O chamamento do Manifesto “Cluetrain”

Capa da edição comemorativa dos 10 anos do Manifesto "Cluetrain"
Capa da edição comemorativa dos 10 anos do Manifesto “Cluetrain”

O Brasil ainda não descobriu sua fonte de inspiração no rumo da modernidade, ainda não teve seu momento de encontro com o futuro.

Talvez a história da internet possa inspirar as gerações nativas da era digital e as leve a descobrir sua vocação no universo em transformação que vivemos.

Nos Estados Unidos o momento de “heureca” em relação à internet ocorreu em 1999, ano em que um grupo de visionários do Vale do Silício consolidou a compreensão do papel revolucionário deste instrumento capaz de transformar o mundo.

Vislumbrando novos horizontes e entusiasmados com as perspectivas que viam no horizonte lançaram o chamado “Manifesto Cluetrain”. Trata-se de um documento de fé e de certeza de que o mundo não seria mais o mesmo depois da internet. Uma nova realidade viria para conquistar os corações e mentes da humanidade. Novos sonhos seriam possíveis, novos negócios criariam mais prosperidade, uma nova fronteira de entendimento entre os homens de todos os quadrantes estava sendo conquistada. E, o mais importante, as pessoas passavam a ter um novo poder de protagonismo na sociedade e no mundo. Os signatários do manifesto, enfim, entenderam que a Internet mudaria o mundo e moldaria o mercado e a sociedade do futuro.

De modo que, fascinados com as possibilidades que antecipavam, o grupo convocou algumas das mais brilhantes cabeças ligadas às novas tecnologias e convidou-as a que estudassem em profundidade as diferentes maneiras de como a Internet impactaria a vida das pessoas, consumidores, mercados, empresas, a sociedade e a civilização.

O resultado deste esforço coletivo foi um conjunto de 95 teses reunidas no manifesto, que recebeu o sugestivo título de “Cluetrain Manifesto” (em português, “O Trem das Evidências”). Havia um sentido de alerta no título: As evidências (“clue”) estavam diante dos olhos de todos e, como um trem, passava diariamente carregado com seus vagões de oportunidades. E muitos ainda não se apercebiam que eram oportunidades abertas a todos. E que todos poderiam aproveitá-las em proveito próprio, de seu negócio, de sua comunidade, de seu país.

O Manifesto teve enorme impacto na comunidade de tecnologia dos Estados Unidos, repercutiu no mundo das tecnologias ligadas à internet e influenciou toda uma geração de visionários.

O mais relevante é que o Manifesto se mostrou profético em praticamente todas as suas previsões, especialmente em relação à premissa de que a Internet proporcionaria uma nova plataforma de relacionamento humano, inaugurando um novo fórum para a conversação e o intercâmbio de ideias e opiniões.

Aquele momento era de incontido entusiasmo e grande esperança em relação ao papel futuro da internet e das novas tecnologias digitais. A internet se apresentava como parceira para aproximar pessoas e abrir as portas do mundo. Os recursos online eliminavam distancias, desconheciam fronteiras e diferenças, estimulavam o rompimento das barreiras corporativas, ignoravam raça, sexo, religião e permitiam a inauguração de um novo pacto social.

No contexto dos mercados, o surgimento de novos canais de comunicação envolvendo os públicos interno e externo das corporações, propiciavam as condições de um novo diálogo e lançavam na obsolescência o monólogo unidirecional sobre políticas, produtos e serviços.

Nos 17 anos que se seguiram, entre o lançamento do Manifesto e os dias atuais, as mudanças previstas pelo Manifesto ocorreram e continuam a ocorrer. A cada dia, mais e mais a internet se torna pervasiva, mais e mais influencia os comportamentos, mais e mais abre oportunidades, mais valoriza as pessoas e mais as aproxima.

O entusiasmo dos visionários inspirou uma poderosa mensagem de abertura que ainda hoje vibra de emoção e soa como um chamamento para o futuro:


 

Pessoas da Terra:

O céu está aberto para as estrelas. Nuvens cruzam sobre nós dia e noite. Oceanos sobem e descem.

Não Importa o que você̂ possa ter ouvido, este é o nosso mundo, o nosso lugar.

Não importa o que quer que lhe tenham dito, nossas bandeiras tremulam livres. (Online) nosso coração bate para sempre.

Pessoas da Terra, lembrem-se…


 

O Manifesto esclarecia que “Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como efeito direto, mercados estão ficando mais inteligentes — e mais inteligentes que a maioria das empresas.”

A lista abaixo, com as 95 teses, permite entender a amplitude da transformação do mundo que o Manifesto antecipou. Um bom exercício para a nossa realidade e para o papel potencial da internet no Brasil Digital é ler o título das teses trocando “mercados” por “sociedades” e “empresas” por “governo”.


