politico. E não é suficiente para ganhar um eleição em segundo turno. Ponto.

O evento mais importante do primeiro semestre será a votação da reforma da Previdência. Dela vai derivar todo o desdobramento a ser observado na economia, com reflexos na política. Se for aprovada, criará um clima de otimismo que vai dar uma lufada de ar fresco na economia e no humor do país. Se for recusada, ou adiada para o dia de “São Nunca”, o clima de desalento pode gerar turbulência e, aí, será bom por as barbas de molho.

Faço votos de que 2018 seja auspicioso para todos.

Chega de atraso, que ninguém merece.

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Ou viramos a página de uma vez ou sofreremos a maldição de Sísifo*

De onde menos se espera, de lá é que não sai nada mesmo. (Apparício Torelly, o “Barão de Itararé”)

O fato é que o Brasil é um país único. Um país sui generis, que dá um tiro no pé e depois reclama que está difícil de caminhar.

Em certo sentido, somos especiais. Temos uma natureza privilegiada e um potencial inigualável. Somos o quinto maior território e a quinta população do mundo; temos 200 milhões de hectares de terras agricultáveis e mecanizáveis; somos campeões no agro negócio; fabricamos aviões como gente grande; nossa economia é a nona do planeta (mas já foi a sétima). Em contrapartida, gostamos do atraso. Somos afeiçoados mesmo. Basta dizer que ocupamos um obsceno 80º lugar no Ranking Mundial de Produtividade. (E olha que melhoramos uma posição em relação ao ano passado!). É vergonhoso dizer, mas o crescimento da produtividade no Brasil foi, segundo a CNI, de 0,6% ao ano, entre 2002 e 2012. Na Coréia do Sul, no mesmo período, o crescimento foi de 6,6% ao ano. O que o Brasil levou 10 anos para crescer a Coréia do Sul cresceu a cada ano. Em compensação, nosso salário real continuou a subir muito acima da produtividade – cresceu 1,8% ao ano – e como desgraça pouca é bobagem, tivemos a maior apreciação da moeda doméstica – o Real valorizou-se a uma taxa de 7,2% ao ano, jogando água em nossa competitividade.

  • E bota anacronismo nisso!

Em resumo, somos um fenômeno de anacronismo. Grande porção do país ainda vive mergulhada no atraso. Temos regiões onde grassa o coronelismo  colonial e onde ainda vicejam crenças da idade média. Quarenta anos depois ainda somos um “Belíndia”, como definiu Edmar Bacha em seu ensaio de 1974, referindo-se a um Brasil com áreas de desenvolvimento Belga convivendo com outras de pobreza indiana.

O que assombra é que aceitemos um sistema que favorece os trapaceiros da política. Nosso regime político foi desenhado como um queijo suíço, com buracos para facilitar a corrupção. Os privilégios e as mordomias são espantosos. A desfaçatez é escandalosa. É assombroso que aceitemos engolir este presidencialismo de “coalisão”, que cheira a quadrilha e que nos mantém em crise permanente.

Infelizmente, somos presa fácil dos demagogos e charlatães da política. O propósito de enricar com dinheiro público, desviando do erário, sempre foi a grande motivação de grande parte dos políticos brasileiros, notadamente os dos grandes grotões do norte e nordeste, regiões em que a política é a maior atividade econômica. E é nelas que reside a grande reserva nacional de atraso. É contando com elas que Lula e sua trupe de bucaneiros, aventureiros, corruptos, saltimbancos e malabaristas sonha em voltar ao poder. Ameaça vã, que o país rejeita, como os rejeitou com o impeachment da Dilma, mas que ainda move suas mentes peçonhentas.

  • Seremos, como Sísifo, condenados a combater a corrupção por toda a eternidade?

Nossa leniência nos faz vítimas recorrentes. A cada geração os brasileiros tem precisado mobilizar-se contra os piratas da política em nosso país. Jânio, em 1960 prometia varrer a corrupção. Seu símbolo era a vassoura. Os versos de seu jingle “Varre, varre, varre, varre vassourinha / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já ‘tá cansado / De sofrer dessa maneira” empolgaram o país. Era o que o povo queria ouvir. Mas ele avaliou mal, preferiu dar um golpe no congresso acreditando que o povo ficaria do seu lado e se deu mal. Veio Jango e os comunistas se assanharam. O povo pediu e os militares botaram os comunas para correr. O governador Brizola, genro de Jango, o mesmo que, depois, institucionalizou a criminalidade nos morros do Rio de Janeiro, fugiu para o Uruguai vestido e mulher. Coisa de “coração valente” e vergonha pouca. Tivemos ainda o Collor, que prometia acabar com os “marajás”. Pilantra e sacana, até hoje, se refestela com dinheiro público. Pouco tempo atrás se descobriu que sua mansão em Brasília, a “Casa da Dinda” é mantida com verbas do senado. Se bem que é coerente: é preciso bem conservar a frota de carros de luxo, um Lamborghini Aventador (R$3,2 milhões); uma Ferrari 458 (R$ 1,4 milhão) Uma Bentley Flying (R$ 975 mil), e um Range Rover (R$ 570 mil), que a PF diz terem sido pagos com recursos de propina, e que, mesmo assim, estão sob a “guarda” do senador por Alagoas, o mesmo estado do notório senador Renan Calheiros.

Enfim, não fosse nossa leniência, de que outro modo explicar a resignação com que engolimos 13 milhões de desempregados e 5 milhões de empresas sufocadas e inadimplentes neste país fantástico onde jorra leite e mel? Tínhamos que estar indignados. Tínhamos que estar enfurecidos. Tínhamos que estar na ruas.

Acontece que nossa índole é de povo manso. De povo dócil. Acostumado a engolir desaforos sem piar. A ser açoitado no tronco sem gemer. Esta passividade é nosso mal. Os políticos corruptos e os habitantes do pântano do planalto contam com ela. Eles, os políticos corruptos que pululam em Brasília, estão agora mesmo  planejando um novo golpe na decência. Pensam em enfiar goela abaixo do país uma nova legislação para dificultar o combate à corrupção. Os paspalhos acham que vai dar. Que não estamos atentos. Acham que o impeachment de Dilma foi uma exceção causada pela inabilidade da dita cuja, cujos erros foram além da conta. Erros que eles, mais ladinos, mais malandros, mais “espertos”, não tencionam repetir.

Penso, entretanto, que laboram em erro crasso. Querem continuar mamando e corruptando. Desafiam a paciência da nação. Brincam com fogo e com o país e vão sofrer as consequências.

  • Exorcizando o erro

O que entristece é que temos tudo para dar certo. Ainda assim nossos políticos teimam em cometer desatinos, em perseverar em erros históricos, em flertar com os desacertos que são a razão de nosso atraso.

  • Mas, então, por que insistem em fazer errado?

A razão é simples: fazem errado porque fazer errado tem sido um bom negócio. Porque a ocasião faz o ladrão. Porque preferem se locupletar sem esforço.

  • E por que não mudamos o regime e passamos a fazer o que é certo?

Bom, aqui podemos voltar ao perspicaz Barão de Itararé, “Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”.

Para começar, o que está errado no Brasil é que as elites do atraso é que comandam o país. E estas não querem mudar. Fingem que mudam, mas só de mentirinha. Felizmente, para as gerações jovens, estão envelhecidas e no seu ocaso. Infelizmente, delas não se pode esperar mais nada.

Vejam o governo Temer. O presidente está mais para um caricatura do que para um estadista. Seus ministros são mais sinistros do que ministros. O congresso é mais um convescote de predadores do que uma instituição a serviço do país.

Mas ainda assim, não duvide, o Brasil vai mudar. Afinal, nada levanta um traseiro mais depressa que fogo em baixo do banquinho!

O tsunami que o governo do PT/PMDB produziu no Brasil apresenta números de estarrecer. Após três anos andando para trás, o brasileiro ficou 10% mais pobre. E o estrago ainda perdura: 7 mortes violentas por hora (por hora!), bilhões desviados por corrupção, criminalidade nas alturas, angústia e sofrimento generalizados. Até nossa proverbial fleuma tropical vem perdendo a paciência. E os brasileiros, chamuscados, cansaram das labaredas queimando sob seus banquinhos. Até porque, convenhamos, a pilantragem que nos esfola passou dos limites.

  • Bem, mas o que fazer?

Deixar como está para ver como é que fica não é opção. Precisamos reconhecer que nossa democracia não é funcional. E que temos que mudar nossa forma de fazer politica.

Três passos fundamentais para desatar o nó que prende o país ao atraso:

1. Mudar a eleição da Câmara de Deputados do sistema proporcional para o distrital. Parece pouco, mas o efeito é mágico. 80% destes deputados não se elegeriam no sistema distrital. Os partidos se reduziriam naturalmente a três ou quatro. O sistema distrital muda a forma e a lógica da escolha. A eleição em um distrito mobiliza as forças locais. Os candidatos saem da comunidade e são escolhidos e apoiados por gente que os conhece. Pode ser um professor, um empresário, um clérigo, um médico. Mas dificilmente será um rufião, um safado, um corrupto, um palhaço. A comunidade saberá distinguir entre um candidato sério e um pilantra.

2. Mudar para o sistema parlamentarista. Um parlamento eleito pelo voto distrital tende a agir pensando no melhor para suas comunidades e para o país e não no melhor par si mesmos. Este compromisso com seu país e seu povo pode ser observado na maioria dos países do primeiro mundo. Todos parlamentaristas, exceto os EUA, onde o presidencialismo também vive em crise permanente. Engraçado que esta gente que tanto detesta os americanos foi copiar exatamente o que os EUA tem de errado.

3. Reequilibrar a representação na Câmara dos Deputados. Não é democrático que o voto de um roraimense valha dez vezes o voto de um paulista. Esta desproporção afeta a representatividade do sul e desequilibra o parlamento, onde a maioria do norte e nordeste se especializou em tirar proveito dos estados do sul. Isto não é saudável e não se sustentará no longo prazo. Infelizmente este desequilíbrio foi produzido no governo militar por um general metido a gênio, mas nada democrata, o “bruxo” Golbery do Couto e Silva, que dizia: “São Paulo já tem o poder econômico, então não pode ter o poder político”. Esta tese é antipatriótica ao extremo. Ela pressupõe que os outros estados estão condenados a serem pobres eternamente. Ademais, esta aberração, além de antidemocrática é preconceituosa e precisa ser corrigida.

Estas correções sistêmicas vão ocorrer. Por bem ou por mal. A mudança de gerações no Brasil sempre foi traumática, dado que os mais jovens sonham com uma revolução, mas o que recebem é a conta deixada pelos mais velhos. Os déficits colossais do atual governo vão ser empurrados para os jovens. E eles serão sacrificados na crença de que “bom cabrito não berra” ao ser morto e esfolado. Será? Os jovens brasileiros vão se deixar esfolar sem berrar? Duvido.

E de distorção em distorção, nossa política insana construiu um sistema político perverso, aberrante, concebido e desenhado para não dar certo.

  • Somos uma obra prima do atraso

O resultado é que temos hoje uma obra prima do atraso, uma obra prima do compadrio. Um regime feito sob medida para favorecer a corrupção. Não temos uma democracia de verdade. Os brasileiros não se sentem representados. O que temos é um arremedo de fancaria, uma alegoria que acoberta um balcão para negociatas.

Só que os tempos mudam. O tempo das ilusões acabou. As novas gerações não vão aceitar pagar a conta das estripulias das gerações perdulárias que as antecederam. E vão querer mudar as regras do jogo, por bem ou por mal, como outras o fizeram antes. Cansaram dos piratas de cara de pau, dos políticos incompetente e corruptos, dos idiotas, patetas, palhaços e trapalhões que o voto proporcional elege.

A sociedade mobilizada e o povo nas ruas começaram por demolir a república petista. Mas não se mobilizou para entregar o poder a Temer e seu bando de espertalhões. Não foi para isto não!

Outra coisa: muito se engana quem pensa que o povo enfiou a viola no saco e sossegou. O povo agora tem a internet e está equipado com as mídias sociais. O burburinho online mostra que está mais atento e mais bem informado do que nunca. O povo pode ainda não saber bem o que quer, mas sabe com clareza o que não quer. O povo cansou de estripulias e vem rejeitando os demagogos e rufiões. E não quer mais do mesmo. Cansou de ser o bode que não berra e engole a corrupção, a indecência e a grossa burrice do regime que temos.

O debate está apenas começando. E a internet vai ser a nova ferramenta de mudança. A mão invisível da mídias sociais vai fazer a diferença.

Ano que vem tem eleições. Preparem-se porque vai ser um vendaval. E aposto que vamos debater e esconjurar a corrupção. Chegou a hora de virar a página. Chega de atraso, que ninguém merece.

Ceska – O digitaleiro


(*)PS. – Como se sabe, Sísifo, na mitologia grega, foi condenado, por toda a eternidade, a rolar uma grande pedra de mármore até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que estivesse quase alcançando o topo, a pedra rolava montanha abaixo novamente até o ponto de partida, invalidando todo o esforço despendido.

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A metamorfose do Brasil

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A eleição de 2018 vai dizer se o crime vai deixar de compensar no Brasil

“Queremos ir ao Céu, mas não queremos ir por onde se vai para o Céu” – Padre Vieira

Uma metamorfose mudou a natureza da crise brasileira. Saímos da décrisis e agora estamos em uma sincrisis. Resta ver se esta metamorfose vai também mudar o Brasil.

Como se sabe, os gregos dividiam a crises em dois tipos: a décrisis e a sincrisis.

Por décrisis entendiam o tipo de crise em que as coisas vão piorando até colapsar ou explodir de vez. Até que se dê a ruptura do status quo. É a crise dominada por forças desagregadoras que se entrechocam, rompem a coesão interna e, por fim, dilaceram o organismo ou a sociedade onde se instalam. Foi o que aconteceu com o regime do PT e o “governo” da “Presidenta” Dilma. A queda da Dilma foi o ponto da inflexão. Foi o momento em que se deu a metamorfose e a décrisis se transmudou para sincrisis.

O PT havia se convertido na intersecção da corrupção, do acesso ao dinheiro sujo e ao poder político desvirtuado. Abandonou seus propósitos moralistas quando se deixou tomar pela ganância sôfrega, pela ambição sem peias, enfim, quando mandou os escrúpulos às favas. Ao decidir “comprar” tudo e todos entrou numa aventura doida demais. Apostou contra o Brasil e perdeu o jogo. Convém lembrar, entretanto, que os comunas e a esquerda profunda desprezam a moral burguesa e acham que o capitalismo é ilegítimo, o que justifica tirar dos que tem e do governo. Acreditam que não se trata de roubo, posto que, para eles, os fins justificam os meios. Quanto ao povo, nosso ingênuo e crédulo povo, este se tornou vítima da espoliação e foi escalado para cobaia da tal “nova matriz econômica”, um experimento grotesco de “moto perpetuo” na economia.

  • A economia não se defende. Ela se vinga!

Foram desmandos e mais desmandos, mas o fato é que o PT, ébrio de cobiça, inescrupuloso e sem noção, não aprendeu que a economia, assim como a natureza, não se defende. Ela se vinga. Não tem discurso que anule a melancólica realidade: não existe “almoço grátis”. O PT, contudo, deu de ombros. Continuou a gastar sem limites e a agir como o selvagem de Montesquieu, aquele que derruba a macieira para comer a maçã. Só o despreparo, a imaturidade basbaque e a cretinice rotunda da mal informada Dilma para achar que “fazer o diabo” para ganhar a eleição não teria consequências. Teria e teve.

A farra da gastança desregrada, a roubalheira desenfreada, a corrupção sistemática, o voluntarismo inconsequente, a arrogância e a prepotência foram ingredientes que entraram na décrisis petista e tornaram o Impeachment da Dilma um fato irreversível. A implosão final de seu governo era prenunciada pelo cheiro de enxofre no ar. Quem tinha um mínimo de pudor se afastava. E o crescimento do tumor da décrisis ia assustando todo mundo. No final os estertores do governo petista foram um espetáculo dantesco. Formou-se uma unanimidade anti-Dilma. Todos, menos um “resti di galera”, um grupelho de debilóides, perceberam que era questão de vida ou morte. Ou tiravam Dilma ou afundariam todos.

O mais notável é que a nação em si não correu o risco de colapso. A economia sofreu, e ainda sofre, claro. É sempre mais fácil destruir do que construir. Mas as instituições, bem ou mal, funcionaram, funcionam e vem dando conta do recado. Por seu lado, a sociedade civil se mobilizou, enchendo as ruas e cobrando providências. Os milhões na rua davam clara demonstração de que estavam atentos e tinham reservas cívicas para encaminhar o fim da crise. Outro ponto positivo é que as forças armadas não precisaram entrar no processo de colocar ordem na casa. Mas seu silêncio sinalizava que estavam alertas e prontas. Se as coisas fugissem ao controle, agiriam. Não tenham dúvida.

  • E agora, o que vai ser?

Estamos em uma encruzilhada e a eleição de 2018 vai dizer para onde vamos.

Pela definição dos gregos, a fase da crise em que estamos mergulhados agora tem os contornos de uma sincrisis.

E toda a sincrisis começa com uma catarse, a purgação ou purificação por que deve passar a sociedade para reencontrar seu eixo moral. Trata-se do processo de contrição e expiação que abarca políticos, servidores e empresários corruptos, mas não se resume a eles. Os brasileiros que votaram para eleger Lula e Dilma (e que, de contrabando, também elegeram Temer) igualmente precisam fazer o mea culpa. Este processo catártico é doloroso e requer grande dose de equilíbrio para que não se jogue fora o bebê com a água do banho. É preciso punir os culpados e rever procedimentos, mas deve ser depurado e aproveitado o que possa ser recuperado.

  • A grande incógnita: o comportamento dos eleitores em 2018.

Eleições tem a ver com escolhas. E com propostas.

E como sabem os que lidam com pesquisas de opinião, a escolhas em uma eleição tendem a ser guiadas pelos vetores dominantes no debate social.

O debate, a rigor, já começou. As mídias sociais são o fator novo no grande debate e terão peso decisivo. Os vetores do debate tendem a cristalizar-se em volta das opiniões dominantes e vão balizar as alternativas disponíveis. Os grupos sociais, estimulados pelo debate, vão fazer sua escolhas e apoiar as propostas mais em consonância com seus interesses. As mídias sociais vão filtrar e sedimentar o sentimento nacional. E vão apoiar a economia de mercado e respaldar o sentimento anti-corrupção. Aliás, já vem fazendo isto…

  • Dois temas dominantes: a economia e a corrupção.

A questão da corrupção vai ser importante, sem dúvida, mas a economia deverá ser o mais importante dos temas da eleição.

O eleitorado, hoje mais amadurecido, parece ter aprendido uma lição com a degringolada do governo petista. A lição é que, no final, nós é que pagamos a conta. E que governar não é fazer mágica. Governar é agir pesando as consequências e pensando no bem geral.

Mas sabemos que ainda tem muita gente que vai apoiar os demagogos. Ainda tem gente que acredita em Papai Noel e que existe um jeitinho malandro de obter benefícios sem pagar a conta.

E, ao fim e ao cabo, todo o debate vai, mais uma vez, girar em volta do dilema proposto pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta: “Ou nos locupletamos todos, ou implante-se a moralidade.

Se der a lógica, se decidirmos ser um país sério, o melhor candidato para a presidência deverá ser um político experimentado, comprovado, bem intencionado, sério e bem avaliado. Hoje, em minha opinião, o melhor nome que o país tem é o do Governador Geraldo Alckmin. Afinal, é consenso de que o estado melhor governado do país é o de São Paulo. E seria lógico, portanto, imaginar que o país todo desejasse ser como São Paulo. Mas não tenhamos ilusões. Vai ter quem prefira a mediocridade. Vai ter quem prefira turvar as águas para continuar tirando vantagens e nadando na malandragem.

É doloroso reconhecer, mas nosso debate político ainda vem patinando em ideias dos anos cinquenta do século passado. Ainda assim, o movimento pendular de nossa história nos dá esperanças. Jânio prometeu varrer a sujeira e sua vassourinha. Empolgou a nação, conquistou o imaginário nacional e ganhou a eleição. (Sua renúncia foi uma traição ao seu eleitorado…). O movimento militar veio apoiado pela maioria da sociedade e prometeu um governo sério. (Em 20 anos acabou desgastado, mas hoje todos reconhecem que foi sério e fez muito pelo país.). Collor ganhou prometendo acabar com os Marajás. (Revelou-se um engodo. Ele virou o Rei dos Marajás. Teve sua décrisis, foi impichado, mas foi seu vice, o Itamar Franco, que assumiu e fez o Plano Real.). Fernando Henrique Cardoso se elegeu prometendo fortalecer o Plano Real. (Cumpriu o que prometeu e entregou um país arrumado ao Lula.). Lula, que parecia ser gente boa, foi nossa recaída no populismo. (Sua “carta aos brasileiros” foi apenas mais uma mendacidade de um mentiroso contumaz.). Quanto a Dilma, ela não passou de uma pedra no caminho, de um poste eleito por um marketing charlatão.

Resumo da ópera: sim, dá para ter esperanças. Mas, no fundo mesmo, o que vamos decidir na eleição de 2018 será se aqui, na Terra de Santa Cruz, o crime ainda vai compensar ou se, de uma vez por todas, vai deixar de compensar para sempre!

Acredite. Faça sua parte. Depende de Nós!


Ceska – O Digitaleiro

Plano Real 2.0 – A decência

Arte popular na Avenida Paulista.
Arte popular na Avenida Paulista.

O Plano Real 1.0 – A Estabilidade – Promoveu a estabilidade da moeda e livrou o Brasil de uma inflação crônica que parecia invencível. O êxito inconteste deste plano deu novo alento ao país e assegurou mais de uma década de prosperidade, além de ter vacinado o país contra a inflação. Os efeitos do Plano Real 1.0 vem perdurando e abarcam toda a sociedade. Hoje o Brasil é unânime em dizer: “Inflação Nunca Mais”.

Agora precisamos de um Plano Real 2.0 – A Decência – para vencer a corrupção. Este mal chegou a um nível de infecção generalizada e compromete todas as instituições do país. O executivo está atolado em escândalos e o presidente só escapou de ser processado por negociar no congresso apoios despudorados e por exercer o presidencialismo de cooptação em sua plenitude mais viciosa. O congresso, para juntar o insulto à injúria, vêm com esta proposta que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), considera um “desaforo”: a criação de um fundo público com R$ 3,6 bilhões para financiar campanhas. Os escandalosos salários e vantagens de altos dignitários do executivo, do legislativo e do judiciário são um escárnio diante das dificuldades e carências do país e mostram que os escrúpulos simplesmente desapareceram do três poderes. Desalentado, o país se vê vitima de absoluto desrespeito, sofre com seus 13 milhões de desempregados e vê milhões de cidadãos lutando para sobreviver em meio a maior crise da história, enquanto enfrenta carências de toda a ordem, na saúde, na segurança pública, nos transportes, na educação e em tudo o mais.

Em paralelo, o congresso, de composição medíocre, da qual se salvam alguns poucos, se mostra incapaz de oferecer qualquer perspectiva para o país. Mergulhado em profunda perplexidade, parece caminhar às tontas.

  • A Indignação em ponto de erupção

Existe um nível elevado de indignação na sociedade brasileira. E se a população não está nas ruas isto não significa que está aceitando o atual estado de coisas. Não está. E não se enganem, se a população não está nas ruas é porque não quer protestar só por protestar. Uma vez afastado o perigo mais imediato, que era o desvario da ex-Presidente Dilma, a população está se guardando para sair em apoio a uma causa que valha a pena. Poderá ser uma ideia. Poderá ser um líder. Mas é no vazio de alternativas que mora o perigo. Assim, antes que as multidões se deixem seduzir por algum maluco ou aprendiz de incendiário é preciso oferecer um projeto de moralização do Brasil. Um plano bem estruturado e bem orientado, que una e motive as pessoas. Um Plano Real 2.0, que continue a transformação virtuosa do Plano Real 1.0 e agora se oriente para a moralização do país. Um plano que tenha as virtudes do Plano Real 1.0, como bom planejamento e implementação equilibrada. Um plano, enfim, que tenha o sincero propósito de implantar uma nova cultura de decência no Brasil.

E assim como o Plano Real 1.0 trouxe para o Brasil as boas práticas da gestão monetária adotadas no primeiro mundo, o Plano Real 2.0 deveria se espelhar nas melhores práticas políticas dos países democráticos do primeiro mundo. Chega de jabuticabas. Está na hora de acabarmos de uma vez com esta mania de tentar reinventar a roda a golpes de parvoíce.

  • Plano Real 2.0 – FHC deve ser o líder.

Precisamos vencer o dilema que nos amarra à mediocridade: “Somos corruptos porque somos atrasados ou somos atrasados porque somos corruptos?”

Vencer e afastar a corrupção é a tarefa prioritária da nacionalidade. Chegou a hora de ouvirmos o que Sérgio Porto, o imortal “Stanislaw Ponte Preta”, dizia ser a nossa escolha: “Ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade.” E alertava para o fato de que, se fizéssemos a primeira opção, o planeta não teria dinheiro suficiente para saciar a voracidade de nossos corruptos.

Felizmente o Brasil tem o homem certo para liderar a formulação de um Plano de Moralização e produzir um consenso na sociedade brasileira. O Presidente Fernando Henrique Cardoso já provou que sabe conduzir com bom senso e equilíbrio um plano capaz de mudar fundamentos equivocados do país. FHC já prestou muitos serviços ao pais, mas o Brasil deve pedir mais este serviço ao Presidente do Real. Ao líder que resgatou nossa moeda, que acabou com nossa inflação alucinada, pediríamos que formulasse as diretrizes para o Plano Real 2.0, o plano que teria a finalidade de encaminhar as mudanças no rumo da moralização e da modernização de nossas instituições.

Evidentemente, uma vez feito o plano sob liderança de Fernando Henrique Cardoso, caberia a sociedade apoiar as mudanças constitucionais necessárias e ao eleitorado escolher o executor da grande transformação do país.

De minha parte, acredito que o político mais provado, experiente e capaz de liderar a implementação do plano seja o governador Geraldo Alckmin. Sua administração em São Paulo é evidência de sua capacidade como realizador. E sua liderança firme e de pés no chão é o tipo de liderança que um plano como este precisaria para ser bem sucedido. Um plano sólido, implantado com base no bom senso e em práticas comprovadas nos países de referência democrática, seria capaz, finalmente, de nos livrar da praga da corrupção e de levar o Brasil a cumprir, finalmente, seu destino de grande país. E que teria orgulho em proclamar: “Corrupção no Brasil, nunca mais”!

PS. Diversos comentários questionam como um Plano Real 2.0 poderia se contrapor às mudanças da tal “reforma política”, ora em gestação no congresso. A resposta está na “Lei de Camões” (Como escrita em “Os Lusíadas”):

Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta” 

Se houver apoio popular suficiente, o mundo político encontrará os mecanismos legais para fazer valer o Plano. Uma nova musa que se levante sempre irá deslocar a antiga.


Ceska – O digitaleiro

Os Correios eram assim, nos dias do Coronel Botto

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Cerimônia de Assinatura do Convênio entre a SUDELPA e a ECT. Na foto: 1- Governador Laudo Natel; 2- Cel. Adwaldo Botto; 3- Antônio Castilho; 4- O autor (Celso Skrabe); 5 – Secretário do Governo (Não tenho o nome)

Era uma vez um país que tinha um correio.

Era o melhor correio do mundo. O povo todo confiava. Tudo funcionava como um relógio. O presidente da instituição, um sergipano “porreta”, tinha uma máxima que virou um mantra: “correio é horário”.

Os outros países, acostumados com a malemolência brasileira, no começo ficaram pasmados com a transformação daquele correio vira-latas. – Seria o “super-homem”?  – Depois, ainda incrédulos, se perguntavam como podia existir um correio daquele calibre no país das maracutaias, da selva amazônica, do sertão profundo, do pantanal intransponível, das estradas intransitáveis? Finalmente, se renderam. No Correio do Brasil, o homem que mandava sabia das coisas. Não demorou e a surpresa virou admiração. O respeito internacional cresceu tanto que logo chamaram aquele mago das cartas e encomendas para mostrar como se faz um correio funcionar.

Em 1984, no Congresso de Hamburgo/Alemanha, o Presidente da ECT, Coronel Eng. Adwaldo Cardoso Botto de Barros foi eleito Diretor Geral (Presidente) da UPU – União Postal Universal. A UPU é o órgão da ONU, com sede em Berna, na Suíça, que regula e organiza os correios de todo o planeta. Era o reconhecimento do mundo pela competente transformação nos Correios do Brasil. E tão operosa foi a gestão do Coronel Botto na UPU que a entidade lhe garantiu a reeleição por mais 5 anos, em 1989.

De minha parte, conheci bem o Coronel Botto. Tudo começou quando ele ainda dirigia o Correio de São Paulo, conduzido ao cargo por indicação pessoal do Presidente Castelo Branco.

Eu, em meus verdes vinte e sete anos, trabalhava na antiga AEG Telefunken, onde atuava na área comercial de equipamentos de rádio comunicação em SSB. Estes rádios funcionavam em ondas curtas e usavam apenas meia banda, o que os tornava mais leves (para a época…) e podiam ser instalados em estações fixas ou em veículos, como caminhonetes, ônibus e embarcações. Também podiam ser usados para fonia ou para telegrafia sem fio. Neste último uso, combinando diversas frequências para compensar variações de propagação, eram tão confiáveis quanto a telegrafia tradicional, com fio de cobre.

Um dia, acho que foi em agosto de 1971, logo cedo, ao chegar no escritório que ficava junto ao parque industrial da empresa, instalado em grandes prédios na Avenida Nossa Sra. do Sabará, em São Paulo, a secretária me passa um telefonema:

   – Está no telefone uma pessoa que se diz diretor do Correio e quer falar com alguém da área comercial.

   – Ok, pode passar a ligação.

Do outro lado da linha ouvi o Coronel Botto, embora naquele momento não soubesse de quem se tratava.

   – Bom dia. Sou Celso Skrabe, consultor da área de rádios SSB.

   – Bom dia. Meu nome é Adwaldo Botto, mas todos aqui me conhecem como Coronel Botto. Sou o diretor dos Correios aqui em São Paulo e gostaria de saber se vocês teriam condições de nos emprestar dois rádios SSB no período das férias de verão. Podem ser rádios usados ou de demonstração.

Eu fiquei intrigado. Sabia que o correio não usava rádios para seus serviços de telégrafo. Era uma coisa que já me havia chamado a atenção e que eu atribuía ao nosso atraso tecnológico. Na verdade, eu já tinha fornecido rádios para a Funai, para a FAB e outras instituições que os usavam para comunicação na selva e que, frequentemente, faziam o envio de mensagens da população local. Estas instituições, contudo, reclamavam, já que não tinham infraestrutura para entregar as mensagens aos destinatários. Para fazer o envio precisavam repassar os telegramas para o Correio, acarretando demora desnecessária em mensagens urgentes e ônus para as instituições.

Enfim, fui em frente:

   – Bem Coronel, se eu entendi certo, o que o senhor quer é que emprestemos dois rádios SSB no final do ano, de novembro a março. Seria isto?

   – Sim. Eu gostaria de instalar um dos rádios em Ubatuba, no litoral, e outro aqui em São Paulo para fazermos um teste para nossa área de telegrafia. Hoje não temos um único telégrafo instalado no litoral paulista. Em nenhuma cidade. E, durante as férias, a população cresce muito e reclama da falta de comunicação. E, para piorar, as cidades do litoral também não tem telefone. Ubatuba tem apenas uns poucos telefones públicos e a espera de uma linha para uma ligação, nos meses de verão, pode levar horas. Ir de ônibus é mais rápido do que telefonar. Na alta estação demora duas, três, as vezes quatro horas.

Era verdade. Quando iniciou o governo militar, em 1964, as comunicações no Brasil eram uma coisa medieval. Este estado de coisas ainda perdurava no início da década de 70. Me pareceu, desde logo, que meu interlocutor queria fazer algo para amenizar isto.

Respondi então:

   – Posso verificar se temos equipamentos disponíveis e preciso consultar nossa diretoria para saber se podemos atender. – E lembrei de um detalhe – Se eu conseguir os rádios, o correio já tem as frequências? – No caso, os rádios precisavam de cristais para fazer a modulação. Estes cristais eram feitos sob medida para cada usuário e dependiam de licença do DENTEL.

O Coronel Botto, então, confidenciou:

   – Olha, eu preciso que vocês me emprestem também as frequências. O correio não tem frequências autorizadas pelo DENTEL para uso em telegrafia e eu, como diretor regional, não tenho autoridade para solicitá-las. Minha ideia é que, se conseguirmos fazer uma conexão de telégrafo sem fio bem sucedida, talvez eu possa quebrar a resistência contra o uso de radiotelegrafia no correio e argumentar para a liberação de seu uso com nossa presidência. Se conseguir demonstrar que a radiotelegrafia funciona acredito que possamos comprar rádios para todas as localidades do litoral paulista hoje sem telégrafo. Talvez possamos comprar rádios até para outras praças não atendidas.

Esta questão das frequências me parecia mais complicada do que conseguir os dois rádios. Duvidava que o Dr. Cardoso, nosso presidente, fosse aceitar que instalássemos frequências de teste em rádios que seriam usados para telegrafia pelos correios. A empresa era alemã e seguia normas estritas do que se podia, ou não, fazer. E como o empréstimo de frequências não estava previsto nas nossas autorizações do DENTEL, dificilmente seriam autorizadas. Não era formalmente proibido, mas ficava no limbo legal e eu teria que consultar nossa assessoria jurídica. Traduzindo: era proibido tudo o que não estivesse formalmente permitido.

Aí resolvi pedir uns dias para verificar meios de atender ao que o coronel me solicitava. E, como estávamos em pleno regime militar, me atrevi a perguntar:

   – Coronel, o senhor, com seus contatos no governo, não teria meios de liberar umas duas ou três frequências junto ao DENTEL, mesmo que em caráter provisório?

A resposta do coronel foi direta:

   – Exatamente aí é que está o problema. Falar em telegrafia por ondas curtas aqui no Correio é tabu. Não é que eles desconheçam uma tecnologia que, desde antes da guerra, está em uso em todo o planeta. Mas tem muito dinheiro envolvido nas redes telegráficas de cobre. E tem muita gente lucrando com elas. Assim, jamais eu conseguiria formalizar um pedido de frequências ao DENTEL. Eu não consigo autorização nem mesmo para pedir frequências provisórias. Ao contrário, seu eu mexer errado, posso por tudo a perder e ser proibido expressamente de testar o uso dos rádios. Aí meu projeto vira fumaça e você perde a chance de vender rádios para o Correio. Venha me fazer uma visita eu explico o que está acontecendo.

Caramba, pensei com os meus botões, aí tem algum mistério da “mão invisível do mercado”. Não a mão invisível descrita por Adam Smith, claro, mas aquela outra, bem brasileira, inventada pelo capeta!

Foi a esta altura que tive um estalo e liguei as pontas. Ocorre que, por uma destas coincidências que mostram que Deus ainda não tinha desistido do Brasil, eu havia acabo de fechar a venda de uma rede de rádios SSB para a Sudelpa, a Superintendência de Desenvolvimento do Litoral Paulista. Precisamente a agencia estadual criada para fomentar o desenvolvimento do litoral de São Paulo, onde, claro, se situa a cidade de Ubatuba. Não era preciso ter o QI do Einstein para perceber que havia uma coincidência de interesses: o Correio queria instalar um telégrafo em Ubatuba e a Sudelpa ficaria muito feliz se contribuísse para a instalação do telégrafo em Ubatuba. Afinal, o que mais poderia contribuir para o desenvolvimento da região a curto prazo se não instalar o telégrafo dos correios na época das férias que se avizinhavam? E, ainda mais, a um custo praticamente zero?

Ademais, a Sudelpa tinha as frequências de SSB já concedidas e até já tinha recebido alguns dos rádio comprados. Todos, entretanto, da versão móvel, instalados nas caminhonetas, que foi a prioridade solicitada. A conclusão lógica saltava aos olhos: se o governo do estado cedesse os rádios e emprestasse uma ou duas das suas frequências teríamos resolvido o problema. Ubatuba teria telégrafo funcionando na alta estação e o Coronel Botto poderia mostrar que a solução funcionava.

Por um momento pensei em consultar informalmente o superintendente da Sudelpa, Antônio Castilho, sobre a ideia, mas achei que deveria antes saber como o Coronel Botto veria esta alternativa de solução. Liguei marcando uma visita e, no dia seguinte, na hora marcada, (sete da manhã!) fui vista-lo em seu escritório, no antigo prédio dos Correios, no início da Avenida São João.

Na manhã friorenta do dia seguinte o Coronel me recebeu em sua sala e, após uma conversa introdutória, foi direto ao assunto:

   – A direção nacional dos Correios fica no Rio de Janeiro. E lá, na alta direção, existe uma máfia dos fios de cobre. O presidente é um militar da reserva, mas de patente maior que a minha, e só posso supor que ele também está envolvido no esquema. O pessoal lá do Rio sabe que se ficar provado que os rádios de ondas curtas em SSB podem atender nossa necessidade com telegrafia sem fio, na mesma hora acaba todo o negócio deles e, junto, terminam as propinas milionárias que eles recebem. O esquema é perverso porque o custo de implantar o serviço de telegrafo com fio tradicional é astronômico. Para qualquer localidade são quilômetros e quilômetros de fios e milhares de postes a serem instalados. Além do sistema depender de conexões e triangulações intermináveis, com o repasse de telegramas. Chega a ser ridículo o número de erros nas mensagens repassadas. Sem falar no roubo constante dos fios, fato que requer reposição constante e consome todos os recursos de expansão. E sem dinheiro expansão não há. Desde que estou aqui não implantamos nenhuma nova estação no estado. Por isto, pelo sistema tradicional, o litoral paulista vai levar ainda muito anos para receber o serviço de telégrafo. Infelizmente, para os dirigentes da estatal nada disto importa. Daí meu cuidado em tentar uma operação discreta. Precisamos mudar este estado de coisas, mas se o pessoal da máfia do cobre descobrir o que estou tramando, me impedem ou me demitem na hora.

Ainda retruquei:

   – Mas coronel, sendo o senhor indicado para a Superintendência dos Correios em São Paulo pelo presidente não seria o caso de recorrer a ele?

   – Eu fui indicado pelo Castelo Branco. Tenho bons amigos no governo, mas não tenho a mesma intimidade com o presidente atual. E depois, a situação não é tão simples. Esse pessoal da máfia tem controle sobre a empresa e seus projetos e existem muitos interesses envolvidos. O sistema de telegrafia sempre foi a vaca leiteira da corrupção aqui nos Correios e tem muita gente mamando. Eles não vão largar o osso assim fácil. Sei que tenho a confiança do governo, fui colocado aqui pelo Presidente Castelo Branco, mas prefiro agir de modo a criar fatos consumados e usar a evidencia para forçar as mudanças. Seria desperdiçar a janela de oportunidade que temos se abrir uma guerra interna, um conflito em que a causa maior dos correios e das comunicações pode ser sacrificada em meio a uma luta politica.

Agora dava para entender o dilema do Coronel Botto. Em resumo, se ele tentasse furar o bloqueio da máfia do cobre de peito aberto, possivelmente seria demitido. Mesmo com o ministro e o presidente da República desejando ficar ao seu lado, a realidade é que havia todo um jogo de interesses políticos e militares conspirando contra ele.

A solução imaginada pelo Coronel Botto, assim, era estrategicamente brilhante. Se fizesse funcionar satisfatoriamente uma estação de radio telégrafo no litoral paulista, uma só que fosse, abriria uma brecha na represa da corrupção e a pressão da demanda iria forçar a mudança na política e alterar o jogo. De fato, como alguém iria se colocar no caminho de uma solução que custava menos de 1% do método tradicional, era muito mais versátil, tinha implantação rápida (dias ao invés de anos) e era altamente lucrativa?

O Brasil do início dos anos 70 ainda estava em lua de mel com o governo militar. Os velhos cabides de antes da revolução, como os Correios, esperneavam e resistiam tanto quanto podiam, mas, no caso dos correios, o fim do empreguismo e da corrupção estava à vista e a era de ouro estava em marcha. O coronel Botto era um destes homens providenciais, o homem certo na hora certa. Engenheiro, bem preparado, íntegro, patriota, ansiava por melhores comunicações para o país e sabia que os correios precisavam dos recursos a serem gerados pela expansão dos serviços de telégrafo. O ponto chave de seu plano, contudo, era fazer as evidências falarem por si sós. E para conseguir isto era preciso, como repetia sempre, “navegar abaixo da linha do radar”.

O coronel, a esta altura da nossa conversa, me convidou para ir tomar um café em uma padaria ao lado. O café aos funcionários fora reduzido e só seria servido as dez horas. Enquanto sorvíamos o café cheiroso daquelas máquinas “Monarca”, típicas dos bares paulistas da época, expliquei a ideia de falarmos com a Sudelpa e o governo paulista para atendermos seu plano de conseguir o empréstimo de dois rádios SSB equipados com as frequências. O coronel ouvira falar da Sudelpa, a Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista, mas não tinha conhecimento exato de sua função. Quando terminei de explicar o que aquela instituição fazia e como poderia se associar ao seu plano para levar telegrafia sem fio ao litoral de São Paulo, ele virou um dínamo de entusiasmo. Seus olhos brilhavam:

   – Se a Sudelpa ajudar os correios a operação está garantida. Ubatuba vai ter telégrafo e, depois, vamos conectar todo o litoral.

Em face da manifestação de entusiasmo nem precisei perguntar: a autorização para falar com a Sudelpa estava concedida.

A confiança do Coronel Botto era uma coisa contagiante. Em geral comedido nos gestos, no entusiasmo do momento ele tirava e colocava os óculos sem parar e gesticulava como um napolitano na Festa di San Gennaro.

Assim que nos despedimos peguei meu fusca azul, estacionado ali nas imediações, e subi a Avenida Angélica, onde ficava a Sudelpa.

Me dirigi direto à secretária e pedi para falar com o Dr. Castilho.

A moça me olhou com se eu tivesse chegado de Marte.

   – O senhor tem hora marcada? O Dr. Castilho deve estar chegando e já tem um pessoal esperando por ele para uma reunião.

Eu nem precisei argumentar. O superintendente estava entrando e, ao me ver, veio me cumprimentar com aquele ar de pressa educada. Estava esbaforido e em cima da hora.

Antes que me descartasse fui logo falando:

   – Dr. Castilho, sei de sua reunião e não quero atrapalhar, mas o assunto que tenho é uma oportunidade única e eu precisaria dois minutinhos de sua atenção reservada.

Achei que ele me mandaria voltar mais tarde, mas eu ainda devia estar sob a influência do entusiasmo do Coronel Botto, que era uma coisa contagiosa, e o Dr. Castilho resolveu me conceder os dois minutinhos.

Fomos a uma sala contígua e eu expliquei resumidamente o que tinha a dizer. Os olhos do Dr. Castilho quase saltaram das órbitas.

   – Mas esta é uma oportunidade fantástica! Eu estava precisamente procurando maneiras de mostrar serviço lá na região. Vamos topar com certeza. Pode contar comigo.

Eu me apressei a marcar um próximo passo:

   – O senhor estaria disposto a ter um encontro pessoal com o Coronel Botto para conversar?

   – Sem dúvida nenhuma. E gostaria que fosse o quanto antes. Acontece que eu tenho uma reunião com o secretario nos próximos dias e gostaria de levar a ele esta ideia já mais elaborada.

   – Se o senhor me autoriza, ligo agora de seu gabinete e falo com o Coronel e vejo quando podemos marcar.

Enquanto o Superintendente entrava em sua reunião liguei para o Coronel. Expliquei o resultado do contato e o desejo do Dr. Castilho de fazer a reunião o mais rápido possível.

O coronel respondeu sem titubear um segundo:

   – O mais rápido possível é agora, mas vamos deixar para depois do almoço. Se ele puder me receber, podemos marcar aí as duas horas da tarde.

   – Se o senhor puder esperar na linha, vou confirmar com o Dr. Castilho.

Fiz um bilhetinho e pedi para a secretária levar na reunião e confirmar o horário com o superintendente. A resposta veio escrita em maiúsculas no bilhete: “ESTÁ MARCADO”.

Voltei ao telefone:

   – Coronel, a reunião está confirmada para hoje, as duas horas da tarde.

   – Ótimo, ótimo. Vou cancelar umas coisas que tinha marcado por aqui e chego aí as duas horas.

Acabei ficando por ali. Precisava fazer hora. Comprei um jornal, fui almoçar em alguma espelunca da Angélica, que meu tíquete refeição era igual ao da peãozada da fábrica, e voltei cedo ao escritório do presidente da Sudelpa.

Dez para as duas chegou o Coronel Botto. Vinha acompanhado de um engenheiro a quem incumbiria cuidar dos aspectos técnicos.

Na reunião os dois homens de ação se entenderam de imediato. Sem delongas inúteis, debateram as alternativas. Castilho disse que, caso fossemos usar o rádio das caminhonetes, ele poderia ceder até umas quatro ou cinco para o período das férias daquele ano. Além de Ubatuba poderiam ser atendidas outras cidades. Inclusive Registro, cidade pela qual Castilho tinha grande consideração. Para a estação no correio central eu prometi antecipar a entrega de um rádio fixo e instalar a antena no telhado da agencia central. A reunião do Superintendente da Sudelpa com o Secretário se daria em uma semana e o Dr. Castilho queria um teste do funcionamento da solução para que o assunto pudesse ser levado ao Governador Laudo Natel.

Ao que eu lembro, a reunião se daria na quarta feira da semana seguinte. Então combinamos fazer um teste logo na segunda feira, com uma caminhonete com rádio posicionada próximo a agencia dos correios em Ubatuba e a estação fixa instalada em uma unidade de Assistência Técnica da Telefunken localizada na Avenida Pacaembu, a uma quadra da Avenida São João e a uns dois quilômetros em linha reta da agencia dos correios. Dada a precariedade do tempo, a antena seria fixada provisoriamente do lado de fora, estendida entre duas janelas.

Tudo pronto, uma caminhonete instalada em Ubatuba e o rádio na Barra Funda instalado, as nove horas começa o teste para valer. Os dois pontos já tinham feito contatos bem sucedidos, mas agora era oficial. Estavam na sala, em São Paulo, o coronel Botto, seu engenheiro, o Dr. Castilho, um engenheiro da Polícia Militar de São Paulo especialista em comunicações, eu e meu chefe na Telefunken, Wayland Coats além, obviamente, de um operador do rádio e do telegrafista do correio. Nove em ponto, o rádio ligado, entra a voz do operador de Ubatuba, falando da caminhonete.

   – QRA Ubatuba – QAP (Estação na escuta).

O sinal vinha claro e límpido, tanto quanto era possível, considerando que o SSB aproveita só meia banda. Mas a emoção tomou conta da sala.