 

  1. Mercados são diálogos.
  2. Mercados consistem em seres humanos, não setores demográficos.
  3. Conversações entre seres humanos tem características humanas. Elas são conduzidas em uma linguagem humana.
  4. Quer seja transmitindo informações, opiniões, perspectivas, argumentos ou apartes, a linguagem humana é tipicamente aberta, natural, sincera.
  5. As pessoas se reconhecem como tal pelo som de sua voz.
  6. A Internet está permitindo conversações entre seres humanos que simplesmente não eram possíveis na era da mídia de massa.
  7. Hyperlinks subvertem a hierarquia.
  8. Tanto nos mercados interconectados como entre funcionários intraconectados, as pessoas estão falando umas com as outras de uma forma nova e poderosa.
  9. As conversações em rede estão permitindo formas novas e poderosas de organização social e de troca de conhecimento.
  10. Como resultado do diálogo em rede, os mercados estão ficando mais inteligentes, mais informados, mais organizados.
  11. A participação em um mercado em rede muda as pessoas fundamentalmente. As pessoas nos mercados em rede percebem que elas tem melhor informação e suporte online do que recebem dos fornecedores. Já basta de retórica corporativa sobre “agregar valor” aos produtos de consumo.
  12. Não existem segredos. O mercado em rede sabe mais sobre os produtos e serviços do que as próprias empresas fornecedoras. E tanto faz se a informação é boa ou má, eles, os internautas a divulgam para todo mundo.
  13. O que está acontecendo no mercado também está acontecendo entre os colaboradores e funcionários. Um ente metafísico chamado “A Empresa” é a única coisa entre os dois.
  14. As corporações não falam na mesma linguagem dos novos diálogos conversações na internet. Para suas audiências online, as empresas parecem ocas, lisas, literalmente não humanas.
  15. Em apenas alguns anos, a atual “linguagem” do negócio – o discurso homogeneizado das missões corporativas e da publicidade – parecerá tão rebuscada e artificial quanto a linguagem da corte francesa do século 18.
  16. Atualmente, empresas que falam na linguagem dos charlatões não estão falando para ninguém.
  17. As empresas que assumem que os mercados online são os mesmos mercados que costumavam assistir seus anúncios na televisão enganam a si mesmas.
  18. As empresas que não perceberam que seus mercados agora são redes pessoa-a-pessoa, e como resultado, ficaram mais inteligentes e mais envolvidos no diálogo, estão perdendo sua melhor oportunidade.
  19. As empresas podem, agora, comunicar-se diretamente com seus mercados. Se queimarem esta oportunidade, esta pode ser sua última chance.
  20. As empresas precisam perceber que seus mercados estão rindo. Delas!
  21. As empresas precisam ser mais leves e encarar-se menos seriamente. Elas precisam ter senso de humor.
  22. Ter senso de humor não significa colocar piadas no site corporativo. Ao contrário, isto requer boa dose de integridade, um pouco de humildade, honestidade, e autenticidade.
  23. As empresas que tentam “posicionar-se” devem assumir uma posição. Idealmente, devem assumir compromisso com algo que realmente seja importante para seu mercado.
  24. Declarações bombásticas – “Nós pretendemos ser o principal fornecedor de XYZ” – não constituem um posicionamento.
  25. As empresas necessitam descer de suas torres de marfim e falar com as pessoas com as quais esperam criar relacionamentos.
  26. Relações Públicas não tem relação com o público. As empresas estão com um profundo temor de seus mercados.
  27. Falando em uma linguagem que é distante, pouco atrativa, arrogante, elas criam muros para manter seus afastados.
  28. A maioria dos planos de marketing são baseados no medo de que o mercado possa ver o que realmente está acontecendo dentro da empresa.
  29. Elvis disse com perfeição: “Nós não podemos seguir juntos com mentes desconfiadas.”
  30. A lealdade à marca é a versão corporativa do que seria um relacionamento duradouro, mas a separação é inevitável – e está vindo rápido. Porque estão online, os mercados inteligentes estão prontos para renegociar relacionamentos na velocidade da luz.
  31. Mercados em rede podem mudar de fornecedores da noite para o dia. Os trabalhadores em rede podem mudar de emprego durante o almoço. Suas próprias (das empresas) “iniciativas de downsizing” nos obrigaram a fazer a pergunta: “Lealdade? O que é isto?”
  32. Mercados inteligentes vão achar fornecedores que falam sua própria língua.
  33. Aprender a falar na linguagem humana não é um truque de magica. Esta habilidade não pode ser “aprendida” em algum rápido seminário.
  34. Para falar em linguagem humana as empresas precisam compartilhar das preocupações das suas comunidades.
  35. Mas antes, elas devem pertencer a uma comunidade.
  36. As empresas devem perguntar a si mesmas onde as suas culturas corporativas terminam.
  37. Se suas culturas terminam antes de onde começam as da sua comunidade, então elas não tem mercado.
  38. Comunidades humanas são baseadas em crenças – em considerações humanas sobre preocupações humanas.
  39. A comunidade do diálogo é o mercado.
  40. Empresas que não pertencem a uma comunidade de diálogo vão desaparecer.
  41. Empresas fazem de sua segurança uma religião, mas isto não serve de nada. A maioria esta se protegendo menos contra os concorrentes do que contra seu próprio mercado e seus colaboradores.
  42. Como nos mercados online, as pessoas estão conversando também entre si dentro da empresa – e não apenas sobre regras e regulamentos, diretivas corporativas, resultados e lucros.
  43. Estas troca de ideias estão acontecendo online e nas Intranets corporativas. Mas apenas ocorrem quando as condições são favoráveis.
  44. As empresas tipicamente instalam intranets de cima para baixo com o objetivo de distribuir políticas de RH e outras informações corporativas que os colaboradores fazem o possível para ignorar.
  45. Intranets tendem a ser chatas. As melhores são feitas de baixo para cima por indivíduos participativos cooperando para construir alguma coisa muito mais valiosa: um diálogo corporativo construtivo.
  46. Uma Intranet sadia organiza os colaboradores de muitas maneiras. Seu efeito é mais relevante do que diretivas de qualquer sindicato.
  47. Enquanto este diálogo (entre as pessoas) assusta as empresas, estas também dependem enormemente de intranets abertas para gerar e compartilhar conhecimento crítico. Elas precisam resistir a tentação de “melhorar” ou controlar estas conversações em rede.
  48. Quando intranets corporativas não são limitadas pelo medo e regras corporativas, o tipo de conversação que elas encorajam parece como conversações de mercados em rede.
  49. Os organogramas funcionaram no tempo em que havia uma economia velha onde os planos podiam ser completamente entendidos desde o topo das empinadas pirâmides administrativas e se podiam passar ordens detalhadas à partir do topo.
  50. Hoje, o organograma é hyperlinkado, não hierárquico. A conexão é baseada no conhecimento prático, que é mais importante que o respeito por alguma autoridade abstrata.
  51. Os estilos de gerenciamento “comandar-e-controlar” derivam e reforçam a burocracia pelo poder e cultura da paranóia.
  52. A paranóia mata a conversação. Este é o ponto. Mas a falta de conversação aberta mata as empresas.
  53. Existem duas conversações acontecendo. Uma dentro da empresa. Outra com o mercado.
  54. Na maioria dos casos, nenhuma destas conversações vai muito bem. Quase invariavelmente, a causa do problema pode ser encontrada nas noções obsoletas de comando e controle.
  55. Comando e controle são noções venenosas. Como ferramentas de gestão, elas estão superadas (quebradas). Tentativas de Comando e Controle são recebidas com hostilidade pelos profissionais conectados via Intranet e geram desconfiança nos mercados conectados online.
  56. Estas duas conversações (a interna e a da empresa com o mercado) querem dialogar entre sí. Elas estão falando a mesma língua e desejam se reconhecer mutuamente.
  57. Empresas inteligentes abrem caminho e contribuem para que a mudança inevitável aconteça o quanto antes.
  58. Se a disposição de sair do caminho (para facilitar as mudanças) for encarada como uma medida de inteligência (QI), então muito poucas empresas passam no teste.
  59. Embora subliminarmente no momento, milhões de pessoas agora online percebem as empresas como pouco mais que curiosas ficções legais que estão ativamente impedindo que estas conversações (a interna e a da empresa com o mercado) se realizem.
  60. Isto é suicídio. Os mercados querem falar com as empresas.
  61. Infelizmente, a parte da empresa com que o mercado quer falar é normalmente escondida atrás de uma cortina por meio de uma linguagem que soa falsa – e muitas vezes é.
  62. Os mercados não querem conversar com vendedores despreparados e enrolões. Eles (consumidores) querem participar das decisões que estão acontecendo atrás do firewall corporativo.
  63. Traga o diálogo para o um nível pessoal: nós somos o mercado. Nós queremos falar com você.
  64. Nós queremos acesso às suas informações corporativas, aos seus planos e estratégias, seus melhores pensamentos, seu conhecimento genuíno. Nós não vamos nos satisfazer com um panfleto impresso a quatro cores, ou com websites cheio de efeitos visuais mas sem nenhum conteúdo informativo.
  65. Nós também somos profissionais que fazemos sua empresa caminhar. Nós queremos falar diretamente com os consumidores ao vivo, não por meio de frases escritas em um roteiro.
  66. Como mercados, como profissionais, ambos estamos cheios de obter nossa informação por controle remoto. Porque precisamos de relatórios impessoais e estudos de mercado de terceira-mão para nos apresentarmos uns aos outros?
  67. Como mercados, como profissionais nós perguntamos por que você não está ouvindo. Você parece estar falando uma língua diferente.
  68. O jargão inflado e pomposo que você utiliza por aí – na imprensa, nas suas conferências – o que isto tem a ver conosco?
  69. Talvez você impressione seus investidores. Talvez você impressione o pessoal da bolsa. Mas a nós você não está impressionando.
  70. Se você não nos impressiona, logo seus investidores começarão a pular fora. Será que eles não entendem isto? Por que se entendessem, eles não deixariam você agir desta forma.
  71. Suas noções antigas sobre “o mercado” nos dão sono. Nós não nos reconhecemos em seus planos – talvez porque nós sabemos que já estamos em outro lugar.
  72. Nós estamos gostando muito do novo mercado online. De fato, nós o estamos criando.
  73. Você está convidado, mas este (a internet) é o nosso mundo. Deixe seus sapatos na porta. Se você quiser participar conosco, desça do pedestal.
  74. Nós somos imunes a publicidade. Esqueça.
  75. Se você quiser que falamos com você, fale alguma coisa. Que seja interessante para variar.
  76. Nós temos algumas ideias para você também: algumas novas ferramentas que precisamos, alguns serviços melhores. Coisas pelas quais estamos dispostos a pagar. Você tem um minuto?
  77. Você está tão ocupado “fazendo negócios” para responder nosso e-mail? Oh, desculpe, nós voltaremos mais tarde. Talvez.
  78. Você quer nosso dinheiro? Nós queremos sua atenção.
  79. Nós queremos que você largue seus devaneios, desembarque de sua neurose, e junte-se à festa.
  80. Não se preocupe, você ainda pode ganhar dinheiro. Isto é, desde que isto não seja a única coisa em sua mente.
  81. Você percebeu que, por si só, o dinheiro é unidimensional e chato? Sobre o que mais podemos conversar?
  82. Seu produto quebrou. Por que? Nós gostaríamos de perguntar isto ao cara que o fez. Sua estratégia corporativa não faz sentido. Nós gostaríamos de falar com o seu CEO. Como, assim, ele não está?
  83. Nós queremos que você trate os 50 milhões de nós (hoje, em 2015, seriam 4,5 bilhões…) tão seriamente quanto você trata um repórter do Wall Street Journal.
  84. Nós conhecemos algumas pessoas da sua empresa. Eles são legais online. Você tem mais pessoas deste tipo escondidos por aí? Elas podem sair e jogar?
  85. Quando nós temos perguntas, nós nos apoiamos em nós mesmos para obter respostas. Se você não tivesse um controle tão restrito sobre o “seu pessoal” talvez eles poderiam estar entre as pessoas em que nós nos apoiaríamos.
  86. Quando nós não estamos ocupados sendo seu “target de mercado”, muitos de nós somos seu pessoal. Nós preferiríamos falar com amigos online do que olhar o relógio. Isto poderia promover seu nome melhor que o seu web site de um milhão de dólares. Mas você diz para nós que falar com o mercado é trabalho do Marketing.
  87. Nós gostaríamos de saber o que está acontecendo. Isto seria muito bom. Mas seria um grande erro você pensar que estamos esperando de braços cruzados.
  88. Nós temos coisas melhores para fazer do que esperar até você mudar para, então, ter chances de fazer negócios conosco. Negócio é apenas uma parte de nossas vidas. Parece ser tudo na sua. Pense nisto: quem precisa de quem?
  89. Nós temos o poder real e sabemos disto. Se você não consegue ver a luz, algum outro verá e será mais atencioso, mais interessante, mais divertido para jogar.
  90. Na pior das hipóteses, nossa nova conversação é mais interessante que aquelas feiras comerciais, mais engraçada que qualquer sitcom da TV, e certamente mais realista que os web sites corporativos que estávamos vendo.
  91. Nossa lealdade é para com nós mesmos – nossos amigos, nossos novos aliados e conhecidos, mesmo nossos companheiros de batalha. As empresas que não tomam um partido neste mundo, também não tem futuro.
  92. As empresas estão gastando bilhões de dólares no Y2K (risco de mudança por ocasião do milênio, no ano 2000). Como é que eles não podem ouvir o tic-tac desta bomba-relógio do mercado? Algo mais importante está em risco.(Esta tese se referia ao risco de problemas com sites na virada do milênio, quando os dois últimos dígitos, “99”, de “1999” mudariam para “00”, de 2000.)
  93. Ambos estamos dentro das empresas e fora delas. Os limites que separam nossas conversações parecem o Muro de Berlim hoje, mas eles realmente são apenas uma inconveniência. Nós sabemos que eles cairão. Nós iremos trabalhar de ambos os lados para derrubá-los.
  94. Para as corporações tradicionais, conversações em rede podem parecer confusas, podem soar confusas. Mas nós estamos nos organizando mais rápido que eles. Nós temos ferramentas melhores, novas ideias, e contornamos as regras para nos tornar mais lentos.
  95. Nós estamos acordando e nos conectando. Nós estamos observando. Mas não vamos ficar esperando.