O operador de São Paulo responde:

   – QRA estação São Paulo. Sinal com clareza cinco. Repito, clareza cinco.

Nem precisava repetir. Óbvio que, se era clareza cinco é porque era clareza cinco. A comunicação era limpa e perfeita.

Em seguida São Paulo inicia o teste para valer:

   – Segue QTC em Morse.

E ambos os telegrafistas fizeram a troca de mensagens em condições tão boas quanto o fariam no telégrafo com fio. Bastou uma tentativa. E até houve espaço para o humor:

   – Favor QRQ (transmita mais depressa…)

Terminada a troca de mensagens, todos na sala sentiram a mesma emoção que devem ter sentido os cariocas que testemunharem a iluminação do Corcovado, em 12 de outubro de 1931, quando, numa cerimônia organizada pelo jornalista Assis Chateaubriand e presidida pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Paes Leme (filho de Espírito Santo do Pinhal) e pelo Presidente Getúlio Vargas, o cientista italiano Guglielmo Marconi, inventor do rádio, e o Papa, acionaram um dispositivo que enviou um sinal de rádio que iluminou o Cristo Redentor. A iluminação que brilhou no céu aconteceu no início da noite, as 19 horas e quinze minutos e assim foi relatada por Marconi, em sua biografia escrita por Filippo Garozzo:

“Então todos ficaram olhando para o morro, esperando o milagre a ser produzido pelo homem. E o milagre aconteceu pontualmente. O Papa e Marconi, em Roma, apertaram uma chave de transmissor e um sinal partiu rápido da Cidade Eterna, deslizou sobre o Atlântico mais velozmente que o relâmpago, e atingiu o Cristo Redentor, construído sobre o Morro do Corcovado, na Baía de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa. E o Cristo, de repente, ficou tão resplandecente e brilhante de luz que mais se assemelhava a uma festa! Parecia até outro Cristo, risonho e mais bonito, agora que estava iluminado e inaugurado pela mão do Santo Padre e pelo gênio de Marconi.”

O espantoso desta história é que o corrupto Correio brasileiro da época, mesmo depois de atravessar quarenta anos e uma guerra mundial, ainda enfiava a cabeça na areia, ainda parecia não ter tomado conhecimento das ondas de rádio e se aferrava aos fios de cobre.

De toda forma, após o teste entre o litoral e a capital, estava resolvida a questão técnica. Faltava, agora, resolver a questão política.

O Dr. Castilho levou os laudos do teste para o Secretário, que, junto com o Superintendente da Sudelpa, os levou ao Governador Laudo Natel. Esta reunião não assisti. Mas soube dos resultados depois.

Segundo o relato do Dr. Castilho, o governador ouviu todo o relato e deu uma olhada nos laudos para então dizer:

   – Os senhores devem estar brincando comigo. Como eu posso justificar para a opinião publica que vamos beneficiar apenas uma cidade em detrimento das outras?

O secretário e o Dr. Castilho tentaram justificar:

   – Desculpe, governador, mas nossa proposta é emprestar os rádios para atender um pedido do Correio e começar fazendo um teste. Primeiro seria Ubatuba, mas depois o correio nos assegurou que vai poder estender o serviço para as demais localidades…

O governador teria ficado impaciente:

  – Quanto custa cada estação? – Quis saber o governador.

  – Metade do custo de um fusca, foi como o Dr. Castilho teria respondido.

  – E quantos postos de correio existem no litoral?

  – Cerca de vinte localidades.  – Teria sido a resposta do Dr, Castilho.

Laudo Natel, então, teria resolvido a questão:

   – Se este é o número vamos fazer nossa parte. Vamos formalizar logo um convênio doando os rádios ao Correio e oferecermos telégrafo no litoral paulista ainda neste verão. Vamos comprar os rádios e fazer uma festa nas vinte localidades logo que começar a alta temporada.

   – Mas será que teremos tempo? – Quis saber o Secretário.

   – Os senhores já devem conhecer minha frase preferida: “fazer o possível agora e o impossível depois.” Se precisar, o senhor empresta suas caminhonetes.  Então vamos logo adquirir os tais vinte rádios e providenciar imediatamente o convênio para oficializar a doação da Sudelpa para os correios.

E assim foi feito. O governo de Laudo Natel celebrou o convênio entre a  Sudelpa – Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista e a ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, formalizou a doação dos rádios – como ficou registrado no flagrante acima – e inaugurou os novos pontos de telégrafo naquela temporada de praia com uma grande festa. E todos foram felizes até quando uma nova geração de corruptos ressurgiu nos governos Lula e Dilma e passou a meter a mã0 e novamente avacalhar com os correios. 

PS.

1) – Os rádios foram entregues a tempo mas as frequências estavam demorando perigosamente. O governador, por seu turno, queria que os rádios fossem instalados já com as frequências definitivas. Acontece que o Dentel estava criando problemas. Contaram-me que o governador, em raro momento de irritação, teria ligado diretamente para o Presidente da República, o General Médici. Como por encanto, as frequências vieram rapidinho e a tempo.

2) – Quando a máfia do cobre e a alta direção dos correios soube do “golpe baixo” do Coronel Botto ficou espumando de raiva e foi reclamar com o presidente. Pensaram que iam tosquiar o coronel Botto mas saíram tosquiados. A solução foi típica do governo militar: a diretoria corrupta foi demitida sem delongas e – surpresa! – sabem quem foi escolhido como o novo presidente da Empresa Brasileira de Correios? Ele mesmo, o Coronel Adwaldo Cardoso Botto de Barros, o sergipano porreta, o Coronel Engenheiro do Exército Brasileiro que mais entendia de comunicações e um personagem que nos enche de orgulho e que marcou seu nome na história como o responsável pela criação do serviço de SEDEX, pela criação do POSTALIS e pela era de ouro do correios do Brasil. De sobra, ainda dirigiu a renovação tecnológica dos correios de todo o planeta. O resto da história vocês já conhecem.

3) – Muitos anos depois reencontrei o Coronel Botto no Aeroporto de Guarulhos. Ele já era, então, presidente da UPU – União Postal Universal. Ao me ver, o coronel Botto veio ao meu encontro e fez questão de me convidar para um café. Nos quinze minutos que faltavam para seu horário de embarque, relembramos o episódio dos rádios e dos “telégrafos de férias”, episódio que ele lembrava com carinho e via como “a mudança da maré” de sua carreira nos Correios, que presidiu por 12 anos, e, por extensão, de seu papel como líder mundial dos correios por oito anos. Fez-me um convite para visitá-lo na Suíça, mas vai ter que ficar para uma outra vida. Nunca mais o vi, porém tampouco o esqueci. E foi com grande tristeza que li a notícia de sua morte em janeiro de 2015, quando nos deixou, aos 90 anos de idade.

Homens como ele temos poucos e nos fazem muita falta. Que seu legado de competência e integridade frutifique e que Deus o tenha.


Celso Skrabe


Lula e o Vaso Chinês

 

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Lula mesmo disse que é agora só um “Vaso Chinês”. Ele elegeu um poste e acha que agora elege um vaso? Tá tudo muito doido.

  • Lula e o Vaso Chinês

O Lula é finório de papo e, de prosa, muito bom,

tanto que garante, na conversa vaidosa, que o país não tem “alma mais pura”,

só que o maroto de sempre fez do Brasil sua troça e de nosso futuro sepultura;

Moleque, comia calango cozido no ensopado de jerimuns,

depois, já em “Sum Palo,” tomou gosto em usar o gogó e tapear o povo sofrido,

se fazendo de grande amigo nos discursos de paletó;

Competente prometedor de vício antigo, prometeu tudo de baciada.

Promessa fez de montão, mas era tudo fantasia

de uma falador que se fazia de Patativa do Garanhuns;

Demagogo caviloso e muito esperto, um jagunço redivivo,

sempre foi imbuído da mais pura desfaçatez.

Enganou gente com fome e deixou amargurado quem pensou que teria vez.

Rei da “istripolia”* tenebrosa, foi um presidente comodista.

Querendo, tudo podia, posto que tinha o poder da nação,

mas todo dia mentia e, por sua gente, não se atrevia nem um tiquinho não;

Homem tosco e de pouca cultura, à beber sabedoria ele preferia uma boa pinga,

o cabra tinha medo de livro e do saber corria feito o diabo da cruz,

porém lábia tinha muita sobrando e ludibriava o povo como ninguém;

Com seu talento maneiro e um traquejo verbal colosso,

tivesse sido homem digno, ou mesmo um poeta de tabuleta,

teria enricado e virado santo só fazendo rima e caçando “barbuleta”.

Mas sendo um insensato que pela ambição foi picado,

vendeu fiado sua alma ao capeta e logo trocou tudo e fez errado:

meteu os pés pela mão e, aloprado, “Cantou cá” o que devia “Cantar lá”.

Tivesse sido fiel a seu berço, ao seu povo e sua nação,

tivesse refreado, só um pouquinho, sua insana ambição,

teria sido, se fosse bom e honesto, o grande presidente da redenção.

Mas, qual nada, era fraco de caráter e gostou do encosto macio.

Se cercou de puxa-saco e zuniu de avião a jato, movido à corrupção.

Virou um “bon vivant”, liso como quiabo, esperto como o diabo e malandro como o tiziu.

Lula, cabra indomado, vaidoso e arrogante, se deixou cair em tentação.

Deu uma banana malvada, rasteira e desalmada, ao seu povo sofrido,

que só teve consolo num bolsa família de ralas migalhas de humilhação.

Mascate de ilusões tarimbado, Lula pegou na mão o que pode,

enricou ainda mais os ricos e mandou dinheirama até para outras nações,

mas o Brasil, pobre coitado, além de pagar a conta, ficou na pior condição.

E diferente do Patativa do bem, que cantou as mágoas de quem pouco tem,

esse embusteiro terrível só queria mesmo levar vantagem

e, para dizer a verdade, nunca foi leal a ninguém.

Agora, o país lastima o tanto de dinheiro roubado no governo dele e da Dilma,

enquanto falta hospital e falta tudo mais na sofrida “classe matuta”,

“que nem em sonho mais desfruta as riquezas do Brasil”;

Lula, se acaso fosse mesmo verdade que ele nada sabia,

como repete, com monotonia, o seu surrado refrão,

seria pior que um mau vigia que abre a porta da casa para deixar entrar o ladrão;

Todos sabem que um corno só é enganado se for frouxo ou bobalhão.

Se roubaram nas suas barbas fortunas de muito milhão,

além de ser condenado, merece uma surra de vara do sofrido povo do sertão.

E nosso triste nordeste, ainda mais empobrecido e calcinado,

outra vez foi logrado sem a menor contemplação,

e, decepcionado, ficou ainda mais “nordestinado” depois deste sonho de verão.

E se pensa, este traíra, viver de luxo no bem bão,

o velhaco se engana total e completamente. Que bote as barbas de molho

que desta vez não escapa das grades da prisão.

E agora, desmascarado, que sabe não ser mais nada,

que desceu do pedestal, que é réu na Lava Jato da Justiça Federal,

ainda vive se iludindo com o poder que já não tem mais;

Quer de novo, este tratante, voltar a ser presidente,

dizendo, na cara dura, que vai arrebentá e prendê. Mas ele está muito enganado,

pois seu prestígio é do passado, tal como foi do passado sua força e seu poder;

Ao povo brasileiro, este sujeito matreiro, nunca mais engana não.

E se ainda tivé povinho prá acreditá na sua enganação,

o santo padinho Ciço vai mandá todinho ele para a eterna danação.

Mas pretensão é pior que bicheira prá apodrecê coração.

Esta vontade traiçoeira de mandá no povo de novo e que faz coceira na sua língua,

só precisa um gole de pinga prá desandá em falação.

Mas a um povo inteligente só se engana uma só vez;

Lula, por isso, disse ao Moro, falando de sem pulo, sem saber bem o que fez:

Eu já não sou mais presidente. Agora eu só sou um “Vaso Chinês”!.


 Ceska – O digitaleiro


(*) As expressões e frases em itálico foram inspiradas em poesias de Antônio Gonçalves da Silva, poeta e trovador cearense conhecido como “Patativa do Assaré” (1909 – 2002).


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Vamos nos alinhar ao mundo que deu certo, para variar?

O mundo contemporâneo, este que emerge da Quarta Revolução Industrial, o chamado Mundo 4.0, gira em volta da Inteligência Artificial (IA). Este mundo em transformação, revolucionário e disrruptivo, vem quebrando todos paradigmas. Para começar, o mundo já não se divide mais entre esquerda e direita. Ele se divide em digital e analógico; em funcional e disfuncional; em veloz e capenga. Este novo mundo é conectado ao universo digital e vai se distanciando cada vez mais das partes velhas, desarvoradas, sem eira e nem beira, perdidas na poeira das nações de ponta.

A diferença entre as nações bem sucedidas e as fracassadas se acentuará de modo irreversível à medida que a Quarta Revolução Industrial for mudando a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. A Primeira Revolução Industrial utilizou água e vapor para mecanizar a produção. A Segunda se valeu da energia elétrica para criar a linha de montagem e a produção em massa. A terceira usou a eletrônica e a tecnologia da informação para automatizar a produção. Agora, a Quarta Revolução Industrial vem no bojo da Inteligência Artificial. Mais do que nunca, será o novo contra o velho; o múltiplo contra o monocórdio; o inteligente contra o obtuso.

O Brasil, felizmente, tem núcleos que já ingressaram no Mundo 4.0. Empresas como Embraer, Tramontina, Fanem, para ficar apenas em algumas que atuam no cenário mundial, já estão neste mundo novo. O agronegócio brasileiro figura entre os mais avançados do planeta. Nele a IA – Inteligência Artificial – vem sendo adotada intensivamente. Tratores e colheitadeiras dispensam operadores e trabalham com piloto automático, orientadas por GPS. Drones supervisionam do ar rebanhos e lavouras e fazem pulverização de fertilizantes e inseticidas. O gado é rastreado com chips de RFID. Isto tudo da porteira para dentro, claro, porque da porteira para fora caem no Brasil meia-boca de sempre. Armazenagem insuficiente, estradas imprestáveis, ferrovias por construir, portos limitados e subdimensionados. Um Brasil imensamente rico em potencial, mas contaminado pela corrupção, dirigido por incompetentes e pilhado dia e noite por bucaneiros da política, salvo as honrosas exceções, que existem e são fonte de esperança e alento.

Agora, porém, em meio a maior crise de nossa história, chegou a hora de repensarmos o Brasil. E de reformarmos este arremedo de democracia que tem se mostrado uma madrasta para o país.

Para fazermos nossa democracia alinhar-se aos requisitos da Quarta Revolução Industrial precisaremos que atenda três exigências:

  • – Deve ser digital, conectada, inteligente, online e funcionar em tempo real;
  • – Deve ser aberta ao cidadão, criar espaço para o debate permanente das questões mais importantes, e permitir que de todos os interessados na política do país tenham acesso a canais de transparência com todas as áreas do governo;
  • – Ser capaz de integrar os cidadãos no processo de tomada de decisão, oferecendo suporte decisório baseado em “evidências” sobre tudo o que diga respeito a vida da sociedade e as boas práticas.

Em princípio, não é difícil, havendo vontade. Mas temos que entender que a democracia Brasileira enfrenta um desafio de vida ou morte. Se não transformar-se radicalmente, continuará vulnerável ao assalto de demagogos e populistas. Se vierem demagogos populistas, com desclassificados padrão Lula, a crise não se resolverá nesta geração. Tomada por desalento, a democracia será dissolvida no ácido de seu fracasso e de sua inépcia. E termos uma ditadura no horizonte.

Mas sejamos otimistas. A oportunidade que o Mundo 4.0 nos abre, com as novas tecnologia e a Inteligência Artificial, permite que venhamos a ter uma democracia inovadora, vibrante e alinhada com a cibernética, para substituir a atual que é burocrática, caduca, lenta e fenecente.

A chave, contudo, para o êxito de uma democracia digital no Mundo 4.0 não se limita à velocidade nas decisões, por exemplo, mas em ser capaz de azeitar o funcionamento da sociedade para que esta possa cumprir seu papel e atender as expectativas de seu povo, operando com eficiência, eficácia, equidade, precisão e qualidade. Sua arquitetura deve articular as melhores decisões possíveis. Decisões bem informadas, provadas e comprovadas, baseadas nas melhores “evidências” disponíveis.

  • O mundo digital já está entre nós

No Brasil já está todo mundo na orbita digital. Nem que seja ao assistir televisão.

Os brasileiros, especialmente os das novas gerações, já vivem na era digital. Segundo o Jornal O Estado de SP, com dados da 28ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), de março de 2017, o Brasil terá um smartphone em uso por habitante até o final de 2017. Com crise ou sem crise, ainda de acordo com a pesquisa, até outubro a base de smartphones no País será de 208 milhões de aparelhos.

Hoje, o País tem 198 milhões de celulares inteligentes em uso, crescimento de 17% na comparação com o ano passado. Um número que continua crescendo. A expectativa é de que, nos próximos dois anos, o País tenha 236 milhões de aparelhos, um crescimento de 19% em relação ao momento atual. Sem esquecer que o Brasil tem também 162,8 milhões de computadores (entre desktops, notebooks, e tablets) em funcionamento, um crescimento de 5% na base instalada com relação ao levantamento de 2015. Até o final do ano serão 166 milhões de computadores em uso, sendo cerca de 33 milhões de tablets.

O mudo digital também já chegou aos bancos brasileiros e ao imposto de renda. Como seria de esperar, para cobrar juros e cobrar impostos já estamos na era digital. Falta chegar na democracia.

Agora, achar que vamos ficar encalhados numa democracia “carro de boi” é tolice. Os jovens já vivem em outra dimensão e vão simplesmente passar por cima dos que ficarem no caminho. Os políticos do antigamente, do tempo do onça (eita!), podem não gostar, mas a transformação digital vai jogá-los ao relento. O país está pronto para fazer as reformas transformadoras e abrir as portas do século XXI, um século que ainda não alcançamos.

  • A Democracia fascinante

Brava gente brasileira, já podemos antever os contornos desta nova democracia de perfil digital. Como em outros campos transformados pela Inteligência Artificial, a nova democracia digital tende a funcionar em volta de uma grande “nave mãe” virtual, aberta para a participação cidadã, tendo à sua volta os “c-pods”, os “civic-pods”, núcleos de opinião e grupos de interesses específicos, organizados por áreas e temas, aos quais os cidadãos poderão aderir usando seus títulos de eleitor eletrônicos para ter amplo acesso à transparência, as informações e as decisões dos três níveis de governo.

Estes aplicativos permitirão participar de debates e de decisões, votar e cobrar resultado de seus eleitos. Organizar e encaminhar projetos de lei de iniciativa popular e muitos outros. Essa democracia digital será infinitamente mais inclusiva, mais participativa, mais transparente e mais equitativa. Até muito mais alegre e divertida. Além disso, como o mundo digital está ainda em formação, a nova fronteira é território aberto, pronto para ser desbravado e conquistado.

De uma coisa, contudo, já podemos ter certeza: a era da Quarta Revolução Industrial, a era da IA – Inteligência Artificial – vai mudar profundamente as práticas democráticas e, com elas, as formas de governar e prestar contas aos eleitores.

Basta imaginar qual seria o impacto da adoção de “câmaras testemunhas” em obras públicas. O cidadão interessado em uma determinada obra poderia, ele mesmo “fiscalizar” sua evolução. Um fórum associado permitiria opiniões e críticas. E, acreditem, nada levanta um traseiro mais depressa que fogo em baixo do banquinho!.

Ademais, pode-se prever que nosso titulo de eleitor será a senha aplicativos pessoais, para acesso a informações sobre indicadores democráticos, bem como para o exercício de votos online em consultas públicas e assinaturas pré-validadas para abaixo-assinados e projetos de lei de iniciativa popular. A senha servirá, ainda, para contato autenticado com autoridades e representantes no legislativo. Nós, o povo, vamos ter muito mais força, muito mais direitos, mas também muito mais responsabilidades. A democracia que teremos será menos distante e mais inteligente; menos perfunctória e mais funcional. Além de menos vulnerável a fraudes e a manipulações.

Apenas para ilustrar, uma boa “evidência” sobre como os cidadãos querem acompanhar as coisas que lhe dizem respeito são os 222.086.385 de visitantes que foram ao site da SABESP conferir os níveis dos reservatórios da capital paulista entre maio de 2014 a 01 de março de 2017. Ou seja, deixa só este povo tomar gosto pela democracia digital. Vai ser a maior limpeza das teias de aranha de nossas instituições já registrada em nossa história.

  • Democracia Inteligente

A Democracia Inteligente  do Mundo 4.0 vai colocar o cidadão no centro do processo político. Não será só na hora de votar que o cidadão terá voz e vez. O chamamento à participação será permanente e dinâmico, o que significa que o cidadão deverá também saber mais em relação aos assuntos do governo. Para tomar posição em temas como a reforma política, na economia, nas questões sociais, nas leis e decretos, o cidadão precisará de boas informações e bons comparativos sobre os efeitos das decisões que vai tomar. Saber qual o custo social a pagar e quais os resultados a esperar.

De maneira que, para melhor exercer sua cidadania, precisará dispor de “evidências” sobre o que funciona e o que não funciona.

O movimento mundial em favor de decisões baseadas em evidências começou com a Medicina Baseada em Evidência (MBE). Em pouco tempo revolucionou a prática médica e mostrou-se um instrumento de enorme valia para orientar boas decisões na medicina. O sucesso levou a enfermagem a logo adotar sua versão por meio das “Práticas Baseadas em Evidência”. Outras áreas a adotaram na sequência, como Nutrição e Fisioterapia. Hoje é difícil encontrar uma área da saúde que não tenha a sua versão da metodologia. Campos de atividades correlatas logo também abraçaram a experiência, a exemplo da Arquitetura e do Design Hospitalares. Em pouco tempo surgiu um movimento mundial para acabar com o “achismo” e que tornou as decisões com base em evidência em um conceito multidisciplinar. Hoje, este método de basear decisões numa sistemática de evidencias já foi adotado por áreas como Administração, Economia e dezenas de outras.

Dado o êxito destacado desta metodologia, tudo indica que seus princípios seriam aplicáveis a uma Democracia Baseada em Evidência no Brasil.

Seguir as “evidências” nos ajudaria a evitar equívocos e erros dolorosos, como o nosso presidencialismo imperial e as eleições proporcionais com desequilíbrio na representação na Câmara. Ocorre que há uma distorção no modelo atual. As regiões mais povoadas e avançadas, sul e sudeste, têm uma representação proporcionalmente menor que as menos povoadas.

Entre os benefícios, desde logo a DBE nos auxiliaria na tarefa de exorcizar essa nossa mania de adotar políticas jabuticabas, que só existem aqui. Esta insistência em inventar políticas “heterodoxas” tem uma explicação: fica mais fácil encobrir a corrupção e a incompetência quando se adota um modelo politico turvado e opaco. Tal é o caso da estapafúrdia “Nova Matriz” econômica”, um conceito destrambelhado adotado pelo duo Lula e Dilma. A explicação é rasa: com adoção de uma falsa democracia, o que temos é um mero arremedo democrático, os indicadores tradicionais passam a ser rejeitados sob o argumento de que “não são aplicáveis”.

Qualquer sociedade precisa de uma organização e uma disciplina interna para funcionar. Disto não há dúvida. Consequentemente, é preciso que exista uma autoridade que atue sistematicamente para manter o conjunto funcionando. Está implícito no significado de sociedade que seus membros compartilham interesses ou preocupações mútuas visando um objetivo comum.

O principal objetivo comum de um país, supõe-se, seria o bem estar de seus cidadãos. Mas, no Brasil, o deposto governo de Dilma já não tinha mais este objetivo. Seu propósito se tornou ter e manter o poder. O sonho petistas era chegar a um poder ditatorial, como em Cuba e na Venezuela. Ditadores, como Raul Castro, em Cuba, ou Maduro na Venezuela, ditam as ordens e o povo ou se submete ou é reprimido. No Brasil, porém, já existe uma sociedade suficientemente bem informada e articulada para torpedear este tipo de pretensão totalitária. Este tipo de ameaça já foi vencido mais de uma vez, mas sempre a custo de muita angústia e sofrimento.

Como sabemos, foi para evitar o trauma das revoltas populares e limitar o poder absoluto dos monarcas que a civilização criou a democracia. Este regime, mesmo que imperfeito, é, no dizer de Churchill, “o pior dos regimes, exceto todo os outros”. De modo que nada temos de melhor ou mais civilizado para organizar a sociedade e dar voz e vez aos cidadãos. Mas sempre será possível aperfeiçoar a democracia e seus mecanismos de empoderamento dos cidadãos.

O que precisamos aceitar, no entanto, é que uma democracia é, por natureza, um sistema de permanentes tensões e disputas. Precisamente por esta razão precisa de mecanismos rápidos de ajustes e de acomodação de interesses.

O homem sempre quer mais e nunca está satisfeito. Talvez esta ambição ilimitada explique porque o homem saiu das cavernas para conquistar o espaço. Decorre daí que as demandas nunca acabam. As sociedades se formam e existem em um contexto dinâmico, insertas que estão na natureza e competido umas com as outras. Portanto, vivem em um mundo de cotidiana tensão. O que equivale dizer que em nenhuma sociedade moderna os dias são sempre iguais. São estas disputas que produzem as mudanças e fazem a história. O pressuposto é que, se nada é permanente e tudo é fluído, a conclusão é que o bem estar geral irá refletir a qualidade das decisões. Estas vão moldar o momento e as circunstâncias. Tempos de vacas gordas e de vacas magras sempre acompanharam a história do homem. A escassez sempre foi um inimigo a ser combatido. Aliás, é bom lembrar que a disciplina da economia foi criada para lidar com o fenômeno da escassez.

Os povos bárbaros sofriam as crises de escassez e a elas se conformavam sob a crença de que sua penúria vinha dos deuses. Os povos subdesenvolvidos acreditam na lorota de que suas agruras venham dos inimigos externos. O esquerdistas de Cuba e na Venezuela culpam os Estados Unidos. Já os povos civilizados aprenderam que a pobreza não vem da maldição divina, mas das decisões equivocadas de seus governantes. Ao evoluírem, passaram a exigir bons governantes e querem ser consultados naquilo tudo que tenha a ver com seu destino. Os povos civilizados querem resultados e por isto querem votar e influir nas em suas sociedades.

Ocorre que o processo democrático, sendo obra dos homens, é passível de distorções, vícios e imperfeições. Sem falar, claro, da demagogia, da irresponsabilidade e da mais destilada hipocrisia.

No mundo civilizado acredita-se em valores como equidade, igualdade e justiça. Algo que os gregos, desde Clístentes, chamavam de “isonomia”. Modernamente, este conceito abarca a noção de cidadania, sendo o cidadão, por definição, membro ativo da sociedade e partícipe da construção de sua história. E foi para proteger o cidadão, seus direitos e deveres, que a civilização engendrou a divisão dos poderes entre executivo, legislativo e judiciário.

Norberto Bobbio, que era socialista, mas temperava seus pecados com um vigorosa defesa da democracia e acreditava na separação de poderes, indicou pelo menos três fatores que dificultam um projeto democrático efetivo nas sociedades contemporâneas: a especialidade, a burocracia e a lentidão do processo.

O primeiro obstáculo seria derivado da complexidade da vida contemporânea, que demanda competências técnicas de “especialistas” para dar solução a inúmeros problemas públicos, notadamente em economias altamente reguladas e planificadas. A complexidade dos problemas dificulta o entendimento das soluções por parte do cidadão comum e abre espaço para “especialistas” que usurpam o poder político ao tomar decisões contrárias ao interesse da maioria. As ditas “soluções técnicas” dificultam a hipótese democrática de que todos podem decidir a respeito de tudo.

O segundo obstáculo resulta da expansão exagerada da burocracia, um aparato de poder sem mandato, ordenado hierarquicamente de cima para baixo, em direção totalmente oposta ao sistema de poder democrático.

O terceiro obstáculo vem do desejo equivocado das esquerdas de fazer com que o Estado tome o lugar de Deus e se torne o grande provedor da sociedade. Políticos demagogos se valem do desejo legítimo das pessoas de obterem renda e se sentirem seguras e prometem que o estado oferecerá estas duas benesses a troco do voto. Prometem o que não existe: o almoço grátis. Com sua demagogia irresponsável estimulam demandas irrealistas dirigidas ao Estado. Um povo dependente do estado é mais propenso a ser seduzido pelas promessas populistas. Ocorre que o Estado não produz riquezas, apenas se apropria daquela produzida pela sociedade. O resultado prático é que, ao invés de atuar para equalizar as oportunidades, o estado cria privilégios, benefícios e benesses para os grupos mais influentes, favorecendo corporações e grupos específicos. Esta tendência s torna ainda mais aguda no voto proporcional. Neste modelo os candidatos representam corporações e grupos e são facilmente seduzidos pela corrupção. Ao usar o estado para favorecer aos “amigos”, tirando dos que produzem para dar aos aliados, acaba criando descontentamento e minando as bases em que se assenta democracia. Quando a Democracia se desfigura e não tem mais legitimidade para encaminhar o debate político, uma crise é inevitável. Sem confiar nos seus ditos “representantes” fica comprometido o convívio democrático e esgarçada a coesão social.

  • Sincrisis “versus” décrisis.

Se, eventualmente, a perturbação do equilíbrio é corrigida por algum mecanismo homeostático, como eleições periódicas que permitam a mudança do poder, a crise pode se limitar a uma “síncrisis”, uma crise que se resolve de forma não traumática. Por exemplo, em um governo parlamentarista, uma crise do governo dificilmente evolui e se resolve com um voto de desconfiança e a substituição do primeiro ministro. Se, porém, a democracia não possui os instrumentos de defesa e de reequilíbrio ágeis para conter a erosão das instituições, as características da crise podem levar a impasses e ao esgarçamento de sua coesão. Neste caso sobrevém uma “décrisis”, um processo de falência múltipla das instituições democráticas. O exemplo das crises do presidencialismo brasileiro ilustra bem os efeitos das “décrisis”. Quando uma crise aguda se instala, dificilmente se tem um bom prognóstico. O ambiente politico vira um “salve-se quem puder” e os acordos e os mútuos compromissos do arranjo social, que implicam em concessões em nome do bem comum, deixam de valer.

A piora gradativa leva à desordem, ao descontrole e, finalmente, desemboca no caos. Para impedir a evolução de uma “décrisis” é preciso interromper o processo de desagregação. Na atual “décrisis” brasileira, que continua sem uma solução definida, a saída da ex-presidente Dilma permitiu um alívio momentâneo. Seu desfecho, contudo, ainda é uma incógnita. As mudanças estão no rumo certo, mas se mostram tímidas demais para o porte da catástrofe em curso. Para reverter a situação política do país e estabelecer um círculo virtuoso que converta a “décrisis” em uma “síncrisis”, é preciso mais do que parar de piorar. É preciso que sobrevenham fatos novos.

  • A oportunidade que vem da “décrisis”

Em uma sociedade que conta com uma escassa “massa crítica” de bom senso, como a brasileira, resta o instinto de sobrevivência como antídoto para uma “décrisis”. Os milhões de brasileiros que saíram às ruas no “fora Dilma” evidenciam que a sociedade está alerta e disposta a tomar posição. As multidões deixam claro que não vão aceitar um destino e segunda classe.

A lamentar, contudo, é que não se pode esperar muito deste congresso ou do governo Temer. A maioria dos atuais políticos no governo e no congresso estão implicados e tem contas a prestar.

Mas podemos encontrar um lado bom neste cenário de crise e de obtusidade política. A necessidade é a mãe das soluções. Então, a mesma sociedade que se mobilizou nas manifestações poderá se mobilizar para acertar as coisas no Brasil. Vamos precisar de muito jogo de cintura e, talvez, fechar os olhos para muita coisa errada, mas não adianta chorar o leite derramado. Transformar o Brasil é imperioso, posto que de crise já cansamos. Multidões na rua podem ajudar a encontrar um novo caminho. Multidões nas mídias sociais também podem. Mas que caminho? Corrupção e mentiras não queremos. Engodo nem pensar. Sim, é verdade que ainda estamos imersos em perplexidade, mas não será por muito tempo.

  • O jeito de mudar certo

Confúcio nos dizia que há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.

Como não aprendemos pelos dois primeiros métodos e hoje sofremos com mais de 14 milhões de desempregados (e crescendo…), estamos acumulando uma divida colossal e regredimos com uma recessão por dois anos seguidos, com uma queda, segundo a Folha de S. Paulo, de 9,1% do PIB “per capita” desde 2014, tudo o que nos resta é engolir seco e aproveitarmos as lições mais amargas que nos vem da experiência que estamos vivendo.

  • Encruzilhada da ação

O que temos claro é que nos encontramos diante de uma encruzilhada. Ou abraçamos as mudanças necessárias ou vamos avançar rumo a um despenhadeiro de empobrecimento e mediocridade. O caminho que escolhermos agora vai definir o que seremos como nação no restante do século XXI.

  • Aprendendo a transformar com base em evidência

Recapitulando, já sabemos que nossa democracia é um arremedo. Que nossos políticos, salvo exceções, são uma lástima. Despreparados, desinformados, superados, isto quando não mal intencionados. Uma parcela deles são apenas e tão somente “picaretas”. Mas o povo brasileiro tem alma democrata. Gosta de votar. As eleições o Brasil são uma festa. Pena que os candidatos sejam uma lástima.

  • Mas por quê?

Dá para deduzir que alguma coisa está errada no processo. Certamente, o presidencialismo e voto proporcional tem boa parte da culpa. O voto distrital traria outro perfil de candidatos. Mas não temos voto distrital. Nem parlamentarismo. Estas duas mudanças já seriam um avanço, mas elas não virão sem um movimento popular que as respalde. E mesmo sendo fundamentais, não esgotam as transformações possíveis e desejáveis para uma democracia do século XXI. E neste ponto é que viria a calhar uma nova metodologia de transformação democrática para o Brasil. Uma nova forma de examinar e diagnosticar os nossos males, de reunir e comparar as alternativas, de escolher as melhores soluções e de trazer a sociedade, a cidadania e o povo para ter participação 24/7 nesta tarefa que é de todos e de cada um.

Em todos os campos da atividade humana vem sendo adotada a busca sistemática de melhores resultados com base no conhecimento, nas experiências e no comparativo entre performances, ou seja, nas “evidências”. Hoje, além da “Medicina Baseada em Evidência” já existe uma enfermagem com “Procedimentos Baseados em Evidência”, uma “Arquitetura Baseada em Evidência” uma “Administração Baseada em Evidência” e inúmeras outras similares. O que podemos fazer para curar nossa democracia é sermos os pioneiros de uma “Democracia baseada em Evidência”.

  • Um pouco da História do Movimento pela adoção das Evidências como método de acertar

O movimento da “Medicina Baseada em Evidências” foi inspirado no livro “Eficácia e Eficiência”, escrito pelo médico Archibald (Archie) Cochrane e publicado em 1971. A obra criticava acerbamente os métodos nos cuidados de saúde de então. O livro criticou o “achismo” e a falta de evidência confiável por trás de muitas das intervenções de saúde comumente aceitas na época. Suas críticas provocaram um terremoto nas práticas médica e estimularam a adoção de “evidências” confiáveis na medicina. O movimento levou a McMaster University, de Ontario, no Canadá e a University of York, do Reino Unido, a estruturarem a “Medicina Baseada em Evidência”. A nova abordagem obteve ampla aceitação porque era evidente que muitos pacientes morriam ou sofriam sequelas por não terem sido tratados com as melhores práticas existentes. E isto era moralmente inaceitável. Ainda mais tendo em conta que, na era digital, era possível organizar as informações sobre as boas práticas e sobre pesquisas científicas de modo a encontrar “evidências” sobre o melhor procedimento para tratar cada caso. Visando reunir uma acervo de evidências foi criado o Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR), um banco de pesquisas científicas e publicações médicas que podem ser acessadas por médicos de todo o mundo na busca das melhores terapias disponíveis para tratar a doença de seus pacientes.

Ao médico canadense David Sackett se atribui a definição clássica da MBE: “uso consciencioso, explícito e sensato da melhor evidência disponível na tomada de decisão sobre o cuidado a pacientes, acrescida da experiência do médico e das preferências do paciente”.

Se viermos adotar um método análogo para a “Democracia Baseada em Evidência” no Brasil, poderíamos começar com uma definição inspirada na definição da MBE: “adoção conscienciosa, explícita e sensata da melhor evidência disponível sobre o regime e as práticas democráticas, a escolha de representantes, a elaboração de leis, a transparência, a governança e a participação continuada dos cidadãos nas decisões que afetem a sociedade e o povo”.

Optar por uma democracia com método seria um fato novo, uma alternativa ao debate estéril, pirotécnico, impregnado de ideologias arcaicas e falsas premissas que vemos ser feito por partidos políticos de aluguel, alheios a realidade e aos anseios do país.

  • Um Futuro, Já!

Como transformaremos o país se não temos um plano de ação coerente e nem vislumbramos um destino desejável? Sêneca dizia: “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe onde ir”. Como empolgar a nação, em especial a juventude, se não definirmos onde queremos chegar e como faremos para chegar lá?

Talvez um dos poucos momentos de nossa história em que tivemos uma clara visão de um projeto nacional foi na construção de Brasília. O país se jogou no projeto proposto por Juscelino Kubistchek e o realizou. Juscelino também se lançou na criação da indústria automobilística, levou a nação junto e o fez acontecer. Foram bons projetos? A discussão hoje é supérflua. Não há dúvida de que houve muita corrupção e desvios na época. Uma peça de teatro do impagável Sérgio Jockyman, “Boa Tarde, Excelência”, produziu gargalhadas homéricas na décadas de 60 e 70 ao contar as trapalhadas e as maracutaias daquele período. A disputa da concessão dos clips de papel e do papel higiênico é tão hilária que chega a ser perigosa para quem sofre de falta de ar. Mas fica o exemplo de que sabemos realizar bons projetos, embora precisemos mudar os métodos.

Portanto, debater um projeto nacional é da mais alta prioridade. E esse debate deve ser da sociedade, da cidadania, como foi a manifestação das ruas.

O que é certo é que podemos ter uma democracia melhor e mais funcional. Uma democracia para o mundo 4.0. O Brasil não aguenta mais retórica vazia e precisa partir para as transformações. Ou, como dizia, com espírito, o ex-prefeito de São Paulo, Brigadeiro Faria Lima, “precisamos de menos planejamento e mais fazejamento”.

  • Método para fazer uma Democracia 4.0

O primeiro passo é assumir que queremos uma democracia alinhada com o futuro. Claro, esta democracia deve ser imune à contaminação corruptogênica. Para chegar a esta imunização será preciso dotá-la de defesas e dar a ela total transparência digital. O espírito desta Democracia 4.0 deve ser capaz de coragem para iluminar-se na lógica de Camões, nos Lusíadas, nos versos em que canta as descobertas lusitanas que transformaram o mundo de seu tempo: “Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!”. Ou seja, diante do novo, dos novos valores e novas descobertas; dos novos conhecimentos e saberes, cessa a influência da antiga musa. O velho cede o passo para o novo. A velha musa murcha e perde o encanto, eis que surge, resplandecente, uma nova e bela musa. O novo brilha com um novo encanto e remete ao obsoletismo as velharias superadas e manda para o ostracismo os seus velhacoutos.

Se dermos boas vindas a uma nova musa democrática, esbelta e glamorosa como todas as musas recém chegadas, precisamos ajudá-la a firmar-se entre nós. Um cuidado preliminar é afastá-la dos zumbis delirantes, um grupo de bocós políticos que teima em acreditar em fantasmas marxistas, encostos bolivarianos, abdução por seres extraterrestes, mau olhado e sortilégios, mas não acredita em coisas prosaicas e burguesas como matemática, lógica cartesiana, causa e efeito e que tais. Também convém proteger nossa musa dos corruptos profissionais de plantão, o bem aparelhado bando de rufiões que obra com engenho e arte, como prova o mal afamado “Departamento de Operações Estruturadas”, da Odebrecht. Esses são até mais perigosos do que aqueles. Nossos corruptos são afamados mundo afora, atuam com método e disciplina. Tem faro para o dinheiro público e seguem objetivos estratégicos. Para obterem acesso ao erário se fantasiam de democratas e se camuflam de esquerda, direita, centro e o escambau. Estes calhordas nefandos são os que pilham o Brasil e condenam seu povo a uma vida de sofrimentos e necessidades. Nas mãos pecadoras destes bucaneiros nossa política deixou de servir à democracia e passou a ser mera e escassa alegoria. A triste verdade é que nossa democracia sempre foi palco de engodo e foi usada para a encenação de simulacros eleitorais. Uma nova democracia teria que ser imune a estes mercenários e mistificadores.

  • O esgotamento da locupletação autossustentável

Stanislaw Ponte Preta nos deu o caminho da redenção: “ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade”. Não temos mais dinheiro e nem condições para mantermos a locupletação desenfreada que tivemos até o esboroamento dos governos petistas de Lula e Dilma. Em outras palavras, a locupletação deixou de ser autossustentável no Brasil. Portanto, chegou a hora de implantarmos a moralidade. Mas temos uma dificuldade: não temos experiência em lidar com a moralidade. Nossa democracia ou foi manietada, no governo militar, ou sempre foi corrupta.

Este é outro motivo para adotarmos uma “Democracia Baseada em Evidências”. Esta DBE nos ajudaria a reunir boas evidências é a usá-las na formulação de nosso projeto democrático. Precisamos conhecer o que funciona e o que não funciona nas democracias do mundo. E, ainda mais importante, precisamos isolar nosso contingente politicamente subdesenvolvido. Um grupo de chupins culturalmente limitado e emocionalmente ressentido. Nelson Rodrigues dizia: “subdesenvolvimento não se improvisa. É obra se séculos.” Ora, sendo o subdesenvolvimento, a um só tempo, causa e efeito da corrupção que nos assola, pode-se ampliar o significado: “Corrupção também não se improvisa; é também “obra de séculos”. Sabemos que nossa corrupção é endêmica e está arraigada a nossas práticas políticas desde a carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500, na qual o escriba que revelava à corte a “descoberta do Brasil”, aproveitava para pedir favores pessoais ao Rei.

E, além disto, controvérsias à parte, quer De Gaulle tenha dito, quer não tenha dito que “Lê Brésil n´est pas um pays sérieux”. A verdade é que o Brasil não era mesmo um país sério. Aliás, até agora continua não sendo. Mas vai ter que mudar. E não por moralismo ou decência cívica, que seriam bons motivos, mas porque o custo da corrupção ficou alto demais. Nossa corrupção já consumiu tudo o que podia na saúde, na educação, na infraestrutura e onde logrou meter a mão. Finalmente estamos cruzando o limiar da moralidade.

  • Da Prática de uma Democracia Baseada em Evidência

A DBE só teria sentido em um novo ambiente que crie um mundo paralelo que seja uma reprodução digital do mundo real. Neste ambiente paralelo podem ser reunidas informações e realizadas simulações ao infinito. Com o uso desta tecnologia a vida institucional do país vai deixar de ser este marasmo medieval para se transformar numa atividade online, com os acontecimentos fluindo como flui a vida. A mudança implica em fazer uma mudança do sistema e não no sistema. Trata-se de uma nova lógica e não de uma mudança limitada ou cosmética. Ainda que a prioridade seja neutralizar o sistema corruptocêntrico, a mudança de paradigma é que vai determinar se vamos mesmo escapar deste buraco negro político.

Em síntese, mudar do jeito certo significa fazer as coisas funcionarem direito. A corrupção colossal, os 13 milhões de desempregados e os déficits monumentais do governo indicam que nossa política e nossa democracia não estão funcionando direito. E precisam ser consertadas. Ou melhor, nós mesmos precisamos consertá-las.

A viabilização da DBE no Brasil vai depender das novas gerações. Elas é que viverão nesta nova democracia. Caberá a elas delinear um projeto que cresça por dentro e que, quando pronto, descasque esta velha carcaça política e permita ao país sair deste casulo de ideias medievais que o oprime.

Como o sistema político atual não é representativo da nação e como os atuais partidos não acolhem o debate aberto e não se prestam para o exercício de uma militância inovadora, a renovação democrática no Brasil precisa encontrar um novo tipo de entidade sem ligações partidárias. Movimentos como o MBL e o Vem Para a Rua tem esta característica, mas nasceram para lutar “contra” o projeto corrupto de pode do PT. Cumpriram seu papel de forma brilhante, mas agora é preciso abrir uma nova luta. Quem sabe desenvolver a DBE – a Democracia Baseada em Evidencia – em volta de uma nova entidade, de uma “nave mãe”, permitiria que se formassem miríades de núcleos filiados, cada um com uma vocação, cada um com uma missão, cada um dedicado a um projeto específico. Todos unidos por uma causa: transformar a Democracia Brasileira em uma democracia inteligente, alinhada com o Mundo 4.0 e, ainda que com atraso, pronta para os desafios do século XXI.


Ceska – O digitaleiro

 

Brasil, tome juízo.

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Operação “Pelo em Ovo” e churrasco onírico em Brasilia.

Brasil, tome juízo.

Parece que este país perdeu o juízo. O nível de desatino que aflora nos mais diferentes setores do país é de estarrecer. Para onde quer que olhemos vemos uma nação mergulhada na estultícia. A corrupção generalizada associada à irresponsabilidade, à inconsequência e a arrogância vem derretendo as instituições e transformando o país num ente desmoralizado e em desagregação.

Tivemos nossa imagem internacional tisnada pelos escândalos da Lava-Jato, cujos eventos de corrupção foram solidamente comprovados e, de repente, em contra-ponto, vemos agora uma imitação canhestra querendo a ribalta. Na Operação “Carne Fraca”, que, pela falta do que procurar devia ter sido chamada de “Operação Pelo em Ovo”, um delegado da PF, despreparado e destrambelhado, decidiu jogar na sarjeta a coisa que melhor funcionava neste país, o agronegócio. Se não eram as luzes do proscênio o que queria a Polícia Federal ao detonar a tal operação “Carne Fraca”?

A Polícia Federal declarou que se valeu de um laudo próprio – um único laudo! – referente à empresa Peccin Agroindustrial Ltda., uma empresa insignificante para o setor, sendo o outro laudo fornecido pelo Ministério da Agricultura. Também haviam mal explicadas denúncias de um auditor do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sobre o frigorífico Souza Ramos. Em cima destes dois “laudos”(?) e da tal “denúncia”, a PF atacou com mais de 1.100 (!) policiais federais todo o setor produtivo do maior exportador de carnes do mundo. Mais de 1.100 agentes federais saíram país afora procurando pelo em ovo. Na operação foi investigado um dito “esquema de fraude” na produção, fiscalização e comercialização de carnes, envolvendo pagamento de propina a fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Segundo a PF, a investigação teria encontrado “indícios” de adulteração de produtos e venda de carne vencida e estragada.