(Tradução do autor)

Redigidas nas vésperas da entrada no novo milênio, estas teses ajudaram as empresas e o mercado a decifrar o futuro que passou a ser balizado pela Internet.

Então, não seria o caso de aplicarmos esta abordagem e convidarmos a sociedade para apresentar suas teses? E então, partindo delas, desenvolvermos uma visão de como reorganizar o contrato social para criarmos o Brasil digital?

Se desejarmos um Manifesto do Brasil Digital poderemos ter centenas, eventualmente, milhares de teses. Ideias, percepções, soluções, sugestões que poderão abrir caminhos inesperados e surpreendentes.

Além disto, abrir a participação para a sociedade é iniciativa altamente democrática. Em praticamente todo o Brasil, existe facilidade de acesso à internet. O acesso se dá por computadores de mesas, por laptops, tablets, telefones celulares inteligentes e uma infinidade de outros dispositivos.

Mais e mais bens e serviços, inclusive serviços governamentais, são fornecidos on-line ou através de dispositivos móveis. Nossa vida real, off-line e on-line, e nossa vida virtual estão cada vez mais interligadas.

Além disso, são cada vez mais comuns sensores incorporados à produtos, equipamentos e ao meio ambiente, permitindo um acompanhamento online através da “internet das coisas” (Internet of things – IoT). Essa internet que conecta objetos físicos (“coisas”) já está presente em uma miríade de medidores automáticos de eletricidade, água e gás, equipamentos e monitores médicos, alarmes, rastreamento de objetos, carros, encomendas e entregas e uma infinidade de outros.

As câmaras de segurança estão em toda parte. Sensores nos novos ambientes – câmeras de vigilância e sistema de acesso – cada vez mais usam a biometria não apenas para ver e ouvir, mas também identificar: câmeras de segurança agora nos podem ouvir e entender, assim como podem identificar as pessoas pelo rosto, pelo caminhar, ou mesmo pela íris.

As portas são abertas não por uma chave ou por digitação de um código que é compartilhado por todos os funcionários, mas por uma varredura ou escaneamento da face que mostra exatamente quem entrou e quando.

A operação Lava-Jato mostra constantemente imagens que foram gravadas e guardadas para referência futura e que servem como evidências. O mesmo acontece com as ocorrências policiais. A proliferação de câmaras de vigilância tem ajudado a coibir a criminalidade e a descobrir os criminosos.

Praticamente tudo o que fazemos gera dados que são armazenados nochamado Big Data. Estes dados podem ser trabalhados e permitem filtragens e análises que os transformam em informações (Smart Data) de diversos tipos, assim como correlações estatísticas.