Agentes que nada entendem da produção de carnes, nem de como funciona a extensa e complexa cadeia produtiva de que dependem milhões de brasileiros, entrou estabanadamente em frigoríficos e empresas do setor falando bobagens, acreditando em “salsichas com papelão”, e espalhando acusações com a ligeireza dos inconsequentes. Quer dizer, então, que vamos acabar com milhares de empregos e todo um setor da economia do Brasil só porque um fabricante de salsichas trocou carne de peru por carne de frango?

Se queriam afundar ainda mais o Brasil, conseguiram. Se queriam criar mais desemprego, conseguiram. Se queriam produzir mais crise, se queriam envergonhar ainda mais o país, se queriam jogar gasolina no incêndio que queima as entranhas brasileiras, conseguiram com louvor.

A falta de juízo com que as coisas vem sendo feitas nesta terra maluca não tem paralelo. Nunca antes neste país, – aliás, nunca antes neste mundo! – se viu tanta insensatez. Os exemplos de hipocrisia e de mau comportamento que vem de cima, e que continuam agora com esta “reforma política”, com a tal “lista fechada”, desenhada para proteger políticos de vergonha escassa e cara de pau espessa, só podiam prosperar e nos jogar na lama.

Consertar o país, agora, ficou um pouco mais difícil. O Brasil vai ter que juntar os cacos da nossa indústria de carnes e sair peregrinando humilde por nossos clientes pedindo clemência. Tentando explicar que somos um país de doidos. E dando mais descontos. Nossa imagem internacional já andava abalada com a lava-jato, de modo que uma acusação de corrupção no sensível setor de carnes, por mais descabida que fosse, encontrou terreno favorável para prosperar e se espalhar mundo afora. E, como desgraça pouca é bobagem, para gáudio de nossos concorrentes do mercado de carnes de exportação, como a Índia e Austrália (carne bovina) ou Turquia (aves), nosso caricato presidente, mais perdido que cego em tiroteio (ou seria mais correto dizer “deficiente visual” perdido em meio aos projéteis de uma saraivada de tiros”?), agindo da mais paspalha maneira, resolve convidar os embaixadores dos países que importam nossa carne para um churrasco. E os leva justo para uma fina churrascaria de Brasília que se orgulha de servir…carnes argentinas!!! É ou não é uma Chose de loc?

Infelizmente, como seria de esperar, as consequências já começaram. As vendas despencam. As exportações desabam. Os mercados mundiais se fecham. Uma empresa de Curitiba, uma das “investigadas”, acusada sem defesa, mas já devidamente denegrida, demitiu 280 pessoas dia 22 de março. E, acreditem, muito mais demissões vem aí.

Pode ser que tudo tenha acontecido por “acidente”. Mas pode ser que tudo tenha sido feito de caso pensado. Para aparecer na mídia ou para obter algum tipo de ganho político. Só que, ao que tudo indica, o feitiço virou contra o feiticeiro. Afinal, como justificar uma operação tão desastrada que, como diz a PF, vinha sendo “preparada” há dois anos? Já daria para suspeitar de algo “contaminado” (na operação e não na carne) a partir daí. Então quer dizer que a PF “sabia” que os alimentos vinham sendo “adulterados” há dois anos, em tese “comprometendo” a saúde da população ao longo de dois anos, e só agora resolveu agir?

Ainda na terça-feira a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) divulgou nota afirmando que as conclusões da Operação Carne Fraca referentes aos danos à saúde pública não têm embasamento científico. A entidade diz que peritos foram acionados uma única vez e não comprovaram os danos.

Segundo o Jornal Folha de S. Paulo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que a “narrativa” da PF ao divulgar as ações da Carne Fraca está cheia de “fantasias” e “idiotices”. Nesta quarta-feira, o ministro disse que os prejuízos para o setor são estratosféricos.

Nem nos tempos bíblicos, nem nos rocambolescos tempos da idade média, uma nação padeceu de tanta falta de juízo. E vai tudo ficar por isto mesmo?

Deus do céu, por caridade, dê um pouco de juízo ao Brasil.


Ceska – O digitaleiro

2017 – O retorno à lógica, antes que seja tarde.

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O Brasil parece um trem sem maquinista banguela abaixo.

  • Cadê a lógica?

Depois de longa diáspora, está na hora de irmos buscar a lógica de volta. E já é mais do que tempo.

Parecia que o Impeachment da Dilma nos tiraria da “decrisis”, onde prevalece o círculo vicioso desagregador, e nos conduziria para a “sincrisis”, onde um círculo virtuoso começaria a amainar a tempestade.

Mas as coisas não estão caminhando como deviam. O Temer vem decepcionando. Mostra-se titubeante. E temeroso. E o titubeante temeroso Temer tem se mostrado incapaz de entender o contexto de fundo e de enfrentar a crise que o país enfrenta. Concordo, estamos melhor com Temer do que com a Dilma dos tempos escarlates, mas isto é pouco. A crise não cede, antes rescede, e continuamos cruzando terrenos pantanosos. Ainda vivemos em brumas nebulosas.

Os emblemáticos episódios das matanças dos presídios de Manaus e Roraima mostrou um novo Temer: o presidente avestruz. Não só enfiou a cabeça na areia como a tirou titubeante. Segundo seu falar vetusto, cheio de volteios gongóricos, a revolta de Manaus foi “acidente”. Tal e qual a queda do avião da LaMia. Aí não dá. O mordomo de Brasília subestima o povo brasileiro e não só titubeia temerosamente como demonstra estar perdido e perplexo diante dos desafios da crise sem precedentes em que estamos imersos.

“Acidente”, convenhamos, é estarmos sendo governados por Temer e por políticos medíocres. Nós os elegemos, é verdade. Mas o modelo presidencialista com voto proporcional é um fiasco. Estamos patinando no pântano da mediocridade. Sem uma liderança que aglutine o país e o conduza com segurança, vamos continuar patinando…

Temer, o titubeante temeroso, já mostrou que não está a altura. Mas quem está? O único líder com arcabouço moral, experiência e força política seria o governador Geraldo Alckmin. Mas seu estilo é mais do tipo “devagar e sempre” e não exibe o ardor do líder revolucionário que o país precisa agora. Fernando Henrique é uma reserva moral, mas já passou seu tempo. Aécio e Serra estão chamuscados pelas labaredas das denúncias da Lava Jato. Tá difícil.

  • A Inconsequência galopante

Nesta formosa terra que tem palmeiras onde canta o sabiá tem também um monte de gente que acredita nos poderes de uma galinha preta com uma pinga e duas velas na encruzilhada, mas não tem a mínima fé em matemática. Desconfia das ciências exatas e, ainda com mais razão, de ciências exóticas, como economia. Hão de preferir as ciências ocultas.

O que somos é inconsequentes. E imprevidentes. O Brasil, para nossa desdita, está encastoado em  uma América latina convictamente, teimosamente e recorrentemente inconsequente. E frequentemente irresponsável. Desde o descobrimento e das cartas de Pero Vaz de Caminha, vivemos às turras com a lógica e desprezamos raivosamente o dito “bom senso”. Bom senso quer dizer capacidade para ver além das aparências e entender as razões e os motivos, as causas e os efeitos. E agir com equilíbrio. Um elenco de coisas abomináveis para os que preferem crer em mandingas, bruxedos e “amarrações” de cartomantes. O bom senso, enfim, é tido e havido pelas esquerdas como um mofado convencionalismo burguês, ainda que venha da Grécia de Aristóteles.

O problema é que quem briga com a lógica não escapa da sua vingança. De tragédia em tragédia estamos preparando uma hecatombe. Os “acidentes” do Temer são da mesma natureza irresponsável da recente queda do avião da LaMia. Este acidente, típica tragédia desnecessária, foi resultado de um desafio à lógica. O capitão, um inconsequente dotado do voluntarismo que implicou com o império da lógica, entendeu que não precisava seguir as normas de segurança. O comandante, tomado da empáfia besta do voluntarismo latino-americano, preferiu jogar roleta russa com a vida de seus 72 passageiros e 9 tripulantes. Com uma pane seca anunciada continuou voando para a morte. Pode-se supor que continuava o voo esperando um milagre. Tanto que, ao se dar conta de que o avião iria mesmo espatifar-se no solo, ainda cobrou o milagre que não vinha: “Jesus”!.

  • A praga latino americana que pegou

A inconsequência, esta praga latino-americana que está na raiz da nossa atual crise e de nosso subdesenvolvimento é doença antiga. Um espécie de herpes-crisis cujo vírus se recolhe, mas volta a se manifestar de tempos em tempos. Fugimos da lógica como o diabo da cruz. Somos avessos a normas, desafiamos as regras e enxotamos a razão. Não acreditamos em fazer contas, como, aliás, não acreditamos em planejamento, ou melhor, não acreditamos é em fazejamento, que “planejamento” por estas bandas, é biombo para “consultorias” suspeitas e, por isto, dá como capoeira em mato. Tem muito mas não serve para nada. Também não respeitamos nenhuma destas disciplinas burguesas que foram criadas para “explorar os pobres”. E para quem interessar, não esqueçam que agora somos livres e independentes. Não precisamos dar satisfações à metrópole e somos “capazes” de fazer nossas próprias leis. E, orgulhosamente, tem mais: revogamos as leis de que não gostamos ou que nos oprimem. Um exemplo: a Lei de Newton. Ainda não conseguimos acabar com a lei da Gravidade, mas não desistimos. Mesmo sendo uma lei “cláusula pétrea” da natureza (Ah, bom!), sua revogação continua sendo proposta em reiterados projetos de lei. Qualquer dia conseguimos.

Para ilustrar, alguns anos atrás o Estado de São Paulo noticiou que o Prefeito de Palmeira dos Índios, das Alagoas, propôs revogar a lei da gravidade por uma decisão da Câmara Municipal: “Informado pelo engenheiro da Municipalidade que a lei da gravidade impedia a construção de uma caixa de água na praça central de Palmeira dos Índios, devido a um forte declive,” o prefeito da cidade não se conformou. Chamou seu líder na câmara e mandou que conseguisse maioria “para derrubar a lei da gravidade, pois era preciso construir uma caixa de água na praça”. Ainda bem que o edil tinha um mínimo de noção do ridículo e foi hábil em não afrontar o alcaide:

“Senhor prefeito, não se sabe se esta lei é municipal ou estadual. E, depois, pode ser federal. É melhor não mexer no assunto, para não criar problemas. É melhor não desobedecer ao engenheiro, que é especialista no assunto”.

O monitor das besteiras que assolam o país aponta outra recente tentativa de revogar a lei da gravidade. Desta feita veio no bojo do episódio (“acidente”…?) de Mariana. Por pouco o Ministério Público Federal não vira motivo de chacota global: ele “ordenou” que a Samarco “impedisse” que o material argiloso que chegou pelo rio à foz do Rio Doce entrasse no mar. Os desavisados procuradores confundiram a argila, que se mistura com a totalidade da água, com uma mancha de óleo, que não se mistura e fica na superfície, e sapecaram a “ordem”. Ora, impedir que a argila entrasse no mar exigiria “apenas” represar o rio inteiro. Uma estupidez descomunal. Ainda bem que um juiz providencial, Thiago Albani, titular da 3ª Vara Civil de Linhares, no ES, veio salvar a face do Brasil e da MPF: “autorizou” que a água do rio desaguasse no mar!

De tanto ver prosperar estultícia Nelson Rodrigues dizia, rouco de desespero, que, toda a vez que via um brasileiro “ligar causa à efeito, tinha um orgasmo“. Os teve poucos.

Segundo Confúcio, “três são os caminhos pelos quais chegamos à virtude: pela reflexão, o mais nobre; pela imitação, o mais fácil; pela experiência, o mais doloroso”. E já que teimamos em não aprender nem pela reflexão e nem pela imitação, vamos ter que aprender pelo sofrimento. O consolo é que, por cruel que seja nossa sina, sofrimento produz lógica. Ao menos entre os sobreviventes, claro. A dor leva a busca das causas. E estas, no caso da atual crise, apontam para a inconsequência aguda de nosso socialismo capenga de cepa petista. E, sendo a crise sintoma da grande enfermidade que padecemos no Brasil, qual seja a ilusão socialista de que o estado teria os poderes que os socialistas negam a Deus, o poder de acabar a pobreza por ato de vontade, certamente podemos lembrar Margareth Thatcher que dizia: “o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros”.

  • A opção pelo despenhadeiro

Dilma Rousseff queria enfraquecer a posição do ministro da Fazenda Antônio Palocci no governo. Ela era, na época, a ministra da casa civil do Lula. Palocci, que era corrupto mas não era burro, tinha um plano de ajuste fiscal de longo prazo que vinha sendo elaborado pela equipe econômica. Em síntese, Palocci defendia que o gasto público não podia subir mais que o crescimento do PIB. O mesmo princípio que levou o atual Ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles, a propor o teto de gastos por vinte anos.

O plano de Palocci estabelecia que o ideal seria que tivéssemos um superávit fiscal de 4,25% pelos próximos dez anos.

Dilma, a guerrilheira, que se imaginava audaz, de coração valente e cabeça de vento, em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, desqualificou os autores da proposta, dizendo que Palocci e seu grupo estavam se baseando “em planilhas” e classificou o plano de “rudimentar”, afirmando que nem o encaminharia ao presidente Lula porque não tinha as condições mínimas para um início de discussão dentro do governo. E aí deu sua imortal contribuição para o rol das frases insanas: “gasto público “é vida”!.

Daí em frente abriu-se a porteira dos gastos sem freios. Estabelecido como preceito pela grande líder que gasto público era “vida”, todo mundo desandou a “viver”. “Viveu-se” a mais não poder. Nunca antes se tinha visto tanta “vida” neste país. E até disparamos a ensinar outros países a “viver”: Cuba, Bolívia, Venezuela e outros deste e do outro lado do Atlântico.

O PT, alegremente convertido ao catecismo dilmista, não só pregava “a vida em abundância”, aqui e “urbi et orbi”, como praticava com fervor franciscano a boa nova. O que se viu foi uma maré de “vida em abundância”, com os pixulecos escalando as estrelas. Parecia descoberto o moto-contínuo da prosperidade. Só que não. De repente caiu a ficha: quando termina a “vida”, o que vem depois? Estava na cara que esta aventura irresponsável só podia acabar mal.

E agora, o que temos diante de nós?

Quando os gregos dividiam as crises em “decrisis “e “sincrisis” eles buscavam entender como as forças internas dos processos de crise evoluíam. Decrisis eram as crises “ruins”, que tinham como característica a desagregação, enquanto as sincrisis, ao contrário, eram as crises “boas”, aquelas que se encaminhavam para uma solução por força dos mecanismos corretivos e dos equilíbrios de pesos e contrapresos que atuavam no seu interior.

Nossa crise, uma “decrisis” crônica, sob a estarrecida batuta da Dilma “presidenta”, evoluiu para uma crise aguda e resultou no impeachment. Com o impeachment tivemos uma sangria e a crise aguda foi momentaneamente debelada, mas os desequilíbrios financeiros que alimentam a cronicidade da crise continuaram a minar o organismo da nação.

A partir do impeachment, a sociedade deu um crédito de confiança ao governo Temer. Mas o prazo está se esgotando e as medidas de rearrumação da economia tem se mostrado insuficientes. O congresso continua com óculos cor de rosa. O que vemos é que as condições objetivas da economia e do meio social não se modificaram e continuamos vivendo em meio a um impasse social muito perigoso.

  • Um barril de pólvora social

Doze milhões de desempregados são um barril de pólvora social. Os desempregados estão encurralados e não veem saída. O governo se mostra perdido. E a crise pode piorar rapidamente e descambar para uma nova etapa de “decrisis”.

  • Um PROER  para o povo

O ponto critico mais importante é que a sociedade está endividada e não tem como resolver seu endividamento com a crise torpedeando a atividade econômica e os empregos. E enquanto os milhões de endividados não conseguem voltar a ter crédito, a economia fica travada.

Os juros dos cartões de crédito e cheque especial são um crime de lesa pátria. E os bancos estão insensíveis. A saída seria o governo atacar o problema de maneira a desatar o nó. Criar um PROER para o povo. Criou para salvar os bancos, não foi? E que tal fazer a mesma coisa para salvar o povo? Mas os bancos mandam no país e não vão aceitar de bom grado que o governo tire deles o filão que os mantém indecorosamente lucrativos, mesmo numa crise sem precedentes.

Acontece que as “decrisis” não tem bom prognóstico. Se as forças desagregadoras que as formam não são neutralizadas, a caldeira continuará a acumular vapor até o ponto de explosão. O país é um trem despencando ladeira abaixo, com o maquinista olhando para a paisagem. E estamos próximos, perigosamente próximos, de um grande desastre. Perdão, de um grande “acidente”, como definiria o tateante e temeroso Temer.


Ceska – O digitaleiro

No meio do caminho tem eleição. Tem eleição no meio do caminho.

 

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Dia 02 de outubro tem eleição no meio do caminho; Tem eleição no meio do caminho dia 02 de outubro.

Estamos no rumo certo, mas cuidado: tem uma eleição no meio do Caminho!

No meio do caminho tem um eleição

Tem uma eleição no meio do caminho

  • Desde já aviso aos amigos que vou votar em João Dória. Quero ter a “convicção” (a palavra está na moda) de que voto na continuidade do caminho.

Ainda que aos trancos e barrancos, o Brasil vai avançando e entrando nos eixos. (Ainda com muitos trancos: a receita da União voltou a decepcionar em agosto). Enquanto isto, o barulho dos pinos caindo no strike do boliche anticorrupção da Lava Jato continua. Os corruptos desabam como carreiras de dominós enfileirados. Caiu Dilma. Caiu Cunha. Lula caiu na Lava-Jato.

E ainda tem muito gaiato pendurado se agarrando para não cair. Mas a sociedade está vigilante e a nova ordem vem se afirmando como uma vitória do Brasil. Um triunfo que vem sendo obtido com o espírito e as armas do século XXI. Mas é preciso lembrar Tancredo Neves: Estamos apenas na metade do caminho. Não podemos nos dispersar.

Um ano atrás, quem diria? Estávamos nas ruas. Tínhamos a indignação. Tínhamos a esperança. Tínhamos a determinação. Mas os petebas do poder grudavam em suas benesses e sorviam privilégios com a gula insaciável dos sanguessugas. A corrupção estava institucionalizada e parecia invencível. Vivíamos em uma “propinocracia”, na definição de Deltan Dalagnol, da força tarefa da Lava Jato. E os cabras que haviam tomado o governo viviam à larga, refestelavam-se em um luxo de nababos, voavam pelos céus do Brasil e do mundo na frota VIP da FAB, enquanto se lambuzavam com as delícias, as benesses e o néctar do poder.

Por um momento pareceu aos crédulos que os petistas tinham – heureca! –  encontrado a fórmula do roubo perpétuo, do moto contínuo da propina forrando a burra dos larápios. Os brasileiros decentes, por outro lado, coçavam a cabeça se perguntando como era possível tanta patifaria dar certo por tanto tempo. E muitos se questionavam, diante do êxito aparente da esbórnia escancarada, se ainda valia a pena se manterem honestos.

Mas desafiar a lógica é como afagar um tigre: raramente dá certo. E o PT devia saber: roubar e deixar roubar não é uma ideologia, é uma patifaria. E ao adotar a patifaria como estratégia de manutenção do poder e em escala jamais vista no planeta, seria de se esperar que o fim fosse um fiasco desastroso. E não deu outra. Foi tanta a sofreguidão, tanta a ganância, que sobreveio o descontrole e o caos. Claro, a desatinada da Dilma, perdida em suas mandiocas, deu o empurrão final. Mas o que se roubou neste país foi coisa nunca vista. Um mega rombo para não se esquecer jamais.

  • Vencendo a hidra de mil cabeças

O fato é que, para livrarmos o país do projeto de poder do PT foi preciso vencer a hidra petista de mil cabeças, de mil línguas bífidas venenosas. Foi preciso encetar uma luta árdua, enfrentar chiliques, esperneio e chorumelas, mas o Brasil que tem ambições, que quer um lugar decente na história, combateu o bom combate com a admirável galhardia verde e amarela. Ao chegarmos ao meio do caminho podemos nos orgulhar de que juntos lutamos e juntos vencemos. E é uma alegria congratular-me com você, que esteve aos milhões nas manifestações, que amassou suas panelas para fazer o Brasil ouvir seu clamor, que protestou, incansável, nas mídias sociais. Parabéns a você que foi para o enfrentamento corajoso e sem esmorecimento, que disse a que veio na pugna crucial entre o passado caquético da esquerda corrupta e o ansiado futuro que todos queremos para nosso Brasil. E que só depende de nós.

Com o país ainda se debatendo na maior crise de nossa história, não tínhamos mesmo escolha. Não queríamos um destino cafajeste. Um futuro de bagre chafurdando na lama rasa. Era preciso reagir. Era preciso demolir o Carandiru ideológico com que Lula e os seus asseclas aprisionavam o Brasil; em que prendiam os brasileiros por meio de um emaranhado de mentiras, demagogia, e engodos.

  • Definindo o país que queremos

Não podemos morrer na praia. Seria uma pena esmorecermos agora. Podemos lembrar Tancredo Neves quando dizia “Enquanto houver neste país um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa”.

Existe muito a ser feito, é verdade. Há montanhas de entulho para limpar. Bobalhões desfilando asneiras. Desocupados atrapalhando o trânsito. Mas, sem recear o lugar comum, todo começo começa pelo princípio.

O mais importante é nos entendermos sobre o Brasil que queremos. E definirmos o que, como sociedade, queremos fazer do país.

O que sabemos, desde logo, é que qualquer organização – e um país é um tipo complexo de organização – se apoia em um triângulo com três vértices:

  1. – Recursos Humanos
  2. – Recursos Materiais
  3. – Sistemas.

Os Recursos Humanos, as pessoas, vem em primeiro lugar. E elas é que se valem dos recursos materiais e dos sistemas para fazer o país funcionar. Os recursos materiais, ao contrário do que muitos pensam, não fazem a riqueza de uma nação. Nossa maior riqueza não é o pré-sal. Não é o ferro, ou o ouro ou os diamantes. Nem mesmo a Amazônia, o cerrado, o sertão, o pantanal, os pampas do sul. Nossa maior riqueza é a gente brasileira. É nosso povo. Com ele, tudo será possível. Sem ele, seremos tribos perdidas, grupos erantes, confusos e quebrantados.

Mas os recursos materiais contam muito. E nossos recursos naturais contam muito mais. Nossa prosperidade haverá de voltar muito pela generosa mão da natureza com que o Brasil foi abençoado. Os recursos naturais que temos são superlativos. Temos muito e temos em abundância, tanto temos que podemos sermos ufanos de nosso país. Mas lembrando sempre que, sem a atividade produtiva de nossa gente, nossos recursos naturais são apenas paisagem. Se não forem tocados pela mágica transformadora do homem, continuarão ali, inertes, pelos tempos afora, sem gerar riquezas e sem contribuir para melhorar a vida do povo ou para enriquecer seu futuro.

A propósito, o Brasil tem dois exemplos do que pode ser conseguido fazendo certo as coisas certas: o agronegócio, que prosperou graças aos empreendedores que vivem no campo, longe dos predadores de Brasília, e a Embraer, que é até “brasileira” (note as aspas…), mas que soube escapar do alcance da burocracia rapinante que esculhamba tudo o que toca neste país e foi progredir lá fora.

  • Tudo depende de nós. 

Um país não se faz apenas amontoando pessoas em um território. Países existem que acumulam seres e vidas, mas que são lástimas, que são catástrofes. Temos vizinhos como a Venezuela, a Bolívia e o Equador nesta categoria de paspalhões fracassados.

Sem bons governos e bons sistemas não existem bons países. Sem bons governos, as nações se desorganizam, ficam improdutivas e sofrem os efeitos deletérios da desordem. O resultado é que seus povos vivem vidas desgraçadas, vidas sem perspectivas, vidas miseráveis.

O que vai fazer a diferença é a educação. Segundo Sydeny Harris, o principal propósito da educação é transformar espelhos em janelas. É facultar às pessoas uma visão capaz de abarcar o mundo e permitir que compreendam os fatos elementares da vida e da natureza. Desta compreensão nasce a sabedoria. E da sabedoria de um povo surgem bons governos e bons países.

A sabedoria permite compreender que não se pode viver de mentiras e engodos. E que a nossa condição humana nos impõe a crueldade da matemática: nenhuma nação se poderá sustentar de pé se seu povo não tiver juízo. Se gastar mais do que tem. Infelizmente é possível, sim, usar o cheque especial para viver uma fantasia passageira, gastando por conta. Alimentar um sonho demagógico, uma ilusão aberrante, por algum tempo. Mas a ilusão passageira cobrará bem caro na hora da conta. E a conta sempre vem: a economia não se defende, ela se vinga.

Confúcio, que viveu 500 anos antes de Cristo, explicou existirem três métodos para adquirir sabedoria: Primeiramente, pela reflexão, que é a mais nobre; Em segundo lugar, pela imitação, que é a mais fácil; e terceiro, por experiência, que é a mais amarga. E tudo leva a crer que nós, brasileiros, preferimos a última. Acho que temos uma queda para o sofrimento. Affêe!!!

Conclusão I: A sabedoria de um povo é que define seu destino. Todos conhecem a fábula de Esopo que narra a história de uma cigarra que canta durante o verão, enquanto a formiga trabalha acumulando provisões em seu formigueiro. No inverno, desamparada, a cigarra vai pedir abrigo à formiga. Esta, a formiga, pergunta o que a outra fez durante o verão. “Eu cantei”, responde a cigarra. “Pois então agora, dance”, rebate a formiga, deixando-a do lado de fora. A fábula de Esopo é um ensinamento que vem da sabedoria da experiência. E permite concluir que um povo operoso será recompensado com a prosperidade. Um povo de tolos terá o destino dos tolos: as carências, a miséria e o sofrimento desnecessário.

O terceiro vértice corresponde aos “Sistemas”. Estes determinam o que fazemos, como fazemos, quando fazemos e porque fazemos. O governo está neste vértice e seu papel de líder e organizador equivale ao do cérebro em nosso organismo. A gente até deveria saber disso, posto que nossa sabedoria popular sempre ensinou que “quando a cabeça não pensa o corpo padece”…

Em síntese, um governo inteligente organiza os sistemas de modo a formar um todo coerente, bem balanceado e holístico, capaz de funcionar e ser eficiente. Até aqui, salvo os eventuais misantropos, suponho que todos estejamos de acordo. Deste ponto em diante, contudo, é que as divergências começam a separar a humanidade em dois grupos irreconciliáveis: os “fazedores” e os “tomadores”.

  • A divisão do mundo em dois grupos: Os “fazedores” e os “tomadores”

Os “fazedores” são os românticos da ação. Para estes, o mundo é como um pomar. Entendem que sua tarefa no mundo é plantar, adubar, regar, combater as pragas, colher e distribuir a colheita para que todos possam se saciar. Para os “fazedores”, um país rico é cheio de pomares (e fábricas, lojas, escritórios; óbvio, né mesmo?) onde os laboriosos colhem frutos em abundância. Os fazedores acreditam que fazer um país se tornar rico é fácil. Basta que todos se disponham a plantar pomares e obedeçam as regras da natureza. Como são sábios, compreendem que existe um tempo para plantar e um tempo para colher. E que é preciso saber semear, esperar que as sementes germinem, que as plantas cresçam, que as flores se convertam em frutos. Que os fruto amadureçam. Daí que sua maior aspiração é poderem plantar e colher sem obstáculos. Sua crença: a produção transforma o mundo. Sua fé: se muito for produzindo, muito haverá para todos e não haverá ninguém com fome.

Já os “tomadores” acham que o mundo é um galinheiro onde eles são as raposas.

Existem “tomadores” à esquerda e à direita. Os da direita são os folgados, os vagais, os parasitas. Sabem o que deve ser feito, mas não estão a fim de trabalhar. Ponto.

Já na esquerda, petistas inclusos, os “tomadores” acham que seu papel é “redistribuir” a riqueza que os outros produzem. Se pensam os justiceiros da humanidade.

Esses boçais vivem olhando ao redor. Onde alguém criar um caminho, eles tratam logo de colocar uma pedra, “regulando” e taxando a atividade. Esta fúria arrecadatória não começou com a indústria da multa do Haddad, embora, devo reconhecer, este a tenha refinado para o padrão da tortura chinesa. A fúria arrecadatória já era assim nos tempos coloniais dos tropeiros e no “Caminho de Viamão”. O tropeiro suava sangue para trazer do extremo sul gaúcho uma tropa de muares ou gado, vindo por trilhas intransponíveis, cruzando os Campos de Vacaria cheio de obstáculos, enfrentando os índios Xokleng e os Coroados Kaingang e quando, mil quilômetros depois, chegava em Lages, tinha que pagar um “pedágio” para cada cabeça de boi ou lombo de mula que houvesse sobrevivido.

Essa obsessão de tudo controlar e regular chega a ser uma patologia. Acredito tratar-se de uma compulsão atribuível a uma fixação freudiana na fase anal. Parece humor escatológico, mas não é, pois, como se sabe pela psicologia, a fixação na fase anal leva ao desejo compulsivo de controlar tudo e todos. Explico: o sujeito que não conseguia controlar sua evacuação na infância, que se abraçava ao vaso sanitário pedindo “cocô, volta aqui”, enquanto chorava ao vê-lo ser levado pela descarga, agora quer compensar controlando a vida de quem trabalha e produz. É o fim da picada. E como para o pirado esquerdista-anal vale tudo, dá-lhe discurso apelativo, demagogia, mentiras, engodos e enrolação.

O cúmulo, contudo, é que o esquerdista brasileiro pensa que o país lhe deve uma cornucópia. Para quem não sabe, a cornucópia, na mitologia grega, era um dos cornos do bode Amalthea, o qual seria dotado da propriedade mágica de prover quantidades ilimitadas dos mais variados e deliciosos manjares e guloseimas. Do corno vinha mel, doces, frutas, e, seria de supor que, para atender ao surpreendente paladar petista, viriam também fantásticos sanduíches da melhor mortadela. E sendo que nada neste mundo é mais parecido com uma cornucópia do que um emprego público no Brasil, o sonho do petista padrão é uma sinecura ou uma boca no governo.

  • O Brasil merece bons sistemas 

Apesar dos pesares, no Brasil já somos um país. (Que bom!). Mas somos latino-americanos. (Que mau!). E, portanto, somos disfuncionais. Acreditamos em coisas que não existem, como na capacidade do governo criar riqueza. Ou na capacidade de funcionários púbicos resistirem à tentação. Em compensação, não sabemos ligar causa com efeito. O arguto e saudoso Nelson Rodrigues dizia que toda a vez que via um brasileiro ligar causa ao efeito tinha um orgasmo. Acho que os teve poucos.

O ponto chave é entender que, no século XXI, um governo deve ser um maestro. Em sociedades amadurecidas, os cidadãos não precisam da tutela do governo. E um governo deveria ter sua avaliação de forma automática. Se seus indicadores mostrassem incompetência, o sistema acionaria a ejeção e pimba: o governo seria mandado para o espaço.

O maior dos indicadores seria a qualidade do gasto público. Quando o governo começasse a gastar mais nas atividades meio do que nas atividades fim, tocaria o alarme da ejeção. Se um governo começa a enriquecer os amigos e a mandar as contas para o povo receberia um aviso de alerta e, se insistisse, seria demitido pelo computador. Estamos chegando a um tempo em que ninguém mais aceita ser escalado para ser trouxa a vida inteira.

Os governantes deveriam ser servidores do povo. Com crachá. O presidente deveria fazer como o Papa e lavar os pés do povo ao menos na páscoa da ressureição. Mas no Brasil, os membros dos três ramos do governo ainda se acham no direito de desfrutar das glórias imperiais. Vivem em palácios, voam nos tapetes voadores da FAB e desfrutam da coisa pública como se vivêssemos em um reino das arábias. É uma pouca vergonha daquela muito sem vergonha. Mas temos que nos curvar ante a dura verdade, a doída verdade: nenhum país pode ser latino-americano impunemente.

O que precisamos cultivar no Brasil é um pouco de bom senso. É lutarmos para criarmos sistemas balanceados com um mínimo de equilíbrio ganha-ganha. Sistemas feitos com uma beirada para incluir o povo e em que os dois lados ganhem.

Talvez venhamos a concluir que isto implica em refundar o Brasil. Fazer um nova constituição para o novo século. Todavia, só um imbecil anacéfalo irá acreditar que estes políticos mentecaptos, ou os políticos da velha ordem, sejam capazes de largar o osso que roem desde o descobrimento. Que se disponham a criar sistemas isentos da velha sacanagem patrimonialista nacional que os fazem marajás. De modo que, para mudar mesmo, precisamos, antes, reinventar a participação moderadora da sociedade no desenho de nosso destino.

Como as mídias tradicionais tem se mostrado limitadas é preciso contar com a mobilização das mídias sociais e, especialmente com as ruas. A estas cabe mostrar força e união. Às ruas cabe neutralizar os esforços bucaneiros dos piratas de nossa política.  Sem uma presença massiva desta nova forma de mobilização social seria repetir a velha história: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Lamento dizer, mas penso que apenas se, e quando, a sociedade ficar de olho e contar com pesos e contrapesos eficazes, os políticos e agentes públicos se portarão com a devida decência. Por exemplo, é impossível esperar reformas do atual congresso, formado por compadrio entre 28 partidos que repartem o mando. O resto é devaneio de noite de verão.

Conclusão II: Um bom sistema é como a virtude, que só é boa quando a serviço de uma boa causa. Como lembrava Santo Agostinho, “uma virtude a serviço do vício agrava o vício!”. Carlos Lacerda, ao dar um exemplo sobre esta frase da tribuna da câmara, disse, certa feita, que “a pontualidade é uma virtude, mas se for usada para ir ao bar para beber com pontualidade, vai agravar o vício da bebida.”

De maneira que redesenhar o sistema político precede outras providências. É preciso redesenhar os canais pelos quais fui a democracia. Hoje o sistema é uma enganação. As elites fingem que mudam mas, mudar mesmo, não mudam nada. A habilidade com que os políticos “espertos” manipulam as leis e normas em seu favor nesta grande pátria tropical ficou cabalmente demonstrada no arranjo inconstitucional sobre os direitos políticos da Dilma.

  • Fórmula para arrumar a casa

Se fosse para consertar de vez, não seria preciso reinventar a roda: o mundo desenvolvido já mostrou claramente que os mecanismos que melhor funcionam são aqueles baseados em dois princípios:

  1. – Voto distrital – A experiência demonstra que o distrito tende a eleger o melhor candidato de sua área. O conjunto de distritos tende a eleger um congresso com compromissos claros com suas comunidades, o que resulta em um congresso melhor.

(A dificuldade: Os políticos profissionais fogem dessa discussão porque, na hora de se discutir o tamanho dos distritos, o povo de São Paulo vai querer saber porque, para a câmara federal, o voto de um cidadão de Roraima vale 10 vezes mais do que o de um cidadão paulista. E não vai gostar de ficar na segunda classe. Nem de saber que é o que mais paga e é o que menos recebe.

2. – Parlamentarismo – Os mecanismos do parlamentarismo favorecem a governabilidade e ajudam a neutralizar os vícios e as inevitáveis crises do presidencialismo.

(A dificuldade: o presidencialismo de “coalisão” é o regime das melhores negociatas. Vender o voto é um excelente negócio. Somado aos lucros da corrupção, tem sido melhor do que encontrar ouro no quintal.)

  • Pedra à vista: estamos no meio do caminho 

Estamos no meio do caminho. Mas no meio caminho já estávamos quando conquistamos as eleições diretas. Parecia, naquele tempo d’antanho, que havíamos de seguir em frente. O governo de Fernando Henrique Cardoso, sobretudo, foi auspicioso e parecia indicar um tendência pela prosperidade autossustentada. Mas, ledo engano: nossa natureza de sul-americanos não demorou a aflorar e a nos submeter. O Belzebu colorado que jura ao povão que dá para viver de milagre, de efeitos sem causa, voltou com seu tridente para nos afastar da lógica e do bom senso. Caímos novamente na tentação das delícias grátis. E agora, no fundo do poço, devemos enfrentar uma penosa e lenta recuperação. Ou, pior, descambarmos de vez, seguindo no destino dos rebotalhos do mundo, a exemplo de Cuba, da Venezuela e de outros fracassados deste e do outro lado do Atlântico.

Mas haveremos de vencer, certo? Vamos enfrentar nossa realidade de frente, esconjurar nossos pecados, cortar as asas da corrupção, ficar de olho no desejo de nossas “zelites” picaretas de meter a mão e de misturar o público com o privado. Temos que acreditar que o impeachment de Dilma, a cassação de Cunha e o indiciamento de Lula no Lava-Jato são sinais de um provir mais promissor.

Uma saída, mais à frente, possivelmente será uma nova constituinte para o século XXI. A Atual constituição é desbalanceada e conduz a uma instabilidade permanente. Até seria muito bom se nosso dinheiro desse, mas o Brasil não tem como manter todos os privilégios, regalias, direitos e benesses contemplados na atual carta. Esta constituição está além de nossas possibilidades. É triste reconhecer, todavia, que enquanto esta perdurar, vamos viver em crise permanente.

  • E a eleição no meio do caminho?

Escolher mal agora pode desperdiçar toda a caminhada já feita. E recolocar as pedras que conseguimos tirar do caminho.

Por isso, como revelei com candura, vou votar em João Dória para prefeito de São Paulo.

Conheço o candidato pessoalmente e já trabalhei com ele em uma parceria internacional. Sei, de primeira mão, que é preparado, competente e trabalhador. O mais importante: acho que, com ele, vamos poder contar com São Paulo para continuar a caminhada no rumo do Brasil decente que queremos.

Que me desculpem os petistas e os vermelhos em geral, mas, com o entusiasmo da esperança, não posso deixar de bradar: Viva o Brasil verde e amarelo.


Ceska – O digitaleiro

Fim dos ratos

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O Flautista de Hamelin reencarnou no Juiz Moro: a Lava Jato está desentocando os ratos que habitam o poder e vai levá-los todos para Curitiba.

Os ratos estão em polvorosa. Pressentem que o fim está próximo. Nunca a confraria dos roedores deste país se sentiu tão acuada. Nunca enfrentou inimigos tão implacáveis, nem tão letais, como o Juiz Sérgio Moro e a Força Tarefa.

Nada a estranhar, portanto, na estridência de seu esperneio.

De todas as bocas de lobo, de todos os antros corruptos, de todos esgotos escancarados, de todos os quadrantes comprometidos com a roubalheira ouvem-se impropérios, ranger de dentes e ataques à Lava Jato e, em especial, contra o juiz Moro.

Todos os ratos que pilharam a pátria sem dó agora se juntam nos rompantes guturais do coral da cloaca. Vendo o cutelo zunindo em sua direção, vociferam a cantilena de golpe que ecoa pelos porões putrefos daquele que foi o mais perverso dos governos que o Brasil conheceu.

Segundo disse à Folha de S. Paulo o Procurador Dalton Dallagnol, coordenador da Força Tarefa de Curitiba, “nossa única defesa é a sociedade.”

Fica claro, portanto, que, se queremos um país decente, precisamos nos unir e mostrar que estamos com a Lava Jato e apoiando o Juiz Sérgio Moro, para o que der e vier.

O sentimento majoritário da sociedade brasileira é que chegou a hora de dar um basta. De desratizar o país. De eliminar os ratos para acabar com a roubalheira desenfreada, despudorada, desavergonhada, de uma vez por todas.

Ainda que muitos políticos pensem o contrário, não somos um país de tolos. Somos tolerantes em demasia, é verdade, mas tudo tem limite. Cansamos de tanto bandido, cansamos de tantos roedores.

Fora ratos Já!

“Você sabe o que acontece quando um navio tem ratos demais? Ele afunda. É isto o que acontece.” (David Wong).

Bem, um país com ratos demais também afunda. Que é precisamente o que vemos acontecer com o Brasil.

A verdade sobre os ratos, tanto os rattus rattus, de quatro patas, como os homo rattus (teria mulher rattus?) de duas pernas, é que são insidiosos. E prolíficos: quando encontram condições favoráveis, os ratos se multiplicam como ratos. O que, convenhamos, era de esperar! E, ainda, sendo os ratos roedores incansáveis, roem tudo o que podem. Daí os rombos colossais que vemos à nossa volta no Brasil.

Por isso, a luta contra os ratos não tem fim e o homem vem, desde sempre, tentando se livrar destas pragas.

No combate aos ratos, é mais fácil eliminar o animal de quatro patas, o rattus rattus, como registram diversos episódios do passado.

Por exemplo, em 1508, na pacata Autun, uma pequena cidade da França, cerca de 300 km ao sul de Paris, o vigário acionou o tribunal eclesiástico da localidade para processar os ratos que haviam devorado as plantações de cevada da região.

Naquele tempo era comum este tipo de processo que o direito eclesial e medieval considerava dentro de suas atribuições. Hoje, na igreja católica, ainda existe a benção dos animais, mas nos idos do século XVI, os líderes religiosos acreditavam que os animais poderiam ser possuídos pelo demônio e, portanto processados e condenados pelos tribunais da igreja.

Só para ilustrar, houve um Papa, Leão XIII, que preconizava o exorcismo de animais. Em outro exemplo, o bispo de Lausanne, certa feita, tratou de amaldiçoar oficialmente as criaturas que desobedeciam as ordens eclesiais.

Na França, chegou a existir alguma jurisprudência penal animal, como evidencia uma tapeçaria na antiga cidade de Falaise, referindo-se ao assassinato de um bebê por um porco, em 1386.

Assim é que, em 1508, a pequena cidade de Autun decidiu que haviam evidências suficientes para processar os ratos das redondezas. Os bichos tinham passado de todas as medidas. Pois não é que os desgraçados haviam dizimado a plantação de cevada local?

O crime já era grave por si, pelas perdas econômicas, mas, para piorar as coisas, haviam privado a cidade da matéria prima para a produção local de cerveja. (Não entenda mal: em certas épocas, a cerveja chegou a ser mais popular do que a água, já que, na Idade Média, as práticas sanitárias deixavam muito a desejar. Assim, ainda que servisse com uma boa desculpa, era mais seguro beber cerveja do que água.)

O fato é que, então, o Tribunal Eclesiástico de Autun, solenemente presidido pelo dito vigário, emitiu uma citação convocando os ratos a comparecerem perante o Tribunal. Em deferência à importância dos réus, a corte seria instalado na célebre Catedral de Autun, uma magnífica construção ainda imponente, concluída em 1.146.

Como rezavam as boas regras do direito, um advogado local foi indicado para ser o defensor “pro bono” dos ratos. A atribuição coube a Barthélemy de Chasseneuz, personagem que se tornou conhecido e respeitado pela forma engenhosa como defendeu as ratazanas de Autun.

Os autos do processo registram que, no primeiro dia do julgamento, os ratos não compareceram.

Chassenez argumentou ao Tribunal que a intimação fora inválida. A intimação, feita dos púlpitos, não teria como chegar aos acusados, que tendiam a viver sozinhos. O advogado insistiu que cada um de seus clientes devia receber uma intimação individual.

Depois de acalorado debate, o juiz decidiu que Maitre de Chassenez tinha levantado uma questão relevante e foi decidido que uma intimação fosse devidamente afixada nas igrejas de toda a cidade e das cidades vizinhas. (Consta que perto do chão, na altura dos olhos das criaturas endiabradas, para facilitar a leitura por parte dos réus).

Mas os ratos continuaram em desobediência e não se deram ao trabalho de aparecer na segunda citação.

Foi a esta altura que Chassenez ganhou a reputação que o tornou famoso e o enriqueceu como grande advogado: argumentou que, na medida que o tribunal não tinha proibido a presença dos gatos no caminho, simplesmente não era seguro para seus clientes comparecerem nas audiências em Autun.

Ora, o Estado de Direito já fazia sentido na França em 1508: se um acusado não pode ter assegurada sua segurança pessoal para comparecer diante de um tribunal para responder às acusações, poderia ser dispensado de obedecer à citação. E assim foi que, por decisão da corte, os ratos continuaram vivos e soltos.

Outro episódio medieval, desta feita com um desfecho menos favorável aos ratos, exige que recuemos ainda mais 250 anos na história.

Conta-se que, precisamente no dia 26 de junho de 1284, um “caçador de ratos” se apresentou com uma proposta ao prefeito de Hamelin. A cidade, que estava tão infestada de ratos como o Brasil hoje, queria se livrar da praga que a assolava. O caçador se propunha livrar a cidade dos ratos mediante uma recompensa. Haveria um alta conta a ser paga pela população, mas a cidade se veria livre da praga para sempre.

O mencionado “caçador de ratos”, um personagem que entrou para a história como o “Flautista de Hamelin”, pôs-se a trabalhar. O “caçador de ratos”, que era, na verdade, um músico que tinha uma flauta cujo som atraia os ratos, saiu pelas ruas da cidade tocando seu instrumento. A população viu, assombrada, que os ratos, enfeitiçados pela música, seguiram o flautista até o Rio Wesser, onde foram caindo e morreram afogados.

Todos festejaram e ficaram muito felizes: o fim dos ratos prometia uma nova era para o povo da cidade de Hemelin.

Mas e agora? O que esta história da Alemanha Medieval tem a ver com o momento que vivemos no Brasil?

Simples: O Juiz Moro é o nosso “Flautista de Hemelin”. A flauta á a Polícia Federal e a música é a lei. Os ratos, como estamos vendo, são todos da espécie homo rattus, bípedes corruptos que estão sendo desentocados e tendo que se explicar diante da lei.

De nossa parte, o que devemos fazer é apoiar de todas as formas possíveis a Força Tarefa da Lava Jato e o Juiz Sérgio Moro.

E aproveito para enviar um recado ao Temer e seu grupo da velha guarda (e velhos hábitos) que assumiram o plantão: a Lava Jato vai acabar quando acabar. A limpeza vai ser geral e irrestrita.

Segundo o Ministro Teori, “A gente puxa uma pena e vem uma galinha“. Portanto, enquanto houver pena solta por aí, o povo vai continuar mobilizado. Podes crer. Assim, que fique claro para todos os efeitos: a Lava Jato vai acabar quando tiverem acabado as galinhas e eliminados todos os ratos que infestam o Brasil.

Se você é também desta opinião anota aí: dia 31 de julho próximo vamos todos para a rua participar da próxima megamanifestação de apoio à Lava Jato e ao Juiz Moro.

E lembre-se: país rico é país sem ratos!

Em tempo: este post já estava na internet quando o Youtube publicou o público de Curitiba aplaudindo o Juiz Sérgio Moro, em um teatro, durante show da Banda Capital Inicial, dia 25 de junho.

Ceska – O digitaleiro


O Ano do Orangotango

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O Brasil vai sempre lembrar 2016 como um ano insólito

O Ano do Orangotango

A fuzarca assola o país. É tanta zica que só pode ser castigo cósmico.

No horóscopo chinês, 2016 é o Ano do Macaco. No Brasil, pelo tamanho da encrenca, só poderia ser o Ano do Orangotango.