Os perfis individuais, como nas mídias sociais, permitem saber o que as pessoas gostam e preferem. Eventualmente, permitem saber o que as pessoas pensam. De posse destas informações, é possível melhorar o planejamento e o uso dos recursos. É possível ganhar qualidade de vida.

Neste novo ambiente do mundo digital, não faz mais sentido um governo analógico. Em países onde tudo funciona bem, onde a população é mais homogênea que a brasileira, a digitalização completa do governo pode ainda esperar.

Mas no Brasil, que precisa desesperadamente se reinventar, e que precisa vencer males crônicos como a corrupção, o parasitismo e o patrimonialismo, a melhor solução é mudar já.

É dar o salto digital completo, saindo do círculo de giz analógico onde o país fica rodando e correndo atrás do próprio rabo.

Ceska – O digitaleiro


 

A roda do tempo

A roda do tempo não para e é preciso virar a página.

O que as novas gerações digitais não querem é “remendar” o que está aí, mantendo a atual estrutura de poder, obsoleta, eivada de vícios, desmandos e privilégios. Um arranjo institucional poroso para a corrupção como um queijo suíço. Remendar o que está aí é tão inútil como enxugar gelo. Por mais que se mudem os móveis de lugar, a casa seria a mesma.

Voltar ao passado, ao período militar, não é a melhor opção.

A opção é avançar para um novo paradigma. Para o paradigma digital. O mundo digital é a nova fronteira. Lá é que está o futuro. Portanto, é a opção mais inteligente.

Aqui está a realidade: no passado, os políticos podiam se dar ao luxo de dizer a seus eleitores uma coisa e fazer outra coisa inteiramente diferente, quando no poder. Sempre foi assim que fizeram. E é assim que os petistas e seus aliados vem fazendo.

O que há de novo, então?

Os políticos mentirem não é nada novo. Prometer e não entregar, também não é nada original. O que é diferente agora é que os políticos não podem mais esconder o que fazem. A internet é mais penetrante que os olhos de raio x do Super Homem.

Há simplesmente muita informação, muitos caminhos para a verdade aparecer.

Há muita tecnologia. Há muito acesso aos fatos. Os políticos não conseguem mais esconder o que se passa nos gabinetes, atrás de portas fechadas. Por debaixo dos panos. A verdade acaba sendo conhecida, por um meio ou outro. É tudo revelado.

Durante muito tempo os eleitores petistas realmente acreditaram que o governo petista estava genuinamente desejando mudar “tudo o que está aí”. Mas ludibriar as pessoas não funciona mais na era digital. Você pode tentar, mas não pode convencê-las de algo diferente do que elas mesmas estão vendo acontecer.

O mundo digital é transparente e multifonte. Ele permite que as pessoas saibam das coisas sem passar pelos canais da mídia tradicional. Os “filtros” que fazem a seleção do que será ou não publicado, não enganam mais ninguém.

A Internet e os seus canais de comunicação, suas plataformas de troca de informações, se tornaram as portas e janelas da sociedade contemporânea.

O mundo digital é o mundo do compartilhamento. O mundo das mãos dadas. Nunca as pessoas estiveram tão conectadas, tão irmanadas, tão iguais.

A internet não discrimina. Não faz diferença nem em cor, sexo, classe social, religião nem qualquer outra condição que possa dividir as pessoas em grupos ou castas.

Alguns grupos ou sites podem até fazer distinção entre as pessoas, mas eles ficam restritos ao seu universo. E não interferem com os demais. A Internet, como meio, é neutra e aberta a quem quiser participar. Assim como permite um protagonismo sem preconceitos e discriminações.

Ceska – O digitaleiro


 

Da perplexidade às carrancas do velho Chico

No primeiro mundo as pessoas olham o Brasil com perplexidade. Como é que um país com tantos potenciais se permite crises como esta que enfrentamos?

Mas perplexidade à parte, é conveniente compreendermos melhor o que nos trouxe a esta encruzilhada do impensável. Como um governo estulto, arrogante e despreparado foi capaz de tantas trapalhadas, tantos equívocos a ponto de fazer o impossível: quebrar o Brasil?

A bem da verdade, o governo petista teve a ajuda de uma constituição irrealista e irresponsável, que deveria ser um farol para o país, mas se revela parte do problema.

Olhando em volta, nos deparamos com um país que se sente exaurido, enganado, traído, sem um projeto, enredado em contas que não fecham, em problemas insolúveis, prisioneiro de si mesmo, de suas contradições, confuso e com uma visão nublada do futuro.

A convicção de que é preciso recomeçar do começo se adensa. Repensar o modelo do Brasil ressoa também na Internet. Nas mídias sociais, e onde quer que o jovens se encontrem, irrompe a participação de jovens em sua disposição para lutar por seus sonhos, por uma nova percepção do mundo e por um Brasil que os acolha.

O fato é que esta nova geração sabe que não está só, tem consciência de seu poder e confia que a solução virá por meio do compartilhamento de esperanças e pelo consenso. Seu mote é o clássico: unidos, nós podemos; unidos nós faremos.

O mais importante, contudo, é que o modelo político predominante se esgotou. Mal ou bem, foi o modelo que tivemos e que, por atribulada que tenha sido nossa história, cumpriu sua missão. Tivemos oportunidades que desperdiçamos. Estadistas que desperdiçamos. Sonhos que desperdiçamos. Vidas que desperdiçamos, mas o tempo é a mãe das oportunidades. E as crises são encruzilhadas do futuro e do destino.

E do governo não temos muito o que esperar. Como dizia Milton Friedman: “As soluções que os governos propõe são, quase sempre, tão ruins como o problema”.