Nossa atual crise, uma esculhambação jamais vista antes neste país, tem o jeito mal encarado de um Orangotango, só que bicéfalo.

Numa das cabeças temos um presidente “vintage”, que se vira com status de substituto e pose de primeiro mordomo e, no outro crânio, um recipiente agora oco, posto que descerebrado, remanesce a dita “afastada”, uma quase “ex-presidenta” desidratada, ranzinza e cada dia mais furibunda, agora que a deixaram sem avião.

Esta bizarra criatura de duas cabeças – refiro-me ao orangotango, óbvio – começou o ano atazanada e resolveu que pagaríamos todos os nossos pecados de uma só vez. A partir desta disposição, nada que tenha o dedo do coisa-ruim tem escapado da faxina ampla, geral e irrestrita.

A Lava Jato vem usando o ventilador em sua capacidade máxima.

As instituições, por seu turno, balançam sob abalos de proporções sísmicas, provocadas por gravações insólitas, que desnudam, fáticas, algumas das figuras mais herméticas da república. Figuras caricatas, toscas, fétidas, pilhadas em eventos sórdidos, assás nauseantes, reais arquétipos de corrupção explícita. (Ufa!…)

Algumas destas figuras, ademais, não escondem estar dispostas a se aventurarem em esquemas e maquinações malucas na desesperada tentativa de escaparem de Curitiba.

Suas excelências, antes bem falantes e fagueiras, agora catam desculpas gaguejantes, atarantadas, aparvalhadas. É um espetáculo patético. É triste, mas impagável, ver os digníssimos, sempre tão empertigados, demonstram temer mais o juiz Moro, em Curitiba, do que temeriam o Conde Drácula, na Transilvânia.

E ainda, o mais atroz vaticínio neste Ano do Orangotango, horrendo e insopitável, que insiste em espalhar paranoia em Brasília: eis que todas as conversas foram gravadas; eis que todos farão delações premiadas; eis que todas as trapalhadas serão reveladas; eis que todas as bandalheiras serão punidas; eis que toda a roubalheira deverá ser devolvida.

Para complicar, o exemplo de Lula e Dilma fez escola. E, dado que o mau exemplo é mais corrosivo que o ácido, o país, que já não era sério, que sempre foi amigo do jeitinho, parou de acreditar no bom senso.

Segundo o catecismo petista, bom senso é bobagem antiga. Muito antiga. De antes do Lula. É coisa do tempo de um tal Aristóteles, um cara que falava grego. Funcionava assim: para alcançarmos uma vida próspera e feliz. devemos utilizar como instrumento a frônesis (já imaginou?), que significa “justa medida”, uma combinação de comedimento e equilíbrio que resulta no tal “bom senso”.

O velhote da Grécia dizia ser esta uma sabedoria prática, acessível a todo o povo pelo uso do cérebro (uso do quê? abusado o Tóteles, hein?). Por exemplo, um guerreiro, com pouca coragem, se torna um covarde; com muita coragem, se torna temerário e pode se dar mal. Alguém que tem a obsessão de poupar dinheiro vira sovina; em contrapartida, aquele que nunca guarda nada, torna-se esbanjador e vai à falência. Assim, pregava Aristóteles, o caminho correto para uma vida boa e feliz está no equilíbrio e na ponderação.

De modo que, descartado o citado “bom senso”, devidamente xingado de neoliberal, nenhum petista queria ouvir falar em mérito e decência. Havia uma “ética” do partido: era nossa vez de “enricar”, de “meter a mão”. E nem as “zelite”, nem ninguém mais tasca.

Tanto fizeram que instalou-se a crise e a sociedade cansou. E, repetindo Rui Barbosa, “de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Por consequência, com a adoção generalizada do “gasta que eu gosto”, hoje vivemos o efeito desta onda produzir o colapso em série nos estados e municípios. São dezenas de estados e centenas de municípios que estão na bancarrota, sem dinheiro até para pagar salários.

E foi nesta toada, ao se espalhar pelo país a seita petista, avessa às boas práticas de gestão da coisa pública, que o festival de gastança tirou os calços. Por exemplo, criaram-se milhares de cargos públicos. Acontece que cada novo emprego público gera compromissos de salário, aposentadoria e pensão por TRINTA ANOS. São trinta anos de despesa engessada. Grande número comprometida em manter funções obsoletas, como os ascensoristas do congresso nacional, que recebem mais de R$ 12 mil mensais.

E com Dilma, como mãe do PAC, e Lula et caterva com a mão no PAC, para qualquer lado que se olhe, depara-se com o desperdício. Vê-se uma profusão de obras inacabadas. Muitas delas, aliás, criadas só para gerar propina. Como Lula e Dilma acreditam que dinheiro dá em árvore, bilhões foram gastos sem controle. Podemos começar pela transposição do São Francisco, ou pela Refinaria Abreu e Lima, mas a lista é tão extensa que não cabe num só post.

Nestor Cerveró, um dos delatores “premiados”, contou que muitos políticos reclamavam do “pequeno” percentual destinado à propina nos contratos da Petrobras. “Tem muito político que pensa… Isso funciona muito em obra estadual, aí a comissão é 10%. Tinha político ali (na Petrobras) que ficava revoltado: ‘Porra, só isso que vc pode pagar? Fiz uma estradinha e levei 20%'”…

A propósito, Cerveró acusou Dilma de ferrá-lo. E deu o troco. Pelo que disse, Lula e Dilma sabiam de tudo desde o princípio. E apontou a responsabilidade de Dilma na compra da Refinaria de Pasadena, com 700 milhões de dólares pagos a mais.

O fato é que, sendo 2016 o Ano do Orangotango, tudo pode acontecer. Inclusive a volta da Dilma. Mas parece pouco provável. E por uma razão muito simples: político vende a mãe, mas não vende o cargo. Convencer senadores a escolherem o suicídio político é uma verdadeira missão impossível.

Dilma, ainda na cadeira, não conseguiu nem mudar os votos dos deputados, sendo que um deputado, eleito por voto proporcional, ainda poderia pensar em se reeleger com o que sobra de votos petistas. Ainda os haverá em pequena escala.

Já um senador, votando contra o impeachment e, assim, traindo a maioria dos seus eleitores, teria que enfrentar a fúria do eleitorado em uma eleição majoritária. Moral da história: não se reelegeria nem a pau.

Outras manobras de concepção sibilina, como esta proposta matreira que propõe a volta da Dilma com base numa promessa de renúncia e na convocação imediata de eleições diretas, simplesmente afrontam a inteligência da sociedade. Fazer um plebiscito para, depois, se for o caso, convocar eleições gerais, é enrolação da boa. Sem falar que promessa da Dilma tem credibilidade zero. Ninguém acredita.

Em todo o caso, só para ver o tamanho da bobagem, vamos imaginar a sequência destas tais “eleições gerais”: isso exigiria reformar a Constituição de uma hora para outra, com um rito complicado e maioria de dois terços. Mesmo que houvesse apoio de dois terços de ambas as casas e Dilma voltasse ao cargo à bordo desta “promessa”, isto só ocorreria em fins de agosto.

Em seguida, seria preciso começar a votar o projeto em meio às eleições municipais: o primeiro turno das eleições municipais de 2016, que elegerão em todo o país prefeitos e  vereadores, será realizado em 2 de outubro, primeiro domingo do mês. O segundo turno, em cidades com mais de 200 mil eleitores, está marcado para 30 de outubro, último domingo do mês. No congresso, durante a campanha, não se obterá nem quórum simples, quanto mais qualificado.

Passado o pleito, estaríamos no final do ano. Mesmo que as discussões iniciassem em novembro, as decisões pulariam as festas e as férias e seria retomadas depois do carnaval de 2017, que será em 28 de fevereiro. Com todas as chicanas e manobras protelatórias, uma eventual aprovação só ocorreria em meados de abril, na melhor das hipóteses. Então, a menos de dois anos do término do mandato, a eleição não seria por meio do voto popular, seria no plenário da Câmara dos Deputados. Sempre lembrando, claro, que, antes, seria preciso combinar com os russos: o Temer deveria concordar em renunciar junto.

E agora, José?

O Ano do Orangotango tem sido cruel de muitas formas. A roubalheira perene e os eflúvios etéreos estão nos dando uma surra merecida. Para a sociedade, não existe punição mais sádica do que assistir os noticiários. Milhões para cá, milhões para lá, milhões em profusão, milhões de contribuição, milhões no exterior, milhões em grana viva, milhões em espécie, milhões em maletas, em mochilas, em sacolas. São milhões, muitos milhões, mas nenhum, nenhunzinho, na sua mão. (São mais de 60 milhões de brasileiros inadimplentes, somando dívidas superiores a 250 bilhões)

Estamos vendo, de modo palpável, que no governo a irresponsabilidade é mais contagiosa que o sarampo. Que é mais fácil roubar do que ganhar. Que é mais fácil destruir do que construir.

O momento é de suspense. Dilma afastada é um alento. Mas é pouco. Tudo em nossa volta ainda segue se desmanchando. Estamos vendo as coisas continuando a  se complicar. Temos a cada dia uma nova agonia.

Mas, por outro lado, a catarse antipetista, antisafadeza, e anticorrupção está transformando o ano de 2016 em um ano que será lembrado séculos afora. Enquanto houver Brasil, enquanto houverem brasileiros, 2016 será lembrado como o ano insólito, o ano da grande faxina, como o ano da inflexão, como o mais cabal e Orangotango de todos os anos.

Ceska – o digitaleiro


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A Petrobrás e o diabo

Conselhos a um jovem desempregado

Caro jovem desempregado,

Mesmo se não existisse a atual recessão econômica, você ainda assim estaria tendo de lidar com um mercado difícil.  E o motivo é um só: você está entrando no mercado de trabalho praticamente sem nada a oferecer.

Nossa sociedade, há muito tempo, decidiu que era melhor para você passar 16 anos da sua vida sentado inerte em um banco escolar a tentar ganhar experiência real de trabalho no mercado, algo que o ajudaria a ter um emprego mais tarde.

Ainda que o governo lhe permitisse trabalhar quando você já o fosse capaz — ou seja, a partir dos 12 ou 13 anos de idade —, o fato é que ele impôs leis de salário mínimo que criam uma barreira à sua entrada no mercado de trabalho, impedindo que você concorra com pessoas mais qualificadas.  Se o preço mínimo a ser pago é o salário mínimo estipulado pelo governo, então quem irá contratar você em vez de uma pessoa mais velha e mais qualificada?

Não bastasse tudo isso, ainda lhe disseram que, se você concluísse o colégio e se formasse em uma universidade, teria um emprego ótimo, com um alto salário.

E então a realidade chegou e você descobriu que os empregadores não estão interessados em você. Você começa a sentir que os empregadores pensam que você tem poucas habilidades e qualidades que realmente interessam a eles, além de não ter nenhum histórico comprovado de produção de bens e serviços que realmente interessaram a alguém.

Eis aí a raiz do problema. As pessoas mentiram para você por toda a sua vida.

Quando você era criança, você foi bombardeado com slogans sobre igualdade para todos. O impulso de competir e vencer foi reprimido em seus jogos de infância, ao passo que compartilhar e cuidar dos outros foi exaltado como sendo uma qualidade acima de quaisquer outros valores.

Então, em algum momento — quando você tinha entre 7 e 10 anos de idade —, algo mudou. Todo aquele papo sobre compartilhar e cuidar acabou, e um mundo hipercompetitivo surgiu.  Exigia-se que você obtivesse notas altas, fosse excelente em matemática e ciências, fosse perfeitamente obediente, e ficasse na escola o maior tempo possível.  Foi-lhe dito que, se você fizesse isso, tudo daria certo para você.

E, de fato, dá certo para alguns. Mas somente uma pequena minoria de pessoas está disposta a tanta submissão e aprendizado robótico.  E, mesmo entre essas pessoas, nem todas conseguem o que lhes foi prometido. Já para o resto, não há planos. Espera-se apenas que aquelas que fracassaram em algum momento irão recuperar por conta própria, de alguma maneira.

Como você supera isso? Tudo se resume ao trabalho remunerado.  Mas há a barreira que erigiram entre você e o seu objetivo. Você tem o desejo e está procurando por alguma instituição que valorize o que você tem a contribuir. Mas você não consegue encontrar a recíproca.

Considere isso: por que uma empresa contrata um empregado? A resposta é simples: empresas contratam porque acreditam que o negócio terá mais lucro com o empregado do que sem ele. A empresa lhe paga, você faz seu trabalho e, como resultado, há maiores ganhos do que haveria sem você.

Mas pense bem no que isso significa. Significa que você tem de adicionar mais valor à empresa do que recebe dela.  Para cada real que você ganha, você tem de fazer com que a empresa ganhe um real mais algo extra. Essa tarefa não é fácil. Empresas têm custos a cobrir além do seu salário. Por exemplo, há o custo do seu treinamento.  Adicionalmente, o governo impõe encargos sociais e trabalhistas onerosos.  Há toda a carga tributária que incide sobre as receitas e sobre os lucros.  Além de tudo isso, há incertezas com as quais ela tem de lidar.  Tudo isso representa um fardo adicional à sua contratação pela empresa, que, além de arcar com tudo isso, tem de lhe pagar um salário.

O que isso significa é que você tem de ser mais valioso do que você pensa. Por que os empregos que pagam salário mínimo são tão duros? Porque é difícil para um trabalhador inexperiente valer mais do que lhe é pago. O empregador tem de extrair o máximo de valor possível dessa relação dele com você apenas para fazer com que essa relação traga a ele algum ganho. São grandes as chances de você estar dando prejuízo para a empresa nos primeiros meses de emprego, simplesmente porque você ainda não está treinado. Você acaba se esforçando como um louco apenas para ganhar o mínimo.

Se você já entende essa regra — que você deve adicionar mais valor do que recebe —, então agora você já sabe mais do que a grande maioria dos jovens trabalhadores. E isso lhe dá uma vantagem.  Ao passo que todos os outros estão reclamando sobre o excesso de trabalho e o baixo salário, você ao menos já sabe por que está tendo de lutar tanto. Você está produzindo mais para a companhia do que recebendo dela. Fazer isso consistentemente é a maneira de seguir em frente. Na verdade, esse é o segredo da vida.

No entanto, para seguir em frente, você tem de ser, acima de tudo, um jogador.  Não será nada bom você se acomodar e esperar que o trabalho certo, com o salário ideal, surja magicamente. Esqueça todas as suas expectativas.  Se alguma coisa, qualquer coisa, surgir, você deve aceitar imediatamente. Nenhum emprego é degradante, apesar do que é dito a você. O objetivo é apenas entrar no jogo. Sim, você tem expectativas de salário muito maiores, e você pode alcançá-las algum dia. Mas não agora.

O primeiro passo é entrar no jogo com algum salário, qualquer salário, em alguma área. O medo que tal emprego, qualquer que seja, seja de alguma forma indigno é uma fonte séria de ruína pessoal. Aquelas pessoas que estão dispostas a efetuar a maioria dos empregos “degradantes” são exatamente as mesmas pessoas que futuramente poderão ter uma vida mais confortável. Apenas porque você enxerga aquele emprego como “degradante” não significa que ele não seja valioso para os outros e, especialmente e em última instância, para você.

Você sempre aprende algo com todo e qualquer emprego que você consegue. Você aprende a interagir com terceiros, aprende como um negócio funciona, como as pessoas pensam, como os patrões pensam, e percebe na prática que aqueles que são competentes vão muito mais longe em relação àqueles que falham. Trabalho é um aprendizado contínuo, tanto quanto — ou até mais que — a escola.

O principal medo das pessoas é que seu trabalho irá, de alguma maneira, definir suas vidas. Consequentemente, elas concluem que um emprego de caixa no supermercado irá redefinir ou até mesmo diminuir quem elas são. Essa noção é completamente falsa. Aquele trabalho é um tijolo em sua fundação.

Para conseguir qualquer emprego, você tem de fazer mais do que apenas deixar um currículo ou enviar um pela internet. Você tem de se destacar na multidão. Isso significa que você tem de se vender como uma mercadoria de qualidade.  Você tem de fazer propaganda de si mesmo (e o marketing é o aspecto menos valorizado e ainda assim o mais crucial de todos os atos comerciais). Isso não é degradante; isso é uma oportunidade. Descubra tudo o que você conseguir sobre a empresa e seus produtos. Depois de solicitar o emprego, você tem de voltar ao local várias vezes, se encontrar com os gerentes, se encontrar com os donos — tudo com o objetivo de mostrar a eles quanto de valor você irá adicionar à empresa.

Neste novo emprego, o sucesso não é difícil, mas requer disciplina. Apenas siga algumas regras simples. Nunca se atrase. Faça imediatamente tudo aquilo que seu supervisor imediato lhe diga para fazer. Faça mais rapidamente e mais minuciosamente do que ele espera. Quando o trabalho estiver completo, faça algumas coisas inesperadas que adicionem valor ao meio. Nunca reclame. Nunca faça fofoca. Nunca participe e tome parte das politicagens do alto escalão. Seja um empregado modelo. Esse é o caminho rumo ao sucesso.

Tudo isso não se resume a apenas adicionar valor à empresa. É sobre adicionar valor a si mesmo. A era digital nos fornece todos os tipos de ferramentas incríveis para acumular capital pessoal. Crie uma conta no LinkedIn e anexe seu emprego à sua identidade pessoal. Comece a criar e a aglutinar essa rede essencial. Essa rede é algo que irá crescer ao longo da sua vida, começando agora e durando até o fim. Pode ser a mercadoria mais valiosa que você tem além de seu próprio caráter e suas habilidades. Tenha posse de sua experiência de trabalho e faça o seu próprio caminho.

Enquanto estiver fazendo todo esse excelente trabalho, você precisa estar pensando sobre dois possíveis caminhos adiante, cada um deles igualmente viável: progredir nessa mesma empresa ou mudar para outra empresa. Você deve ir para onde é melhor para você. Nunca pare de olhar para seu próximo emprego. Isso é verdade agora e sempre será ao longo de sua vida.

Um grande erro que as pessoas cometem é se envolver emocionalmente em uma instituição. A lei estimula essa atitude ao amarrar todos os tipos de vantagens ao emprego você tem atualmente. Você tem plano de saúde, tempo livre, aumentos salariais regulares, e é sempre mais fácil ficar com aquilo que você já conhece. Mas fazer isso é um erro. O progresso vem por meio de rompimentos, e algumas vezes você tem de romper consigo próprio para fazer esse progresso acontecer.

Estar disposto a renunciar à segurança de um emprego em troca da incerteza de outro dá a você uma vantagem.  Pessoas medianas ao seu redor farão de tudo para sacrificar cada princípio e cada verdade em troca dessa sensação de segurança. As pessoas, com poucas exceções, temem a incerteza de um futuro desconhecido e se apegam firmemente à aparente segurança de uma situação já estabilizada.  Você pode se livrar dessa propensão, mas isso requer coragem, assunção de riscos, e um ato consciente de desafiar o convencional.

Você deve sempre ver a si próprio como uma unidade produtiva que está sempre no mercado de trabalho. Você pode ir ascendendo de empresa para empresa, sempre melhorando suas habilidades e, portanto, seus salários. Nunca fique com medo de tentar algo novo ou de mergulhar em um novo ambiente de trabalho.

Administrar inteligentemente suas finanças é algo crucial. Nunca viva no mesmo nível de sua renda. Sempre viva abaixo de sua renda. Seu padrão de vida deve corresponder à sua segunda melhor oportunidade de emprego, aquele emprego do qual você abriu mão ou aquele que você pode aceitar no futuro. Se você se apegar a essa prática — e isso requer disciplina —, você será livre para escolher onde trabalhar e a aceitar maiores riscos. Você também terá um colchão de segurança caso algo dê errado.

Ao mesmo tempo, pode haver vantagens em se manter por um bom tempo na mesma empresa, mesmo se todas as outras pessoas ao seu lado estiverem continuamente se movendo. Se isso acontecer, você ainda assim deve continuar se vendo como estando no mercado. Você está no controle de si mesmo. Não se sinta preso a nenhum patrão, por maior que seja sua gratidão a ele.  Mas também entenda que ninguém deve a você um emprego e um meio de vida. Essa é a única forma de fazer julgamentos claros sobre seu caminho na carreira.

Em todo e qualquer emprego, você irá aprender sobre ética humana, psicologia, emoções e comportamento. Boa parte do que você irá aprender será esclarecedor e encorajador.  Outra parte, entretanto, pode não ser agradável e pode até mesmo ser um choque para você.

Primeiramente, você irá descobrir que as pessoas em geral são extremamente relutantes em admitir erros. As pessoas irão defender uma opinião ou uma ação até o fim, mesmo que todas as evidências e até mesmo toda a lógica estejam contra. Desculpas sinceras e admissões de erro genuínas são as coisas mais raras deste mundo.  No entanto, não há motivo nenhum para exigir desculpas ou em ficar ressentido quando os pedidos de desculpas não surgirem. Apenas siga em frente. Tampouco você deve esperar que seja sempre recompensado por estar certo. Pelo contrário, as pessoas geralmente ficarão ressentidas e tentarão lhe inferiorizar.

Como você lida com esse problema? Não fique frustrado. Não busque por justiça. Aceite a realidade como ela é. Se um emprego não está funcionando, siga em frente. Se você for demitido, não busque vingança. Raiva e ressentimento não trazem absolutamente nada. Mantenha-se focado no seu objetivo, que é o avanço profissional e pessoal, e encare tudo aquilo que possa atrapalhar seu caminho como algo a ser superado e ignorado.

Em segundo lugar, todos queremos acreditar que fazer um bom trabalho e tornar-se excelente em algo irá nos trazer uma recompensa pessoal. Isso nem sempre é verdade. Excelência transforma você em um alvo da inveja daqueles à sua volta que fracassaram em relação a você. Excelência geralmente pode prejudicar suas expectativas de sucesso. A meritocracia existe, e até mesmo prevalece, mas é conseguida por meio de sua própria iniciativa; ela nunca lhe é garantida livremente por algum indivíduo ou instituição. Todo o progresso pessoal e social ocorre porque você sozinho se esforçou e superou todas as tentativas de todos ao redor de você de lhe atrapalhar.

Em terceiro lugar, as pessoas tendem a possuir uma propensão à imobilidade e à comodidade, preferindo seguir ordens e instruções a tomar iniciativas próprias; a maioria das pessoas não consegue imaginar como o mundo ao redor delas pode ser diferente caso elas tenham mais coragem e iniciativa.  Se você conseguir criar o hábito de imaginar um mundo que ainda não existe — exercitar o uso da imaginação e da criatividade em um âmbito comercial —, você pode se transformar na mais pessoa mais valiosa ao redor. Você pode estar entre aqueles que podem ser os genuínos empreendedores. Sim, sem exagero, você pode até mesmo criar algo que mude o mundo.

À medida que você for desenvolvendo o uso desses talentos, e à medida que eles forem se tornando cada vez mais valiosos para aqueles à sua volta, lembre-se sempre de que você não é infalível. O mercado de trabalho pune o orgulho e a arrogância, e recompensa a humildade e o espírito de aprendizado. Seja feliz por seu sucesso, mas nunca pare de aprender. Há sempre mais a conhecer porque o mundo está sempre mudando, e nenhum de nós pode saber tudo. O segredo para se prosperar nessa vida é estar preparado não apenas para mudar junto com a vida, mas também para se antecipar às mudanças e conduzi-las.

Do seu ponto de vista atual, desempregado e com poucas perspectivas adiante, seu futuro pode parecer desesperador. Mas essa percepção não é verdadeira. Há barreiras, sem dúvida, mas elas estão lá para ser ultrapassadas por você e somente por você. O mundo não funciona da maneira como lhe falaram quando você era criança. Lide com isso e comece a se envolver com a realidade à sua volta da maneira que ela é, usando inteligência, astúcia e charme. Você é o tomador de decisão supremo, e o seu sucesso ou fracasso em última instância dependerá das decisões que você tomar.

De várias formas, você é uma vítima de um sistema que conspirou contra você. Mas você não irá a lugar nenhum agindo como um coitado e tendo uma mentalidade vitimista. Você não precisa ser uma vítima. Você tem livre arbítrio e autonomia.  Com efeito, você tem o direito humano de escolher. Hoje é o dia de começar a exercitá-lo.

Publicado originalmente no site do Instituto Ludwig Von Mises

A Petrobrás e o diabo

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Lula e Dilma fizeram o diabo com a Petrobrás

A Petrobrás é uma benção ou uma praga para o Brasil?

Relata o apóstolo Mateus, no evangelho, (4:8-9), que Jesus, após o batismo, teria vencido a três grandes tentações. Se cedesse em qualquer das três, teria frustrado sua missão na Terra.

Na terceira tentação, Jesus teria sido levado pelo diabo a um monte muito alto. Do cume do monte o diabo teria mostrado todos os reinos do mundo e a glória deles e teria dito ao Messias: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”.

O preço a pagar para receber a ajuda do diabo na conquista do poder sobre as coisas materiais é prostrar-se diante do dele e adorá-lo. Esta passagem do evangelho fala em traição.

Para obter o poder absoluto, para fazer e desfazer das coisas deste mundo, sem dar satisfações, é preciso trair. E é preciso vender a alma, é preciso “fazer o diabo”, como, aliás, confessou com candura a afastada Dilma. E, neste processo, é preciso trair o povo e mandar seus interesses para o inferno.

Visto do alto do monte, no cenário brasileiro, a maior das glórias e o mais rico dos orçamentos é o da Petrobrás.

E cada governante deste país, desde que a empresa foi criada, em 1953, tem sido submetido à mesma tentação. A cada um deles, o diabo oferece a Petrobrás. E todos tem sucumbido à ela. Alguns mais, outros menos.

Os presidentes militares caíram em tentação por um dos sete pecados capitais: a soberba nacional, que se expressava pela manifestação de orgulho e arrogância. Ainda assim, mantiveram-se com algum pudor.

Quando chegou a vez do Lula, o diabo o levou ao cume da montanha e mostrou a Petrobrás. Foi amor à primeira vista. “Tudo isto vai ser meu”? quis saber Lula, os olhos brilhando.

E o capeta, esfregando as mãos, já antevendo a esbórnia que ia dar, respondeu: “tudo isto vai ser teu, desde que tu me entregues tua alma e pagues religiosamente as propinas do PT, do PMDB, do PP e caterva”.

Para o tinhoso, estava tudo dominado. Para Lula, era a glória! Exultante em botar a mão na Petrobrás, nem titubeou. Fechou negócio no ato. É de se imaginar que seus olhos aboticaram e, sem se conter, saltitava de cá prá lá, girando os braços no estilo que copiou da Elis Regina. Só podia estar radiante. Amigo do demo ele já era de muito tempo, mas agora iria ser parceiro!

Há quem diga que, neste dia, a estátua do Padinho Cícero verteu lágrimas que, de tão abundantes, resvalavam pelos botões de sua batina de pedra caiada. Mas Lula não era cabra de fazer pela metade. Então, sem titubear um segundo, partiu para a ação, implantando a transposição do dinheiro da Petrobrás para seu projeto de poder.

Para operar a safadeza, que era muita e opulenta, estabeleceu a parte que cabia a cada um. De início, nomeou os diretores que representariam o diabo na diretoria da estatal. Mas, nem com todo o enxofre vertendo pelas ventas, foi coisa fácil.

Relata, em sua delação, o ex-deputado e ex-presidente do PP, Pedro Corrêa, que houve alguma resistência corporativa ao avanço da diretoria do “Projeto Satanás”. Segundo o delator, o partido havia indicado Paulo Roberto Costa para a diretoria de abastecimento, mas a nomeação emperrou.

Lula, então, teria ligado à José Eduardo Dutra, na ocasião presidente da estatal, para saber que diabo estava atrapalhando.

Dutra, tolo que era, ainda tentou argumentar:

Mas Lula, eu entendo a posição do conselho. Não é tradição da Petrobrás assim, sem mais hem menos, trocar um diretor”.

Qual o quê! Acordo com o diabo é como sentença do Supremo: tem que cumprir e acabou.

Lula, possesso e enfezado, mandou passar por cima da tal alegada tradição, ameaçando demitir os conselheiros teimosos que havia nomeado. Segundo Corrêa, o ex-presidente teria dito: “Se fossemos pensar em tradição, nem você era presidente da Petrobrás e nem eu era presidente da República”.

Assistindo tudo aquilo, o diabo se estrebuchava de tanto rir.

Em outro episódio da série, que seria hilária se não fosse trágica, um grupo do Partido Popular foi ao Palácio do Planalto falar com Lula e reclamar da “invasão”. Corrêa relata que o, à época, presidente, passou uma descompostura nos deputados.

Lula foi logo dizendo que eles “estavam com as burras cheias de dinheiro” e que a diretoria era “muito grande” e tinha que atender a outros aliados”. Segundo o relato, os caciques do PP se conformaram quando Lula lhes garantiu que a maior parte das “comissões” seriam dirigidas para a sigla.

E a Petrobrás, sob o comando satânico, foi se desfazendo. De maior empresa brasileira para a empresa mais endividada do mundo. Nunca antes neste país, tanto dinheiro foi pelo ralo tão depressa: a empresa registrou a maior perda em valor de mercado, em números absolutos, desde o ápice no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, em 2008, Segundo a consultoria Economatica.

A petroleira, que tinha chegado a um valor de mercado de 510,3 bilhões de reais em 21 de maio de 2008, em janeiro de 2016 não valia mais que 73,7 bilhões de reais, uma perda de R$ 436,6 bilhões, em queda de 85,55%.

O mais insano é que, se de fato, a corrupção respondeu por apenas 6 bilhões de reais, como diz a Petrobrás, para meter a mão nesta quantia o PT e aliados queimaram 430 bilhões. Há que se reconhecer que as diabruras do PT foram mesmo infernais. O belzebu estará orgulhoso do bom negócio que fez com o Lula e, por extensão, com a Dilma.

Mas e agora, o que vai acontecer daqui para a frente?

Com o Lula fora e a Dilma afastada, o diabo precisa sair para uma nova rodada de negociações. Vai tentar o Temer. O Temer tem uma figura com toques mefistofélicos que deixa o diabo com o pé atrás. Mas negócio é negócio. A Petrobrás vai continuar na parada da corrupção? Continuará a ser parte do botim eleitoral? Continuará a ser sangrada para enriquecimento dos políticos e safados de plantão?

Um antigo e sábio ditado diz que “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é bobo ou não tem arte”. Onde tiver dinheiro público, onde tiver dinheiro “sem dono cuidando”, lá estará o diabo obrando tentações e lá haverá gente metendo a mão.

Os liberais defendem o estado mínimo porque acreditam que lutar contra a natureza humana, contra a cobiça e contra o patrimonialismo que mistura o público com o privado, apenas com base em prédicas moralistas, é enxugar gelo ou, pior, é criar uma cortina de fumaça para que a corrupção prospere camuflada.

Mecanismos de governança e transparência podem ajudar a controlar a roubalheira desenfreada, mas serão sempre impotentes diante da criativa malandragem tupiniquim. No Brasil, não dá para facilitar. Medidas ditas de “prevenção” sempre serão vencidas pelos truques e maracutaias engendradas pela turma formada na melhor escola de corrupção do mundo, a brasileira.

A resposta, portanto, é de clareza meridiana: privatiza. Enquanto a Petrobrás for estatal, ela será alvo da cobiça dos políticos e burocratas. E ela será a grande aposta do diabo para fomentar a corrupção e, de quebra, infernizar a nação.

Agora, privatizar a vaca leiteira dos milhares de parasitas que mamam em suas tetas não vai ser bolinho. Como, então, convencer a sociedade brasileira que o melhor a fazer é privatizar a Petrobrás?

Essa daí é uma questão deveras complexa. Após anos de lavagem cerebral, na base do discurso do “Petróleo é Nosso”, muita gente ainda confunde petróleo com Petrobrás. O petróleo é nosso porque está em nosso subsolo e ninguém vai levar o petróleo embora.

Já a Petrobrás, ao contrário do que apregoa, não é “nossa”. Ela é um polvo tentacular que opera em pelo menos 35 países: Brasil, Bolívia (lembram que tomaram nossas refinarias e perdemos investimentos de 6 bilhões de dólares?) Paraguai, Peru, Colômbia, Uruguai, Argentina, Chile (A Petrobras informou, recentemente, que concluiu a negociação da venda de ativos na Argentina e no Chile, como parte de seu plano de arranjar dinheiro para cobrir o rombo da corrupção)Equador, Venezuela, Trinidad e Tobago, EUA (lembram da Refinaria de Pasadena?), México, Cuba (claro!), Senegal, Líbia, Argélia, Portugal, Inglaterra, Noruega, Guiné, Nigéria, Angola, Tanzânia, Madagascar, Moçambique, Turquia, Iraque, Japão, China, Paquistão, Índia, Cingapura (lembram da Venina Velosa da Fonseca, aquela gerente da área do Paulo Roberto Costa que denunciou as falcatruas milionárias da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco? Ela foi mandada para chefiar o escritório da petroleira nesta cidade-estado por Graça Foster, outra que anda sumida, ), Iêmem e Iraque.

Assim, a Petrobrás virou uma multinacional que negocia suas ações na bolsa de N. York e, como se sabe, aliás, vai ter que pagar bilhões de dólares em indenizações nas 28 ações que são movidas nos Estados Unidos  por acionistas que se sentiram ludibriados pela corrupção e consequente desvalorização das ações.

(Anote: O julgamento dos processos contra a Petrobrás está marcado para iniciar dia 19 de setembro próximo, conforme determinou o Juiz Jed Rakoff, da Corte de Nova York)

Portanto, de brasileira mesmo, a Petrobrás hoje só tem a corrupção. Ela é de seus acionistas, ela é do mercado. Hoje a empresa defende mais o interesse de seus acionistas do que algum eventual interesse do povo brasileiro. Por exemplo, pagamos a gasolina mais cara das Américas. Se a empresa é “nossa”, e deixamos que nos explore, somos os maiores trouxas do mundo.

Os ventos estão mudando. A sociedade vem amadurecendo em seu entendimento de que precisamos nos desvencilhar de arcaísmos que nos seguram no passado.

O Brasil precisa de educação, saúde, segurança, uma matriz energética inteligente, habitação, instituições contemporâneas, um mercado livre e integrado, uma infraestrutura de logística e transportes. O país não precisa de monopólios, estatais anacrônicas, cabides de empregos, uma burocracia cara, antiquada e prepotente.

Quando estivermos preparados, saberemos fazer escolhas alinhadas com o Século XXI e nos livraremos do peso de velharias ideológicas do século dezenove. Então a Petrobrás será privatizada, retornando aos cofres públicos parte do dinheiro que já custou ao país, pagando impostos e tirando de nossos ombros a maldição do petróleo.

Quando isto acontecer, vamos produzir mais petróleo do que nunca, vamos ter mais produto a preços menores e o diabo, aleluia, vai ter que achar outro caminho para financiar a corrupção no Brasil.

Ceska – o digitaleiro

Dilma, a sopa de pedra e o sapo

 

Dilma, a sopa de pedra e o sapo

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Dilma fez uma sopa indigesta. Misturou pedra com sapo e lula. Temperou com PT ao gosto. Deu no que deu. Eca….

Dilma, a mulher sapiens, fez uma sopa de restos. Entrou pedra, sapo, lula, um ministério “fim de feira” e muita mandioca, que, em sopa de Dilma, aipim é que não pode faltar. Foi uma pajelança.

Tem quem pense que um governo é uma sopa: uma mistura de ingredientes que devem ser fervidos juntos para produzir um caldo.

O primeiro governo do PT tinha boa proteína na sopa do Lula: Meirelles no Banco Central. Era como um naco de músculo de pescoço que teimava em resistir à fervura do fogo que a esquerda botava para queimar por baixo. O cozinheiro Lula, ainda pouco afeito às lides de forno e fogão, preferia ir com jeito, seguindo a receita econômica do mundo que dava certo – o mundo mal amado dos gringos de “olhos azuis”. Lula xingava os gringos, sem lembrar que os orientais do Japão, China, Coréia, Singapura e outros, de olhos amendoados, também vinham se dando bem à luz do bom senso na economia, aliás, seguindo o mesmo cânone prometido na hoje esquecida “Carta ao povo brasileiro”, dos idos de 2002. De toda forma, bafejado pela herança bendita que recebeu de FHC, que começava a produzir frutos, tudo parecia estar indo bem na sopa, ainda que nela já estivem cozinhando os sapos do mensalão.

O segundo governo do Lula foi o despertar dos embrulhões. Parecia chegado o momento de adotar a feitiçaria heterodoxa, que a ortodoxia era blasfêmia dos neoliberais. Com a saída de Palocci, vieram os aprendizes de feiticeiro. Com pompa e circunstância, começaram as bruxarias na  economia. Abriu-se a caverna da Abra-cadabra: sucediam-se mágicas bestas à torto e à direito. Com dinheiro correndo farto para irrigar a corruptaiada, mesmo o escândalo do Mensalão acabou sendo absorvido, sob regozijo de Lula, que viu seu rival Zé Dirceu ir parar nas masmorras. Para o governo, tudo transcorria em clima de quermesse. O mundo vivia a festa das commodities. Os dólares jorravam da cornucópia das exportações e muita gente, no país do Macunaíma, imaginava que se haviam aberto as portas do jardim do éden. Sob a frouxidão de um presidente que, a aquela altura, saracoteava mais que um Baco de arrabalde em meio a uma balada rap, os rigores burgueses foram lançados ao mar. A Petrobrás virou a casa da mãe Joana. Bilhões eram roubados e o caixa saqueado com a desenvoltura de dona de bordel. Como tudo parecia lindo e maravilhoso, todos os aliados meteram a mão sem “pudô” e a farra do liberou geral saiu do controle.

Era uma folia de reis no planalto. O “pudê” tava uma delícia. E tudo nos conforme: se as “zelite” gostam, deve ser bom. Agora é nóis na fita.  E dado que, para o projeto de poder do PT, os fins justificavam os meios, nada havia a temer.

Para o PT e aliados, após oito anos gulosos aprendendo a gostar do bom e do melhor, com Lula voando solto no salto alto, de repente surge a ameaça que podia acabar com a brincadeira: uma nova eleição se avizinhava. Era preciso pensar o futuro. Largar o osso, nem pensar. O “sapo barbudo”, definição preferida de Brizola para o molusco, gostou de ser presidente. Queria mais. Por ele, bem que tentaria ficar para sempre passeando de AeroLula, sendo bajulado por todos os basbaques bolivarianos da Sul América, e, que beleza, recebendo títulos honoris causa mundo afora. Digno do Guiness: foram 55 títulos de universidades deslumbradas e que não se deram ao respeito!. Só na Argentina foram 11. Mas o Brasil não é a Venezuela. Aqui não dava para engatar uma mudança constitucional que permitisse uma nova reeleição. A salvação é que Lula, o sapo sábio, havia aprendido com o Chapolim Colorado a suspeitar desde o princípio. E, sem querer querendo, plantou a candidatura de um poste. Dilma parecia o poste ideal. Para começar, era um poste sem luz. Não era muito inteligente, arrogante no trato, era péssima em política e ruim até no arremesso de grampeador. Daí que, pensou o molusco de Garanhuns com suas ventosas: o poste (a “posta”??) seria submissa, faria pose, mas seria ele, Lula, que continuaria a mandar nos bastidores. Seria um maestro sem batuta, um Rasputin do sertão. E assim decidiu e ficou feliz. Ele era esperto, muito esperto.

Para ganhar, fizeram o diabo. Abriram os dutos do tesouro. Prometeram enormidades e, o povo, nosso ingênuo e crédulo povo, acreditou. Só que, como diz o ditado, a esperteza, quando é muita, vira bicho e come o esperto. Como as contas não fechavam, as coisas começaram a dar errado. Dilma só fazia o que lhe dava na telha, quer dizer, coisa pouca e atabalhoada. Depois de dar lições de economia à Angela Merkel (e levar um pito equivalente ao 7 x 1), assumiu a nova “matriz econômica”. Desdenhosa, quis mostrar-se acima da matemática, esta ciência que dá nojo em petista que se preza, esta invenção satânica da burguesia de direita para oprimir os pobres e os humildes. Foi uma derrocada anunciada que provou, uma vez mais, que quem não aprende com o passado está condenado a revivê-lo como farsa.

Em um governo cheio de empáfia e distante da realidade, a lei de causa e efeito foi revogada e deixou de valer. Erros sucessivos e incompetência obsessiva solapavam diariamente as bases em que se assentava a economia do país. Dilma, a mulher sapiens, esqueceu que a economia, como a natureza, não se defende: ela se vinga. O crescimento não vinha. O valor das commodities despencou. A Petrobrás não aguentou tanto desaforo. As pedaladas começaram. Quatro anos de deterioração enferrujavam a estrutura do país. A entropia auto induzida emperrava tudo. Para disfarçar seus efeitos e esconder a ferrugem, os taifeiros do PT passaram uma mão de tinta. O Brasil virou uma alegoria que fantasiava uma prosperidade que não lhe pertencia mais. Os 39 ministérios só faziam maquiagem. Neste clima veio a nova eleição.

O que se diz é que Lula tinha decidido ser candidato, como, acreditava-se, era o planejado. Acontece que Dilma o chamou para um canto e teria dito alguma coisa que fez o medo vencer a esperança. Era chato, mas Lula resolveu esperar mais quatro anos. Foi um erro fatal. Livre de escrúpulos, sem eias nem peias, Dilma se lançou em uma campanha despudorada, jogando bilhões na parada, sempre devidamente aconselhada por ministros igualmente aloprados, como Aloísio Mercadante e José Eduardo Cardoso. A candidata jogou para o alto o que restava de decência. Se valendo da mais refinada malandragem de que se ufana este país, aplicando competentes golpes de marketing charlatão, sob a batuta do atual presidiário João Santana, arrancou uma escassa vitória nos grotões. Lá, na beirada pobre do país, os votos foram escandalosamente comprados com o dinheiro do bolsa família. De positivo, só ficou provado que nada acaba mais depressa com um mau produto do que um bom marketing.

Reeleita, reassume a nova Dilma. Agora, ciclista na melhor acepção da palavra, sai para as pedaladas. Na cozinha, assume o panelão. O segundo mandato da mulher sapiens começou com uma sopa de pedra. O Ministro Levy era a pedra. Estava na sopa, mas não tinha nem sabor nem cheiro. A Dilma, mais imperial, arrogante e prepotente do que nunca, fazia questão de humilhar seu ministro. Um ministro, aliás, nomeado “pour épater le bourgeois”  e que era exibido para fazer o contraste e deixar claro quem mandava. A mensagem imperial era clara e tonitruante: “vocês vão ter que me engolir”. “Vocês”, no caso, éramos nós, o povo.

Após um ano patético, Levy foi tirado da sopa. Saiu como entrou. E, com a dignidade intacta, Joaquim Levy, o engenheiro naval com doutorado em economia, foi ser Diretor Financeiro do Banco Mundial (BIRD). Sem a pedra, a sopa ficava cada vez mais à imagem da ex-guerrilheira: uma poção mal cheirosa. No caldeirão da bruxa, a “presidenta” ia jogando todo o lixo que aparecia pela frente. Jogou dentro até um ministério arrebanhado nos restos da feira livre em que virou o congresso. Tentou fazer um acordo com o Eduardo Cunha, mas era tarde. Nas ruas, as multidões eram muitas e o dinheiro era pouco. Como última esperança, a feiticeira aloprada colocou o sapo na sopa. Não funcionou: eis que a sopa de sapo ninguém quis.

E agora, o fim melancólico da era lulopetista está escrito nas estrelas. (Refiro-me às verde e amarelas, aquelas que brilham no firmamento e no coração dos brasileiros.)

A Lava Jato continua moendo petista e vem escancarando as entranhas malignas dos governos de Lula , de Dilma e do PT. O lance final da mulher sapiens, chamar o Chapolim barbudo para o ministério, foi a cereja do bolo: o Sérgio Moro foi mais esperto e soltou a gravação que citava o tal “Bessias”. Fim. Cheque mate.

Agora, na desmontagem do mais estapafúrdio e estrambólico governo de nossa história, ainda se observa um esperneio aqui e outro ali. É a petezada querendo osso. Mas nem mortadela tem mais. Só sobrou mandioca. E sem acesso ao dinheiro público, a empáfia se esvazia, a ilusão acaba, as cortinas se fecham. Tchau, querida

Ceska – o digitaleiro.

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Onda de crescimento represado pode ser a grande surpresa

Prepare-se para uma grande surpresa: um tsunami de crescimento pode vir tomar conta do Brasil já ao longo dos próximos 180 dias. Conversando com diversos empresários nos últimos dias fui surpreendido por um contexto inteiramente inesperado: a existência de um represamento de projetos que estão no gatilho para serem disparados assim que se consolidarem os primeiros sinais de uma mudança nos rumos da economia. Tudo indica que a existência de crescimento represado e projetos prontos para implementação imediata pode disparar uma onda de crescimento por empresas que pretendem “sair correndo” para evitar que eventuais concorrentes cheguem antes e ocupem lugar no mercado. Se esta tendência se confirmar de fato, pode ser que venhamos a assistir a uma autêntica “corrida de ouro” dos tempos do velho oeste.

Ceska – o digitaleiro


 

Dicas de empregabilidade 2

Este blog tem como foco o debate das perspectivas brasileiras na Quarta Revolução Industrial. Mas antes do país se posicionar diante dos desafios que as novas tecnologias como a Inteligência Artificial nos reservam, precisamos arrumar a casa.

Este vídeo apresenta ideias que podem ajudar você a melhorar sua empregabilidade no momento que o país atravessa e preparar-se para encontrar seu espaço no futuro do mercado de trabalho.

Obrigado por sua atenção.

Ceska – o digitaleiro

Emprego bom na crise braba

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Emprego bom em crise braba é para quem vai à luta!

Emprego bom na crise braba existe, mas é difícil de achar.

Se a crise é muita, a competência precisa ser máxima. Ser meio bom não basta. É preciso ser muito, muito bom.

Para quem quer, sempre existe uma maneira de fazer melhor…encontre-a. Este é um conselho de Thomas Edison e vem bem a calhar para quem deseja melhorar sua empregabilidade neste tempos bicudos.

Com crise ou sem crise, tem cerca de 40 milhões de pessoas com emprego formal no Brasil (dados atualizados indicam que são 39,37 milhões de pessoas em março deste ano, contra 41,22 milhões de pessoas empregadas, com carteira assinada, no mesmo mês do ano passado.) Assim, pela lógica, encontrar um para você não é tarefa impossível. Especialmente se você tiver qualidades e souber mostrá-las no lugar certo, na hora certa e da forma certa. Claro, se você tiver talento, competências e uma atitude proativa suas chances aumentam muito. Mas, nestes tempos áridos, não espere que o emprego que você busca caia do céu. De modo que, para encontra-lo, é preciso contar com um bom planejamento e estar disposto a ser flexível, criativo e, mais que tudo, empenhar-se fundo na busca de seu lugar ao sol.