A crise que estamos atravessando nos coloca frente ao desafio de Ortega y Gasset, quando define “vida” em seu livro “Temas de Viaje” (1922): “vida é o que fazemos com nossas circunstâncias”.

As circunstâncias que temos são estas que conhecemos. Podemos tirar partido destas circunstâncias, ou ficar pensando na vida. Podemos fazer as transformações para abrir a janela do mundo digital ou podemos sentar na sarjeta, lamentar nossa sorte, tirar um lenço e chorar.

As circunstâncias são a matéria prima. Com elas podemos fazer hoje o molde do país de amanhã. Um país conectado à realidade do povo, em que o povo se reconheça em seu país.

Olhando de frente para a realidade da crise econômica e social e das oportunidades inexploradas e não mais nos deixarmos entreter pelo cipoal feérico de leis e normas que estão penduradas na ilusão fácil de que basta escrever leis para mudar a realidade.

Está mais do que na hora de agirmos como nação adulta. Precisamos nos desapegar da ficção mirabolante de que podemos fazer a realidade curvar-se com simples voluntarismo. Nós nos afeiçoamos a balagandãs jurídicos que prometem os céus, mas entregam o inferno. Acreditamos demais no poder místico do legalês barroco, do recitar das normas.

Somos um tanto descrentes da mão na massa. Preferimos retórica. Escrevemos textos rebuscados de rococó e esperamos que eles afugentem os maus espíritos como as carrancas na proa dos barcos do Velho Chico. E, assim como esperamos que as carrancas mais feias afugentem mais os tinhosos, gastamos toneladas de papel e galões de tinta para fazer montanhas de leis carrancudas. Uma coisa doida. Fazemos leis para tudo. Mas num país que tem mais de 100 mil leis em vigor, tem até lei federal que agrava a pena dos crimes ambientais se feitos aos “domingos ou feriados”. Então tem as tais leis que pegam e leis que não pegam.

A postura do legislador destes trópicos modorrentos é: nós fazemos as leis. Os outros que tratem de viabilizá-las. Que se virem para fazê-las funcionar. Quanto ao povo, que as engula e as aguente.

Esta postura de rarefeito e esvoaçante compromisso com a realidade vem dos tempos coloniais. A sociedade brasileira sempre entendeu a linguagem legal dos trópicos: Existem leis para valer e Leis para “Inglês ver”, como comentou o Regente Feijó, referindo-se a uma lei de 1831 que, por exigência dos ingleses, declarava livres os africanos desembarcados em portos brasileiros desde aquele ano.

Entre os hábitos que temos de mudar está o de entulharmos o caminho com este cipoal de leis. Ao identificarmos nossas dificuldades precisamos revisar todo o arcabouço de leis inúteis, contraproducentes e idiotas. A forma de revisar é simples: cria-se uma lei revogando todas as que não forem revalidadas. Um bom mutirão pode ajudar na faxina.

Outra herança daqueles tempos de aristocratas, imperadores, reis e rainhas, foi a máxima de que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Os aristocratas, especialmente os de tradição ibérica, membros da aristocracia rural, funcionários públicos urbanos acostumados ao ócio, à nada fazer e a tudo ordenar, achavam que fazia parte da ordem natural das coisas existirem senhores e existirem servos. Todo o período colonial foi assim.

E como acreditavam que esta era a ordem natural das coisas, era assim que achavam que devia continuar a ser. E não seria só porque acabou a escravatura que a ordem das coisas haveria de mudar. A escravidão poderia ter terminado de papel passado, mas para a velha elite aristocrática, para a maioria dos políticos e dignitários, para os coronéis e manda-chuvas, a servidão continuava. Assim como o preconceito e a discriminação.

Em sua ótica, a casta dos senhores tinha poderes e nasceu para mandar. À casta do povo, dos vassalos, dos subalternos, o que restava era aceitar e obedecer. E os vassalos, o povo, não tinha que ter vontades. O poder precisava ficar na mão dos senhores.

O curioso é que o Lulopetismo cresceu e elegeu Lula prometendo lutar contra este estado de coisas. Contra este “eles-e-nós”. Contra estas “zelites” feitas dos privilegiados. O que se viu, no entanto, foi uma surpreendente transformação. Ao invés de Lula e seus “companheiros” trabalharem para nivelar a sociedade, abrindo oportunidades e democratizando as chances de acesso – de forma real e não apenas demagógica, claro – os petistas adotaram as mesmas práticas que condenavam. Pior, como são iletrados em sua maioria, não tinham noção de medida. Escalaram o parasitismo e a roubalheira para muito além do que já se tinha visto. E para muito além das possibilidades do Estado. Os petistas, e os aliados que juntaram para desfrutar o poder, passaram a também se “pendurar” no estado e a gozarem as benesses da corrupção.

Ficou evidente que, tirando a retórica de engodo, a intenção dos petistas nunca foi mudar o modelo de organização social. Ainda menos promover a igualdade entre todos os brasileiros.

O PT sempre viveu neste arranjo social prevalente e não conhece outro. Assim, também acha que esse é o jeito “normal”.

Apenas queria seu lugar ao sol: substituir os mandantes e também virar “elite”, mantendo o resto como está. Com a grande massa do povo afastada de reais possibilidades de progresso. A bolsa família, um pequeno paliativo, nunca se constituiu num programa de redenção da pobreza. Seu propósito tem sido o de manter os pobres vivos, na base do pão e água, de eleição em eleição, quando os petistas esperam que sejam “agradecidos” e votem em seus “benfeitores”.