Procurar emprego é trabalho duro e atividade de tempo integral. E exige um “Plano de Ação”, com estratégia, método e disciplina. Ainda mais se você precisa de um emprego para “ontem”.

É um fato da vida, mas em uma crise como a atual você precisa desenvolver uma visão de Raio-X, como o SuperHomem: saber ver através das paredes e descobrir empregos pelo faro.

Um pouco de kabala também ajuda: preste atenção nos sinais visíveis do universo invisível, estudando os sinais emitidos por empresas que possam estar se dando bem na exportação ou atuando em nichos favorecidos pela crise. Estude o mercado para entender seu contexto, localizar as oportunidades e saber o máximo possível sobre as opções de emprego existentes e como você pode chegar até elas.

Mas vamos ao planejamento da ação:

  • Defina o seu papel no mercado

Somos todos atores em nossos papéis na sociedade. Quem afirma isto é o médico e psicólogo Jacob Levy Moreno (1889 – 1974), cientista muito respeitado nas áreas de formação e treinamento, autor do conceito de “espontaneidade” e criador do psicodrama e do sociodrama.

Assim, um emprego outra coisa não é senão um palco onde você vai exercer o seu papel profissional e social. Onde você vai aplicar seus conhecimentos e competências e interagir com seus superiores, colegas e, eventualmente, com os fornecedores, clientes e stakeholders da empresa. Da qualidade de seu desempenho em cada uma das habilidades requeridas para a sua função virá seu grau de empregabilidade.

Uma tarefa que precede a definição de seu papel e de seu posicionamento no mercado de trabalho é listar as competências requeridas para o exercício da função buscada e, em seguida, tomar consciência sobre qual o seu grau de habilidade no desempenho de cada uma delas.

Outro conjunto de definições inclui a sua missão: aquilo que você deseja ser e fazer; sua visão: a forma como você deseja atingir seus objetivos profissionais e pessoais; seus valores: as coisa em que você acredita e seus princípios: o eixo moral de sua vida, sua integridade e lealdade.

Este exercício serve a dois propósitos:

Um, ajuda você a estabelecer seu grau de empregabilidade em um dado setor ou empresa. (Por exemplo, se você domina o alemão, esta é uma vantagem que soma pontos em empresas de origem alemã.) e

Dois, permite que você identifique melhor seus pontos fortes e fracos, facilitando a tarefa de reforçar e destacar seus pontos fortes e melhorar as habilidades em que você se reconhece fraco.   

  • Defina seu foco

Foco significa concentração de esforços em uma área delimitada. Você precisa eliminar tudo o que não é relevante para sua empregabilidade. Não dá para ser bom em tudo. Assim como não dá para ser bom com esforços meia-boca. Então é necessário saber escolher a abrangência de seu foco e deixar de fora tudo o que possa atrapalhar ou roubar energia do seu mix de empregabilidade. Competir por um emprego é como participar de qualquer outra competição: ganha o melhor.

Acontece que nem sempre é fácil saber onde focar seus esforços. Para obter bons resultados é preciso saber o que mercado busca e como posicionar-se de forma favorável para conquistar a pole-position na disputa pelo emprego ou pelo cargo.

Saber focar esforços significa ser profissional. E ser profissional significa dominar não apenas as competências centrais de uma atividade, mas também os detalhes e segredos do desempenho da função. E o bom desempenho requer domínio sobre o papel a ser exercido na empresa ou organização.

A escolha de um emprego, assim como a de uma profissão ou carreira, pressupõe que você sabe qual a sua vocação e qualificação, bem como quais são suas virtudes e defeitos, suas aspirações, aptidões, expectativas e resiliência. Conhece-te a ti mesmo, recomendava Sócrates a quem quisesse conhecer seu lugar no universo. Pode-se supor que o sábio grego não tinha em mente a busca por um emprego, mas conhecer-se a si mesmo é um passo importante, na medida em que você quer um lugar no mercado, que é aquela parte do universo onde estão os empregos.

Portanto, se você ainda não sabe, comece por descobrir quem exatamente você é e o que, precisamente, você aspira em sua vida profissional. Aqui lembrando que Confúcio já dizia: escolha um trabalho de que você goste e você nunca vai precisar trabalhar um só dia na sua vida.

  • A autodescoberta

O ideal é dividir o processo de autodescoberta em duas partes:

Parte um: olhe para dentro de você mesmo. Qual o seu sonho? O que você que fazer em sua vida? Escreva tudo isto e liste seus objetivos, crenças, valores, competências, habilidades, experiências, realizações e conquistas

Parte dois: descubra como os outros o veem. Peça e ouça a opinião de pessoas em que você confia sobre o que elas pensam sobre você. Sobre o que acham de suas habilidades e sobre como percebem o seu desempenho. Pergunte também sobre o que elas sabem em relação ao que os outros falam a seu respeito. Prepare-se para ouvir algumas coisas menos agradáveis, mas encare eventuais críticas como uma ajuda para o seu processo de melhoria em sua empregabilidade. Aliás, desconfie se você só ouvir elogios ou se só falarem bem de você. Afinao, ninguém é perfeito. Até o juiz Sérgio Moro disse que comete erros. Assim não tenha medo de enfrentar os fatos e nem se deixe abater. O que você quer não é uma massagem em seu ego, mas compreender quais fatores podem contribuir ou prejudicar sua jornada em busca do melhor emprego ao seu alcance.

Uma vez que você tenha obtido um bom conhecimento de si próprio e adquirido uma visão clara de seu papel, defina sua nova identidade profissional. Ela deve passar a ser o eixo de seus esforços.

  • Mapeie as oportunidades

Quais são e onde estão os empregos em linha com sua nova identidade profissional?

Pesquise e coloque em seu radar pelo menos 20 empresas que pareçam promissoras.

Descobrir possíveis oportunidades é essencial para o êxito de sua busca a um bom emprego. Tenha em mente, contudo, que apenas uma em cada dez vagas é anunciada – nove são preenchidas a partir de um banco de candidatos, por indicação, recrutamento interno ou remanejamento de pessoal. Outra coisa: apenas um percentual das vagas anunciadas tem qualidade, porque muitos anúncios se referem à pesquisa de salários, empregos temporários, vendas à base de comissão ou picaretagem pura e simples. Portanto, não desperdice seu tempo lendo anúncios periféricos à sua busca e não confie resolver seu problema por meio de anúncios. A boa notícia é que  as empresas sempre tem posições à espera de um candidato certo. As vendas estão desabando? Um bom vendedor poderá ter aí sua chance. É preciso reduzir custos? Quem saiba como fazer isto será ouvido. Mas seja objetivo. As empresas querem resultados.

  • Vá à luta

E, uma vez feito o seu dever de casa, vá à luta. Estude como chegar à cada empresa de sue interesse. Escreva o caminho a ser percorrido. Pesquise entre seus amigos e seu relacionamento se alguém conhece alguém na empresa alvo de seus esforços. Ligue para o RH da empresa e pergunte a quem enviar seu currículo e com quem conversar sobre a área de seu interesse sobre uma posição ou vaga que possa estar aberta. Em crises com a que vivemos muitas empresas procuram agrupar funções e reduzir os salários e o número de empregados. A demissão de um pode ser a contratação de outro, mais qualificado, mais produtivo e, claro, mais barato. E isto cria vagas e oportunidades.

  • Não acredite no primeiro “não”

Fique preparado para encontrar uma barreira de nãos. Em uma grande empresa muitas pessoas tem o poder de dizer “não”, mas apenas um grupo muito reduzido de pessoas tem o poder do sim. Descubra quem tem este poder e não desista enquanto não chegar a elas. Se um caminho não funciona, tente outro.

  • Assuma sua Missão

Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir (Sêneca).

Faça suas escolhas e escreva uma Declaração da sua Missão na busca do emprego.

Use o ensinamento das empresas de primeira linha que usam as “declarações de missão” como forma de definir com clareza os objetivos e o passo a passo planejados. Escreva com detalhes sua declaração: seja específico sobre o que você busca, tipo de empresa, seus valores e crenças, o elenco de habilidades e competências que você deseja utilizar, o tipo de cultura da empresa, o nível da responsabilidade que você se propõe a assumir, a região geográfica, o potencial de carreira e crescimento, disposição para viagens, para mudar de endereço, salário e benefícios desejados. Esta “declaração” ajudará você a manter seu foco. Em momentos de incerteza você poderá se valer desta declaração para recobrar sua confiança e manter seu foco.

  • O Plano de Ação

Um Plano de Ação deve separar o ciclo da atividade nos seus passos: como você vai encontrar as empresas, como você vai reunir seus dados de contato, como site, e-mail e telefone, como você vai fazer o contato, se por telefone, e-mail, etc. Depois de fazer o seu planejamento é preciso partir para o “fazejamento”, como diria o ex-prefeito de São Paulo, Brig. Faria Lima.

Um bom plano deve incluir um conjunto de objetivos intermediários e como chegar a eles.

Por exemplo: desenvolver uma rede de contatos para obter indicação, apoio e referências

Estratégias: Entrar em contato com ex-colegas e conhecidos. Usar grupos no LinkedIn para gerar contatos e conexões. Buscar contato com entidades e associações. Circular e mostrar presença em eventos e oportunidades para relacionamentos. Fazer ligações para os departamentos de pessoal. Mas atenção: selecione os eventos pelo critério da qualidade dos contatos possíveis. Ir por ir é desperdiçar seu ativo mais importante que é o tempo.

Ao selecionar a lista de empresas nas quais você tem interesse seja específico: que tipo de empresa você se propõe a pesquisar, como você vai fazer isto e em que profundidade.

Estabeleça metas de trabalho diárias: quantos contatos por telefone, quantos e-mails personalizados, quantos currículos enviados, quantas entrevistas. Estas metas vão permitir que você tenha indicadores sobre o progresso de seus esforços e se sinta pressionado a cumprir a atividade planejada. Até para garimpar um emprego existe uma curva de aprendizado.

Uma vez que você inicie a busca é preciso manter um acompanhamento de suas atividades e do seu progresso. Quer por meio eletrônico, quer em papel, é preciso ir anotando tudo, desde e-mails enviados, contatos via telefone, entrevistas realizadas, etc. Trata-se de uma rotina tediosa, mas que pode ajudar muito a conseguir o seu desejado emprego.

  • Sua narrativa

Seu empregador terá interesse em conhecer a história de sua vida, certamente, mas o eixo de sua narrativa deve destacar o que você, seus conhecimentos e experiência podem fazer para a empresa no futuro. Para saber como construir sua narrativa procure entender a empresa que você corteja. Se o emprego está anunciado, leia com atenção a descrição da função e outros materiais que você consiga encontrar. Leia o website da empresa, artigos e matérias publicadas, pesquise sobre seus produtos e serviços no Google, busque vídeos no YouTube, enfim procure “sentir” a cultura d empresa. Procure descobrir pessoas que tenham trabalhado na empresa antes por meio de sites de empregos ou no LinkedIn e peça para elas relatarem suas experiências. Por meio deste processo você irá ver a empresa sob diversos ângulos e, eventualmente, criar um sentimento de identidade com a empresa, com seus produtos e até com seus clientes.

Para organizar e facilitar esta tarefa de construir uma narrativa atraente, liste todas as suas habilidades e competências, tanto as que sejam diretamente ligadas a sua experiências profissionais como as ligadas indiretamente, como o domínio de softwares ou de outras habilidades úteis. Para cada uma faça uma ficha (pode ser numa planilha) e coloque um descritivo curto. Assim, à medida que uma entrevista se desenrole, você poderá facilmente encaixar cada um dos temas sem perder o curso da narrativa principal. Se você puder adicionar o relato de alguns casos ilustrativos, use-os, mas cuidado para não usar o escasso tempo da entrevista com coisas não relevantes.

Antes de cada entrevista repasse os temas e selecione os que você pretende utilizar, procurando ajustá-los à empresa, sua cultura e valores, incluindo a “linguagem” da empresa, os termos, marcas a nomenclatura utilizados para descrever seus mercado e produtos. Cuidado com a pronúncia de marcas ou termos estrangeiros. Já vi candidatos de bom potencial se queimarem por demonstrar desconhecimento ou falta de familiaridade com marcas ou produtos da empresa empregadora.

Um processo comprovado para melhorar seu desempenho é escrever sua narrativa e treiná-la. Mas, claro, não apresente sua história como um texto decorado.

Uma boa fórmula de encadear os assuntos envolve seis tópicos:

Primeiro: Quem eu sou. Um resumo de sua história pessoal, onde nasceu e viveu, situação familiar e residência. Entre três e cinco minutos. O importante é deixar claro que você não é filho de chocadeira…

Segundo: Como cheguei aqui. Sua formação, escolaridade, educação, habilidades e competências.

Terceiro: O que fiz em minha vida profissional. Atividades, empregos, cargos, incumbências, missões. De preferência destacando aspectos do seu desempenho sempre que conveniente, notadamente quando tiverem aspectos que possam ser úteis na função desejada.

Quarto: O que busco para o futuro. Tipo de desafio que me motiva, o que gostaria de alcançar.

Quinto: Como antecipo minha atuação no cargo ou função. Esse item requer um cuidado dobrado. Demonstre que você entende os desafios do cargo e que está preparado para enfrenta-los, mas evite fazer afirmações ou emitir julgamentos de valor que possam confrontar políticas, procedimentos ou valores da empresa.

Sexto: Minha ética. O que acredito. Os aspectos éticos tem enorme peso no processo de seleção. Dedicação, compromisso e lealdade com a empresa são valores sempre muito valorizados. Enfatizar estes aspectos é sempre muito importante, mas prefira falar com fatos.

  • Duas recomendações adicionais:

A questão da atitude.

Ter o perfil certo é melhor do que ter o currículo mais longo. Se você pensa em buscar um emprego em empresas como a Ambev, Lojas Americanas, Burger King, Submarino, Bud­weiser, Heinz é bom ter em mente o tipo de gente que seus controladores, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira preferem: os PSD — poor, smart, deep desire to get rich (“pobre, esperto, com muita vontade de ficar rico”). Se você se qualifica, parabéns. Você vai longe.

A questão da apresentação pessoal

Procure apresentar-se em conformidade com a cultura da empresa. Cada organização tem seus valores internos, suas crenças e, eventualmente, seus preconceitos.

A questão do traje é muito importante. Na dúvida sobre o que vestir para a entrevista é bom perguntar para o RH da empresa. Dependendo do tipo da organização e da função, se apresentar fora dos padrões de expectativa da empresa é fatal. Empregos em bancos e na área financeira requerem terno e gravata de cores sóbrias. O setor bancário segue a linha dos banqueiros de Londres, onde “brown is not a gentleman’s color” (“marrom não é uma cor para cavalheiros”).

Para funções gerenciais, se apresentar bem trajado, bem escanhoado e com aspecto de executivo é condição necessária, mas sem exageros. Um exemplo bem ilustrativo: Por alguns anos fui assistente de Mr. Richard Alex Mozer, um empresário norte-americano que, entre outras empresas, era dono da fábrica de Empilhadeiras Yale no Brasil. Uma das minhas incumbências era a seleção dos executivos que seriam encaminhados para uma entrevista final com Mr. Mozer. Haviam os testes preliminares e uma pré-seleção com um psicólogo e tal, mas a principal recomendação que recebia de meu antigo chefe era que evitasse selecionar “os bonitinhos”. Mr. Mozer dizia, com fina ironia, que os executivos brasileiros eram “os mais bonitos do mundo”. Chegavam portando currículos reluzentes, cabelos cortados na moda, calçados italianos, gravatas francesas, camisas e ternos sob medida, tudo impecável. Mas, no dia a dia da operação, eram um desastre: estavam sempre mais preocupados com sua aparência, com academias e vida social do que com o bom desempenho na função. Não caia nesta.

O fator mais importante

Isoladamente, o fator mais importante de empregabilidade no Brasil é a fluência em inglês. Em igualdade de condições, quem tem bom domínio do inglês consegue um emprego duas vezes mais rápido do que quem tem apenas conhecimentos básicos. E recebe, em média, salários 45% maiores (Pesquisa da Catho). Portanto, use seu tempo disponível para dar polimento ao seu inglês. Existem muitas ferramentas grátis no Google, como o tradutor, por exemplo, que, inclusive, ensina a pronúncia das palavras.

(Saiba como melhorar seu inglês – veja abaixo)

Quer um bom emprego? Melhore seu inglês.

Enfim…

Empregos bons existem e existirão. Prepare-se, tenha a atitude certa e saia para a luta. Com crise ou sem crise, se você procurar de verdade, você vai achar seu lugar ao sol.

Sucesso!

Ceska – O digitaleiro


Quer um bom emprego? Melhore seu inglês.

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Quer um bom emprego? Melhore seu inglês.

Receita para conseguir um bom emprego: ganhe fluência em inglês.

Conhecer uma segunda língua é possuir uma segunda alma. Essa é a opinião de Carlamagne, o Rei Carlos, o Grande, que viveu no início da idade média e plantou os fundamentos para a criação da França e da Alemanha.

No Brasil da crise, conhecer o Inglês, além de facultar esta segunda alma, permite conseguir um emprego melhor.

Acho que você sabe disso, mas diversos estudos demonstram a importância do inglês para o mercado de trabalho. Isoladamente, este é o fator mais importante da empregabilidade no Brasil. Estes estudos mostram que a fluência no idioma de Shakespeare reduz para metade o tempo de busca de emprego. Outra coisa, ser fluente em inglês também pode ser determinante para que seu salário seja maior. A revelação veio na 52ª edição da Pesquisa Salarial, divulgada pela Catho. Um profissional em cargo de coordenação, por exemplo, ganha 61% mais que uma pessoa na mesma função, mas que tenha apenas o conhecimento básico da língua. Se não tiver nem o básico, suas chances de conseguir a vaga são praticamente nulas, na medida que há muita gente que tem conhecimentos básicos de inglês e está disputando os empregos.

Em cargos de diretoria, a diferença de salário entre alguém que fala inglês com boa fluência e um profissional sem essa habilidade é de 42%, segundo a pesquisa. Para os cargos de gerência e de supervisão, a diferença é de 57% e de 43%, respectivamente.

Como seria de esperar, quanto mais alto o nível hierárquico, maior o percentual de pessoas que dominam o idioma, mostra o estudo. No caso das promoções, tudo o mais equivalente, um bom domínio do inglês dobra as chances de um candidato ser o escolhido. Mesmo em níveis intermediários, os salários são, em média, 45% maiores.

Portanto, se você está buscando melhorar sua empregabilidade, o melhor investimento de seu tempo será aquele dedicado à conquistar a fluência no idioma do autor de Romeu e Julieta.

I – Como melhorar seu inglês

Línguas se aprendem ouvindo, falando, lendo e escrevendo. Nesta ordem. Existem muitas formas de você melhorar seu conhecimento e fluência no inglês.

Na China, um país que anseia por sua integração ao mundo, existe uma instituição nacional: as “English Corners”. São pontos de encontro de gente de todas as origens e de todas as idades que vão lá, nas sextas feiras à tarde, para praticar seu “inglês oral”. O mais conhecido destes pontos é o Portão de Entrada Este da Renmin University, em Pequing.

Ir à China praticar inglês não parece sensato. Mas você pode fazer um intercâmbio pelo YFU, fazer um curso de imersão em Nova York ou Londres ou Toronto ou, ainda, ir a Sydney e aprender localmente. Você pode optar por um dos inúmeros cursos oferecidos aqui no Brasil, tanto básicos como avançados. Mas não são opções para todo mundo: além do custo elevado, demandam um tempo que você talvez não tenha. Por outro lado, com boa vontade tudo tem jeito: uma boa solução seria juntar um grupo de amigos para exercitar o idioma: o custo é zero e o resultado é garantido.

Mas antes de praticar para obter fluência, você precisa de um patamar mínimo de conhecimentos. O que vamos apresentar aqui são algumas alternativas práticas, eficazes e virtualmente sem custo, que podem ajuda-lo no aprendizado de inglês. Desde que você queira, tenha acesso à internet e ao Google e se disponha a estudar com método e disciplina.

  • Uma língua é um código

Para começar, é importante compreender que um idioma vem a ser o método de comunicação humana que consiste no uso de palavras para expressar o pensamento de uma forma estruturada e convencional. Um língua é um código.

Saussure, o criador da Linguística Moderna, propõe que uma língua é um processo de comunicação que não se dá somente pelo uso das palavras, mas também por gestos, olhares, roupas, cortes de cabelo e quaisquer elementos que possam ser usados como signos. A partir desta linha de pensamento, ele propõe que a Linguística seja incorporada por uma ciência mais ampla: a Semiologia. Esta ciência, também denominada Semiótica, estuda como nos expressamos e como lemos, captamos e entendemos os demais seres humanos por meio da linguagem, dos símbolos e dos signos.

A contribuição desta abordagem é nos fazer perceber que uma língua é um todo que vai além de um vocabulário, que vai além dos meandros gramaticais e reveste de significados esta segunda alma a que aludia Carlamagne.

O que sabemos é que o aprendizado de uma língua fica mais fácil se, ao lado das palavras, pudermos sentir as emoções que elas suscitam. A memória é mais permeável às emoções do que às repetições. As palavras, imantadas pela emoção, são atraídas para o interior da segunda alma, onde se fixam como ímãs de geladeira: visíveis e fáceis de achar. Aprender uma língua é mais fácil, assim, se você aprender a imantar as palavras com a emoção do seu significado.

Para obter fluência, entretanto, é preciso que sua mente “pense” em inglês. Demora um pouco chegar neste nível, mas o importante é praticar todo dia. A estrutura da língua, a ordem da palavras, a flexão dos verbos e as expressões idiomáticas devem se encaixar e formar um quebra cabeças de modo a ir criando as frases e dando sentido ao conjunto.

O ideal é alcançar um estágio de “espontaneidade”, uma expressão criada por Moreno para definir o desempenho mais fluído e natural que decorre da participação do subconsciente em um dado papel ou uma dada atividade, inclusive no processo de usar uma língua. O subconsciente entra em ação quando está suficiente treinado. Portanto, para obter fluência em inglês é preciso treinar o uso da língua até automatizar as respostas. Mas é preciso que o exercício da língua se assemelhe ao contexto de sua utilização no palco do mundo real. Como o cérebro não faz distinção entre o uso no mundo real e o mundo representado, a simulação é eficaz na preparação da mente. Se um simulador funciona para ensinar um piloto a pilotar um avião, também pode ensinar você a usar uma língua. O que é preciso é que a simulação contenha os ingredientes da emoção e de entrega psíquica ao papel ensaiado. Mesmo que você não disponha de uma mesa de escritório para simular uma entrevista, a mesa da sala de jantar serve perfeitamente: coloque a foto de um executivo na sua frente e faça a si mesmo as perguntas de um entrevistador. Sinta a emoção. E permita que seu subconsciente tome o controle. Se quiser gravar para análise, espere para fazer isto quando você achar que já está pronto. Deixe a natureza seguir seu curso e complete sua curva de aprendizado. Não existe motivo para você se auto depreciar prematuramente. Outra coisa: divida seu teatro de entrevista em etapas e avance um passo de cada vez. Primeiro treine e domine a abertura, a entrada, o contato com os olhos, o aperto de mão. No caso do inglês, especialmente daquele que poderíamos chamar de “corporativo”, é preciso, igualmente, “vestir” o figurino e absorver a forma de pensar focada, sintética, objetiva e direta da cultura corporativa das empresas que usam o inglês como língua predominante. Qualquer filme americano sobre temas empresariais mostra isto. É prestar atenção.

  • A fluência

Existe o mito de que haveria uma “fluência” perfeita. Fluência perfeita é coisa que não existe em nenhum lugar do mundo pela simples razão de que a fluência é um fenômeno relativo. Ninguém, nem um nova-iorquino ou um londrino, jamais vai ser completamente fluente em todos os contextos de uma língua como o inglês, que é falado de muitas maneiras diferentes ao redor do mundo. Você poderia ter o inglês como sua língua nativa e ainda assim não entender um motorista da Austrália descrevendo o tempo ou um professor de matemática falando sobre equações.

A língua é uma coisa viva, sempre mudando e em constante evolução. A “fluência”, assim, depende do contexto e do ambiente cultural em que a língua é utilizada.

Isto posto, é perfeitamente aceitável se sua fluência em inglês conseguir explicar seu pensamento, ainda que, para conseguir isto, você precise dar algumas voltas ao usar sua linguagem.

  • A medida da fluência

Alexander Arguelles, um especialista que dedicou sua vida ao aprendizado de línguas, acreditava que se pode definir o grau de domínio de uma língua com base em um conjunto de “patamares”:

250 palavras constituem o núcleo essencial de uma língua e sem as quais não é possível construir frases simples e coerentes.

750 palavras constituem o núcleo do vocabulário usado ​​todos os dias pelas pessoas que falam a língua.

2.500 palavras constituem o “núcleo da fluência”: conhecendo este número de palavras você conseguirá expressar tudo o que você possa querer dizer, ainda que, as vezes, tenha que “dar voltas” e utilizar circunlóquios explicativos.

5.000 palavras constituem o vocabulário ativo dos que falam o idioma de forma corrente, mas que não tem ensino superior.

10.000 palavras constituem o vocabulário ativo dos que falam o idioma de forma corrente e dominam terminologia adquirida no ensino superior.

20.000 palavras constituem o vocabulário erudito e que você precisa reconhecer passivamente, a fim de ler, compreender e apreciar uma obra literária, um romance ou um livro de ficção.

Aprendendo a ser fluente em inglês com o Google

Se você tem um domínio básico da língua, é possível ganhar fluência rapidamente com a adoção de um método simples, fácil e rápido (e gratuito) tomando por base os “patamares” de Arguelles e usando o Google Translator como apoio. Vejamos um passo-a-passo prático:

1. Comece a formar sua lista básica

Vamos para a ação: liste suas 250 primeiras palavras. Em uma planilha, ou até num caderno, faça cinco colunas. Na primeira você escreve em inglês as palavras que você já conhece. Pode começar com as seis da frase mais conhecida: the book is on the table…Na segunda coluna escreva a pronúncia; na terceira coluna você escreve o significado em português; na quarta você identifica gramaticalmente a palavra: substantivo, verbo, adjetivo, advérbio, etc.; na quinta você escreve uma frase usando a palavra listada.

Se você não conseguir 250 palavras em inglês nesta primeira iniciativa, vá para o próximo passo e, na coluna apropriada, escreva as palavras em português que você considera importantes na sua comunicação do dia a dia. Inclua verbos indispensáveis como “eu vou” (I go) “eu venho” (I come) “eu compro” (I buy), eu trabalho (I work) eu como (I eat).

Aí você vai ao Google, entra no tradutor (as vezes fica escondido naquele cubo de seis pontos que fica no canto superior direito), selecione português na primeira janela e inglês na segunda, e, na primeira janela, escreva a palavra em português. O resultado, em inglês, vai aparecer na janela da direita. Copie a grafia na sua primeira coluna do seu caderno ou planilha. Ainda no Google, clique no ícone do alto-falante, no rodapé do quadro, ouça a pronúncia e escreva como pronunciar na segunda coluna.

Suponhamos que você queira pesquisar a palavra “almoço”: Depois de escrever na janela da esquerda você vê, na direita, a expressão “lunch”. Aproveite para observar que, abaixo do quadro, aparecem outras versões possíveis, como “luncheon” (pronuncia-se “lanchen”) e “tiffin”, que é uma forma rebuscada de dizer almoço leve.

Na sequência vá ampliando para o patamar das 750 palavras. Ao chegar a este número comece a cruzar estas palavras entre elas: um substantivo – um verbo – um adjetivo. Escolha um termo chave e comece a formar “clusters” ou “agrupamentos”. Sempre checando a pronúncia e o significado no Google. Esta checagem vai ajudar a evitar confusões e os falsos cognatos, palavras geralmente derivadas do latim e que existem em inglês e português.

Apesar das diferenças entre as duas línguas, ambos os idiomas têm palavras que se assemelham na escrita ou no som. Algumas dessas palavras semelhantes possuem, de fato, o mesmo significado nas duas línguas, como television e computer, que, claro, se traduzem por “televisão” e “computador”, respectivamente. Essas palavras, que têm semelhança ortográfica e o mesmo significado nas duas línguas, chamam-se cognatos.

Entretanto, existem outras palavras que, embora semelhantes, diferem completa ou parcialmente quanto ao significado. Estes palavras são conhecidas como “Falsos cognatos”. Uma pequena lista para ilustrar o cuidado a ser tomado com estas palavras traiçoeiras:

  • Actual – significado em inglês: real, verdadeiro, e não “atual”;
  • Actually – significado em inglês: na verdade, de fato, e não “atualmente”;
  • – Adept – significado em inglês: perito, profundo conhecedor, e não “adpto”;
  • Agenda – significado em inglês: Assuntos do dia, pauta do dia, pauta para discussões, e não “agenda”;
  • Alms – significado em inglês: “esmola”, e não “almas”;
  • Alumnus – significado em inglês: ex-aluno já formado, e não “aluno”;
  • Amass – significado em inglês: “acumular”, “juntar”, e não “amassar”;
  • Anthem – significado em inglês: “hino” e não “antena”;
  • Apparel – significado em inglês: “roupas”, “vestuário” e não “aparelho”;

2. Formação de “clusters” ou “agrupamentos”

Um método muito útil é o da formação de “clusters”. Funciona assim: você escolhe uma palavra chave e constrói um conjunto de frases em volta. Por exemplo, “love”. Você vai no Google Translate e descobre quais os significados e usos da palavra. Para cada uso você faz, ou copia do texto, uma frase.

Love” Como substantivo:

babies fill parents with intense feelings of love

Para ouvir a pronúncia, você seleciona a frase e copia em cima, na caixa da esquerda, clicando, em seguida, no ícone do alto falantes na parte de baixo da caixa de texto.

Abaixo da caixa, no campo à direita, o Google mostra outros significados para o substantivo “love”: amor, paixão, afeição, afeto, ternura, cupido, dedicação, pessoa amada.

“Love” como verbo

do you love me?”

Outros significado possíveis para o verbo “to love”: amar, adorar, gostar de, querer, sentir prazer, sentir afeto

Observe que abaixo da caixa de tradução estão os possíveis significados. E à direita, outros sinônimos, agora em inglês.

Para a palavra “love” aparecem:

“amor” – e depois – love, heart, darling, sweetheart, flame e sweeting

Clicando em “darling” abre uma nova caixa de tradução e assim sucessivamente.

A ideia deste exercício é buscar entender os diferentes significados e diferentes ângulos como o vocábulo é usado. No caso da palavra “love”, embora signifique também “amor” em português, seu emprego em inglês é mais amplo e pode definir sentimentos uma amizade sincera e uma grande admiração.

II – O grande dia – A entrevista em inglês.

Você vai desejar estar calmo e seguro de seus desempenho, o que requer estar o mais preparado/a possível.

Planeje sua entrevista:

  1. Verifique seu “kit entrevista” (currículo, cartão, caneta, bloco de anotações, lenço, uma garrafa de água, as chaves de respostas planejadas, etc.).
  2. Certifique-se do endereço com antecipação. O melhor é passar pelo local na véspera para garantir que você sabe como chegar, onde estacionar (se for de carro) e “sentir” o clima do espaço.
  3. No dia, chegue cedo. Um meia hora antes. Mas se apresente cerca de 10 minutos antes da hora da entrevista. Assim uma eventual demora na recepção não vai elevar sua ansiedade.
  4. Relembre o nome do entrevistador ou da equipe de entrevistadores (tenha um cartão com os nomes anotados). Cuidado com a pronúncia dos nomes, especialmente e forem estrangeiros.
  5. Vista-se conforme o estilo da empresa. Se não sabe, pergunte para o RH.
  6. Não use perfume. No máximo uma água de colônia ou um desodorante bem leve.
  7. Evite chegar suado. Se preciso, lave o rosto e as mãos no toalete antes de entrar. Use o lenço para enxugar as mãos e prepará-las para os cumprimentos.
  8. Desligue o celular (muito importante), feche os olhos por um momento, respire fundo, e relaxe.
  9. Caminhe com passos firmes, faça contato com os olhos e aguarde que o entrevistador estenda a mão para os cumprimentos.
  10. Se estiver com uma pasta, procure colocá-la sobre outra cadeira. Evite colocar no chão.
  11. Responda as perguntas sem atropelo, com voz pausada e audível.

Como preparar as respostas para entrevista:

A menos que você tenha pleno domínio da língua, o que, se fosse caso, não justificaria ler este artigo, o melhor meio de começar uma entrevista é começando em terreno conhecido. E usar frases preparadas com antecedência para serem utilizadas em assuntos que serão abordados na maioria das entrevistas

A primeira frase de cumprimentos é, geralmente, do entrevistador. Ele dará as boas vindas ou algo assim. Em sua primeira resposta, comece com uma frase pronta e bem ensaiada. Por exemplo, “nice to meet you” ou “it’s a pleasure to meet you.”

Prepare e treine com antecedência a resposta a algumas prováveis perguntas que surgirão em entrevistas em inglês:

  • – “Tell Me About Yourself” – Fale-me sobre você;
  • – “Describe Your Current (or Most Recent) Position” – Descreva sua atual ou mais recente posição;
  • “Why are you leaving your current job?” – Porque você está saindo de seu emprego atual?
  • “Why are you looking for a new opportunity now?” – Porque você está procurando por uma nova oportunidade?
  • “What are your strengths?” – Quais são seus pontos fortes?
  • “What are your weaknesses?” – Quais são seus pontos fracos?
  • “What is your greatest weakness?” – Qual seu ponto mais fraco? (Esta é uma pergunta que as vezes surge como variante da anterior)
  • “How well do you work under pressure or tight deadlines?” – Como você trabalha sob pressão ou com prazos apertados?
  • “What do you do in your spare time?” – O que você faz em seu tempo livre?
  • “What do you think of working in a group? – O que você pensa sobre trabalhar em grupo?
  • “Why do you want to work here?” – Porque você quer trabalha aqui?
  • “Where do you see yourself in five years?” – Onde você se vê daqui a cinco anos?
  • “Why should we hire you?” – Porque devemos contratá-lo?
  • “Do you have any other skills of experiences that we have not discussed?” – Você tem alguma outra habilidade ou experiência que não discutimos?
  • “Do you have any questions for me?” – Você tem alguma pergunta que queira me fazer?

E não esqueça: Assim que possível, envie um agradecimento por e-mail. (Não para mim. Para seu  entrevistador).

Sucesso!

Quem quer emprego?

Ceska – O digitaleiro


Crise: tudo o que é falso se desmancha no ar

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Profecia realizada: Carta fora do baralho

O Brasil vem passando por um fascinante processo de descoberta e amadurecimento. O que estamos vivendo no Brasil é um destes momentos transformadores que educam os povos e fazem avançar as nações. O impeachment tem sido traumático em muitos aspectos, mas o funcionamento das instituições tem mostrado um amadurecimento extraordinário. E o Congresso e o Supremo Tribunal Federal podem contribuir para converter a “decrisis” em curso – uma crise de desagregação que conduz ao caos – em uma “sincrisis” – uma crise que se encaminharia para a solução pelo reordenamento do país e por acender uma luz no fim do túnel.

A causa original do impeachment da Presidente Dilma, que já se encontra na fase do senado, foi a profunda crise econômica e moral que se abateu sobre o país. Uma crise produzida pela corrupção e pela incompetência, aliada ao desprezo olímpico pela matemática, uma ciência tida como “neoliberal”, e pela afronta rombuda aos princípios da economia. Esta, como se vê, é uma tolice perigosa, já que a economia não se defende. Ela se vinga.

Em retrospecto, foi a conjugação de preços favoráveis das commodities associado com o crescimento artificial do poder de compra das classes mais pobres, via bolsa família e financiamento generoso de bens de consumo, que levou a esquerda a se imaginar invencível.

Jogou fora o freio e passou a acelerar os gastos sem limites na crença de que, no final, o “dinheiro pinta”. Pior, para perpetuar-se no poder, escancarou as portas da corrupção. A Petrobrás passou a ser vista como uma cornucópia de dinheiro fácil. Eram milhões e bilhões que jorravam sem controle e sem vergonha para o bolso de empreiteiras e políticos amigos. O governo petista virou um programa do tipo “quem quer dinheiro”. E se ainda fosse pouco, visando ganhar a eleição por meio de distribuição de dinheiro farto e por um marketing charlatão, a primeira mandatária assumiu  o papel de “dilapidadora da república”, se deixou tomar pela soberba, aquele sentimento caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, e inaugurou o governo pela arrogância. Não surpreende que os fatos tenham vindo cobrar a conta.

As mentes toscas da nossa esquerda ignara sempre imaginaram que podiam torcer a verdade sem enfrentar as consequência, que esconder os fatos os fariam ir embora. Mas descobrem, agora, que não é assim que o mundo funciona. E a parte do povo brasileiro que foi ludibriado por um governo edificado sobre mentiras, descobre que foi vítima de um conto do vigário. E descobre, pela via sofrida de quem paga o pato, que é melhor desconfiar das promessas vigaristas de quem reconhece que “faz o diabo” para ganhar uma eleição.

O lado bom, ainda que doído, é que a nação brasileira vive a experiência de lamentar ter acreditado em “milagreiros”, de ter sucumbido aos demagogos sem escrúpulos que prometem milagres e efeitos sem causa com a ligeireza dos trombadinhas políticos que, de fato, são. Desta experiência vem o aprendizado sobre os fatos da vida. Vem a percepção de que as coisas são o que são e tudo o que é falso se desmancha no ar. Uma criança cresce quando queima o dedo na borda do fogão: ela aprende a não brincar com fogo. Uma nação cresce quando vive as angústias de uma crise econômica, social, moral e política que força todos a se unirem por um impeachment salvador: ela aprende a não brincar com o voto.

A Revolução dos Clicks: Empoderamento, Proatividade e Transparência

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A Revolução dos Clicks vai mudar o Brasil

Uma Revolução dos Clicks: novos paradigmas do Empoderamento, Proatividade e Transparência estão abrindo portas, criando oportunidades, facilitando negócios, e, neste meio tempo, vem mudando o mundo.

O mercado vem se tornando um bolo de noivas multicamadas. O mercado é um pombal de nichos onde realizamos sonhos, trocamos competências e expressamos nossas habilidades.

Aviso aos navegantes: a “Revolução dos Clicks” é mais do que uma promessa. É uma revolução que está em curso. Enquanto o mundo caminha para a Quarta Revolução Industrial, em cada recanto do Brasil existem milhares de brasileiros conectados via smartphones, tabletes, notebooks, PCs e outros menos votados, vendo, ouvindo, falando e agitando assunto na expectativa de encontrar oportunidades que existem aqui e lá fora.

E o lado auspicioso é que tem milhões de brasileiros preparados para sua inserção no mundo digital, esperando um chamado para juntarem-se numa cruzada pela inovação. As mudanças estão vindo. Mas precisam vir certo. Não adianta mudar só as moscas…

O importante é saber que logo, logo, este o trio transformacional irá conduzir o Brasil para a era digital. Quem se puser no caminho vai ser atropelado.

Afinal, a nova geração digital sabe das coisas e intui que a opção por um Brasil online – digital – é o caminho para a revolução dos clicks.

Vamos dar uma olhada neste tripé da cidadania digital para entender como cada um deles pode contribuir para mudar o Brasil e fazê-lo atravessar para o lado da luz:

1 – Empoderamento

O termo “empoderamento”, que é a tradução do termo ingês “Empowerment”, define o grau de poder nas mãos do cidadãos e seu engajamento cívico no contexto de uma comunidade.

O empoderamento é o processo de tomada do poder pelos cidadãos e a redefinição da alçada de poder dos governantes. O conceito pressupõe que os cidadãos é que são os donos das escolhas e do poder. Os cidadãos é que são os donos do país e delegam parte deste poder aos seus representantes, mas, atenção, sempre em caráter precário. Por princípio, como no parlamentarismo, o retomam quando entendem que seus representantes não estão correspondendo às expectativas ou aos seus desejos. Governou mal, cai. Meteu a mão, cai.

Os cidadãos é que decidem o que é bom. O governo precisa dialogar com a sociedade, explicar suas decisões e justificar seus motivos. Mas devem se submeter sob pena de sofrerem a repulsa e a reação social.

A cidadania empoderada é bem informada e atuante, sabendo como participar nas decisões no âmbito da comunidade. Em uma sociedade bem informada, a sociedade tem por fim alcançar o melhor diante das circunstâncias. Com equilíbrio, a sociedade deve levar em conta que o que é bom para uns pode não ser o melhor para o conjunto da sociedade. Esta tradição esquerdista de ganhar no grito precisa acabar. Assim, os cidadãos devem assumir responsabilidades com elevado grau de maturidade.

O empoderamento, assim, não significa o direito de arrogar-ser privilégios e deve levar em conta o bem comum. A amplitude do empoderamento começa com o conhecimento da realidade e com a discussão sensata das soluções.

Tem a ver, ainda, com a disposição com que os membros de uma comunidade assumem sua parcela de poder e como agem utilizando o bom senso, segundo o princípio clássico do “In medio stat virtus”, que significa que a “virtude está no meio”.

Segundo Aristóteles, a virtude é a ponderação entre os pontos positivos e negativos de uma escolha. Chegar a este ponto de equilíbrio é prova de civilização.

Alcançar o bem comum não deve ser uma batalha entre pontos de vista antagônicos, mas um compromisso em face do momento e das circunstâncias. A liberdade de uns termina onde começa a liberdade dos outros. O importante é ter em conta que um compromisso de equilíbrio não é algo estático. Qualquer compromisso pode evoluir e ser reavaliado e renegociados quando as circunstâncias mudarem. Portanto, a noção de “conquistas” e “direitos adquiridos” não podem existir contra o interesse do bem comum. Ou seja, não podem existir “privilégios adquiridos” contra o povo, que sempre ficaria com a obrigação de pagar as contas e assumir o polo perdedor.

Para poder atuar como poder moderador, os cidadãos devem legitimar-se pelo equilíbrio, desempenhando suas responsabilidades cívicas segundo o princípio da equidade, condição essencial para a paz social.

2 – A Proatividade

A Proatividade é a atitude sistemática de agir sobre as causas presentes de forma a obter, no futuro, o melhor resultado possível. Ser proativo é assumir o controle, é buscar soluções, é tomar a iniciativa. A vida é um processo e, como tal, ela não se defende. Ela se vinga.

A Proatividade é um complemento necessário do Empoderamento. Sem Proatividade, o Empoderamento nada ajuda, já que fica à reboque dos fatos.

O Empoderamento é o poder de agir. Você quer encontrar uma oportunidade de negócios? Se autoempregar? Juntar-se com colegas e amigos para empreenderem no mundo digital? A internet está de portas abertas. Milhões de pessoas hoje vendem seus serviços na internet. De fotografias a ilustrações, passando por tradução, acabamentos, projetos, diagnósticos e muitos outros. Não é raro ver-se a triangulação internacional de conhecimentos para produzir conhecimentos, aplicativos e sites.

A Proatividade é usar este poder com a atitude de buscar oportunidades, encontrar seu nicho e construir o futuro, tomando a iniciativa, agindo coletivamente e com determinação.

3 – A Transparência

A Transparência é um pré-requisito para os dois componentes citados. Sem transparência qualquer exercício de escolha e decisão significa um voo cego. A crise atual nos mostra que esconder indicadores, manipular resultados e abusar das pedaladas nos leva à voar em “nuvens com caroço”.

No Brasil, o melhor testemunho da importância da transparência veio de um fonte inesperada: do tesoureiro do PT, Delubio Soares, quando disse que “transparência assim é burrice”. Felizmente o que não é bom para o Delúbio é bom para o Brasil.

A transparência é um direito do cidadão, que precisa saber o que estão fazendo com sua vida. Segredos, sigilos e secretices estão ultrapassados. Além do que, no mundo online, o povo não é mais o marido traído da piada: os segredos afloram e o povo fica sabendo de tudo rapidinho.

O Brasil tem jeito e o jeito é digital

Ceska – O digitaleiro


 

A Quarta Revolução Industrial

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Klaus Schwab – Discurso de Abertura do Fórum Econômico Mundial – Dia 20 de janeiro de 2016 (Imagem capturada do vídeo do site oficial)


O tema da Quarta Revolução Industrial esteve no centro do debate do Forum Econômico Mundial, realizado de 20 a 23 de janeiro de 2016, em Davos, na Suíça.

Visando facilitar o entendimento do que vem a ser a “Quarta Revolução Industrial” (RI 4.0), segue a tradução do artigo de Klaus Schwab – Fundador e Diretor Executivo (Executive Chairman) do Fórum Econômico Mundial. (Para quem deseja ler no original, ver links no final da tradução).

(Publicado originalmente na Revista Foreign Affairs de 12 de Dezembro de 2015)


A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O que Significa e Como Responder 

Nós estamos às vésperas de uma revolução tecnológica que vai mudar fundamentalmente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos uns com os outros. Em escala, escopo e complexidade, as transformações serão diferentes de qualquer coisa que a humanidade tenha experimentado antes. Nós não sabemos ainda como ela irá se desenrolar, mas uma coisa é clara: as respostas a esta nova era devem ser abrangentes e integradas, envolvendo todos os agentes interessados (“stakeholders”) das políticas globais, do público, dos setores privados à academia e a sociedade civil.

A Primeira Revolução Industrial usava água e a força do vapor para mecanizar a produção. A segunda RI usava o poder da eletricidade para criar a produção em massa. A terceira RI, a revolução digital, usava a tecnologia da informação para automatizar a produção. Agora a quarta Revolução Industrial está se desenvolvendo à partir da terceira, que vem ocorrendo desde os meados do século passado, e se caracteriza pela fusão de tecnologias que estão esmaecendo as fronteiras entre as esferas física, biológica e digital.

Existem três razões pelas quais as transformações de hoje não representam um mero prolongamento da Terceira Revolução Industrial, mas antes a chegada de uma Quarta Revolução bem diferente em aspectos como: velocidade, escopo (abrangência) e o impacto dos sistemas. A velocidade das inovações não tem precedentes. Quando comparada com as prévias revoluções industriais, a Quarta está evoluindo a passos exponenciais e não lineares. Além disso, ela está desestruturando praticamente cada campo de atividades em cada país. A amplitude e a profundidade destas mudanças prenunciam a transformação de sistemas inteiros de produção, gestão e governança.

As possibilidades sem precedentes de bilhões de pessoas conectadas por meio de dispositivos móveis, com capacidade de processamento, memória e acesso ao conhecimento, são ilimitadas. E estas possibilidades serão multiplicadas pelo surgimento de novas tecnologias em campos como o da inteligência artificial, da robótica, da “Internet das Coisas”, veículos autônomos, Impressão 3-D, nanotecnologia, biotecnologia, ciência dos materiais, armazenamento de energia e computação em “quantum”.

A “Inteligência Artificial” (IA) já está entre nós, desde carros que se auto-dirigem e drones a assistentes virtuais, softwares de tradução e investimento. Progressos impressionantes tem sido feitos em IA nos anos recentes, conduzidos pelo crescimento exponencial em poder de processamento e pela disponibilidade de vastas quantidades de dados, de softwares usados para descobrir novas drogas a algoritmos usados para predizer nossos interesses culturais. Tecnologias de produção digitais, neste meio tempo, estão interagindo com o mundo biológico em base diária. Engenheiros, designers e arquitetos estão combinando desenho computadorizado, manufatura “aditiva” (3-D), engenharia de materiais e biologia sintética para “pioneirar” a simbiose entre microrganismos, nossos corpos, os produtos que consumimos e, mesmo, os edifícios que habitamos.

  • Desafios e Oportunidades

Assim como as revoluções que a precederam, a Quarta Revolução Industrial tem potencial para elevar o nível da renda global e melhorar a qualidade de vida para as populações ao redor do mundo. Até agora, aqueles que tem ganho mais dela tem sido consumidores capazes de pagar e acessar o mundo digital; a tecnologia tem tornado possível novos produtos e serviços que aumentam a eficiência e o prazer de nossas vidas pessoais. Chamar um carro, reservar um voo, comprar um produto, fazer um pagamento, ouvir música, assistir um filme ou jogar um jogo – cada uma destas coisas pode ser feita remotamente.

No futuro, as inovações tecnológicas vão também nos levar ao milagre da “economia de oferta”, com ganhos de longo prazo em eficiência e produtividade. O custo dos transportes e da comunicação vão cair, cadeias de suprimentos globais e a logística se tornarão mais efetivas, fazendo o custo dos negócios diminuir, tudo isto contribuindo para abrir novos mercados em estimular o crescimento econômico.

Ao mesmo tempo, como apontaram os economistas Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, a Revolução pode produzir mais diferenças, particularmente por seu potencial em desestruturar mercados de trabalho. Assim como a automação substitui trabalho ao longo de toda a economia, a dispensa líquida de trabalhadores substituídos por máquinas pode exacerbar o fosso entre o retorno do capital e do trabalho. Por outro lado, é possível que o deslocamento de trabalhadores pela tecnologia venha, no somatório, resultar em crescimento de empregos mais bem pagos e saudáveis.

Nós não podemos antever, neste ponto, qual o cenário mais provável que vai emergir e a história sugere que será alguma coisa entre os dois. Todavia, estou convencido de uma coisa: que no futuro, talento, mais que capital, representará o fator crítico da produção. Isto irá promover o crescimento de um mercado de trabalho cada vez mais segregado entre segmentos de “baixo preparo/baixos salários” e “bem preparado/altos salários”, o que, por sua vez, irá levar a um crescimento das tensões sociais.

Além de ser uma preocupação econômica, a desigualdade social representa uma preocupação associada com a Quarta Revolução Industrial. Os maiores beneficiários da inovação tendem a ser os fornecedores e o capital intelectual e físico – os inovadores, acionistas e investidores – aspecto que explica a crescente diferença de prosperidade entre aqueles detentores do capital e dos que dependem do trabalho. A tecnologia é, assim, uma das principais razões de porque a renda tem estagnado, ou mesmo decrescido, para a maioria das populações dos países de alta renda: a demanda por trabalhadores altamente preparados tem aumentado, enquanto a demanda por trabalhadores com menos educação e baixo preparo tem decrescido. O resultado é um mercado de trabalho com forte demanda pelos extremos de alto e baixo nível e formando um vazio no meio.

Isto ajuda a explicar porque tantos trabalhadores estão desiludidos e temerosos que sua renda real, e aquela de seus filhos, venha a continuar estagnada. Isto também explica porque a classes médias, ao redor do mundo, estão experimentando um pervasivo sentimento de insatisfação e de injustiça. Uma economia em que “o ganhador leva tudo” e que oferece limitado acesso à classe média, é uma receita para um abandono e um mal-estar democrático.

O descontentamento pode também ser alimentado pela penetração das tecnologias digitais e pela dinâmica do compartilhamento da informação tipificado pelas mídias sociais. Mais de 30 por cento da população global agora usa a mídia social como plataforma para conectarem-se, aprenderem e compartilharem informação. Em um mundo ideal, estas interações proporcionariam um oportunidade para o entendimento e a coesão entre culturas. Todavia, elas podem também criar e propagar expectativas irrealistas sobre o que constitui sucesso para uma pessoa ou grupo, assim como oferecer oportunidades para o espraiamento de ideias e ideologias extremadas.

  • O impacto nos negócios

Um tema subjacente de minhas conversações com os mais experientes executivos de negócios e CEOs globais é que o aceleramento da inovação e a velocidade da desestruturação (disruption), são difíceis de compreender ou antecipar e estes movimentos constituem uma fonte de constante surpresa, mesmo para os mais bem informados e conectados. De fato, passando por todos setores, existe clara evidência de que as tecnologias que respaldam a Quarta Revolução Industrial estão tendo um grande impacto nos negócios.

Do lado da oferta, muitas industrias estão vendo a introdução de novas tecnologias que criam maneiras inteiramente novas de atender necessidades de mercados existentes e que destroem a atual cadeia de valor de industrias inteiras. A desestruturação também aflui de competidores inovadores e ágeis que, graças ao acesso à plataformas para a pesquisa, desenvolvimento, marketing, vendas e distribuição, podem mais rapidamente do que nunca circunscrever empresas tradicionais bem estabelecidas, melhorando a qualidade, a velocidade ou preço, oferecendo melhor relação custo-benefício.

Grandes mudanças do lado da demanda também estão ocorrendo, à medida que maior transparência, engajamento dos consumidores e novos comportamentos de consumo (crescentemente desenvolvido por meio do acesso a redes móveis e informações) tem forçado empresas a adaptar-se a novas maneiras de desenhar, comercializar entregar produtos e serviços.

Uma nova tendência chave é o desenvolvimento de plataformas de tecnologias capacitadoras (Technology-enabled Platforms) que combinam tanto a demanda, como a oferta, para desestruturar estruturas de negócios, como podemos ver na economia do compartilhamento (colaborativa) e da economia “on demand” (sob encomenda). Estas plataformas tecnológicas, fáceis de usar por meio de smartphones, reúnem pessoas, recursos e informações – desta forma criando formas inteiramente novas de consumir bens e serviços no processo. Adicionalmente, baixam as barreiras de entrada para mais empresas e pessoas criarem riqueza, alterando o ambiente pessoal e profissional dos trabalhadores. Estas novas plataformas de negócio estão se multiplicando rapidamente em muitos novos serviços, indo de lavanderias a compras, de pequenas tarefas a estacionamentos, de massagens à viagens.

No conjunto, a Quarta Revolução Industrial produz quatro efeitos principais nos negócios: na expectativa dos consumidores, na melhoria dos produtos, na inovação colaborativa e no formato das organizações. Quer sejam consumidores ou empresas, clientes são cada vez mais o epicentro da economia, o que significa melhorar o modo como os clientes são atendidos. Produtos tangíveis e serviços, além disto, podem agora ser melhorados com funções digitais que aumentam seu valor. Novas tecnologias fazem os bens mais duráveis e resilientes, enquanto informações e análises estão transformando a forma como são mantidos. Um mundo de experiências de consumidores, dados de serviços e desempenho das estruturas, por meio de análises, neste meio tempo, requerem novas formas de colaboração, particularmente considerando a velocidade pela qual a inovação e a desestruturação vem ocorrendo. E a emergência de plataformas globais e outros modelos de negócios, finalmente, significam que talento, cultura e formas organizacionais precisarão ser repensadas.

No geral, a mudança inexorável da simples digitalização (a terceira Revolução Industrial) para a inovação baseada na combinação de tecnologias (a quarta Revolução Industrial) está forçando empresas a reexaminar a maneira como fazem negócios. O resultado final, entretanto, é o mesmo: líderes de negócios e executivos sênior precisam entender seu ambiente em mutação, questionar as certezas de suas equipes operacionais e continuamente, incansavelmente, inovar.

  • O Impacto nos Governos

À medida que os mundos físico, digital e biológico continuarem a convergir, novas tecnologias e plataformas irão crescentemente capacitar os cidadãos a engajarem-se com os governos, fazer ouvir sua voz, coordenar seus esforços e mesmo circunscreverem a supervisão das autoridades públicas. Simultaneamente, os governos ganharão novos meios tecnológicos para ampliar o controle sobre suas populações, baseados na supervisão pervasiva e na habilidade de controlar a infraestrutura digital. Na somatória, todavia, os governos irão sofrer crescente pressão para mudar sua atitude em relação à participação pública e à definição de políticas, à medida que diminui seu papel central como condutor das políticas públicas em razão das novas fontes de descentralização e distribuição de poder tornadas possíveis com as novas tecnologias e com as quais que terão que competir.

Em última análise, a capacidade dos sistemas de governo e das autoridade públicas em adaptar-se irá determinar sua sobrevivência. Se se provarem capazes de abraçar um mundo de mudanças disruptivas, submetendo suas estruturas aos níveis de transparência e eficiência que as capacitem a manter uma margem competitiva, elas permanecerão. Se não forem capazes de evoluir, elas enfrentarão problemas crescentes.

Isto será particularmente verdadeiro na questão da regulação. Os atuais Sistemas de políticas públicas e tomadas de decisão evoluíram durante a Segunda Revolução Industrial, um período durante o qual os tomadores de decisão tinham tempo para estudar as questões específicas e desenvolver o contexto apropriado para as respostas necessárias. Todo o processo foi desenvolvido para ser linear e mecanicista, seguindo uma abordagem de cima para baixo.

Mas esta abordagem não é mais viável. Dada a amplitude dos impactos e a velocidade das mudanças da Quarta Revolução Industrial, a maior parte dos legisladores e burocratas não conseguirão responder aos desafios sem precedentes que terão de enfrentar.

Como, então, eles poderão preservar o interesse da maioria dos consumidores e do público, enquanto continuam a apoiar o desenvolvimento tecnológico e a inovação? Adotando uma governança ágil, assim como o setor privado tem crescentemente adotado, ao dar respostas rápidas para o desenvolvimento de software e, de forma generalizada, para as operações de negócios. Isto significa que os reguladores devem adaptar-se continuamente a ambientes novos e em rápida mutação, reinventando a si próprios de maneira que possam, verdadeiramente, entender o que é que estão regulando. Para fazerem isto, os governos e as agências reguladoras vão precisar colaborar intimamente com as empresas e com a sociedade civil.

A Quarta Revolução Industrial também vai impactar profundamente a natureza da segurança nacional e internacional, afetando tanto a probabilidade como a natureza do conflito. A história das guerras e da segurança internacional é a história das inovações tecnológicas e hoje não será exceção. Conflitos modernos envolvendo nações estão crescentemente se tornando de natureza “híbrida”, combinando técnicas tradicionais dos campos de batalha com elementos previamente associados com atores não nacionais. A distinção entre guerra e paz, combatente e não combatente, e mesmo violência e não violência (pense em “guerra cibernética”), está se tornando cada vez mais difusa.

Assim que este processo se consolidar e nova tecnologias, tais como as armas autônomas e biológicas, se tornarem mais fáceis de usar, indivíduos e pequenos grupos vão crescentemente juntar-se a estados para se tornarem capazes de causar danos em massa. Esta nova vulnerabilidade vai conduzir a novos temores. Mas, ao mesmo tempo, avanços tecnológicos vão criar o potencial para reduzir a escala ou o impacto da violência, por meio de novos modos de proteção, por exemplo, ou maior precisão nos alvos.

  • O Impacto no povo

A Quarta Revolução Industrial, finalmente, irá mudar não só o que nós fazemos mas o que nós somos. Ele irá afetar nossa identidade e todos os aspectos a ela ligados: nosso senso de privacidade, nossa noção de propriedade, nossos padrões de consumo, o tempo que nós devotamos ao trabalho e ao lazer, como desenvolvemos nossas carreiras, cultivamos nossas habilidades, encontramos pessoas e cultivamos relacionamentos, Já está mudando nossa saúde e conduzindo a um autoconhecimento melhor “quantificado” e, mais cedo do que pensamos, pode conduzir a uma elevação humana. A lista não tem fim porque só é limitada por nossa imaginação.

Eu sou um grande entusiasta, e sou rápido na adoção de novas tecnologias, mas, as vezes, eu fico me perguntando se a inexorável integração da tecnologia em nossas vidas pode diminuir algumas de nossas capacidades humanas fundamentais, como a compaixão e a cooperação. Nosso relacionamento com nossos smartphones é um caso a considerar. Conexão constante pode nos privar de uma das coisas mais importantes da vida: o tempo para a pausa, para a reflexão e para conversas sem compromissos.

Um dos grandes desafios colocados pelas novas tecnologias de informação é a privacidade. Nós, instintivamente, entendemos porque é tão essencial, mas o rastreamento e o compartilhamento de informações a nosso respeito é uma parte crucial da nova conectividade. O debate a respeito de questões fundamentais, como em relação ao impacto sobre nossas vidas íntimas e sobre a perda de controle sobre nossos dados pessoais irá crescer de intensidade nos anos à frente. De forma similar, as revoluções que estão tendo lugar na biotecnologia e na “Inteligência Artificial”, e que estão redefinindo o que significa “ser humano” ao deslocar as fronteiras da expectativa de vida, saúde, conhecimento e capacidades, irão nos compelir a redefinir nossa moral e limites éticos.

Nem a tecnologia, nem desestruturação que vem com ela, é uma força exógena sobre a qual os humanos não tenham controle. Todos somos responsáveis por guiarmos sua evolução, nas decisões que tomamos diariamente como cidadãos, consumidores e investidores. Nós devemos, assim, agarrar a oportunidade e o poder que dispomos para dar forma à Quarta Revolução Industrial e dirigi-la no rumo de um futuro que reflita nossos valores e objetivos comuns.

Para fazer isto, contudo, precisamos desenvolver uma visão abrangente e globalmente compartilhada de como a tecnologia está afetando nossas vidas e remodelando nossa economia e os ambientes social, cultural e humano. Nunca houve um tempo mais promissor, nem um tempo com maior perigo potencial. Todavia, os tomadores de decisão contemporâneos estão muito frequentemente presos no pensamento linear, ou demasiadamente absorvidos pelas múltiplas crises que demandam sua atenção, para pensar estrategicamente sobre as forças da inovação, ou da desagregação, que estão moldando nosso futuro.

No final, tudo vai depender das pessoas e de seus valores. Nós precisamos dar forma a um futuro adequado para todos nós, colocando as pessoas primeiro e lhes dando poder. Em uma visão mais pessimista, ou desumanizada, a Quarta Revolução Industrial pode ter, de fato, potencial para “robotizar” a humanidade e, desta forma, nos despojar de nosso coração e de nossa alma. Mas como um complemento do que existe de melhor na natureza humana – criatividade, empatia e engenhosidade – ela pode também elevar a humanidade a uma nova consciência moral coletiva, baseada num senso de destino compartilhado. Cabe a todos nós fazer com que esta opção prevaleça.


Tradução: Celso Skrabe (Ceska)

Artigo de Klaus Schwab – Fundador e Diretor Executivo (Executive Chairman) do Forum Econômico Mundial.

Publicado originalmente na Revista Foreign Affairs de 12 de Dezembro de 201

 

Cadê o emprego que estava aqui?

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Cadê o emprego que estava aqui? – Apertem os cintos. O emprego sumiu.

Os empregos estão sumindo. Entrando pelo ralo. Desaparecendo.

A realidade está à vista e os números são conhecidos.

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou que o desemprego ficou em 9% no trimestre encerrado em novembro de 2015. É um número preocupante, que não mostra quantos tiveram que descer um degrau em suas vidas, aceitando posições menos remuneradas ou mais precárias. Segundo dados divulgados sexta-feira, a taxa é a maior para o período desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

No trimestre anterior, de junho a agosto, o índice havia ficado em 8,7% e no trimestre de setembro a novembro de 2014, em 6,5%.

Entre os empregados, a indústria cortou 2,9% das vagas, a agricultura, 2,5% e o segmento de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, 6,7%.

Houveram pequenas compensações, a construção cresceu 6,1%, os serviços domésticos, 4,7%, transporte, armazenagem e correio, 3% e na administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, 2,3%.

E agora?

O emprego é o principal esteio de uma sociedade. Empregos significam renda e significam dignidade.

O Brasil está em meio a uma “decrisis”. Ou, como entendiam os gregos clássicos, uma crise de desagregação. Um tipo de crise em que o esgarçamento do tecido social e econômico vai se acentuando e, se não é revertido, cria um círculo vicioso que cai num redemoinho e vai aumentando de velocidade até chegar ao colapso. Finalmente se instala o caos, quando se dá o desarranjo completo do sistema. Neste estágio, tendem a surgir forças novas que redefinem o contexto e articulam um novo arranjo social e econômico.

A questão relevante é saber se estes empregos vão voltar no futuro.

A resposta mais provável é que grande parte deles está perdida para sempre. A razão é que as atividades do “job description” dos atuais empregos já terão desaparecido quando a crise for superada e o Brasil voltar a ter crescimento econômico. Algo distante e ainda impossível de prever com o atual governo e suas políticas autofágicas.

Para voltar a criar empregos em escala adequada para as necessidades brasileiras, o Brasil terá que mudar. O Brasil tem jeito, mas o jeito será digital. O Brasil terá que caminhar em direção ao mundo da Revolução Industrial 4.0 e, portanto, será digital. De modo que os empregos do futuro serão diferentes. Serão empregos digitais.

Segundo a pesquisa “O Futuro do Trabalho”, publicada durante o Fórum Econômico Mundial de 2016, realizado em Davos, na Suíça, os avanços tecnológicos, especialmente a automação dos processos industriais, devem cortar algo como sete milhões de empregos no mundo nos próximos cinco anos. O estudo diz, ainda, que está prevista a criação de algo como dois milhões de novos postos de trabalho no planeta, e ainda que estes novos postos de trabalho remunerem melhor, por exigirem melhor qualificação dos seus ocupantes, não compensam os postos perdidos, o que deixa um saldo negativo de 5 milhões de empregos a menos no mundo. O Brasil incluído.

O estudo, realizado em 15 países e que inclui o Brasil, envolve 65% da força mundial do trabalho.

Segundo o prefácio que inicia o estudo “O Futuro do Trabalho”, que tem a autoria do organizador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, e de Richard Samas, membro do seu Conselho Diretor, “Hoje, estamos no começo da Quarta Revolução Industrial. Os desenvolvimentos em genética, inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, impressão 3D e biotecnologia, a impressão 3D, para citar apenas alguns, estão em curso e amplificando uns aos outros. Isto vai assentar as fundações para uma revolução mais completa e abrangente do que qualquer outra que já tivemos visto. Sistemas inteligentes em residências, fábricas, fazendas, regiões ou cidades vão ajudar a resolver problemas que vão da gestão das cadeias de suprimentos à mudanças climáticas. A ascensão da economia compartilhada vai permitir que as pessoas rentabilizem tudo, de suas casas desocupadas a seus carros.”

Segundo os autores, as novas tecnologias, que vem chegando de forma avassaladora, devem criar uma perturbação não somente para os atuais modelos de negócio, mas também para o mercado de trabalho e para os empregos já nos próximos cinco anos.

No centro deste ciclone destruidor de postos de trabalho está uma nova maneira de produzir, criar valor e distribuir bens e serviços.

O que podemos ter como certo é que o nosso planeta ganhou uma segunda atmosfera feita de informações digitais. Respiramos o oxigênio desta nova camada por meio da Web, da Conectividade, do Bigdata, da Internet das Coisas e de novas formas de lidar com a realidade. No mundo atual, quem não respira na nova atmosfera digital estará economicamente tão morto como quem não respira oxigênio na atmosfera gasosa que envolve o globo terrestre.

Os novos empregos, segundo o estudo, serão criados na Tecnologia de Informação e em Comunicações, seguido por Serviços Profissionais, Mídia e Entretenimento. Serão empregos de perfil tecnológico avançado. Tarefas típicas de manufatura, como operar prensas e apertar parafusos ficarão a cargo de robôs.

O problema é que um emprego só existe se ele estiver lastreado em geração de riqueza. Os novos “job descriptions”, que descrevem as tarefas, as funções, a finalidade, as responsabilidades, o alcance e as condições de atuação de uma posição de trabalho, e que incluem o rol dos conhecimentos, habilidades e competências requeridas para ocupar a posição, já vem com exigências que apenas profissionais bem preparados podem atender.

O exemplo transcrito abaixo é o “job description” para o cargo de chefe de projeto de nível intermediário para uma multinacional italiana da área de energia:

“O Chefe de Projeto, reportando-se ao Gerente de Departamento de Operações, será responsável pela gestão e coordenação dos projetos atribuídos à divisão de energia, terá a seu cargo a gestão da entrega ao cliente dos projetos contratados segundo o escopo, orçamento e tempo de execução, garantindo a satisfação do cliente.

O (a) ocupante da posição será responsável pelas seguintes atividades:

– Preparação do plano de execução do projeto para a realização de todas as atividades, garantindo o monitoramento o e o progresso das fases do projeto, de acordo com os requisitos e procedimentos operacionais da empresa cliente;

– Planejar, preparar, executar e finalizar o projeto de acordo com as demandas do cliente, segundo os termos contratados, dentro dos prazos e orçamento acordados, o que inclui trabalhar em coordenação com a equipe do projeto, bem como com quaisquer fornecedores ou consultores de terceiros envolvidos;

– Analisar o orçamento segundo as disposições contratuais (alocações de recursos, horários, ferramentas, materiais, etc.), exercer o acompanhamento dos custos estabelecidos no orçamento, identificar a necessidade e implementar ações corretivas em caso de atrasos ou custos adicionais, reportando-se ao Gerente de Operações;

– O Chefe de Projeto também é responsável por estabelecer, de forma clara, os objetivos do projeto, a sequencia de execução e fazer a gestão e o controle das restrições de custo, tempo, escopo e qualidade.

Qualificações e experiência requeridas:;

– Conhecimento de geradores, turbinas a gás e vapor, motores elétricos, caldeiras, geradores eólicos, Balance of Plants (BoP) e conhecimento de Usinas de Ciclo combinado;

– Capacidade para utilizar métodos e ferramentas para monitorar o andamento das obras;

– Confiável na realização dos objetivos atribuídos;

– Inglês fluente.

Qualificações pessoais:

– Formação em Engenharia (Preferentemente Engenharia Mecânica);

– Formação multicultural, vivência internacional e aberto a novas experiências;

– Excelente habilidade de comunicação, orientada para o cliente;

– Capacidade para identificar e se relacionar com as partes interessadas internas e externas;

– capacidade de organização, análise e resolução de problemas;

– Excelente conhecimento do MS Office; MS Project e autoCad

– Inovação e criatividade;

– Disponível para a mobilidade nacional e internacional.

E note que estes requisitos são necessários para uma posição intermediária e não para a Direção ou a Gerência Geral da empresa.

A maioria dos empregos criados na primeira e segunda revolução industrial estavam organizados pela lógica analógica. Eram empregos com tarefas repetitivas, especializadas, exercidas um tanto quanto nos moldes do filme “Tempos Modernos”. de Charlie Chaplin.

A lógica analógica é mão de obra intensiva. Existe desde os tempo bíblicos, com o mandamento de que “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” (Gen 3,19). É a lógica do trabalho árduo, braçal, de suar a camisa, literalmente. Como não havia, nos templos bíblicos, a opção de “chamar as máquinas”, as atividades eram realizadas com ferramentas rústicas, de forma perseverante, ordenada, metódica, sistemática. Enfim, suand0 muit0 e produzindo pouco. O trabalho analógico é, por natureza, minucioso, de avanço lento, onde os erros são comuns.

Hoje a natureza do trabalho é outra. O trabalho é cérebro intensivo. O suor é do cérebro. O trabalho na Quarta Geração Industrial segue o lógica da Inteligência Artificial. Sob o comando do mundo digital paralelo, atua e produz resultados no mundo real, mas sob orientação e apoio do aparato virtual e da realidade criada no plano digital.

Para ser bem sucedido neste novo contexto, é preciso dominar as duas realidades que correm em paralelo. É preciso saber lidar com fatos reais e com o acompanhamento digital.

A retomada do crescimento virá com nova abertura ao mundo global. O Brasil não terá a opção de fechar-se sobre si mesmo e valer-se de estratégias que foram usadas no passado, como a substituição de importações. Não dispomos de meios para sustentar opções isolacionistas. E a chegada de mais empresas multinacionais significará mais exposição aos avanços de tecnologias e soluções da RI 4.0.

A conclusão é que os empregos futuros serão empregos para gente preparada para o futuro.

Os empregos que estavam aqui viraram fumaça. Fosse outro o governo, poderíamos ter feito uma transição controlada, garantindo os empregos de baixa qualificação por mais um tempo. Mas agora esta alternativa não existirá mais. Nossos postos de trabalho estão sangrando e estamos perdendo 10 mil empregos por dia. As empresas estão fechando postos de trabalho e desmontando sua infraestrutura. No dia em que voltarem, virão adaptadas às novas regras. E os novos empregos serão em menor número por valor agregado, mais exigentes sob o ponto de vista do conhecimento e mais concorridos e disputados.

Assim, para os interessados vale o aviso: Apertem os cintos. O emprego sumiu.

Ceska – O Diitaleiro


Quem quer emprego?

País rico é país com emprego
País rico é país com emprego

  • Como anda sua empregabilidade?

Empregos estão escassos como era escassa a água do Cantareira antes das chuvas do verão.

A Pnad Contínua mostrou que a população ocupada no Brasil registrou queda de 1,3% no trimestre até fevereiro sobre igual período de 2015, ou 1,172 milhão de pessoas a mais sem trabalho, o maior nível da pesquisa. O número de desempregados no trimestre móvel até fevereiro de 2016 atingiu o recorde de 10,371 milhões de pessoas, aumento de 13,8% sobre o trimestre até novembro. Na comparação com os três meses até fevereiro de 2015, houve salto de 40,1 por cento, ou quase 3 milhões de pessoas a mais procurando trabalho. É uma bomba relógio com tique-taque acelerado: o maior crescimento de desemprego já registrado na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012.

  • Mas, ainda assim, você quer um emprego, não é mesmo?

O primeiro conselho: persevere. O segundo: prepare-se. O terceiro: tome a iniciativa. O quarto: saia do lugar comum. Inove. O quinto: tenha uma atitude otimista e positiva.

Ainda que os empregos andem sumidos, o Brasil tinha 92,3 milhões de pessoas ocupadas no final de 2015. Traduzindo: a economia ainda tem muito emprego e pode ter um esperando por você. Mas, em tempos de recessão furiosa, conseguir um emprego é como uma corrida de obstáculos: você deve preparar-se para enfrentar mais competição e ter mais paciência. Perseverar deve ser, portanto, a primeira regra de quem que garimpar um emprego.

  • Só não deixe de preparar-se…

Não subestime a importância da preparação. Entrevistei milhares de candidatos em minha carreira e asseguro ser possível ver em segundos quem se preparou e quem vem para a entrevista sem um plano e sem noção.

É importante lembrar que o emprego é uma manifestação da atividade econômica. Buscar um emprego é uma atividade de venda do produto “você”. A qualidade de seu desempenho é fundamental para que o seu potencial empregador decida apostar em você. Lembre-se que estamos despencando em uma recessão de profundidade abissal, em um mergulho nunca antes visto neste país, e que ainda não chegou ao fundo do poço. Então seu possível empregador também sofre a angústia de conjeturar sobre o tamanho do buraco e sobre o desfecho da crise, algo que ninguém sabe qual será e nem quando vai chegar.

Depois, mesmo quando o país voltar ao normal, a economia vai ressurgir à meia-luz, bruxuleante: o país não vem investindo e nem está se preparando para uma retomada. Veja o que acontece nos Estados Unidos: depois de ter amargado 18 meses de recessão, entre dezembro de 2007 e junho de 2009, o país votou a crescer, mas mesmo agora, após sete anos, os salários não chegaram ao mesmo patamar de antes. Se isto acontece lá, imagine o que nos espera cá…

De toda forma, vamos ser otimistas: se você souber lidar com os efeitos da crise, além de perseverar, suas chances de empregabilidade crescem de maneira exponencial. Vamos dar uma olhada em algumas coisas que você pode fazer para melhorar suas chances de achar aquele emprego feito para você, ou encontrar algum que tenha escapado do cutelo da crise.

  • Entendendo o Contexto

Sabe aquela brincadeira das cadeiras em que, a cada volta, se tira uma cadeira e alguém fica de fora?

A crise é uma situação assim. Para sobreviver ou encontrar uma cadeira vaga é preciso ser mais ágil do que alguém outro e pensar na frente.

No mundo moderno os empregos existem quando a roda da economia gira para atender as demandas de produtos e serviços da sociedade. Uma economia que anda de marcha a ré é uma economia que reduz a produção e reduz as atividades. Resultado: funciona com menos gente operando máquinas, com menos gente prestando serviços, com menos gente ocupada. Analogamente ao que acontece com a queda da temperatura da atmosfera, que quando cai o ponto de orvalho as nuvens expelem a água que não conseguem mais reter, a economia mais fria expele os empregos ociosos e desemprega.

  • As estratégias para conseguir um emprego

De início, uma distinção a ser feita antes de sair à cata deste espécime raro é que existem duas classes de empregos: os das grandes organizações e os das pequenas empresas.

Minha sugestão é que você escolha antecipadamente qual o tipo de empresa você vai prospectar. A estratégia para cada grupo é diferente e, portanto, exige um preparo diferente. Também o tempo para conseguir um empregos nos dois grupos é diferente: as posições nas grandes empresas costumam exigir um ciclo bem mais longo até a contratação. Assim se o tempo é um fator, o melhor é focar em empresas médias e pequenas.

Os empregos oferecidos pela grandes organizações são os mais fáceis de encontrar, quando os há, claro. Na maioria delas é possível encontrar as vagas publicada no site corporativo. Se você prefere um emprego em uma destas, faça uma lista daquelas que são suas preferidas e relacione as que você acredita oferecerem mais chances. E fique de olho. Estabeleça uma curva ABC para sua monitoração. Dado que as chances são maiores em exportadoras e naquelas que tem produtos que substituam importados, este seria o grupo das empresas “A”, que seriam acompanhadas diariamente. Esta escolha se justifica na medida em que as exportadoras, agora favorecidas pelo dólar mais alto, tendem a ampliar suas exportações. Algo semelhante acontece com as fabricantes de produtos que substituem importados. Estas empresas ficam mais competitivas frente aos importados de custo mais alto, de maneira que ambos os grupos tendem a criar empregos mesmo na atual conjuntura.

Outra providência é estudar bem estas empresas que estão no seu foco. Evite a tentação de espalhar currículos à granel. Currículos genéricos costumam tomar seu tempo e desperdiçar seus esforços com baixo retorno. Em tempos de muito emprego, a estratégia de enviar currículos para todo mundo costuma ser eficaz para conseguir boas entrevistas. Em tempos bicudos, no entanto, é preferível uma estratégia de verticalização de seus esforços. É melhor centrar seus esforços em um grupo pequeno de empresas e estudá-las em maior profundidade para redigir e encaminhar currículos bem centrados no que possa interessar para aquela empresa especificamente. Carnegie, o magnata do aço nos Estados Unidos recomendaria: “a melhor estratégia deixou de ser não por todos os ovos num só cesto; no atual momento, é melhor por todos os ovos num só cesto…e vigiar o cesto!

Assim, recapitulando, depois de identificar a posição que lhe interessa, e para a qual você se sente preparado, o próximo passo é ficar de olho no site corporativo da empresa ou onde o RH da empresa costuma divulgar as oportunidades que surgem. Também vale manter contato com o RH da empresa para saber onde são divulgadas suas vagas. Fique atento, já que, nas grande corporações sempre aparecem oportunidades isoladas. Pessoas que saem, que se aposentam, que mudam de cargo ou posição. Embora o número de vagas possa ser limitado, elas existem. É verdade que, por serem mais visíveis, são mais disputadas do que as das pequenas empresas, mas, felizmente, conseguir a vaga não é loteria, é competência. Portanto, prepare-se.

  • Os empregos nas pequenas empresas

As pequenas e médias empresas são as maiores empregadoras no país. É verdade que um grande número delas está passado por dificuldades e milhares estão fechando as portas. Mais de cem mil lojas fecharam no Brasil ano passado. Mas a vida continua. Novos negócios nascem pelo efeito da “destruição criativa” de Schumpeter. Então, se você está buscando seu primeiro emprego, tem um currículo modesto ou pressa, vale a pena buscar um emprego em uma empresa .

Existentes em muito maior número, os empregos nas pequenas empresas tendem a ser menos atraentes à primeira vista, já que tendem a pagar menos, mas, na hora presente, podem ser uma tábua de salvação. Em compensação, são mais fáceis de obter e menos exigentes em seus requisitos iniciais.

  • Prepare-se para as oportunidades

Sêneca dizia que “sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”.

No tempo das vacas gordas, como aqueles em que o Brasil viveu até recentemente, haviam empregos em penca. Bastava um nível razoável de preparação para encontrar um lugar na engrenagem da economia. Como havia muita oferta de empregos, as empresas baixavam o nível das exigências.

As empresas empregam pessoas porque dependem delas para realizar sua missão corporativa, produzindo e colocando no mercado seus produtos e serviços.

Em uma empresa existem as atividades fim, que são as diretamente ligadas ao negócio da empresa, e as atividades meio, que são as atividades auxiliares. Em um hospital, por exemplo, uma enfermeira que atende os pacientes exerce uma atividade fim, enquanto o chefe do departamento de pessoal exerce uma atividade meio.

Cada emprego é como uma engrenagem que atua no mecanismo da empresa. Assim, cada emprego tem um “job description”, que vem a ser uma lista das tarefas e deveres, do objetivo da atividade, das responsabilidades e das condições gerais do trabalho. Do ponto de vista da operação da empresa, cada pessoa empregada tem um custo na forma do salário, encargos, benefícios sociais e, ainda, custos indiretos, como o impacto sobre o custo da luz, do consumo de água, do ar condicionado e outros.

Em princípio, a contrapartida destes custos é o quanto cada empregado contribui com sua atividade para se pagar. Mas a equação é muito mais complexa. Uma empresa sempre vai levar em conta, também, o potencial combinado das competências do empregado. Um técnico que saiba escrever um e-mail vale mais do que um que não saiba. Portanto, esqueça o superado conceito da “mais valia” marxista. Na versão original, a “mais valia” seria o valor do trabalho a mais que o operário realizava após se pagar e que formaria o “lucro do patrão”. A coisa já não era tão simples nos tempos de Marx, embora pusesse fazer algum sentido nas velhas linhas de montagem, mas hoje é uma bobagem completa. Basta perguntar qual a “mais valia” de um robô?

De modo que o que importa saber é que, hoje, qualquer empresa contabilmente organizada sabe quais são os empregados mais valiosos, e qual o “valor” da contribuição de cada um, tanto para a formação da receita como em relação a seu potencial. Isto significa que a tarefa de escolher quem deve ficar e quem deve sair, por ocasião de um corte, é uma equação processada pelo computador com base em um perfil pessoal de idade, escolaridade, desempenho e competências, associada a avaliações, ao histórico, etc. Os critérios de cada empresa costumam ser guardados a sete chaves para evitar questionamentos, mas uma empresa de primeira linha não dispensa ou demite de forma linear, salvo em caso de absoluta necessidade. Recrutar gente boa é difícil e treinar custa caro.

É verdade, em uma situação de crise como a que atravessamos, um grande número de empresas entra em um processo de hibernação, como os ursos. Reduz seu metabolismo e sua atividade ao mínimo para sobreviver durante o “inverno”, mas, ainda assim, procura conservar seus talentos da melhor maneira possível para quando a primavera voltar.

  • Mas o que isto tem a ver com a busca de um emprego?

Criar emprego é sempre uma aposta de uma empresa visando gerar valor e obter lucro. Afinal, ao contratar alguém a empresa assume um risco calculado: se compromete com uma despesa na expectativa de obter uma receita maior do que os custos e, na sequencia, obter um lucro. Sem ter uma possibilidade concreta de fazer girar esta ciclo completo, ninguém contrata.

Quando a empresa vem obtendo resultados positivos e tem um fluxo de negócios estável e constante tende a ser menos exigente. Mas em épocas de crise, as empresas se dispõe a arriscar menos. Assim, a precaução que as empresas tem em relação ao perfil dos empregados que dispensam aparecem em dobro como cuidado nas eventuais contratações em tempos conturbados. O que não quer dizer que cessem de contratar: cortar empregos produtivos é uma coisa. Abrir mão do futuro da empresa é outra.

Se você deseja encontrar uma vaga em período de crise, deve posicionar-se como alguém que pode contribuir para fazer o futuro de uma empresa, e não apenas para produzir em períodos normais.

As empresas bem posicionadas e organizadas tendem a reduzir suas atividades produtivas para compatibilizar suas operações com a demanda, mas não abandonam seus mercados. As melhores vêm as crises como oportunidades. Enquanto os concorrentes se retraem, as mais inteligentes se lançam para ocupar espaços. Agora mesmo vemos o exemplo da Ultrafarma, que não só lançou sua nova linha de complementos e vitaminas como está anunciando maciçamente, com um custo do espaço publicitário negociado a valores irrisórios dado o momento da economia.

Buscar um emprego em época de crise significa que a estratégia deve ser abordada como uma oportunidade de contribuir com uma empresa e fazer bem feita a sua parte. Independentemente de sua posição, você deve ser um membro da equipe e ajudar a empresa a ser melhor e a encontrar novos caminhos. Ser mais do mesmo não ajuda na medida em que “o mesmo” já deixou de ser o mesmo…

  • Dez coisas que você deve fazer para melhorar sua empregabilidade:

1 – Capriche no Currículo

Seu currículo é a peça mais importante para começar a busca de um emprego. Por isso deve receber a máxima atenção. Deve ser impecável, tanto em conteúdo como em sua apresentação. Muitos recrutadores simplesmente aceitam ou eliminam currículos baseados em sua apresentação.

Outra coisa, prepare seu currículo sob medida para o cargo e a empresa que você tem em vista.

Se você tem um currículo apenas passável, procure enriquecer seu currículo adquirindo habilidades que podem fazê-lo diferente e especial. Independentemente de seu nível de escolaridade e experiência, a competição pelas vagas existentes faz qualquer oportunidade anunciada ser um imã que atrai centenas e até milhares de currículos. Portanto a seleção muitas vezes se dá em volta de detalhes. No curto prazo é difícil agregar cursos de graduação ou pós graduação, mas sempre é possível ganhar conhecimento de línguas, usar planilhas ou dominar as mídias sociais. E tudo isto pode ser feito pela internet a custo zero. Mas atenção: escolha apenas uma ou duas destas disciplinas e procure aprofundar-se. Ficar na superficialidade de muitos temas acaba não ajudando muito.

2 – Prepare-se para a entrevista.

Redija uma apresentação pessoal objetiva, com um histórico de sua vida, sua escolaridade, suas conquistas e realizações. Decore e repita a lista até que ela se impregne em seu inconsciente. Este relato poderá ser sua tábua de salvação em entrevistas mais complexas.

3 – Simule a entrevista e treine seu papel

Treine entrevistas fazendo uma simulação ou teatro com uma pessoa de seu relacionamento. A simulação ajuda sua mente a acostumar-se com o “papel” que você vai desempenhar frente ao seu entrevistador. A propósito, seu entrevistador também estará desempenhando um “papel”.

4 – Tenha as respostas na ponta da língua

Estude respostas para as perguntas mais prováveis. Por exemplo:

  1. Descreva quem é você
  2. Porque devemos empregar você?
  3. Quais são seus pontos fortes?
  4. Quais são suas fraquezas?
  5. Você é responsável?
  6. Porque você quer trabalhar para nossa empresa?
  7. Porque você saiu de seu ultimo emprego?
  8. Porque existe este intervalo entre a saída do emprego “x” e a entrada no emprego “y”?
  9. Você concorda em viajar?
  10. Você teria disposição para mudar de cidade?
  11. Fale sobre sua formação escolar
  12. Como você soube desta vaga?
  13. O que o motiva?
  14. O que você espera para o futuro?
  15. O que você espera conseguir nos primeiros 30/60/90 dias no emprego?
  16. Você aceita trabalhar em fins de semana e feriados?
  17. Você é um líder ou seguidor?
  18. Qual o último livro que você leu?
  19. Quais são seus hobbies?
  20. Qual seu site favorito?

5 – O Networking não é tudo, mas é 100%

Organize o seu “networking”. Liste seus familiares, amigos e pessoas de seu relacionamento que possam saber de oportunidades. Faça um contato via mídia social, e-mail ou telefone falando de sua busca por uma posição.

6 – As mídias sociais são sua janela para o mundo

Crie sua página em mídias sociais. Use o LinkedIn, que é uma ferramenta poderosa para gerar bons contatos. Mas seja criterioso sobre o conteúdo. Escolha uma foto que seja atraente. É bem provável que seu potencial empregador dê uma passada por elas. E lembre-se que tudo o que você faz online deixa rastro.

7 – Circule

Frequente eventos, especialmente feiras, mas também reuniões sociais e outras em que você possa encontrar pessoas. Não esqueça de levar seus cartões de visitas. Faça cartões com seu nome em tipos de bom tamanho e com o telefone bem visível, de modo que possam ser lidos sem óculos. Se eles puderem indicar seus interesses ou afiliações, melhor.

8 – Dê uma chance para a sorte: cadastre-se nas agências de emprego

Faça seu cadastro em agências de emprego. Cadastre-se nos sites e em bancos de empregos. Se você busca posições de gerência ou diretoria, contate Headhunters. Selecione bem, mas não vá a mais de quatro ou cinco, para evitar que sua ficha seja enviada por mais de um deles para cada empregador.

9 – Faça seu dever de casa

Sempre que tiver uma entrevista agendada procure saber tudo sobre a empresa e seus concorrentes. (Se a entrevista for marcada por uma agência ou headhunter e este não quiser dizer qual a empresa, tente saber ao menos qual seu campo de atividades.)

10 – Cause boa impressão

Você já deve ter ouvido dizer que não dá para recriar uma primeira boa impressão. Compareça para a entrevista na hora combinada, ou melhor, cinco minutos antes. Vá de banho tomado. Se for homem, vá com a barba feita ou aparada. Vista-se de fora adequada. Para posições de gerência ou direção, vá com terno e gravata. Para mulheres, o traje deve ser discreto, maquiagem leve e cabelos presos. Chegue ao local ao menos meia hora antes, para se acostumar com o entorno e não correr o risco de chegar atrasado, esbaforido ou suado, porém aguarde para se apresentar no máximo dez minutos antes do horário. Se precisar esperar, tenha paciência e encare com bom humor. Muitas vezes a espera já faz parte do teste…

Boa Sorte.

Ceska – O digitaleiro


Dez razões para acreditar que a Dilma cai logo

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Chega de sofrer. Aqui estão 10 razões que indicam que o impeachment vem logo.

O arte de prever o futuro é sempre incerta. Tanto que a previsão que mais acerta parece ser aquela que prevê que as previsões do futuro se mostrarão erradas. Ainda assim, a melhor maneira de prever o futuro é examinar os fatos e analisar as tendências.

Os médicos falam em “prognóstico” para definir a evolução e o eventual termo de uma doença ou quadro clínico.

Para definir um prognóstico, os médicos fazem o diagnóstico do estado do paciente, de suas condições gerais e levam em conta o desfecho de casos semelhantes.

No caso dos males que afligem o Brasil, que além do zika tem a Dilma, podemos adaptar o slogan do governo: tira a Dilma que a zika acaba.