O que os lulopetistas esperam, na verdade, é que o povo continue de espinha curvada, sem voz, sem vez e sem opção, pagando impostos escorchantes e mantendo uma estrutura de país colonial.

Só que as novas gerações estão descobrindo que não são mais escravos. Fruto dos novos tempos e da ampliação dos conhecimentos e experiências em nossa sociedade, com a tecnologia execrendo papel fundamental na descoberta destas novas possibilidades.

Demorou, mas as novas gerações vieram para as ruas para fazerem ouvir o seu grito de independência. Elas querem entrar no jogo da prosperidade. E estão determinadas a encontra o seu espaço.

Elas, eventualmente, ainda não elaboraram um projeto comum para o país, nem tem ainda clareza para expressar o que querem, mas sabem com total lucidez o que não querem. E o que não querem é serem amarradas ou subjugadas por governos que só sabem taxar, restringir e proibir, como se o Brasil fosse um imenso campo de suplício.

O que os brasileiros, especialmente os jovens, esperam é um chamamento para erigir o futuro. E querem fazer no Brasil um futuro para chamar de seu!

Ceska – O digitaleiro


 

Brasil digital: qualidade de sonho

Confúcio dizia: estude o passado se você quiser antecipar o futuro. Estudar para conhecer e saber o que deu certo e o que deu errado, obviamente, e não para ficar no passado. Conhecer para saber o que mudar. E, por outro lado, para saber que as mudanças, como as marés, vem e vão.

Uma lição importante a aprender do passado é saber que os tempos se movem e colidem como as placas tectônicas, provocando erupções, terremotos, maremotos e transformações. As vezes produzindo tragédias, outras simples acomodação entre os perdedores e ganhadores, mas sempre trazendo mudanças.

Os efeitos da evolução do tempo nas sociedades raramente é linear. O comum é as gerações diferirem em sua forma de pensar e ver o mundo. O hiato entre a atual geração e anterior, no Brasil, é profundo e bem marcado. Mais frequentemente, o hiato geracional ocorre pela chegada de novos conhecimentos e novas tecnologias, pelo esgotamento de conceitos e crenças, por procedimentos e práticas que se obsoletizam e se anacronizam.

Todavia, o que se observa agora é que as novas gerações digitais vem com algo realmente inovador e surpreendente: uma nova ética social e política.

Esta nova ética deixou as velhas gerações perplexas. O que mais assusta os seguidores das velhas práticas é que os jovens se mostram agressivamente indignados com o patrimonialismo e a corrupção. E não se mostram dispostos a contemporizar, como sempre se fez no país.

De certa forma houve grande indignação contra a corrupção em episódios de mobilização anteriores, como na eleição de Jânio Quadros e na revolução militar de 1964, mas foram movimentos predominantemente da classe média e da pequena burguesia e não contavam com a ancoragem que os jovens tem nas mídias sociais.

O processo de mudança que ocorre por sob a superfície vem pressionando o quadro político e social e esta pressão está destinada a continuar crescendo e deverá extravasar em algum momento futuro. A única hipótese da pressão refluir seria uma mudança completa dos quadros político, econômico e social. Hipótese remotíssima no atual contexto de desarranjo econômico e político.

A transformação em gestação tende a acontecer por meio de uma “mudança de pele”, ou “ecdise”, com a mudança do exoesqueleto institucional e social do Brasil atual.

Dá-se que este panorama ainda vigente permite entrever pelas pregas de seu esgarçamento quão magníficas são as possibilidades à nossa espera se conseguirmos nos livrar do entulho embolorado que obsta nossa caminhada.

O mundo mudou, os tempos mudaram, mas o desenho de nossas instituições segue os modelos do passado. São circunstâncias a lamentar, mas existem aspectos positivos.

No século XIX, uma carta levava meses para chegar à coroa. Hoje, uma mensagem de texto chega ao seu destinatário em segundos. E é daquele tempo modorrento que herdamos muito de nossos hábitos e costumes. Muito dos nossos vícios e de nossas idiossincrasias.

Deriva também desta evidente obsolescência de nossa estruturação social a convicção de que a oportunidade de mudar é agora. Enfim, como dizia Bertolt Brecht, “porque as coisas são como são, elas não vão ficar da maneira como eram”.

Para a geração digital, o momento mágico de colocar sua marca no mundo chegou.

A história nos oferece de bandeja a oportunidade de unirmos esforços para promovermos uma revolução tecnológica no Brasil.

Para chegar a este objetivo não basta passar a limpo a craca que se acumulou em nossa legislação arcaica e defasada. Seria apenas preparar o terreno. O há a fazer é escancarar as aspirações e as vontades e alinhá-las com os anseios dos brasileiros

O grande mutirão digital terá o condão de promover a catarse purificadora e, no seu desenrolar, atrair apoio amplo, lúcido e abrangente para passar o Brasil à limpo. Antes de consertar é preciso assear com solvente cívico este desvergonhado sistema de castas e privilégios que hoje discrimina e trata desigualmente os brasileiros.

Uma vez tomada a decisão de seguir o caminho para onde aponta o futuro, o passo seguinte é arregaçar as mangas.

Mudar a nação, convenhamos, não é tarefa para alguns poucos. Menos ainda, Deus nos livre, para uma “elite” política profissional – e para utilizar o jargão da moda, “operadores” políticos – acostumada a misturar o público com o privado. E que entende mudança como mais mordomias e mais privilégios.

Afinal, a mudança desejada pela sociedade brasileira, pela parcela que está nas ruas e na internet, é aquela que olha para o futuro. Deve buscar soluções que funcionem. Que sejam transparentes e fiscalizáveis pela sociedade.

Obviamente, não interessa à sociedade cair no debate estéril de formalismos caducos, no engodo da conversa fácil, na cortina de fumaça que quer cristalizar privilégios e facilitar o domínio político, em benefício dos espertalhões de colarinho branco e parasitas travestidos de pais da pátria.

A saída digital é, assim, tarefa para engajar todos. A tecnologia é apenas o meio, mas ela é que capacita os avanços. A tecnologia digital representa para a humanidade do século XXI o mesmo que a pedra lascada, o fogo, e a roda representaram para nossos ancestrais, em seu tempo. O mesmo que a invenção da escrita e da imprensa representaram no avanço da comunicação e do entendimento entre os homens.

Aquelas tecnologias guiaram os avanços do homem no rumo que nos trouxe à civilização e ao desenvolvimento. Foram tecnologias disruptivas, que abriram possibilidades antes inexistentes.

Reconhecer o que a tecnologia digital pode fazer para colocar o Brasil em um novo patamar civilizatório é a mais preciosa contribuição que as novas gerações brasileiras podem oferecer ao seu país.

Mas, como tudo o que é um dia fica grande, o começo é necessariamente pequeno. A ideia de um grande mutirão cívico, da conscientização digital, é hoje uma semente. Mas o DNA da grande transformação digital já estará nela.

De fato, a forma ideal de mobilizar a nação para a empreitada da reforma é fazer um chamamento à um mutirão nacional amplo e irrestrito. Abrir espaço para que nossa inteligência e nossa ação coletiva, para nossa decantada capacidade de imaginação, criatividade e aglutinação social criar as condições para que possamos desenhar a nação que queremos.

O povo que veste verde e amarelo, que se orgulha das cores de seu país nas ruas, é fenômeno que não refluirá enquanto o país institucional não se configurar segundo as expectativas e demandas do país real.

A sociedade que está nas ruas quer mais que mudanças. Quer futuro. As novas gerações sabem que seu destino, que suas vidas, serão decididas neste embate.

Ao longo de suas existências dificilmente terão outra chance. Esta certeza as mobiliza. É a vez de sua geração, é a vez delas.

Sabem que o preço das mudanças é o esforço da mobilização. Se não se mobilizarem, se não se empenharem, enfim, se não tomarem partido, estarão fadados a gastar seus anos futuros em vidas mesquinhas. Estarão reduzidos à horizontes medíocres, à uma perspectiva tacanha, de sobrevivência restrita.

O governo petista é incapaz de juntar as peças para criar um plano de país viável. Hoje o que sobrou é discurso ôco. Tentam disfarçar a crise culpando até os elfos e os faunos. Tudo o que ainda tem em seu saco de maldades vazio é mais crise, tudo o que tem a oferecer são mais anos de frustração, sufoco e decadência.

O Brasil está estiolado, sem espírito, frustrado. Nosso país não se sente bem consigo mesmo. E a primeira razão é que esta crise vem na contramão das promessas e esperanças. O doloroso é saber que, se não tivermos logo lideranças competentes, tudo o que podemos esperar serão décadas perdidas. É doído demais para tolerar. A bazófia, a fanfarronice, a mentira fazendo um cortina de fumaça para manter intocados privilégios indecentes, desperdício perdulário, equívocos, corrupção, parasitas e projetos políticos demagógicos, patrimonialistas, tolos, fúteis.

O que é certo é que as gerações digitais tem poder para mudar este destino encomendado pelo bruxo do pixuleco. O poder de fazer aqui e agora o mundo que sabem que existe em outras terras. Um mundo que pode ser nosso sem migrarmos para outros países, sem precisarmos deixar família, amigos, sonhos, amores, nosso recanto natal.

Nossas novas gerações se tornaram uma diáspora do esbulho à brasileira. Milhares de brasileiros foram e, ainda são, forçados à migrar pela miopia de governos dilapidadores, pela maior obtusidade córnea, pela mais indigente ignorância.

É realmente um crime de lesa-pátria roubar o futuro da juventude brasileira e obriga-la a migrar para ter um futuro em outro país ou continente. Assim, ainda que fosse só por isso, é preciso mobilizar o país. É hora de dizer um basta às alianças espúrias entre as velhas oligarquias e os piratas de inspiração ideológica cubano-bolivariana.

É preciso desmascarar os políticos oportunistas, corruptos e malandros que buscam encurralar o povo com estratégias desavergonhadas de atemorização e mentiras. Alguns até ressuscitando vozes buscadas nas criptas para lançarem seu bafo pútrefo contra o futuro do Brasil.

As novas gerações querem o Brasil no primeiro mundo. Querem qualidade de vida e, sobretudo, qualidade de sonho. Querem ver aqui o progresso que os inspira nos Estados Unidos, na Europa, na Oceania ou no Japão.

A geração digital está cansada de esperar que os paquidermes analógicos se emendem, se movam ou saiam do caminho. Então é bom que se apressem. O que está claro como o sol do meio dia é que as ruas estão tomando o futuro em suas mãos.

Portanto, gostem ou não os parasitas do Estado brasileiro, os tecnocratas, os burocratas, os roliços sátrapas e marajás: a mudança vem se acercando com a celeridade online, impulsionada pela energia dos fótons que viajam na velocidade da luz.

Breve, aqui, um novo país, com qualidade de sonho.

Ceska – O digitaleir0