Eis dez razões que sugerem sua queda iminente:

  1. Dilma é a enxaqueca do país. A crise profunda em que o país está mergulhado afeta todos os setores e vem atingindo a todos, indistintamente. E existe consenso sobre a causa maior, a incompetência da presidente Dilma. Dilma se tornou a enxaqueca do país. E ninguém aguenta mais suportar esta enxaqueca. Só em imaginar mais três anos com a cabeça latejando vem levando os brasileiros ao desespero. Portanto, a primeira causa para o impeachment é o desejo unanime da sociedade de livrar-se de uma enxaqueca alucinante que só irá embora quando for eliminada sua causa.
  2. Economia em marcha a ré. Dilma é uma “barbeira” na condução da economia. Nunca antes, neste malfadado país, a economia andou para trás tão rápido. Hoje, dia 07 de março, o site G1, da Globo, informou que o mercado prevê mais inflação em 2016 e ‘encolhimento’ de 3,5% para o PIB. A expectativa de inflação para este ano subiu de 7,57% para 7,59%. Já para o PIB, a previsão de contração passou de menos 3,45% para menos 3,50%. Francamente, os números são “golpistas”. Deve ser coisa de algum tinhoso tucano. Estas estimativas foram divulgadas pelo Banco Central, por meio do relatório de mercado, também conhecido como “FOCUS”. O levantamento ouviu mais de 100 instituições financeiras. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB brasileiro teve um tombo de 3,8% em 2015 – o maior em 25 anos. Se a previsão de um novo “encolhimento” se confirmar em 2016, será a primeira vez que o país registra dois anos seguidos de contração na economia – a série histórica oficial, do IBGE, tem início em 1948.
  3. O fim da era do PT e do lulopetismo deixa Dilma no sereno. O PT acabou. Só um grupo velho e ranzinza ainda acredita que o partido possa voltar como a Phoenix. Mas as chances são de que se esvaia como zumbi trôpego. No início da era lulopetista, o partido tinia de novo. Havia entusiasmo, sonhos e esperanças, ainda que soltas no ar. Para um liberal, como eu, os petistas viviam a ilusão do almoço grátis e apostavam num milagre de Santo Expedito, o santo das causas impossíveis. Mas. diante de uma oposição meia-boca, suas juras de honestidade e suas generosas promessas de abrir as portas da prosperidade para os milhões de brasileiros deserdados formaram o caldo do discurso da esperança que vencia o medo. Num primeiro momento, parecia que iria dar certo. Lula teve o bom senso de manter a política econômica herdada de Fernando Henrique e, com dinheiro jorrando de um mundo demandando as comodities brasileiras, foi possível ao PT se apossar de programas sociais criados FHC, como o bolsa escola, e alargar o caminho das políticas sociais. Gastando sem controle, contando com um marketing competente e um líder carismático bom de discurso, o lulopetismo criou um sólido suporte junto às classes C, D e E. Classes que, de repente, viam suas vidas melhorarem. E foi aí, com a ambição do poder eterno, que o lulopetismo resolveu vender a alma ao diabo. O plano de perpetuar-se no poder dependia de acertar o esquema com os “russos”. E estes, os políticos da tal “base partidária”, topavam, mas queriam rios de dinheiro. Para gente inescrupulosa como José Dirceu, Lula e sua troupe de salteadores, a solução parecia óbvia: dinheiro o país tinha. A Petrobrás era um Amazonas de dinheiro. Na estatal havia dinheiro saindo pelo ladrão. Era só montar um propinoduto e canalizar bilhões para as contas dos novos aliados da base para assegurar que o poder estaria “dominado” até o fim dos tempos. Deu tudo errado. Como sabemos, o esquema começou a fazer água. E bota água nisso. Com revelações de corrupção pipocando de todo lado, o PT começou a ser desfalcado de seus principais “operadores”. José Dirceu e outros da gang começaram a ser presos e a desfalcar a gestão. E aí veio a lava-jato. A ética do sul, de origem europeia, aflorou por meio de uma Polícia Federal, um Ministério Público e um Judiciário que acreditam no império da lei e são avessos às acomodações de matriz patrimonialista dos tempos coloniais. Em meio à esbórnia, a Petrobrás bateu num Moro. Degringolando e com as entranhas da patifaria à mostra, os ratos começaram pular fora. Com o propinoduto cortado e com o risco da cadeia à vista, a base aliada vem se esfacelando. O clima, agora, o do salve-se quem puder. Desmoralizado, sem povo e sem voto, o ciclo do PT chega ao fim.
  4. Navegar é preciso. Mas prolongar a agonia não é preciso. O modelo presidencialista dá poder demais ao presidente e o voto proporcional distancia o povo de seus “representantes”. O modelo foi criado para ser uma usina de corrupção e não se mostra mais funcional. O impeachment de Dilma é uma oportunidade para um novo recomeço. Quem sabe agora, com o povo cansado de ser trouxa, possamos ir no rumo do regime dos estados mais avançados e adotar o parlamentarismo com voto distrital.
  5. Crise de março. A história brasileira mostra que as grandes crises acontecem em Março ou Agosto. Como tudo no Brasil, o mundo da política volta de férias depois do carnaval. Os políticos delineiam suas decisões baseados no feedback que recebem de suas bases e, quando voltam, começam a articular-se conforme o sentimento de seus eleitores. Em um ano eleitoral, a urgência e a pressão são maiores. O futuro dos políticos é decidido nas eleições. Nas disputas municipais os políticos precisam formar suas bases locais. Delas é que devem vir o apoio e os votos para as eleições nacionais. Esse ano, para azar da Dilma, o carnaval foi no começo de fevereiro, em ano bissexto. Não só março começou mais cedo como ficou maior. O processo de deterioração vai ter mais tempo para mostrar seus efeitos. Aí vem a manifestação geral contra o impeachment, dia 13. E novos desdobramentos no Lava Jato vão ampliar o buraco em que se enfiou o governo.
  6. Olimpíadas da Zika. As Olimpíadas se aproximam e o país vai sentir a necessidade de se apresentar em ordem perante o mundo. Marcar a copa e as Olimpíadas foi de uma temeridade que só a inconsequência lulopetista poderia justificar. Mas como o evento está às portas, é preciso um mínimo de bom senso. Chegar com uma presidente em processo de impeachment, com a corrupção fazendo escândalos diários, com o país encurralado por um mosquito e outras coisas mais, realmente é dose.
  7. Que enfiem no c#.” As ameaças de exacerbação da ordem por parte dos lulopetistas vem deixando claro que o país se encaminha para o confronto, a confusão e o caos. O quadro político pode se deteriorar de forma a escapar do controle e os políticos podem ser levados de roldão. Lula não deixa barato: “Que enfiem no c… todo o processo!”, foi o que disse Lula a Dilma em vídeo feito por sua aliada Jandira Feghali e gravado na sede do PT após a condição coercitiva do ex-presidente e postado no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=HcIjceETqiU) Diante destes fatos, os políticos vão por as barbas de molho e preferir perder os anéis para salvar os dedos.
  8. Dilma está pendurada no pincel. Até o empresariado e os banqueiros, forças que vinham tentando segurar a escada de Dilma, já estão desistindo. A tese era “ruim com ela, pior sem ela”. Agora, concluem que não adianta querer ajudar quem não que ser ajudada. A combinação de arrogância, ignorância e incompetência tem um poder destrutivo ilimitado e pode levar o país a um retrocesso desastroso.
  9. As ruas estão falando. Os panelaços estão cada vez mais estridentes. É melhor ouvir.
  10. O Impeachment é legal. Os embasamentos legais apresentados no processo de impeachment, por parte dos juristas Miguel Reale Junior, Hélio Bicudo e Janaína Conceição Paschoal, adicionados à delação premiada do Senador Delcídio do Amaral, são inescapáveis.

Por tudo isto, prever que a Dilma cai logo é como prever vitória do Corinthians. Você pode errar em um ou outro jogo, mas no final, vais acertar mais do que errar.

Ceska – O digitaleiro


 

O Brasil, Dom Pedro II, Mr. Bell e o telefone

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Dom Pedro II teve papel vital na divulgação do telefone. Na ilustração, o imperador toma contato com o invento e exclama: “Meu Deus, isto fala”.

O avanço tecnológico necessário para o Brasil ingressar de forma efetiva na era da Quarta Revolução Industrial exige saltar por sobre etapas que outras nações levaram décadas para percorrer. Mas não obstante o tamanho do desafio, o Brasil dispõe de massa crítica material e humana para aceitar o repto.

A bem da verdade, é preciso reconhecer que o Brasil não tem um histórico de relacionamento muito amigável com as ciências, a tecnologia e a inovação. O conflito parece ser mais com as ciências exatas, a lógica e a matemática. Para a grande maioria da população brasileira, a matemática é uma ciência estranha e hermética. Há mais gente que acredita em um despacho na encruzilhada do que nas virtudes da matemática aplicada. Somos um país que ainda crê em magia, na geração espontânea e no milagre dos efeitos sem causa.

O resultado prático desta suspicácia generalizada a tudo o que sejam números, que afronta, impávida, os axiomas de Euclides, notadamente aquele da inexorável ditadura da divisão das partes,  – “o todo é maior do que as partes” – permite que o imaginário popular acredite ser possível ir aumentando as partes indefinidamente, mesmo que o todo permaneça inalterado. No caso do orçamento nacional, por exemplo, existe uma crença difusa, perdida no ar, de que o governo cria dinheiro e pode, destarte, gastar tanto quanto queira.

Podia parecer axiomático, para os gregos clássicos, que a soma das partes não pode ser maior do que o todo, mas os políticos tupiniquins de perfil demagógico, com forte representação no Congresso Brasileiro, não acreditam nisto e tem fixação por um orçamento percentualizado. E não dão importância se os percentuais, eventualmente, ultrapassam os 100%. Desfazer o nó será um problema do Ministro da Fazenda. Claro que esta jabuticaba orçamentária, além de engessar o orçamento da república, cria dificuldades de toda a ordem e é um desestímulo a melhoria do desempenho do poder público.

Uma das causas para o desapreço que temos com as exatas é que exigem um esforço de concentração intelectual pouco compatível com o ziriguidum. Nossa especialidade são as festas e alegorias. Talvez porque o trabalho no Brasil tenha sido uma atividade braçal dos escravos e nossas elites de época faziam questão de vestir ternos de branquíssimo linho 120 para demonstrar desapreço por qualquer faina.

Um fator originário terá sido também o fato de que só tivemos nossa primeira universidade em 1920. Não tínhamos uma universidade aqui porque o governo não queria e não estudávamos porque não tínhamos uma universidade. Finalmente, já na segunda década do século XX, foi criada a Universidade do Rio de Janeiro, por meio de decreto do Presidente Epitácio Pessoa. Tratava-se mais de juntar as Faculdades de Medicina, Direito e Engenharia, mas foi o começo.

Entre as poucas iniciativas anteriores do período colonial estavam a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, de 1792, e a Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), criada em 18 de fevereiro de 1808 por Dr. João VI.

Mesmo em um ambiente de pouco estímulo intelectual, tivemos alguns avanços nas áreas científica, tecnológica e de inovação. Mas muito pouco para país tão grande e muito aquém do necessário. Para fazermos o alinhamento com a Quarta Revolução Industrial será preciso, antes, convencer a sociedade de que precisamos avançar no preparo científico e tecnológico de nossas novas gerações. Que precisamos promover e reconhecer talentos. Que devemos estimular o empreendedorismo e facilitar a vida dos que desejam transformar o país.

Alguns bons exemplos resgatam nosso histórico no campo das invenções e inovações, mas também denunciam o pouco caso de nossas elites e dos nossos governantes.

Olhando em retrospecto, talvez a proclamação da república, em 15 de novembro de 1889, tenha sido um dos maus momentos de nossa história, tanto do ponto de vista político como do avanço tecnológico. A Proclamação da República no Brasil foi um levante político-militar que, como acima, teve lugar em 15 de novembro de 1889 e depôs o imperador D. Pedro II e a monarquia constitucional parlamentarista. Em seu lugar instaurou a republica federativa presidencialista no Brasil. O modelo, mal copiado do regime vigente nos Estados Unidos, nunca funcionou a contento.

Que aquele foi um movimento infeliz, articulado por um grupo reduzido de conspiradores, prova a célebre e insuspeita constatação do jornalista republicano, Aristides Lobo, paraibano que defendia a república e que foi nomeado ministro do governo republicano provisório: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada”.(1)

A Revista Veja, em sua Edição Especial que circulou em setembro de 1989 (e que, curiosamente, tinha na capa a data de 20 de novembro de 1889) apresenta a matéria histórica com um resumo:

“República é proclamada num piscar de Olhos.

Numa sexta-feira de muita confusão, pouquíssimo sangue e praticamente nenhuma participação popular, um punhado de militares rebelados se alia a políticos da oposição para encerrar abruptamente o quase cinqüentenário reinado de D. Pedro II. Sob o comando do marechal Deodoro da Fonseca, o Brasil entra numa nova era — a da República. O novo governo obriga o imperador deposto e sua família a embarcarem de madrugada rumo ao exílio”

A matéria da Revista Veja, possivelmente o melhor estudo publicado sobre aquele período conturbado da história brasileira, tem no cabeçalho a explicação: “A anarquia militar, a abolição radical e o centralismo derrubam o Império de supetão.”

Segundo o relato, “O Brasil acordou monarquista na sexta-feira passada (a matéria é redigida como se tivesse sido publicada em 20 de novembro de 1989) e foi dormir republicano. Jamais houve na História do país uma ruptura política tão inesperada. Na véspera, ninguém poderia prever que o reinado viria abaixo. Ao cair da tarde de quinta-feira, D. Pedro lI, 63 anos, fugindo do calor carioca, estava posto em sossego no palácio de Petrópolis, onde escreveu seu habitual soneto diário. No mesmo momento, o marechal Manoel Deodoro da Fonseca, 62 anos, encontrava-se em Andaraí, na casa de seu irmão, o oficial-médico João Severiano, tentando recuperar-se de um de seus habituais ataques de falta de ar. Menos de 48 horas depois, os detalhes eram semelhantes, mas as instituições estavam de pernas para o ar. D. Pedro lI, detido no palácio imperial do Rio de Janeiro, escrevia não um poema, mas, com a ajuda do barão de Loreto, a carta em que acatava a ordem de exilar-se: “Cedendo ao império das circunstâncias, resolvo partir com toda a minha família para a Europa amanhã”. Na mesma hora, Deodoro ia para a cama, tão fortes eram os seus achaques. Mas, com falta de ar e de cama, era o chefe do governo provisório, o homem mais poderoso do pais.”

Os depostos imperador e a princesa Isabel eram figuras respeitadas e admiradas pelo povo, especialmente pela gente humilde, que em grande parte, apenas um ano antes, havia deixado de ser escrava.

O Partido Republicano – que era ostensivamente anti-monarquista – só havia eleito dois deputados nas eleições de agosto, três meses antes do movimento militar da proclamação da república, e nas ruas, eram escassas as simpatias que conseguia angariar.

E, no entanto, o Brasil “acordou imperial e dormiu republicano”.

A matéria da Revista Veja continuava: “Como, pelo menos até agora, não há indícios em qualquer canto do país de movimentos significativos de restauração monárquica. Caiu o Império praticamente sem sangue ou apenas com o sangue do Ministro da Marinha, José da Costa Azevedo, o barão de Ladário, 63 anos, ferido com dois tiros, um deles na região glútea. Caiu porque, ao longo dos últimos anos, a monarquia se embaralhou ao jogar com três problemas que de chofre lhe desabaram sobre a cabeça na sexta-feira, fazendo com que a coroa rolasse pelo chão. Os problemas que enredaram o Império foram a Abolição da Escravatura, o centralismo econômico-administrativo e a indisciplina militar.”

O que a matéria destaca é que, além do centralismo econômica-administrativo e uma indisciplina militar, resquício da Guerra do Paraguai, o fator decisivo para a Proclamação da República foi mesmo a abolição da escravatura. Em outras palavras, o Brasil perdeu um modelo de governo que tinha apoio popular e vinha dando certo, a monarquia com parlamentarismo, simplesmente por ter tido a “ousadia” de libertar os escravos. Todos os que ganhavam com a escravatura ficaram contra o governo. O pecado da Abolição seria ter “expropriado” os donos de escravos, que teriam perdido “suas propriedades” sem receber nada em troca.

A “insatisfação” dos donos de escravos, que reclamavam não ter recebido uma indenização “justa” pelos seres humanos que escravizavam, nos legou um governo republicano de segunda classe, com um presidencialismo patrimonialista desenhado para favorecer a corrupção.

Um aspecto relevante para a compreensão da importância do apoio dos ex-donos de escravos para o sucesso do movimento contra a monarquia é que, na capital do país, além da classe aristocrática e dos abastados proprietários que tinham escravos para as tarefas de suas propriedades, existiam ainda milhares de “donos” de escravos que viviam do aluguel de seus “cativos” que, com a abolição da escravatura, perderam seus escravos de renda e seu “negócio”.

Haviam dois tipos de escravos de renda: os “escravos de ganho”, um tipo de escravo que podia reter pequena parte do que recebia por seu trabalho e os “escravos de aluguel”, que eram alugados diretamente por seus “donos” ou por meio das muitas de agencias espalhadas na cidade. O que a monarquia deixou de levar em conta era que alugar escravos era um negócio altamente lucrativo na cidade do Rio de Janeiro.

Uma das atividades mais rentáveis para os donos de escravos era o seu uso no transporte de mercadorias. O que era feito com grandes fardos levados na cabeça. Como escreveu Debret, citado por Luís Carlos Soares em seu livro O “povo de cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro”:

“Embora pareça estranho que neste século das luzes se depare ainda no Rio de Janeiro com o costume de transportar enormes fardos à cabeça dos carregadores negros, é indiscutível que a totalidade da população brasileira da cidade, acostumada a esse sistema que assegura a remuneração diária dos escravos empregados nos serviços de rua, se opõe à introdução de qualquer outro meio de transporte, como seja, por exemplo, o dos carros atrelados. Com efeito, a inovação comprometeria dentro de pouco tempo não somente os interesses dos proprietários de numerosos escravos, mas ainda a própria existência da maior classe da população, a do pequeno capitalista e das viúvas indigentes, cujos negros todas as noites trazem para casa os vinténs necessários muitas vezes à compra das provisões do dia seguinte. É esse meio de transporte, geralmente empregado, que enche as ruas da capital desses enxames de negros carregadores, cujas canções importunam frequentemente o estrangeiro pacato, entregue a ocupações sérias em suas lojas”.

Obviamente, os numerosos ex-proprietários de escravos, os agentes de aluguel e todos os que perderam suas fontes de renda com a libertação dos cativos se puseram contra a monarquia. Foram os tais “republicanos tardios”: monarquistas até a véspera da proclamação, converteram-se em republicanos no dia 15 de novembro de 1889. Mas, enquanto os ex-escravos ficaram inertes, ainda sem entender toda a extensão de sua recém adquirida liberdade, seus ex-proprietários estavam furiosos e eram suficientemente numerosos e articulados para fazerem diferença. Além disso, contaram com a “solidariedade” dos clientes e de parte importante da sociedade da época que via os negros como seres inferiores.

A propósito, não se pode esquecer que a burocracia da cidade do Rio de Janeiro também lucrava com o aluguel de escravos e tinha organizado este “negócio” com o refinamento que se poderia esperar dos burocratas brasileiros.

Luís Carlos Soares, em seu já citado livro “O “povo de cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro”, nos dá conta de como os cofres municipais do Rio de Janeiro lucravam com o aluguel de seres humanos: Pelas leis da época “…era terminantemente proibido aos senhores colocarem seus escravos no ganho de rua sem a autorização expressa e licença da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Esta proibição, inclusive, era estipulada por uma postura municipal que estabelecia o recolhimento dos escravos infratores ao Depósito Público e o pagamento de uma multa pelos senhores desses cativos. Os senhores encaminhavam o seu pedido de licença à Câmara Municipal e efetuavam o pagamento de 1$000 réis relativos a cada cativo que desejassem pôr ao ganho. A licença concedida vigora apenas por um ano…Ao conceder a licença, a Câmara Municipal entregava aos senhores chapas numeradas com datas de validade. Chapas que os escravos deveriam sempre portar.”

Muitos ex-donos de escravos ainda vinham pressionando o governo monárquico por indenizações. Tanto que o abolicionista e monarquista Joaquim Nabuco dizia: “O Brasil não é bastante rico para apagar o seu crime”. Ou seja, ainda que a monarquia desejasse, não dispunha de recursos para pagar indenizações aos mais de 200.000 “donos” dos 700.000 escravos libertados no ano anterior. Com isso, a monarquia perdeu sua base de apoio mais sólida, a dos fazendeiros e donos de escravos, que se sentiram roubados. Com uma clarividência notável, João Maurício Wanderley, barão de Cotegipe, presidente do Conselho de Estado até dois meses antes da abolição, afirmou, depois da assinatura da Lei Áurea, que a princesa Isabel havia “libertado uma raça, mas perdido o trono”.

O Visconde de Ouro Preto, primeiro ministro deposto em 15 de novembro, tinha convicção de que o segundo reinado, sob liderança de Dom Pedro II, um humanista e um homem de cultura invulgar, havia sido um período positivo para o país.

Em seu livro “Advento da Ditadura Militar no Brasil”, (referia-se ao novo governo republicano) o Visconde escreveu:

“O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século, manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três povos vizinhos o desaparecimento do despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem, segurança e, mais que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país algum. Quais as faltas ou crimes de dom Pedro II, que em quase cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros praticados que o tornaram merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A república brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A república se levantou sobre os broquéis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na história e terá uma existência efêmera!

Quanto ao imperador, era homem culto, poliglota, cosmopolita e um entusiasta do progresso e das inovações. Um bom exemplo de seu entusiasmo pela inovação, que nem todos conhecem, é a história de como ele, ao visitar os Estados Unidos na qualidade de convidado especial do presidente Ulysses S. Grant para as comemorações do Centenário da Independência Americana, em 1876, ao visitar à Grande Exposição do Centenário, na Filadélfia, em 1876, ficou curioso com o invento de Alexander Graham Bell, um modesto professor de surdos mudos, e, tendo sido convidado a testar o aparelho exposto, exclamou, entre incrédulo e maravilhado: “Meu Deus, isto fala!”.

A exclamação teve grande repercussão, ganhou as manchetes dos jornais e foi decisiva para chamar a atenção do mundo para o telefone e para seu inventor.

A empolgação de Dom Pedro II não ficou só em sua surpresa inicial. O imperador, tomado de entusiasmo pela invenção, foi a primeira pessoa a comprar ações da companhia criada pelo inventor, a ” Bell Telephone Company”, fundada em 9 de julho de 1877 na cidade de Boston, Massachusetts.

A companhia, que mais tarde deu origem à American Telephone & Telegraph Company (AT&T), acabou por tornar-se a maior empresa telefônica do mundo. Foi também Dom Pedro II que adquiriu alguns dos primeiros telefones, aparelhos que foram instalados na residência de verão de Dom Pedro II, no Palácio de Petrópolis, a quarenta quilômetros do Rio de Janeiro. Com esta iniciativa, o Brasil foi o segundo país do mundo a ter telefones instalados em seu território.

Além disso, outra coisa que poucos sabem é que, até a visita de Dom Pedro II ao seu estande, praticamente ninguém tinha ouvido falar de Alexander Graham Bell. Na grande mostra seu pequeno estande passava desapercebido. Ninguém parecia interessado naquela engenhoca até a exclamação de nosso imperador.

Convém acrescentar, a esta altura, que o imperador brasileiro era o principal convidado estrangeiro e figura central dos festejos do primeiro Centenário da Independência Americana, tanto que, entre outras homenagens, teve a honra de ligar o gerador a vapor que fornecia eletricidade para a exposição.

O relato do episódio, por parte do próprio inventor, dá conta da importância de Dom Pedro II para a história do telefone:

“No domingo eu fui para a exposição. Haviam muitos aparelhos elétricos para serem demonstrados…e os pobres juízes eram conduzidos da cá para lá para ver uma coisa depois da outra, até o ponto de estarem prontos para desistir. Eu seguia os juízes em suas voltas, enquanto eles olhavam aparelho após aparelho. Finalmente, eles chegaram ao estande de Elisha Gray, que tinha um aparelho para transmitir tons musicais semelhante ao meu telégrafo múltiplo. Ele fez uma apresentação muito interessante. Fiquei atento porque eu seria o próximo, mas ele continuava e continuava, até que, quando finalmente terminou, o “chairman” da comissão dos juízes resolveu que eles adiariam as demais avaliações dos equipamentos elétricos para outro dia. Isto queria dizer que eles nunca veriam o meu telefone…Em razão dos compromissos de minha escola, eu só podia permanecer naquele domingo, de modo que eu senti que toda a minha exposição seria perdida. Os juízes já começavam a dispersar quando, subitamente, o Imperador Dom Pedro me viu e me reconheceu como o jovem que ele havia encontrado em Boston, na oportunidade em que visitou a escola para surdos-mudos, onde eu havia feito uma apresentação. Ele veio ao meu encontro e disse: “Sr. Bell, como estão os surdos-mudos de Boston?” Eu disse a ele que estavam bem e que minha demonstração seria a seguinte. Ele disse que queria ver, tomou meu braço e caminhou comigo, e claro, os juízes o seguiram como um bando de ovelhas. Minha exposição estava salva.

No estande, os aparelhos estavam prontos para serem usados. Dom Pedro foi orientado a sentar-se em uma cadeira onde estava instalada a pequena caixa de ferro do receptor e foi-lhe pedido que encostasse seu ouvido no estranho aparelho. Bell sentou-se em outra sala e falou devagar e com grande clareza no tubo do transmissor. Dom Pedro, claro, não sabia o que esperar, assim como ninguém mais na sala. Subitamente, o imperador levantou sua cabeça e, com uma expressão maravilhada estampada em seu rosto, exclamou: “Isto fala”.

Então veio Sir Walter Thompson, um internacionalmente respeitado conhecedor de eletricidade: ele ouviu, e ouviu e ouviu aquele pequeno disco de ferro falar com voz humana. Então, expressando grande admiração, disse: “Isto fala mesmo. Esta é a coisa mais maravilhosa que vi na América… Esta é a coisa mais maravilhosa até hoje conseguida pelo telégrafo elétrico…Muito em breve as pessoas estarão contando seus segredos por meio de fios elétricos.”

Quando Sir William Thompson falou, o mundo acreditou.

Bell disse, na ocasião: “eu fui dormir, na véspera,, como um total desconhecido e, no dia seguinte, me descobri famoso. Eu devo isto a Sir William Thompson e, antes dele, ao Imperador Dom Pedro e, além deles, aos surdos mudos de Boston”.

Será que sem a contribuição de Dom Pedro II o mundo de hoje teria telefones? É de se supor que sim. O mundo estava pronto para o telefone. Mas, ao perceber o potencial da inovação à sua frente, o imperador ajudou o mundo a antecipar o progresso em alguns anos. Uma evidência de como o nosso imperador era um homem do mundo; um “early adopter” atualizado e aberto à inovação.

Ceska – O digitaleiro


Referências:

Artigo escrito por Aristides Lobo no dia 15 de novembro e publicado no “Diário Popular” de São Paulo em 18 de novembro de 1889.

SOARES, Luiz Carlos. Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de História, 16 (mar/ago), 1988.

Revista Veja – Edição Especial de setembro de 1989. – http://veja.abril.com.br/historia/republica/capa_republica.html

OURO PRETO, Visconde de, Advento da Ditadura Militar no Brasil, Editora Imprimiere F. Pichon, Paris, 1891.

“Thw Empire of Brazil at the Universal Exhibition of 1876 in Philadelphia – Editado no Rio de Janeiro pela Typographia e Litographia do Imperial Instituto Artístico – 1876 – Conforme arquivo do Global Gateway – Call Number F2513.B833 – Identidade digital: gcbr 002 http://hdl.loc.gov/loc.gdc/gcbr.002

http://www.heritage-history.com/?c=read&author=bachman&book=inventors&story=bell

Manifesto Brasil 4.0 e o Brasil digital

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O Brasil está sendo chamado para a nova etapa do gênero humano que começa com a Quarta Revolução Industrial.

Manifesto de chamamento para a construção de um Brasil digital como saída para a crise política e econômica em que estamos mergulhados:

Brasileiro:

Este é o seu país. Aqui está o seu futuro. Abra sua mente e seu coração. Liberte seus sonhos.

Juntos podemos fazer o Brasil 4.0 e alinhar o país com a Quarta Revolução Industrial e com as promessas do Século XXI.

O Chamamento da Quarta Revolução Industrial ecoa por todos os quadrantes do orbe. A humanidade segue seu caminho no rumo da plenitude. Novos avanços no conhecimento e novas conquistas científicas e tecnológicas abrem novas perspectivas para todos os povos e nações.

Em um mundo cada dia mais global, a aventura do homem chega mais perto da superação das carências que o afligem desde sempre, como a miséria absoluta, a fome, a doença e a vida mesquinha dos que não tem sonhos e não tem futuro.

A Revolução Industrial 4.0 é uma nova etapa de possibilidades e promessas. Mas seus benefícios só se abrirão para os que baterem à sua porta. A roda do tempo não para e é preciso virar a página.

O que as novas gerações digitais não querem é “remediar”. Remendar o que está aí, girando em círculos, mantendo velhas estruturas de poder, obsoletas, eivadas de vícios, desmandos e privilégios. Sabemos todos que remendar o que está aí é tão inútil como enxugar gelo.

A opção é avançar para um novo paradigma. Fazer a metamorfose para o paradigma digital. O mundo digital é a nova fronteira. Lá é que está o futuro.

O mundo digital é transparente e multiforme.

A Internet, seus canais de comunicação e suas plataformas de conectividade se tornaram as portas e janelas da sociedade contemporânea.

O mundo digital é o mundo do compartilhamento. O mundo das mãos dadas.

Nunca as pessoas estiveram tão irmanadas, tão iguais. Nunca as oportunidades foram tão amplas e nem tão universais. Nunca sonhar foi tão possível. Nunca a esperança esteve tão próxima.

O mundo digital não discrimina. Não tem preconceitos, não diferencia ninguém pela cor, pelo sexo, pela classe social, pela religião e nem por qualquer outra condição que possa dividir as pessoas em castas ou grupos.

O mundo digital permite o protagonismo de todos. Tem espaço para cada sonho, para cada esperança, para cada anseio. E neste espaço cabe você. Tem um espaço para você.

Saiba que as sociedades são diálogos. Que nações são seres humanos e não estatísticas. Que a linguagem do mundo digital é transparente por natureza, e portanto, mais sincera, aberta e construtiva.

No mundo da Quarta Revolução Industrial vem surgindo novas formas de cooperação e de troca de conhecimentos. Em todas as nações abrem-se perspectivas para novas e poderosas formas de organização social.

Na nova ordem, os líderes das nações vão precisar descer de suas torres de marfim, derrubar os muros com que se protegem e dialogar com as pessoas que se propõe liderar e conduzir.

A lealdade deve ser um compromisso mútuo entre os dirigentes e a sociedade. De fato, a lealdade se torna a chave para a equidade e para a paz social.

O cidadão é criador e membro constituinte do Estado contemporâneo, que só sobreviverá se for parceiro do cidadão. O cidadão é, a um só tempo, membro, condômino e contribuinte do Estado.

O mundo digital é rápido e múltiplo. Multidões podem compartilhar ações, recursos e informações de modo a contribuir para o bem comum. O conhecimento deve ser compartilhado sem reservas.

O sentimento de participação e engajamento, a capacidade das pessoas de se conectarem livremente com outras pessoas, em qualquer lugar e em qualquer momento, com amplo acesso à informação, irá contribuir para que se sintam integradas e se disponham a participar na vida de sua comunidade e de sua nação.

Em uma democracia na era digital, a camada que importa é a da cidadania. Ela deve ter espaço legal para decidir os assuntos de sua vida pessoal sem precisar a intermediação de uma burocracia imensamente pedante e dispendiosa, que se especializa em cobrar “pedágio” de múltiplas formas.

Sinecuras e cargos públicos desnecessários drenam recursos que deveriam pagar o salário de médicos, professores e profissionais de saúde.

O pressuposto de uma democracia digital é que deve ser capaz de organizar-se como uma vasta rede de interesses descentralizados. O poder digital se desloca do centro e flui para a ponta, lá onde está o cidadão.

Os cidadãos devem poder aglutinar-se e agir como as células de um organismo, formando elos que atuam em cadeia, cada elo com autonomia e vida própria, sem amarras burocráticas, permitindo ao sistema operar com flexibilidade e rapidez.

Já o poder central deve cingir-se a atuar como facilitador, aglutinador e coordenador.

Brasileiro, o Brasil é o seu país. Aqui está o seu futuro. Rompa as correntes que o aprisionam. Abra sua mente, seu coração e seus braços.

A Quarta Revolução Industrial convoca a humanidade para uma nova era de prosperidade e bem estar sem precedentes. O novo mundo será mais inteligente, mais conectado, mais rápido, mais abrangente, mais inclusivo e mais justo.

E o Brasil pode fazer parte desta nova e fascinante etapa da história humana.

Brasileiro, o Brasil 4.0 precisa de você. Venha, vamos juntar esforços para tornarmos realidade o Brasil Digital.

Este é o caminho para pularmos etapas e chegarmos à prosperidade. Este é o caminho para melhorarmos a qualidade de vida e, especialmente, qualidade dos sonhos da nossa gente brasileira.

O que nos anima é mais do que uma esperança, é uma certeza: o Brasil tem jeito e o jeito é digital.

Brasileiro, seja bem vindo.


Ceska – O digitaleiro

 

A Escolha do Predador

O selvagem de Montesquieu derrubava a macieira para comer uma maçã, exatamente como muitos dos nossos políticos.
O selvagem de Montesquieu derrubava a macieira para comer uma maçã, exatamente como muitos dos nossos políticos.

A oportunidade do 45o Fórum Econômico Mundial, que atrai as mais importantes lideranças governamentais, dos negócios e da sociedade civil do planeta para debater as questões mais importantes da atualidade, oferece um bom momento para refletirmos as razões que levam o Brasil a navegar na contramão da história.

Cada vez mais a humanidade se divide entre os super-ricos e os super-pobres. Cada vez mais as nações se alinham entre as ganhadoras e perdedoras. E, infelizmente, o Brasil vem solidamente se firmando entre as perdedoras. Estamos um queda livre, com a recessão dizimando empregos e empurrando o país de volta para uma pobreza que, para muitos, parecia ter sido deixada para trás.

O que está tão errado com o Brasil? Por que não conseguimos sair deste sobe e desce no campo econômico, por que vivemos de crise em crise?

A resposta talvez se encontre em nossa cultura de predadores. Neste país valorizamos mais os predadores do que os empreendedores.

Desde a colônia, sempre temos preferido fazer a escolha do predador: ao invés de criar ou produzir, queremos pegar sem esforço. Nossa ética sempre foi elástica. Predar parecia tão legítimo como produzir. Para muitos, até tem mais charme. Até o processo do Lava-Jato, o “pixuleco” era invejado. E de malandragem em malandragem, de propina em propina, nossa gente se acostumou a agir como os selvagens de Montesquieu, que os definia como aqueles que derrubam a macieira para comer uma maçã.

Aqui não acreditamos em empreender, nem em fazer. O empresário no Brasil é visto como o tonto a ser tosquiado. É a história da Geni: todos contra ele, todos atirando nele, ainda que todos devam tudo a ele. Patético.

Nossa história como predadores começou quando acabamos com o Pau-Brasil, quase extinguimos a Mata Atlântica, estamos dilapidando a Amazônia e agora vemos os estertores da Petrobrás. Nestes trópicos inconsequentes sempre acreditamos que a abundância nos protegeria de nosso comportamento de predadores insaciáveis e irresponsáveis.

Mas, assim como a aparente riqueza inesgotável da Petrobrás se mostrou finita, nossos recursos escasseiam e nos vemos próximos da bancarrota. Nem é preciso citar estatísticas ou indicadores. Todos os números apontam para o fundo do poço e indicam que mais crise está por vir.

O governo de Da. Dilma está completamente aturdido.

Dias atrás, o FMI divulgou que a queda da economia brasileira em 2016 vai superar os três por cento e informou que não vê mais retomada do crescimento em 2017 – como a entidade acreditava ainda em outubro. O desastre da economia brasileira vai pesar sobre a economia mundial como um todo, afirma o fundo.

Da. Dilma, a permanente estarrecida, mostrou-se indignada:

“Eu fiquei recentemente estarrecida com uma frase que li no relatório do FMI. Nós sabemos que o FMI fala muita coisa. No último relatório dele, avaliando a economia internacional, ele diz que três fatores são muito relevantes no atual cenário e explica as dificuldades que o mundo enfrenta: a diminuição do crescimento da China, instabilidade no Oriente Médio, e o terceiro era a continuidade da situação crítica no Brasil”, afirmou a “presidenta”.

Em seguida, Da. Dilma comentou o trecho em que o relatório atribui a situação crítica do país não à economia, mas à instabilidade política e às investigações da Operação Lava Jato:

“Ao que ele – (FMI) – atribuía a situação crítica do Brasil? Não era da economia, eram duas coisas. Instabilidade política e o fato de as investigações quanto à Petrobras terem prazo de duração maior e mais profundo do que eles esperavam e que “isso” (sic) seriam os dois principais fatores responsáveis pelo fato de eles terem de rever posição do FMI em relação ao crescimento da economia no Brasil”.

Nesse ponto do discurso, a “presidenta” afirmou, com a ligeireza com vem falando ao vento, que “tem certeza que o Brasil vai alcançar a estabilidade política e terá tranquilidade para retomar o crescimento econômico”.

“Na democracia, é absolutamente normal que a oposição critique, que qualquer um critique, se manifeste, divirja do que está acontecendo. Isso é normal, mas nós não podemos aceitar que as questões essenciais para o país não sejam objeto de ação conjunta para voltarmos a gerar emprego e renda. Faremos nossa parte”, disse.

Dá medo. Ela já vem fazendo a parte dela pelos últimos doze anos. Se fizer mais um pouco, o país vira sucata. Que Deus se compadeça de nós.

E agora, o que podemos fazer?

A era do predador acabou. Nem no erário sobrou alguma coisa. Agora, precisamos criar riquezas, gerar valor, produzir. A saída é nos unirmos. Não adianta acharmos que ajudar o governo vai funcionar. Empurrar o carro deste governo na direção do despenhadeiro só vai apressar sua queda no precipício.

A alternativa positiva ao nosso alcance é iniciarmos um amplo debate sobre a saída digital. O que podemos aprender com o que se debate em Davos é que a Quarta Revolução Industrial está deslocando o poder para as pessoas. As novas tecnologias nos capacitam a deixar o governo falando sozinho. O exemplo do Uber é didático: enquanto os cães ladram, a caravana passa…

As coisas estão mudando. Online, somos nós e nossos amigos por nós mesmos. Na Internet, somos os novos mosqueteiros esgrimindo mouses: “um por todos e todos por um”. Temos que ser criativos e buscar alternativas. Elas existem. A economia cooperativa, os bitcoins, o e-commerce, atividades online, apenas para citar algumas.

A propósito, se você já não sabe, trate de aprender inglês. (Dizia um amigo americano: Português é um “código secreto”). Olhe para a internet e para as oportunidades que oferece aqui e lá fora. São zilhões.

E para mudar o Brasil, precisamos criar grupos de ação, reunir amigos e estruturar um projeto digital para o novo Brasil digital: o “Brasil 4.0”. E é “4.0” porque precisa estar em sintonia com a Quarta Revolução Industrial.

Esquece a Da. Dilma e seu bando de panacas aloprados. Do atual governo não vai vir nada. Como dizia o “Barão de Itararé”: de onde menos se espera, de lá é que não vem nada mesmo”

Moral da História: O Brasil tem jeito e o jeito é digital.

Ceska – O digitaleiro


 

Brasil 4.0, Davos e a Revolução Industrial 4.0

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O Brasil 4.0 estará em sintonia com a Revolução Industrial 4.0 e alinhado com o mundo contemporâneo do Século XXI

 

 

 

 

 

 

 

Agora é oficial: vem aí a Revolução Industrial 4.0.

O Fórum Econômico Mundial, em seu encontro de Davos, na Suíça, colocou em sua pauta para 2016 a chegada da Quarta Revolução Industrial, esta nova onda de transformações que vão, segundo os organizadores da Conferência, “alterar de modo fundamental a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos uns com os outros.”

O Brasil ainda não acordou, mas vai precisar sair do torpor e da bruma da obtusidade em que se debate. A luz amarela está piscando. Precisamos rever tudo. Ou evoluímos direto para o Brasil 4.0 – pulando etapas – ou, logo, seremos um país irrelevante, empurrado para os cafundós do planeta.

O mundo caminha em meio a uma nova e extraordinária onda de transformações tecnológicas. Nunca antes neste mundo tanta coisa mudou tão rápido. Precisamos saltar sobre o fosso do ignaro para darmos as boas vindas à “Quarta Revolução Industrial” ou RI 4.0 – “Revolução Industrial 4.0”. A decisão precisa ser nossa, como cidadãos, já que nossa preclara “presidenta” não vai à Davos. Que – imaginem! – ignora e não homenageia a mandioca. Talvez por insensibilidade capitalista.

O site oficial do Fórum Econômico Mundial esclarece: “Em escala, escopo e complexidade, as transformações serão diferentes de qualquer coisa que a humanidade tenha experimentado antes. Nós não sabemos ainda como ela irá se desenrolar, mas uma coisa é clara: as resposta a esta nova era deve ser abrangente e integrada, envolvendo todos os agentes interessados (“stakeholders”) das políticas globais, do público, dos setores privados à academia e a sociedade civil”

“A Primeira Revolução Industrial usava água e a força do vapor para mecanizar a produção. A segunda RI usava o poder da eletricidade para criar a produção em massa. A terceira RI, a revolução digital, usava a tecnologia da informação para automatizar a produção. Agora a quarta Revolução Industrial está se desenvolvendo à partir da terceira, que vem ocorrendo desde os meados do século passado, e se caracteriza pela fusão de tecnologias que estão esmaecendo as fronteiras entre as esferas físicas, biológicas e digitais.”

Entre outras profundas transformações que se podem prever, o site destaca o impacto desta RI 4.0 sobre os governos:

“À medida que os mundos físico, digital e biológico continuarem a convergir, novas tecnologias e plataformas irão crescentemente capacitar os cidadãos a engajarem-se com os governos, fazer ouvir sua voz, coordenar seus esforços e mesmo circunscreverem a supervisão das autoridades públicas. Simultaneamente, os governos ganharão novos meios tecnológicos para ampliar o controle sobre suas populações, baseados na supervisão pervasiva e na habilidade de controlar a infraestrutura digital. Na somatória, todavia, os governos irão sofrer crescente pressão para mudar sua atitude em relação à participação pública e à definição de políticas, à medida que diminui seu papel central como condutor das políticas públicas em razão das novas fontes de descentralização e distribuição de poder tornadas possíveis com as novas tecnologias e com as quais que terão que competir.”

Em última análise, a capacidade dos sistemas de governo e das autoridade públicas em adaptar-se irá determinar sua sobrevivência. Se se provarem capazes de abraçar um mundo de mudanças disruptivas, submetendo suas estruturas aos níveis de transprˆ´ncia e eficiência que as capacitem a manter uma margem competitiva, elas permanecerão. Se não forem capazes de evolir, elas enfrentarão problemas crescentes.”

Isto será particularmente verdadeiro na questão da regulação. Os atuais Sistemas de politicas públicas e tomadas de decisão evoluíram durante a Segunda Revolução Industrial, um período durante o qual os tomadores de decisão tinham tempo para estudar as questões específicas e desenvolver o contexto apropriado para as respostas necessárias. Todo o processo foi desenvolvido para ser linear e mecanicista, seguindo uma abordagem de cima para baixo”

Mas esta abordagem não é mais viável. Dada a amplitude dos impactos e a velocidade das mudanças da Quarta Revolução Industrial, a maior parte dos legisladores e burocratas não conseguirão responder aos desafios sem precedentes que terão de enfrentar”.

Este é o mundo que vem sendo construído lá fora. E com o qual teremos que conviver. Gostemos ou não.

Então, o que queremos? Sermos um país em sintonia com o século XXI, digital e conectado, ou continuarmos um Brasil 0.0, a Republica da Mandioca do Lula e da Dilma?

Queremos participar da Quarta Revolução Industrial ou vamos viver nos cafundós do mundo, fazendo a “Revolução da Tapioca”?

Mas que ninguém se engane: ou assumimos nosso papel na Revolução Industrial 4.0 ou vamos todos viver de mandioca. De minha parte, não quero ser pelanca. E acho que as novas gerações digitais também não. Cansamos de ser de segunda classe. E também de um governo de segunda classe. Queremos mudar esta sina feita de mediocridade, atraso, empulhação e bazófia. Da mais cruel corrupção e incompetência.

Temos que pegar o touro à unha ou garrar um lenço para ir chorar na varanda, vendo a banda passar.

Suponho, e bota suponho nisto, que não sejamos um povo de imbecis. Está bem, nossos grotões elegeram um governo de fancaria, liderado por charlatões políticos, mas nossas ilhas de excelência mostram que nem tudo está perdido. Temos criatividade, talento, capacidade. Basta citar exemplos como a Embraer, a Rede Globo, a Editora Abril, o Grupo Gerdau, a Tramontina, o Hospital Albert Einstein, o Sírio Libnês, o INCOR, o agronegócio, as rodovias paulistas para ilustrar nossa vocação para a excelência. Se multiplicarmos estes exemplos Brasil afora vamos dar certo. E desembarcar rapidinho no primeiro mundo.

O problema é nosso atual governo lulopetista: ele é a pedra no meio do caminho. Hoje, graças ao petismo obtuso, somos um país sem noção. Sem um projeto e sem um horizonte. Vivemos sob a ética das pedaladas.

O lastimável governo petista que temos é que nos encarapuça como povo zicado, mandioqueiro, microcéfalo. Que me valha São Benedito, mas o fato é que esta política mentecapta tem que acabar. Precisamos reciclar nosso complexo de vira-latas. Afastar de nosso caminho o “sapo barbudo” e a “mulher sapiens”, e desenterrar os sapos da burrice, da pretensão e da fanfarronice cheia de empáfia.

Vamos encarar a realidade: ou nos livramos desta zica ou nosso destino será um mergulho na babaquice. E aí, além do Zika, da Dengue e do Chikungunya, ainda vamos ter que aguentar o vírus do “pestistismo”.

  • O Brasil 4.0 é o futuro em nossas mãos

Com a chegada da RI 4.0, as novas gerações do Brasil estão sendo convidadas à assumir sua missão de reformar o país. De criar e formatar o Brasil 4.0.

O Brasil 4.0 é mais do que um mote. É um projeto de país. Uma nova maneira de interagirmos com nossos concidadãos e com nossos poderes contituídos.

É também uma marca. Um objetivo. Um referencial, que, além de significado, tem visão, projeto, contornos, relevo e contexto. Associada à ideia da “Quarta Revolução Industrial” é uma marca com a solidez do aço. Seu sentido, o de um compromisso com o realinhamento com as tecnologias e oportunidades da RI 4.0, é também um brado libertador. Uma primavera tecnológica para o Brasil, para as almas deste país possível que anseiam pelo futuro e fluem livres para realizar seu sonho de prosperidade. Num sentido mais amplo, é tanto um rompimento com o passado opressor como uma promessa para o futuro, sem amarras e sem pedras no caminho.

A Revolução Industrial 4.0 é revolução no sentido mais vasto do termo. É de tirar o fôlego o que está ocorrendo no mundo digital. Nem nosso “metamorfose ambulante”, o genial Raul Seixas, iria entender. Tudo está sendo repensado e revisto. Nenhum dos mais diferentes quadrantes da vida, da humanidade, da sociedade, das coisas mensuráveis, da indústria, do mercado, da “internet das coisas”, da comunicação entre dispositivos, equipamentos, máquinas e “coisas” é como foi.

Objetos, coisas, vestuário, móveis, edifícios, eletrodomésticos, tralhas e tudo aquilo que usamos cotidianamente começa a ter vida. Como nas histórias de fadas, agora espelhos falam. Nas habitações as geladeiras informam o que tem e o que é preciso comprar. O espelho do banheiro avalia seu estado de saúde examinando sua pupila enquanto você faz a barba (ou a maquiagem…). Carros andam, estacionam (e se congestionam) sozinhos. O céu vai ter mais drones carregando encomendas do que motoboys circulando em São Paulo. O mundo real e o virtual passam a interagir. Modernas tecnologias de conectividade estão sendo combinadas com processos industriais automatizados. Aplicativos “agnósticos” se entendem com tudo e todos. É um novo composto tecnológico para servir ao gênero humano. Algo técno-antropológico. Para não perderem a objetividade prática, os especialistas classificam estes desenvolvimentos sob o nome de “Revolução Industrial 4.0”.

A Revolução 4.0 nasceu, na Alemanha, como um projeto no âmbito da estratégia de alta tecnologia voltada para a manufatura inteligente. Sendo originário da Alemanha, o conceito tinha que ser assentado em coisas objetivas. Práticas.

Sua base tecnológica é composta por um “sistema nervoso” embebido nas coisas. Novas gerações de sistemas, atuadores, sensores e dispositivos conectados e online, uns falando com os outros, sem particioação humana, via “Internet das Coisas”.

A nova Revolução virou a grande estrela da Conferência de Davos de 2016. Hoje, sob a liderança da Alemanha e dos Estados Unidos, já está em desenvolvimento um programa de cooperação por meio da Smart Manufacturing Leadership Coalition – SMLC, que vem a ser uma “Coalisão de Lideranças para Manufatura Inteligente”.

A SMLC reúne os interessados de todas as áreas, produtores, fornecedores, fabricantes, universidades, empresas de tecnologia e governos. O objetivo deste esforço cooperado é levar as partes interessadas a atuar em conjunto no desenvolvimento das novas abordagens, plataformas, infraestrutura e do arcabouço legal e normativo para a adoção de novas soluções e de um novo paradigma. Regras e protocolos compartilhados significam compatibilidade e funcionalidade. O mundo vem aprendendo a fazer certo. As novas tecnologias vem “plug and play”. Ligou, funciona,

E as novas tecnologias vem com uma nova e crescente consciência ambiental. No novo meio-ambiente dos espaços, cidades e habitações inteligentes que vem no bojo da Revolução 4.0, onde tudo estará ligado e conectado, a consciência ambiental vai ajudar a mudar a atitude em relação ao planeta. A mudança tende a ser espetacular. Como em uma nova dimensão da Hipótese Gaia, a conexão entre os organismos vivos e os elementos inorgânicos da terra poderá ser melhor compreendida e implementada. Sensores, câmaras e dispositivos se comunicarão entre si. Esta integração perfeita dos mundos físico – analógico – e o mundo virtual – digital – só é possível porque tudo o que existe no mundo real é reproduzido virtualmente no mundo digital. Como tudo o que é real tem uma dimensão no mundo virtual que existe no computador, é possível usar o processamento de hipóteses e a simulação para chegar ao melhor conjunto de opções. Trata-se da “inteligência artificial” ajudando a organizar e otimizar o do que existe, do que está disponível e de cada um dos entes existentes no mundo real.

Então, vamos migrar para o mundo da “Revolução Industrial 4.0” ?

Vamos juntar forças para pular etapas e fazer o “Brasil 4.0” ?

Agora o futuro está em nossas mãos. E esteja certo, o Brasil tem jeito. E o jeito é digital.

Ceska – O digitaleiro


 

A banda de Brasília está cacofonando

 

Banda de Brasília
A Banda da “Mãe do PAC” está cacofonando. Tocando fora do tom e do compasso, quem dança o rebolado é o povo. (Imagem “Master Clips”)

O verso do refrão da Banda da Presidenta Dilma é “Vocês vão ter que me engolir”

Em seu recente encontro com jornalistas, em Brasília, para seu tradicional café com bobagem, Dilma assumiu uma atitude de desafio, no melhor estilo “vocês vão ter de me engolir”.

Enquanto toca para o Impeachment passar, desfila argumentos com indiferença olímpica. No citado café com os jornalistas, disse estar preocupada em assegurar o equilíbrio fiscal, o crescimento e em combater a inflação. Mas nada disse sobre que iniciativas tomaria para promover o equilíbrio fiscal, o crescimento e o combate a inflação. O fato é que, além de ter fritado o Joaquim Levy, a citada presidenta nada fez no campo econômico. Sua postura explícita é a de deixar como está para ver como é que fica. Sua sinalização é que vai continuar a fazer o que quer, sem cortar nada, e deixar a sociedade se lixar. O seu ministro da fazenda já disse que “precisa” a CPMF para ajudar a equilibrar as contas e não tem plano “B”…

Portanto, não adianta buscar algum alento em Brasília. O som que vem do planalto é pura cacofonia política. O Executivo, da dupla Dilma e Lula, o Senado, de Renan Calheiros, a Câmara, de Eduardo Cunha, o Supremo, do Lavandowski parecem uma banda desafinada tocando ziriguidum. Enquanto o país se debate sem horizontes precisa ouvir este mix do “Samba do Crioulo Doido”, do Stanislaw Ponte Preta, combinado com o “Coração de Luto”, do Teixerinha, um clássico gaúcho que muitos chamam, malvadamente, de “Churrasquinho de Mãe”.

Ante este quadro de cerco ao bom senso, a sociedade precisa tomar a iniciativa. Precisamos deixar de lado os “canais competentes” e criar novas alternativas com base nos caminhos digitais.

Uma forma da sociedade e da cidadania tomar a iniciativa é a criação de “Grupos de Ação”. Algo como uma sociedade de “irmãos digitais” para trocar ideias e formatar novas plataformas para o exercício do governo.

Se deixarmos correr solto, o governo vai tratar de empurrar a conta para a sociedade. Portanto, só juntando forças e partindo para o protagonismo é que vamos encontrar saídas.

Fundar seu “Grupo de Ação” é fácil. Certamente, seus colegas, parceiros e amigos também vêm o tsunami se aproximando do país. Trocar ideias e buscas soluções de forma compartilhada vai ajudar a encontrar saídas.

Criar uma plataforma de economia compartilhada, ou colaborativa, pode ser um dos objetivos. Por exemplo, criar um espaço para o compartilhamento de recursos e materiais. Do ponto de vista prático, pode-se criar uma conta corrente de serviços e empréstimos. (Tomando o cuidado de fazer isto entre amigos/parceiros para evitar surpresas).

Os grupos podem, também, ser organizados para atuar em tarefas práticas. Para desenvolver inovações em sua área, para permutar ou compartilhar aparelhos e equipamentos, para combinar compras coletivas e similares. O uso das mídias sociais, da internet e de planilhas do Google, por exemplo, podem facilitar a organização dos grupos.

Então é o seguinte: vamos nos dar as mãos e buscar uma saída por nossa própria iniciativa. Saindo da inércia, podemos achar uma solução para nossos problemas.

Agora, de uma coisa podemos ter certeza: se queremos uma saída, precisamos achar uma.

Organize seu “Grupo de Ação”. Vamos tocar a nossa música que a banda de Brasília está uma uma cacofonia só.

Venha para o lado da luz e que a força esteja com você.

Cesk – O digitaleiro


 

Nada mais funciona como funcionava

Tecnologia
No mundo digital a tecnologia é que faz a destruição criativa

A crise brasileira foi fabricada pela esquerda petista e pelos governos Lula e Dilma. Parafuso por parafuso. Engrenagem por engrenagem. Este monumento de incompetência foi um trabalho de respeito. Uma meticulosa construção de atraso. Mas além de equívocos em série. que nem é preciso enumerar para quem lê jornais, acessa à internet ou assiste televisão, existe o total desconhecimento do mundo real e do que vem acontecendo no planeta.

As tecnologias digitais vem chegando tão avassaladora como a lama que desceu da represa em Mariana. As novas soluções estão destruindo tudo em seu caminho. As novas tecnologias são as agentes da atual onda de destruição criativa.

A inovação é o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista, constantemente criando novos produtos, novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos antigos métodos, menos eficientes e mais caros.

Isto tudo já dizia Joseph Alois Schumpeter (1883 – 1950). Em qualquer mercado, as regras da competição definem quem ganha e quem perde. Esta é uma verdade que se aplica tanto para as nações, no comercio internacional, como para as organizações e empresas que transacionam no âmbito do mercado de saúde brasileiro.

Os cursos de economia ensinam que, no tempo da agricultura, tudo era muito mais simples. A posse da terra e dos recursos determinava o ganhador. O advento da era industrial elevou a complexidade, mas o mundo ainda funcionava de forma linear. Neste tempo, que durou do início da revolução industrial até algo como dois decênios atrás, a pole position era daquele que detivesse controle sobre a cadeia de suprimentos.

Mas a era digital finalmente chegou para reordenar o planeta. A reformulação total das regras que predominaram por muito tempo está dizimando o mercado. Tanto no Business-to-Consumer como no Business-to-Business, a falta de adaptação aos novos tempos está fazendo sucumbir empresas que estiveram no panorama do setor por décadas. Infelizmente, como muitos estão descobrindo, não foi só a máquina de escrever que foi mandada para o museu. O problema, para os que não conseguirem adaptar-se aos novos tempos, é que mudarão os atores. Saem os velhos, entram os inovadores.

Com o que já se pode observar nem é preciso bola de cristal para se antever o que vai acontecer no mercado. Com empresas altamente digitalizadas e sofisticadas, haverá menos players. Para sobreviver as empresas precisarão ser de porte maior e mais competitivas. Uma tendência que deve levar grande parte da industria nacional a ser vendida ou virar sucata.

Para quem examina as transformações mais de perto, está claro que as bases da competição se apóiam cada vez mais em verdadeiros ecosistemas, onde uns dependem dos outros e nenhum elo da cadeia vai sobreviver no isolamento e na autosuficiênica. Gostando ou não gostando, o novo modelo de negócios se expressa num paradigma de cooperação e parcerias. Neste novo cenário, as decisões isoladas e pontuais, que predominavam no antigo modelo de fazer negócios, vão forçosamente ceder lugar a um modelo de encadeamento de interesses que vai, por sua vez, requer um grau de proximidade muito maior entre os parceiros de negócios. Não há dúvida de que só um bem azeitando relacionamento entre as partes e a capacidade de gerar valor para o cliente vão garantir uma posição de destaque no mercado.

Na prática, acabou o tempo em que dava para vender e passar o problema para o cliente. O cliente agora só quer comprar resultados. Quem resolve o problema a custo competitivo vai sobreviver. Quem não resolve está fora. Potando está decretado o fim da era romântica dos caixeiros viajantes e dos negócios entre compadres. No novo eco-sistema, pode ser que alguns antigos relacionamentos e fidelidades ainda sirvam para abrir algumas portas. Mas sem um novo conteúdo tecnológico e sem um novo grau de compromisso e envolvimento, tudo o que ainda conseguirão será criar a oportunidade para o abraço de despedidas.

Tudo isto, evidentemente, está mexendo com o mercado. Alguns sequer conseguem entender com clareza o que está acontecendo. As vendas caem, pedidos prometidos não vem, os pregões presencias e eletrônicos surgem por todo lado e desmontam esquemas de venda cuidadosamente armados e cultivados por decênios. Nem a resposta aos anúncios corresponde ao esperado. De repente, para a perplexidade geral do mercado, nada mais é como era e nem funciona mais como funcionava.

Do ponto de vista do Business-to-Business, A velha máxima que recomendava não colocar todos os ovos num só cesto deverá ceder lugar à máxima preconizada por Andrew Carnegie: “Agora é colocar todos os ovos num só cesto…e vigiar o cesto!.”

O avanço no caminho deste novo paradigma de concentração começou de forma gradativa, mas nos últimos anos tomou grande impulso e vem ganhando crescente velocidade. O motor destas mudanças é a tecnologia digital. Especialmente o computador e a Internet. A Internet está em toda parte e vem ditando um acelerado processo de mudança. Desde uns dez anos atrás, vivemos o processo romântico dos Portais. Havia propostas para todos os gostos e nem todos sobreviveram, mas entre os que passaram à fase adulta estão sólidos portais dedicados ao chamado e-procurement e à intermediação de compras.

E o Brasil?

Como sempre, estamos atrasados e à reboque dos fatos. Mas quem anda perdido é o governo, sãos os políticos, os burocratas. Multidões de membros da geração digital brasileira correm por fora e sabem o que devem fazer. É só tirar do caminho o entulho analógico e abrir espaço para as soluções digitais que faremos a destruição criativa trabalhar à favor do Brasil

Ceska – O digitaleiro


 

A “Mão Invisível Social” do Ministro Tharman

Ministro das Finanças e Vice-Pimeiro Ministro de Singapura Tharman.
O Ministro das Finanças e Vice-Primeiro Ministro de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, acredita que as mídias sociais e a Internet estão criando uma “Mão Invisível Social” que equivale à “Mão Invisível da Economia” de Adam Smith. ( REUTERS/Edgar Su (Singapura)

Viver é fazer história. Somos agentes, protagonistas e testemunhas da grande mudança da história humana que vem migrando da era da Terceira Revolução Industrial para a Revolução Digital em direção à Quarta Revolução Industrial.

Vivemos em um tempo revolucionário. Uma era de ruptura, transformacional.

Esta era se caracteriza pelo conhecimento e pela tecnologia. Seu eixo tecnológico é o processador eletrônico de dados, o coração da era digital e o motor da era disruptiva. E toda a organização da atividade humana vem sendo impactada pela Inteligência Artificial, uma nova superesfera, criada graças às novas tecnologias e, claro, aos processadores. Todas as tarefas realizadas pelo homem, do uso da força bruta a complexos cálculos eletrônicos, da armazenagem de dados na nuvem a procedimentos médicos com robôs cirúrgicos, de comunicação instantânea em nível global a decisões na gestão da administração pública, pode ser facilitada com o uso adequado de softwares e hardwares, de aplicativos e dispositivos.

A era digital está ainda em seu início. E aponta para possibilidades infinitas.

O mundo que está surgindo será inteiramente diferente deste em que vivemos. O desafio, para o Brasil, é não deixar escapar a oportunidade que temos de sair na frente. Neste sentido, a crise é uma benção. Eis porque precisamos nos mobilizar, fazermos o debate online, criarmos o grande projeto do Brasil Digital e envolvermos a nação, lembrando de Geraldo Vandré: Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Vamos imaginar que façamos a transição da era analógica para a era digital. Suponhamos, ainda, que esta nova era nos propicie um elevado grau de competitividade no mundo moderno e que esta posição de destaque nos traga progresso e prosperidade como nunca tivemos antes.

Ainda assim, se não tomarmos cuidado, corremos o risco de recair nos vícios da demagogia e das promessas do paraíso grátis.

E o caminho para garantirmos a prosperidade de modo sustentável está em cultivarmos uma cultura que valorize e proteja os valores condicionantes do progresso. Precisaremos “blindar” nossa prosperidade com uma sólida cultura liberal.

A cultura, na definição do antropólogo Edward B. Tylor, é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”[i].

A “cultura social”, em complemento, pode ser definida como o conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais valorizadas pelos membros da sociedade. Vem a ser o conjunto de “valores”, as crenças fundamentais, que norteiam o comportamento.

Dentro do contexto da filosofia, a cultura está a serviço das necessidades, aspirações e desejos humanos. A cultura, vista pela ótica da civilização, reúne a maneira como o homem foi resolvendo seus problemas ao longo da história. Cultura, assim, algo que o homem criou ao longo de gerações. Como somos “animais sociais” – e nenhum homem é uma ilha – o “Homo-sapiens” só se torna homem porque vive em meio a um grupo cultural. Dentro deste grupo cultural predominam as ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais que estabelecem o que é aceitável e o que não é. Ou seja, o que é bom e o que não é, que estabelece a noção do bem e do mal para aquele grupo social.

A “cultura social” é, em consequência, um sistema de símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que confere sentido à vida de seus membros. Representa, portanto, uma força poderosa que permeia todo o tecido social. Dela deriva uma matriz de estímulos e condicionamentos que influenciam o comportamento dos membros do grupo e os recompensam na medida que adotam os comportamentos alinhados com os valores do grupo.

Reconhecendo a força da “cultura social” como indutora de comportamentos e, em consequência, como âncora da prosperidade, Tharman Shanmugaratnam, Vice-Primeiro Ministro e Ministro da Fazenda de Singapura, explica sua importância comparando seus efeitos sobre o comportamento da sociedade com a “Mão Invisível do Mercado” de Adam Smith e a define como a “Mão Invisível da Cultura Social”.

“Mão invisível” foi, como se sabe, uma expressão introduzida por Adam Smith em “A Riqueza das Nações”, para descrever o processo virtuoso que ocorre em uma economia de mercado, onde, apesar de não ser visível uma coordenação dos interesses individuais, estes tendem convergir de modo a produzir o “bem comum”. É como se houvesse uma “mão invisível” dirigindo a tomada de decisões dos investimentos e negócios. A “mão invisível”, a que o filósofo iluminista se refere, explicava algo similar ao que hoje chamamos de lei da “oferta e procura”.

O Ministro Tharman, ao reconhecer a força da “Mão Invisível da Cultura Social” no comportamento das sociedades, afirma que a construção de “uma boa sociedade” se firma sobre um conjunto salutar de bons valores e condutas, especialmente quando a sociedade valoriza o desejo das pessoas de tomar responsabilidade sobre si mesmas e suas famílias, bem como contribuir para o êxito dos demais.

Para o Ministro Tharman, uma vez que se entenda e aceite o conceito da “Mão Invisível da Cultura Social” se pode usá-lo de forma a estimular os valores que vão moldar uma cultura social propícia à prosperidade. Em uma relação de causa e efeito, quando a Cultura Social muda, muda o comportamento da sociedade. A boa nova, segundo Tharman, é que a cultura social não é imutável. Ela muda em resposta às políticas adotadas.

O Ministro Tharman usa a expressão “Compacto Social” para definir o “acordo” que deve ser estabelecido entre os membros de uma sociedade organizada, ou entre os governados e o governo comprometido com a prosperidade, definindo e limitando os direitos e deveres de cada um.

Ele exemplifica mostrando que as pessoas tendem a agir segundo regras do contexto politico, social e econômico em que vivem. E o sucesso destas sociedades é ditado pela maior ou menor excelência das regras e conceitos adotados neste “Compacto Social”.

Quando o “Compacto” reúne políticas saudáveis e conta com a adesão da sociedade, a “Mão Invisível” se encarrega de promover o desenvolvimento e distribuir prosperidade entre os membros da sociedade. É pelo resultado obtido que se pode avaliar a qualidade dos “Compactos”, ou “combos de valores”. Tharmam sugere a comparação do resultado em sistemas como o comunismo, a social democracia ou capitalismo de livre-mercado.

Para Tharman. políticas redistributivas no contexto do “Compacto” podem apenas obter sucesso se forem desenhadas para encorajar uma cultura de responsabilidade pessoal e se promoverem a responsabilidade coletiva entre todos.

Ainda na opinião do Vice-Primeiro Ministro, a quatro áreas que concernem à Cultura Social e devem estar no eixo das politicas do governo são: 1) A mobilidade social sustentada; 2) Acordo claro entre a responsabilidade individual e a responsabilidade coletiva; 3) Cultivar uma cultura de inovação e de aceitar riscos; 4) Crescimento do bem publico e o papel dos espaços públicos e da sociedade civil.

A autoridade do Ministro Tharman Shanmugaratnam vem do êxito desta estratégia em um dos países mais bem sucedidos da atualidade, Singapura. E também pela trajetória pessoal deste líder nascido na Índia, com formação na London School of Economics, University of Cambridge, e na Harvard University e que ocupa posição de proeminência no governo de Singapura desde novembro de 2001.

Então dispomos de um caminho. Podemos transformar o Brasil em um país digital. E podemos juntar nossos corações e mentes para forjar uma cultura de prosperidade autossustentada, que contenha em seu DNA os valores liberais e seja protegida por um sistema imunológico contra as patologias da esquerda.

Se juntarmos a mão invisível de Adam Smith com a mão invisível da cultura social e nos darmos as mãos como cidadãos livres, digitais e de coração verde e amarelo, seremos invencíveis.

Ceska – O digitaleiro


[i] (LARAIA, Roque de Barros. Cultura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006)

Cabeças da idade média tem ideias medievais

figuras
Figuras da Idade Média ainda perambulam pela política brasileira. São seres que acreditam no poder mágico do que está escrito: palavras fazem surgir do nada os meios que precisamos para viver bem: o trabalho enobrece, mas a palavra enriquece. (Imagem Master Clip)

Cabeças que vivem na idade média tem ideias medievais. (A propósito, cabeças da idade da pedra lascada tem ideias socialistas). A noção de que o mundo ainda vive mergulhado num contexto de soma zero – para alguém ter alguma coisa é preciso tomar de alguém outro – podia até fazer sentido na idade média. Mas hoje, no mundo dos robots, com capacidade de produção virtualmente ilimitada, muito acima da demanda, esse jogo de soma zero só pode ainda perdurar em cabeças que continuam impermeáveis à lógica da criação de riquezas que veio com a revolução industrial. Acontece que muitas destas ideias, e outras de mesmo tipo, ainda vivem no imaginário politico socialista e frequentam as arengas populistas latino-americanas. Com resultados trágicos, como podemos constatar de primeira mão no nosso caso brasileiro.

O que ocorre é que a revolução industrial ainda não existe para a grande parte da nossa população e, portanto, ainda não impactou o pensamento nacional. Muita gente, aqui nos trópicos, ainda não entende uma coisa simples: as máquinas automáticas produzem muito mais que trabalhadores humanos, fazendo produtos de melhor qualidade e muito mais baratos. Uma realidade que se pode observar em uma simples visita a uma loja de 1,99, onde se vendem produtos que viajam metade do mundo por preços que não se conseguiria fabricar na esquina.

As máquinas automatizam a produção, criam produtos e produzem riqueza. Este fato simples e elementar jogou no lixo toda a lógica mercantilista. Como em um passe de mágica, com um simples “abracadabra” o mundo passava a ter os meios de produzir quantidades ilimitadas de mercadorias e de gerar riquezas sem limites. Mas com uma condição: é preciso ter gente que saiba operar as máquinas, que saiba fazer funcionar os portos, que saiba gerir a complexidade das fábricas e empresas. Este o tipo de pessoas que precisamos aqui. E não mais burocratas insensíveis, arrogantes e prepotentes.

E como precisamos ter a fábricas, máquinas, matéria prima e infraestrutura antes de começar a produzir e a vender, precisamos de dinheiro na frente: o “capital”.

E foi para fazer muitas fábricas, ter muitas máquinas, ter muita matéria prima, treinar os operários e criar a infraestrutura que nasceu o tal “capitalismo”. Quer dizer, o “capitalismo” surgiu para que se pudesse produzir mais.

Mas esta sequência de passos “capitalista” é muito complexa para a cabeça latino-americana. Assim como para grande parte da esquerda e dos burocratas brasileiros. Um bando de mentecaptos iletrados que nada entendem de produzir. Apenas são bons em pilhar. Em tomar dos que produzem.

O fato é que a revolução industrial mudou as referências do mundo civilizado. Técnicas de produzir já estão dominadas. O que faltam são populações que saibam como se organizar para produzir e para fazer a distribuição desta produção. A própria ideia da “mais valia” comunista virou piada: qual a “mais valia” de um robot de produção?

A revolução industrial, ao permitir produzir em grande escala, gerar empregos e baixar o custo dos produtos, havia sido o evento mais importante da história da humanidade desde a domesticação dos animais até aquela data.

Com a organização da produção em larga escala, graças ao capitalismo, e com a prosperidade que veio com os ganhos de produtividade e com o investimento em novas tecnologias, a humanidade alcançou um patamar de bem estar jamais imaginado.

Mas, como o mundo continuou girando, avançamos em nossa jornada evolutiva até chegarmos na era digital. E nesta era de potenciais sem limites, a promessa da tecnologia é a de que temos todas as condições para sermos uma nação rica. Muito rica. No Brasil só continuaremos pobres por culpa dos pobres de espírito. Livremo-nos deles.

Ceska – O digitaleiro

O chamamento do Manifesto “Cluetrain”

Capa da edição comemorativa dos 10 anos do Manifesto "Cluetrain"
Capa da edição comemorativa dos 10 anos do Manifesto “Cluetrain”

O Brasil ainda não descobriu sua fonte de inspiração no rumo da modernidade, ainda não teve seu momento de encontro com o futuro.

Talvez a história da internet possa inspirar as gerações nativas da era digital e as leve a descobrir sua vocação no universo em transformação que vivemos.

Nos Estados Unidos o momento de “heureca” em relação à internet ocorreu em 1999, ano em que um grupo de visionários do Vale do Silício consolidou a compreensão do papel revolucionário deste instrumento capaz de transformar o mundo.

Vislumbrando novos horizontes e entusiasmados com as perspectivas que viam no horizonte lançaram o chamado “Manifesto Cluetrain”. Trata-se de um documento de fé e de certeza de que o mundo não seria mais o mesmo depois da internet. Uma nova realidade viria para conquistar os corações e mentes da humanidade. Novos sonhos seriam possíveis, novos negócios criariam mais prosperidade, uma nova fronteira de entendimento entre os homens de todos os quadrantes estava sendo conquistada. E, o mais importante, as pessoas passavam a ter um novo poder de protagonismo na sociedade e no mundo. Os signatários do manifesto, enfim, entenderam que a Internet mudaria o mundo e moldaria o mercado e a sociedade do futuro.

De modo que, fascinados com as possibilidades que antecipavam, o grupo convocou algumas das mais brilhantes cabeças ligadas às novas tecnologias e convidou-as a que estudassem em profundidade as diferentes maneiras de como a Internet impactaria a vida das pessoas, consumidores, mercados, empresas, a sociedade e a civilização.

O resultado deste esforço coletivo foi um conjunto de 95 teses reunidas no manifesto, que recebeu o sugestivo título de “Cluetrain Manifesto” (em português, “O Trem das Evidências”). Havia um sentido de alerta no título: As evidências (“clue”) estavam diante dos olhos de todos e, como um trem, passava diariamente carregado com seus vagões de oportunidades. E muitos ainda não se apercebiam que eram oportunidades abertas a todos. E que todos poderiam aproveitá-las em proveito próprio, de seu negócio, de sua comunidade, de seu país.

O Manifesto teve enorme impacto na comunidade de tecnologia dos Estados Unidos, repercutiu no mundo das tecnologias ligadas à internet e influenciou toda uma geração de visionários.

O mais relevante é que o Manifesto se mostrou profético em praticamente todas as suas previsões, especialmente em relação à premissa de que a Internet proporcionaria uma nova plataforma de relacionamento humano, inaugurando um novo fórum para a conversação e o intercâmbio de ideias e opiniões.

Aquele momento era de incontido entusiasmo e grande esperança em relação ao papel futuro da internet e das novas tecnologias digitais. A internet se apresentava como parceira para aproximar pessoas e abrir as portas do mundo. Os recursos online eliminavam distancias, desconheciam fronteiras e diferenças, estimulavam o rompimento das barreiras corporativas, ignoravam raça, sexo, religião e permitiam a inauguração de um novo pacto social.

No contexto dos mercados, o surgimento de novos canais de comunicação envolvendo os públicos interno e externo das corporações, propiciavam as condições de um novo diálogo e lançavam na obsolescência o monólogo unidirecional sobre políticas, produtos e serviços.

Nos 17 anos que se seguiram, entre o lançamento do Manifesto e os dias atuais, as mudanças previstas pelo Manifesto ocorreram e continuam a ocorrer. A cada dia, mais e mais a internet se torna pervasiva, mais e mais influencia os comportamentos, mais e mais abre oportunidades, mais valoriza as pessoas e mais as aproxima.

O entusiasmo dos visionários inspirou uma poderosa mensagem de abertura que ainda hoje vibra de emoção e soa como um chamamento para o futuro:


 

Pessoas da Terra:

O céu está aberto para as estrelas. Nuvens cruzam sobre nós dia e noite. Oceanos sobem e descem.

Não Importa o que você̂ possa ter ouvido, este é o nosso mundo, o nosso lugar.

Não importa o que quer que lhe tenham dito, nossas bandeiras tremulam livres. (Online) nosso coração bate para sempre.

Pessoas da Terra, lembrem-se…


 

O Manifesto esclarecia que “Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como efeito direto, mercados estão ficando mais inteligentes — e mais inteligentes que a maioria das empresas.”

A lista abaixo, com as 95 teses, permite entender a amplitude da transformação do mundo que o Manifesto antecipou. Um bom exercício para a nossa realidade e para o papel potencial da internet no Brasil Digital é ler o título das teses trocando “mercados” por “sociedades” e “empresas” por “governo”.


 

  1. Mercados são diálogos.
  2. Mercados consistem em seres humanos, não setores demográficos.
  3. Conversações entre seres humanos tem características humanas. Elas são conduzidas em uma linguagem humana.
  4. Quer seja transmitindo informações, opiniões, perspectivas, argumentos ou apartes, a linguagem humana é tipicamente aberta, natural, sincera.
  5. As pessoas se reconhecem como tal pelo som de sua voz.
  6. A Internet está permitindo conversações entre seres humanos que simplesmente não eram possíveis na era da mídia de massa.
  7. Hyperlinks subvertem a hierarquia.
  8. Tanto nos mercados interconectados como entre funcionários intraconectados, as pessoas estão falando umas com as outras de uma forma nova e poderosa.
  9. As conversações em rede estão permitindo formas novas e poderosas de organização social e de troca de conhecimento.
  10. Como resultado do diálogo em rede, os mercados estão ficando mais inteligentes, mais informados, mais organizados.
  11. A participação em um mercado em rede muda as pessoas fundamentalmente. As pessoas nos mercados em rede percebem que elas tem melhor informação e suporte online do que recebem dos fornecedores. Já basta de retórica corporativa sobre “agregar valor” aos produtos de consumo.
  12. Não existem segredos. O mercado em rede sabe mais sobre os produtos e serviços do que as próprias empresas fornecedoras. E tanto faz se a informação é boa ou má, eles, os internautas a divulgam para todo mundo.
  13. O que está acontecendo no mercado também está acontecendo entre os colaboradores e funcionários. Um ente metafísico chamado “A Empresa” é a única coisa entre os dois.
  14. As corporações não falam na mesma linguagem dos novos diálogos conversações na internet. Para suas audiências online, as empresas parecem ocas, lisas, literalmente não humanas.
  15. Em apenas alguns anos, a atual “linguagem” do negócio – o discurso homogeneizado das missões corporativas e da publicidade – parecerá tão rebuscada e artificial quanto a linguagem da corte francesa do século 18.
  16. Atualmente, empresas que falam na linguagem dos charlatões não estão falando para ninguém.
  17. As empresas que assumem que os mercados online são os mesmos mercados que costumavam assistir seus anúncios na televisão enganam a si mesmas.
  18. As empresas que não perceberam que seus mercados agora são redes pessoa-a-pessoa, e como resultado, ficaram mais inteligentes e mais envolvidos no diálogo, estão perdendo sua melhor oportunidade.
  19. As empresas podem, agora, comunicar-se diretamente com seus mercados. Se queimarem esta oportunidade, esta pode ser sua última chance.
  20. As empresas precisam perceber que seus mercados estão rindo. Delas!
  21. As empresas precisam ser mais leves e encarar-se menos seriamente. Elas precisam ter senso de humor.
  22. Ter senso de humor não significa colocar piadas no site corporativo. Ao contrário, isto requer boa dose de integridade, um pouco de humildade, honestidade, e autenticidade.
  23. As empresas que tentam “posicionar-se” devem assumir uma posição. Idealmente, devem assumir compromisso com algo que realmente seja importante para seu mercado.
  24. Declarações bombásticas – “Nós pretendemos ser o principal fornecedor de XYZ” – não constituem um posicionamento.
  25. As empresas necessitam descer de suas torres de marfim e falar com as pessoas com as quais esperam criar relacionamentos.
  26. Relações Públicas não tem relação com o público. As empresas estão com um profundo temor de seus mercados.
  27. Falando em uma linguagem que é distante, pouco atrativa, arrogante, elas criam muros para manter seus afastados.
  28. A maioria dos planos de marketing são baseados no medo de que o mercado possa ver o que realmente está acontecendo dentro da empresa.
  29. Elvis disse com perfeição: “Nós não podemos seguir juntos com mentes desconfiadas.”
  30. A lealdade à marca é a versão corporativa do que seria um relacionamento duradouro, mas a separação é inevitável – e está vindo rápido. Porque estão online, os mercados inteligentes estão prontos para renegociar relacionamentos na velocidade da luz.
  31. Mercados em rede podem mudar de fornecedores da noite para o dia. Os trabalhadores em rede podem mudar de emprego durante o almoço. Suas próprias (das empresas) “iniciativas de downsizing” nos obrigaram a fazer a pergunta: “Lealdade? O que é isto?”
  32. Mercados inteligentes vão achar fornecedores que falam sua própria língua.
  33. Aprender a falar na linguagem humana não é um truque de magica. Esta habilidade não pode ser “aprendida” em algum rápido seminário.
  34. Para falar em linguagem humana as empresas precisam compartilhar das preocupações das suas comunidades.
  35. Mas antes, elas devem pertencer a uma comunidade.
  36. As empresas devem perguntar a si mesmas onde as suas culturas corporativas terminam.
  37. Se suas culturas terminam antes de onde começam as da sua comunidade, então elas não tem mercado.
  38. Comunidades humanas são baseadas em crenças – em considerações humanas sobre preocupações humanas.
  39. A comunidade do diálogo é o mercado.
  40. Empresas que não pertencem a uma comunidade de diálogo vão desaparecer.
  41. Empresas fazem de sua segurança uma religião, mas isto não serve de nada. A maioria esta se protegendo menos contra os concorrentes do que contra seu próprio mercado e seus colaboradores.
  42. Como nos mercados online, as pessoas estão conversando também entre si dentro da empresa – e não apenas sobre regras e regulamentos, diretivas corporativas, resultados e lucros.
  43. Estas troca de ideias estão acontecendo online e nas Intranets corporativas. Mas apenas ocorrem quando as condições são favoráveis.
  44. As empresas tipicamente instalam intranets de cima para baixo com o objetivo de distribuir políticas de RH e outras informações corporativas que os colaboradores fazem o possível para ignorar.
  45. Intranets tendem a ser chatas. As melhores são feitas de baixo para cima por indivíduos participativos cooperando para construir alguma coisa muito mais valiosa: um diálogo corporativo construtivo.
  46. Uma Intranet sadia organiza os colaboradores de muitas maneiras. Seu efeito é mais relevante do que diretivas de qualquer sindicato.
  47. Enquanto este diálogo (entre as pessoas) assusta as empresas, estas também dependem enormemente de intranets abertas para gerar e compartilhar conhecimento crítico. Elas precisam resistir a tentação de “melhorar” ou controlar estas conversações em rede.
  48. Quando intranets corporativas não são limitadas pelo medo e regras corporativas, o tipo de conversação que elas encorajam parece como conversações de mercados em rede.
  49. Os organogramas funcionaram no tempo em que havia uma economia velha onde os planos podiam ser completamente entendidos desde o topo das empinadas pirâmides administrativas e se podiam passar ordens detalhadas à partir do topo.
  50. Hoje, o organograma é hyperlinkado, não hierárquico. A conexão é baseada no conhecimento prático, que é mais importante que o respeito por alguma autoridade abstrata.
  51. Os estilos de gerenciamento “comandar-e-controlar” derivam e reforçam a burocracia pelo poder e cultura da paranóia.
  52. A paranóia mata a conversação. Este é o ponto. Mas a falta de conversação aberta mata as empresas.
  53. Existem duas conversações acontecendo. Uma dentro da empresa. Outra com o mercado.
  54. Na maioria dos casos, nenhuma destas conversações vai muito bem. Quase invariavelmente, a causa do problema pode ser encontrada nas noções obsoletas de comando e controle.
  55. Comando e controle são noções venenosas. Como ferramentas de gestão, elas estão superadas (quebradas). Tentativas de Comando e Controle são recebidas com hostilidade pelos profissionais conectados via Intranet e geram desconfiança nos mercados conectados online.
  56. Estas duas conversações (a interna e a da empresa com o mercado) querem dialogar entre sí. Elas estão falando a mesma língua e desejam se reconhecer mutuamente.
  57. Empresas inteligentes abrem caminho e contribuem para que a mudança inevitável aconteça o quanto antes.
  58. Se a disposição de sair do caminho (para facilitar as mudanças) for encarada como uma medida de inteligência (QI), então muito poucas empresas passam no teste.
  59. Embora subliminarmente no momento, milhões de pessoas agora online percebem as empresas como pouco mais que curiosas ficções legais que estão ativamente impedindo que estas conversações (a interna e a da empresa com o mercado) se realizem.
  60. Isto é suicídio. Os mercados querem falar com as empresas.
  61. Infelizmente, a parte da empresa com que o mercado quer falar é normalmente escondida atrás de uma cortina por meio de uma linguagem que soa falsa – e muitas vezes é.
  62. Os mercados não querem conversar com vendedores despreparados e enrolões. Eles (consumidores) querem participar das decisões que estão acontecendo atrás do firewall corporativo.
  63. Traga o diálogo para o um nível pessoal: nós somos o mercado. Nós queremos falar com você.
  64. Nós queremos acesso às suas informações corporativas, aos seus planos e estratégias, seus melhores pensamentos, seu conhecimento genuíno. Nós não vamos nos satisfazer com um panfleto impresso a quatro cores, ou com websites cheio de efeitos visuais mas sem nenhum conteúdo informativo.
  65. Nós também somos profissionais que fazemos sua empresa caminhar. Nós queremos falar diretamente com os consumidores ao vivo, não por meio de frases escritas em um roteiro.
  66. Como mercados, como profissionais, ambos estamos cheios de obter nossa informação por controle remoto. Porque precisamos de relatórios impessoais e estudos de mercado de terceira-mão para nos apresentarmos uns aos outros?
  67. Como mercados, como profissionais nós perguntamos por que você não está ouvindo. Você parece estar falando uma língua diferente.
  68. O jargão inflado e pomposo que você utiliza por aí – na imprensa, nas suas conferências – o que isto tem a ver conosco?
  69. Talvez você impressione seus investidores. Talvez você impressione o pessoal da bolsa. Mas a nós você não está impressionando.
  70. Se você não nos impressiona, logo seus investidores começarão a pular fora. Será que eles não entendem isto? Por que se entendessem, eles não deixariam você agir desta forma.
  71. Suas noções antigas sobre “o mercado” nos dão sono. Nós não nos reconhecemos em seus planos – talvez porque nós sabemos que já estamos em outro lugar.
  72. Nós estamos gostando muito do novo mercado online. De fato, nós o estamos criando.
  73. Você está convidado, mas este (a internet) é o nosso mundo. Deixe seus sapatos na porta. Se você quiser participar conosco, desça do pedestal.
  74. Nós somos imunes a publicidade. Esqueça.
  75. Se você quiser que falamos com você, fale alguma coisa. Que seja interessante para variar.
  76. Nós temos algumas ideias para você também: algumas novas ferramentas que precisamos, alguns serviços melhores. Coisas pelas quais estamos dispostos a pagar. Você tem um minuto?
  77. Você está tão ocupado “fazendo negócios” para responder nosso e-mail? Oh, desculpe, nós voltaremos mais tarde. Talvez.
  78. Você quer nosso dinheiro? Nós queremos sua atenção.
  79. Nós queremos que você largue seus devaneios, desembarque de sua neurose, e junte-se à festa.
  80. Não se preocupe, você ainda pode ganhar dinheiro. Isto é, desde que isto não seja a única coisa em sua mente.
  81. Você percebeu que, por si só, o dinheiro é unidimensional e chato? Sobre o que mais podemos conversar?
  82. Seu produto quebrou. Por que? Nós gostaríamos de perguntar isto ao cara que o fez. Sua estratégia corporativa não faz sentido. Nós gostaríamos de falar com o seu CEO. Como, assim, ele não está?
  83. Nós queremos que você trate os 50 milhões de nós (hoje, em 2015, seriam 4,5 bilhões…) tão seriamente quanto você trata um repórter do Wall Street Journal.
  84. Nós conhecemos algumas pessoas da sua empresa. Eles são legais online. Você tem mais pessoas deste tipo escondidos por aí? Elas podem sair e jogar?
  85. Quando nós temos perguntas, nós nos apoiamos em nós mesmos para obter respostas. Se você não tivesse um controle tão restrito sobre o “seu pessoal” talvez eles poderiam estar entre as pessoas em que nós nos apoiaríamos.
  86. Quando nós não estamos ocupados sendo seu “target de mercado”, muitos de nós somos seu pessoal. Nós preferiríamos falar com amigos online do que olhar o relógio. Isto poderia promover seu nome melhor que o seu web site de um milhão de dólares. Mas você diz para nós que falar com o mercado é trabalho do Marketing.
  87. Nós gostaríamos de saber o que está acontecendo. Isto seria muito bom. Mas seria um grande erro você pensar que estamos esperando de braços cruzados.
  88. Nós temos coisas melhores para fazer do que esperar até você mudar para, então, ter chances de fazer negócios conosco. Negócio é apenas uma parte de nossas vidas. Parece ser tudo na sua. Pense nisto: quem precisa de quem?
  89. Nós temos o poder real e sabemos disto. Se você não consegue ver a luz, algum outro verá e será mais atencioso, mais interessante, mais divertido para jogar.
  90. Na pior das hipóteses, nossa nova conversação é mais interessante que aquelas feiras comerciais, mais engraçada que qualquer sitcom da TV, e certamente mais realista que os web sites corporativos que estávamos vendo.
  91. Nossa lealdade é para com nós mesmos – nossos amigos, nossos novos aliados e conhecidos, mesmo nossos companheiros de batalha. As empresas que não tomam um partido neste mundo, também não tem futuro.
  92. As empresas estão gastando bilhões de dólares no Y2K (risco de mudança por ocasião do milênio, no ano 2000). Como é que eles não podem ouvir o tic-tac desta bomba-relógio do mercado? Algo mais importante está em risco.(Esta tese se referia ao risco de problemas com sites na virada do milênio, quando os dois últimos dígitos, “99”, de “1999” mudariam para “00”, de 2000.)
  93. Ambos estamos dentro das empresas e fora delas. Os limites que separam nossas conversações parecem o Muro de Berlim hoje, mas eles realmente são apenas uma inconveniência. Nós sabemos que eles cairão. Nós iremos trabalhar de ambos os lados para derrubá-los.
  94. Para as corporações tradicionais, conversações em rede podem parecer confusas, podem soar confusas. Mas nós estamos nos organizando mais rápido que eles. Nós temos ferramentas melhores, novas ideias, e contornamos as regras para nos tornar mais lentos.
  95. Nós estamos acordando e nos conectando. Nós estamos observando. Mas não vamos ficar esperando.

(Tradução do autor)

Redigidas nas vésperas da entrada no novo milênio, estas teses ajudaram as empresas e o mercado a decifrar o futuro que passou a ser balizado pela Internet.

Então, não seria o caso de aplicarmos esta abordagem e convidarmos a sociedade para apresentar suas teses? E então, partindo delas, desenvolvermos uma visão de como reorganizar o contrato social para criarmos o Brasil digital?

Se desejarmos um Manifesto do Brasil Digital poderemos ter centenas, eventualmente, milhares de teses. Ideias, percepções, soluções, sugestões que poderão abrir caminhos inesperados e surpreendentes.

Além disto, abrir a participação para a sociedade é iniciativa altamente democrática. Em praticamente todo o Brasil, existe facilidade de acesso à internet. O acesso se dá por computadores de mesas, por laptops, tablets, telefones celulares inteligentes e uma infinidade de outros dispositivos.

Mais e mais bens e serviços, inclusive serviços governamentais, são fornecidos on-line ou através de dispositivos móveis. Nossa vida real, off-line e on-line, e nossa vida virtual estão cada vez mais interligadas.

Além disso, são cada vez mais comuns sensores incorporados à produtos, equipamentos e ao meio ambiente, permitindo um acompanhamento online através da “internet das coisas” (Internet of things – IoT). Essa internet que conecta objetos físicos (“coisas”) já está presente em uma miríade de medidores automáticos de eletricidade, água e gás, equipamentos e monitores médicos, alarmes, rastreamento de objetos, carros, encomendas e entregas e uma infinidade de outros.

As câmaras de segurança estão em toda parte. Sensores nos novos ambientes – câmeras de vigilância e sistema de acesso – cada vez mais usam a biometria não apenas para ver e ouvir, mas também identificar: câmeras de segurança agora nos podem ouvir e entender, assim como podem identificar as pessoas pelo rosto, pelo caminhar, ou mesmo pela íris.

As portas são abertas não por uma chave ou por digitação de um código que é compartilhado por todos os funcionários, mas por uma varredura ou escaneamento da face que mostra exatamente quem entrou e quando.

A operação Lava-Jato mostra constantemente imagens que foram gravadas e guardadas para referência futura e que servem como evidências. O mesmo acontece com as ocorrências policiais. A proliferação de câmaras de vigilância tem ajudado a coibir a criminalidade e a descobrir os criminosos.

Praticamente tudo o que fazemos gera dados que são armazenados nochamado Big Data. Estes dados podem ser trabalhados e permitem filtragens e análises que os transformam em informações (Smart Data) de diversos tipos, assim como correlações estatísticas.

Os perfis individuais, como nas mídias sociais, permitem saber o que as pessoas gostam e preferem. Eventualmente, permitem saber o que as pessoas pensam. De posse destas informações, é possível melhorar o planejamento e o uso dos recursos. É possível ganhar qualidade de vida.

Neste novo ambiente do mundo digital, não faz mais sentido um governo analógico. Em países onde tudo funciona bem, onde a população é mais homogênea que a brasileira, a digitalização completa do governo pode ainda esperar.

Mas no Brasil, que precisa desesperadamente se reinventar, e que precisa vencer males crônicos como a corrupção, o parasitismo e o patrimonialismo, a melhor solução é mudar já.

É dar o salto digital completo, saindo do círculo de giz analógico onde o país fica rodando e correndo atrás do próprio rabo.

Ceska – O digitaleiro


 

A roda do tempo

A roda do tempo não para e é preciso virar a página.

O que as novas gerações digitais não querem é “remendar” o que está aí, mantendo a atual estrutura de poder, obsoleta, eivada de vícios, desmandos e privilégios. Um arranjo institucional poroso para a corrupção como um queijo suíço. Remendar o que está aí é tão inútil como enxugar gelo. Por mais que se mudem os móveis de lugar, a casa seria a mesma.

Voltar ao passado, ao período militar, não é a melhor opção.

A opção é avançar para um novo paradigma. Para o paradigma digital. O mundo digital é a nova fronteira. Lá é que está o futuro. Portanto, é a opção mais inteligente.

Aqui está a realidade: no passado, os políticos podiam se dar ao luxo de dizer a seus eleitores uma coisa e fazer outra coisa inteiramente diferente, quando no poder. Sempre foi assim que fizeram. E é assim que os petistas e seus aliados vem fazendo.

O que há de novo, então?

Os políticos mentirem não é nada novo. Prometer e não entregar, também não é nada original. O que é diferente agora é que os políticos não podem mais esconder o que fazem. A internet é mais penetrante que os olhos de raio x do Super Homem.

Há simplesmente muita informação, muitos caminhos para a verdade aparecer.

Há muita tecnologia. Há muito acesso aos fatos. Os políticos não conseguem mais esconder o que se passa nos gabinetes, atrás de portas fechadas. Por debaixo dos panos. A verdade acaba sendo conhecida, por um meio ou outro. É tudo revelado.

Durante muito tempo os eleitores petistas realmente acreditaram que o governo petista estava genuinamente desejando mudar “tudo o que está aí”. Mas ludibriar as pessoas não funciona mais na era digital. Você pode tentar, mas não pode convencê-las de algo diferente do que elas mesmas estão vendo acontecer.

O mundo digital é transparente e multifonte. Ele permite que as pessoas saibam das coisas sem passar pelos canais da mídia tradicional. Os “filtros” que fazem a seleção do que será ou não publicado, não enganam mais ninguém.

A Internet e os seus canais de comunicação, suas plataformas de troca de informações, se tornaram as portas e janelas da sociedade contemporânea.

O mundo digital é o mundo do compartilhamento. O mundo das mãos dadas. Nunca as pessoas estiveram tão conectadas, tão irmanadas, tão iguais.

A internet não discrimina. Não faz diferença nem em cor, sexo, classe social, religião nem qualquer outra condição que possa dividir as pessoas em grupos ou castas.

Alguns grupos ou sites podem até fazer distinção entre as pessoas, mas eles ficam restritos ao seu universo. E não interferem com os demais. A Internet, como meio, é neutra e aberta a quem quiser participar. Assim como permite um protagonismo sem preconceitos e discriminações.

Ceska – O digitaleiro